É
inerente ao ser humano criar expectativas em relação à vida, principalmente em
relação aos sonhos, às pessoas e aos relacionamentos. As expectativas podem ser
de duas naturezas: As coligadas ao cotidiano, tipo “o que vamos fazer hoje?”,
ou as que se encontram em uma programação futura – uma viagem, um curso, um projeto.
Ambas estão diretamente ligadas à necessidade por satisfação dos desejos que,
por sua vez, não podem ser satisfeitos completamente. Os desejos humanos são
sempre buracos sem fundo. De uma maneira ou de outra, as expectativas que se
manifestam em nossas vontades e em nossos desejos nos mantêm vivos.
Por
outro lado, é inegável o paradoxo de que somos seres que criam e que frustram
expectativas. Assim, desembocamos em um terreno inglório de boas e más
resoluções relacionais. Isto ocorre por dois motivos específicos: o primeiro
refere-se ao fato de que todos nós possuímos um anelo sistemático pela produção
de heróis. Desejamos que as pessoas que convivem conosco se tornem heróis. O
problema não reside em projetarmos heróis, mas em transformá-los em ídolos. Além
desse anseio por heróis, nossa condição humana é contraditória. Por mais que alguma
pessoa pretenda ser congruente, ela se constituirá como incongruente, pois não
há espaços para a perfeição. Como nas palavras de Walt Whitman, em seu “Song of
my self” – “Canção para meu ser”: “Eu me contradigo? Muito bem, então eu me
contradigo. (Sou enorme, contenho multidões)”. O segundo refere-se à ideia de que
achamos poder alcançar a felicidade. Todavia, felicidade plena não é possível
de ser alcançada. Temos que nos contentar com as bolhas de sabão que fazemos e
que nos alegram o coração naquele mágico instante de eternidade. É no momento
que as belezas se revelam a cada um de nós.
Independente
do ponto “a” ou ponto “b”, importa desafiar cada pessoa a olhar para dentro de
si mesma, com a finalidade de acentuar um dos aspectos mais relevantes da
existência, a saber, a humildade para contemplar o mavioso movimento do rio.
Quando passamos a compreender que determinadas dimensões de nossa existência requerem
paciência, damo-nos uma rica oportunidade de calma. De nada adianta se achegar
à margem de um rio e tentar acelerar o seu fluxo com uma concha de feijão. Na
melhor das hipóteses, só se estabelecerá o cansaço físico. Contemplar o caminho
do rio pode nos ajudar a minimizar as ansiedades e valorizar o que de mais
fundamental existe na nossa vida, ou seja, o contentamento de ser o que se é,
como dá pra ser naquele momento presente.
Temos
que estar descomprometidos com processos que nos convocam à perfeição ou à comparação.
A grande gama de exposição de vidas felizes nas redes sociais ou mesmo as “poderosas”
lições dadas pela miríade de coachs é um engodo que pode levar muita gente a se
entender menor do que as outras pessoas. Uma coisa é cada um de nós buscar a
nossa melhor versão de si mesmo. Outra, bem diferente, é aceitar a falácia da
meritocracia, pois todos nós, seres humanos, somos sínteses de contradições.
Por isso, o ideal é sempre manter a cabeça no lugar e se encher de humildade: a
certeza de que somos pó, que somos da terra e a ela voltaremos. É olhar o húmus
e se perceber simples e pequeno ante a grandiosidade do universo.
A manutenção
de nossas expectativas num campo equilibrado e coerente com a vida pode evitar
a frustração quando o objetivo não foi alcançado. A nossa saúde mental precisa
de sobriedade e de humildade sempre, não para sermos bobocas, mas para nos
entendermos melhor no nosso mundo de sentidos. Enfim, que as nossas expectativas
quanto ao cotidiano e quanto ao futuro sejam coerentes. Precisamos de equilíbrio
para alcançarmos os nossos intentos e contentos.
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