quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

DIA 09 - Só sentimentos...


Sei que não é muito comum aos homens falarem dos seus sentimentos, mas seguindo um aforismo de T. S. Eliot, múltiplas vezes citado por Rubem Alves, eu também gosto de andar em uma direção contrária. Então, eu me abro continuamente para falar dos meus sentimentos. Nestes últimos dias estive envolvido em um processo seletivo, visando um cargo bastante interessante como professor na área de psicologia. Me inscrevi no processo e passei pelas três etapas primárias. Ao final uma banca constituída por professores da casa entendeu que na minha aula teste eu não havia entregado aquilo que eles precisavam. Eu preciso confessar que essa resposta me deixou em um turbilhão reflexivo. Como poderia saber o que a banca esperava que eu entregasse? Junto ao turbilhão, manifestou-se uma tristeza. Ora, desde 2020, quando eu fui demitido da Faculdade Metodista Granbery, no auge da pandemia, sem receber os meus mínimos direitos trabalhistas, eu tenho buscado uma nova colacação profissional na condição de professor universitário. Neste último processo, bati na trave e, por isso, a tristeza.

Eu tenho um imenso apreço pela Psicologia e as linhas que dela fazem parte, especialmente a Psicoterapia Humanista-Existencial, embora tenha investido e estudado em níveis de especialização, mestrado e doutorado na área de Ciências da Religião, por conta da minha antiga atividade profissional. Hoje, só me interessa o campo psíquico.

Quando no desenvolvimento dos estudos em nível de doutorado, me aprofundei em hermenêutica e fenomenologia, duas potências que se fazem presentes na prática clínica Humanista-Existencial.

Há dois anos, ininterruptamente, tenho tido a oportunidade de vivenciar junto aos meus clientes a experiência da Clínica Humanista-Existencial. Eu sou um apaixonado por essa dinâmica por conta da sua forte carga filosófica e por entendê-la sempre aberta aos processos mais aprofundados da subjetividade humana, sem a pretensão de querer determinar perspectivas que sejam orientadoras ou diretivas para o cliente. A Clínica Humanista-Existencial é um movimento sempre aberto para entender o ser humano para além das suas próprias circunstâncias e demandas momentâneas. Talvez, pelo meu investimento nestes dois anos, participando inclusive da coautoria de vários livros importantes na área, bem como meu envolvimento no Curso de formação sobre a psicoterapia sartriana, eu me sinta um pouco decepcionado com a não aprovação no processo seletivo.

Sei que existem pessoas que passariam por cima dessa situação de boa, mas eu não. Estou chateado e confesso a minha chateação porque me sinto preparado para exercer a função docente e oferecer subsídios, informações e vivências a todos aqueles que quiserem compartilhar uma caminhada conjunta na docência e formação.

Acresce-se a isso a minha ampla experiência no acompanhamento às situações-limites vivenciadas pelas pessoas. Não há qualquer caso que eu enfrente do qual eu não tenha já percepcionado anteriormente. Coisa alguma me assusta, pois eu tenho referências diversas que me auxiliam nas provocações que visam a conscientização do cliente em sua demanda psíquica.

Os que me conhecem mais proximamente costumam sempre dizer: "Esquenta não! Vem coisa melhor por aí"! Mas eu não quero ouvir isso! Não quero mesmo! Estou frustrado e é assim que me sinto. É assim que me respeito e é assim que quero que me vejam. Frustrado por ter tentado e não ter conseguido. E por favor, não me venham com palavras frívolas dizendo: "Vale mais tentar do que não tentar, mesmo que não se consiga"! Há momentos em nossa vida que a gente precisa alcançar o que a gente espera alcançar. É o mínimo. Há uma música do compositor e cantor brasileiro Gonzaguinha, intitulada Guerreiro Menino que é muito significativa. Ele afirma em uma de suas estrofes que o homem precisa do seu trabalho, "pois sem o seu trabalho, o homem não tem honra, e sem a sua honra, se morre, se mata". Eu preciso do meu trabalho. Eu preciso da minha honra.

Não pensem que eu estou chorando o leite derramado. Eu amo o que eu faço atualmente na clínica psicológica Humanista-Existencial, mas eu preciso de dinheiro para a minha subsistência e para o pagamento das minhas contas. Isso eu busco continuamente, especialmente porque a clínica psicológica tem as suas flutuações. Há meses em que tudo ocorre de uma forma muito tranquila, mas há meses em que os clientes, por conta de suas demandas pessoais e familiares, se afastam.

Como a gente ganha pelo que a gente produz, ou seja, pelas sessões que acontecem, se não há clientea, não há honorários. Por isso, todo psicólogo busca uma base profissional ou estrutura básica a fim de garantir o pagamento de suas contas basilares.

Por favor, não considere este texto como um desabafo ou coisa do gênero. Ele é só uma constatação de alguém que aprendeu a falar dos seus sentimentos, sem medo e sem ressentimentos. Só sentimentos.

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