quinta-feira, 16 de março de 2023

DIA 10 - Tempo, relacionamentos e prazer...



No clássico livro O Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry, dois diálogos se ressaltam: o que se dá com a raposa e o que se dá com a rosa. No caso dessa última, uma conclusão se torna emblemática: "Foi o tempo que você passou com a sua rosa o que a fez tão importante”.

Esta frase me comunica muito sobre o investimento que realizo em meus relacionamentos. Ora, neste mundo marcado pelas lógicas individualizadas das muitas pessoas, investir em relações se torna, quase, um ato subversivo, pois eivado de um deslocamento de si mesmo em direção ao outro. Infelizmente, não é muito comum as pessoas se dedicarem às outras sem esperarem coisa alguma em troca. De qualquer forma, é fundamental que dediquemos grande parte do nosso tempo a abraçarmos e a beijarmos as pessoas, ampliando os nossos vínculos afetivos.

Infelizmente, muito desse investimento hoje se perde nas mídias sociais. A relação virtual ganhou grandes contornos e ocupa o lugar das experiências  mais impactantes do cotidiano. Na contramão das redes sociais, eu tenho nutrido um grande apreço pelos risos largos e os abraços apertados. Com estes afetos em evidência, enfatizo que pessoas bem especiais para mim passaram a ter uma importância mais efetiva em minha vida.

Tenho sempre dito que uma das coisas mais fantásticas da experiência vivencial é a gente ter a oportunidade de viver coisas novas em nosso cotidiano. Obviamente nós somos seres fascinados pelas novidades que se estabelecem diante dos nossos próprios sentidos. Sentir é uma experiência vital para cada um de nós seres humanos, especialmente os que têm o privilégio de viver essa dinâmica vital completamente inédita chamada existência. Lembro-me sempre que o tempo é muito curto e que tudo que nós vivemos aqui voa rapidamente como o vento, como a chuva, como a tempestade de verão. Então, torna-se fundamental que a gente tenha a oportunidade de saborear cada momento como se fosse o único. Hoje, eu tenho 52 anos e para mim, experimentar coisas novas, é uma aventura maravilhosa.

Recentemente eu tive o privilégio de experimentar uma das maiores sensações corpóreas da minha vida, enquanto eu estava completamente tomado por tudo aquilo que me ocorria num simples gesto de amor. Eu fechava os olhos e visualizava coisas que eu não tinha consciência de que existiam na minha memória. Em dado momento, eu vi o universo e seus sistemas complexos cheios de estrelas, asteroides e planetas; eu vi o fundo do mar e suas pérolas brilhantes; eu vi a constelação dos meus neurônios brilharem dentro de mim. No âmbito desta minha contemplação em mim mesmo, não conseguia mensurar ou mesmo colocar em palavras aquele apelo tão profundo que me fez viver a pequena morte de um jeito nunca vivido. Minha alma ficou translúcida e o corpo passou a viver o que nós tradicionalmente chamamos de transcendência. Existem momentos em que voamos tal como as nuvens que se manifestam no céu azul, na abóboda celeste. Elas se fazem e se refazem, assumindo formas que se reformam e que se esmaecem numa doce brincadeira de algodão doce. Talvez, a nossa experiência corporal seja muito similar a experiência das nuvens. Nós nos formamos e nos perdemos para nunca esmaecermos a experiência de unir o céu, o mar e a constelação dos neurônios em vitalidade.

Essa experiência se tornou divisora de águas na minha vida. Não a vivi sozinho, pois toda experiência é vivida em contato com a alteridade, com o outro que se revela intimamente especial. Nessa relação, se forma e se transforma o universo no qual todos nós estamos inseridos.

Obviamente, com o tempo e os relacionamentos, manifesta-se em cada um de nós a coragem para ousarmos e vivenciarmos coisas que nós não vivenciamos ainda. Não há sombra de dúvida: a vida é fugaz e a aventura de viver é inédita. Então, por que não aproveitar cada instante como se fosse o único, afinal de contas, quando tudo passar, poderemos chegar ao final de nossa existência e naquele último suspiro declarar que valeu a pena viver.

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