Quando eu era criança em meus tempos escolares, nunca era escolhido para jogar ou defender o time da minha sala nas competições e jogos inter-classes. Os colegas diziam que eu era ruim de bola e pouco competitivo. Para um moleque nascido no Brasil, cognominado o país do futebol, ouvir dos pares que eu era ruim de bola era extremamente afrontoso. Confesso que eu sofri bastante com as palavras maldosas ditas a mim naqueles momentos. Eu estava continuamente condenado a esquentar o banco dos reservas. Não era fácil buscar forças e autoestima diante dos momentos que eu ouvia o que afligia os meus sentimentos. Logicamente, as palavras proferidas pelos colegas de turma afetaram negativamente as minhas emoções. Ouvi-las me chateavam bastante. Eu não gostava de ser tratado daquela maneira e isso me deixava quieto e embotado em minhas ações.
De
fato, as palavras proferidas pelas pessoas próximas, especialmente as da nossa
própria família, podem provocar em nós os mais diversos sentimentos e reações.
Por isso, temos que ter um cuidado singular com a forma como as acolhemos em
nossas vidas. É fundamental que saibamos filtrar o que realmente é importante ouvirmos
e o que não. Por outro lado, é importante que cuidemos, também, das palavras
que proferimos aos outros. Costumo sempre dizer que se não temos coisa alguma
de boa pra dizer para outrem, então é melhor não dizer nada, fechar a matraca.
Aliás, nossa intencionalidade nas falas tem que ser sempre voltada para a
manifestação de palavras gentis e agradáveis às pessoas.
No
campo das sociabilidades, as palavras agradáveis são sumamente importantes. Em
primeiro lugar porque elas estimulam a pessoa que as recebe a se esforçar mais
em relação a respectiva atividade que está realizando. Em segundo lugar, porque
pessoa alguma pode ir adiante se não for impulsionada pelas palavras
motivacionais, ou seja, pelos motivos para as ações a serem efetivadas. Ora, obviamente
o que estamos apontando não é uma regra, mas um estímulo voltado à possibilidade
de adequação das palavras nos diálogos e convivências. Não podemos deixar de
evidenciar que, infelizmente, muitas pessoas paralisam as suas vidas por conta
das palavras mal ditas por outras pessoas alheias. Às vezes, mesmo sem saber,
machucamos as pessoas ou somos machucados por conta da veiculação das palavras
numa conversa ou em uma discussão.
Eu
sou daqueles que acreditam na força do amor. Amigos próximos me chamam continuamente
de emocionado. De fato o sou, pois acho que a veiculação das nossas palavras
deve ser marcada pela dinâmica do amor. Eu acredito na potência do amor, especialmente
quando as relações vinculares ficam bem estabelecidas. Que todos precisamos de
motivação, isto é fato. É inegável que a boa condução das palavras garante um
bom desenvolvimento das ações nas rotinas cotidianas.
As
palavras proferidas de formas gentis não machucam. Tem gente que sempre afirma:
“Eu sempre falo a verdade”. Ora, não há coisa alguma de errada em se dizer a
verdade, mas as verdades precisam ser expostas com amor. As palavras agradáveis
trazem bons sentimentos para psique humana, bem como a liberação dos melhores hormônios
e substâncias para o corpo, como a dopamina, a serotonina, a endorfina e a
ocitocina. Quem sabe, um consenso entre nós, seres humanos, pudesse ser
estabelecido com a finalidade de se garantir o bem-estar de todas as pessoas
nos seus nichos sociais. Quem sabe não nos desafiemos continuamente a somente
proferirmos palavras agradáveis às pessoas? Tudo bem! Podem me acusar de
piegas, mas é nisso que eu acredito.
Por
outro lado, é claro que existem momentos que nos sobem à cabeça e precisam de esclarecimentos
mais efetivos e discussões mais aguerridas. Pessoa alguma é boba ou condenada a
aceitar tudo sem algum tipo de critério. Há sempre limites relacionais e se alguns
escapam aos dedos, bora para a contenda. Não é o ideal, mas, às vezes, necessário
para se garantir o posicionamento. Que não seja a defesa de uma postura idiota,
mas a argumentação bem posicionada com fundamentação e palavras firmes com
tonalidades serenas.
Enfim,
salvaguardados os momentos em que precisamos nos posicionar mais assertivamente,
o bom é quando deixamos deslizar as palavras que fazem bem a nós e a quem estiver
ao nosso lado. Em tempos de ampla competição e abusivas comparações, nada
melhor do que boas palavras. Que haja doçura, cuidado e gentilezas em nossas
palavras. O bem-estar entre nós precisa ser bem estabelecido.