Considero-me
uma pessoa muito curiosa, especialmente com as demandas que a vida e a
existência oferecem a cada dia. Talvez, por este fato, eu esteja o tempo todo
em busca das perspectivas mais inusitadas que me favoreçam novos olhares para o
todo que me cerca. Eu acredito que viver seja uma grande aventura contigencial,
eivada das mais diversas experiências. Aliás, viver é experimentar os sabores
que nem sempre nos apetecem, mas também aqueles que nos jogam no lago dos
deleites. Através dessas vivências, sempre dicotômicas ou dialéticas, torna-se
possível a abertura de novos horizontes reflexivos e interpretativos, os mais
diversificados.
A
curiosidade me liga a essa incrível vontade de querer viver coisas novas e de
aceitar a minha recriação e a minha ressignificação, continuamente. Lembro-me a
cada instante que o que eu tenho para viver é o instante. Até tatuei no pulso
do meu braço esquerdo a expressão latina hic et nunc, que quer dizer:
aqui e agora. A cada momento, preciso me recordar que o que eu tenho é o lapso
do tempo que passa, já foi. Aliás, coisa estranha é essa marcação do tempo, dividido
em dias, horas, minutos e segundos. No fundo, vivemos transições contínuas entre
dias de sol e noites de luas. Chuvas em parcos ou contínuos momentos. Que não nos
assombrem as inundações.
Por
isso, gosto de experimentar através dos meus sentidos, o que move o meu coração
de forma individual, bem como toda a sua dimensão relacional.
Neste
mês de janeiro, revisitei todos estes meus pensamentos, a ponto de refazê-los,
enquanto curtia uma praia no litoral sul do Espírito Santo. Ora, sempre ouço as
pessoas dizerem que entram no período de férias para descansarem, mas a verdade
é que, em férias, nós nos cansamos de uma forma diferente. Me gastei diante do
mar refletindo sobre as potencialidades no nosso próprio existir humano.
Confesso que a partir da observação dos fenômenos da natureza, tive a
oportunidade de visualizar também todo o universo. Ver a água do mar moldar
continuamente as pedras ou mesmo favorecer o processo de conjugação de pequenas
plumagens de líquens ao seu ao redor, criava uma conexão em mim, capaz de me
lançar ao cosmos, num amplo fascínio presente em uma memória afetiva ancestral,
inerente às grandiosidades do existir neste planeta pequeno.
Infelizmente
os meus dias de paz foram afetados por uma necessidade de escrever um texto e
gravar uma aula-vídeo para um importante processo seletivo do qual eu faria
parte. Mas como eu estava sem meus livros, sofri um pouco a ausência dos
recursos primários. Foram momentos de grande tensão justamente porque eu não
estava com o meu aparato técnico, especialmente o meu notebook.
Tal
situação importunou-me bastante, estabelecendo-se no meu corpo uma ansiedade a
ponto de me provocar náuseas. Depois de ter fechado o texto com o
estabelecimento das linhas gerais do meu pensamento, eu vomitei muito e tive
uma reação febril.
O
mal-estar não tirou o sabor dos meus dias de paz. Depois do ocorrido, curti
bastante, bebi muita cerveja e comi petiscos na companhia de amigos mais
chegados que irmãos. Vivi dias de muita completude, retornando à minha cidade, à
minha casa e às minhas atividades como psicólogo, completamente renovado.
Lembro-me,
entretanto, de ter pensado em uma questão extremamente pertinente para a
dinâmica da vida social, a saber a questão da diversidade. Enquanto eu
observava as pessoas indo e vindo na praia, todas elas vestidas de suas singularidades
e, a meu ver, completamente abertas para viver a experiência da nadificação,
aproveitava para visualizar os corpos, os cabelos, o jeito de se portar e as
variações posturais. Havia gente em pé, gente deitada, gente andando, gente
correndo, gente comendo, gente bebendo, gente dormindo e gente contemplando a
imensidão do mar até a linha do horizonte.
A
ideia de diversidade denota a riqueza na qual estamos inseridos. Se por um
lado, lutamos pela igualdade de direitos para todos, por outro, afirmamos as
nossas diferenças em todos os rincões deste país multifacetado. Existimos para
afirmarmos continuamente a nossa mais autêntica "Arca de Noé".
Enfim,
eu que sempre tenho um caso de amor com as pessoas continuo a minha jornada
comum, almejando, acima de tudo, minha curiosidade para ver e me relacionar com
toda a diversidade dos corpos das gentes que me for possível relacionar.