Eu
sempre tenho abordado em meus textos e em minhas palestras sobre a importância
de não vivermos de forma automatizada na complexidade do tecido social. Essa premissa
assertiva objetiva, simplesmente, a possibilidade de favorecer a organização da
vida nas respectivas agendas do nosso cotidiano, afinal de contas, como nos
remete a sabedoria milenar, “há tempo para todas as coisas”. Tudo o que ocorre na
face deste planetinha chamado Terra se qualifica dentro de um ciclo contínuo
dos ventos e das águas que não pode ser controlado. Todavia, em tempos quentes
como os que estamos experimentando na atualidade, condicionamos os ventos em
ventiladores e as águas em tubulações e recipientes. Mas, ainda assim, são
entidades libertas e que não podem ser controladas.
Diante
do importante fato de que não podemos controlar os entes, tampouco a nossa
própria existência, torna-se fulcral pensarmos no parco estabelecimento das prioridades,
pois a vida requer uma mínima organização em suas demandas. Em que pese a
possibilidade de navegarmos em um rio contemplando todas as belezas naturais
que se revelam aos nossos sentidos, não podemos nos eximir ao fato de que
alguns aspectos precisam ser percepcionados de forma mais atenciosa. Há
instantes que são únicos e devem ser fotografados pela retina. Da mesma forma,
há demandas que precisam de considerações mais reflexivas, pois se tornam
fundamentais para os alicerces existenciais.
Entretanto,
o que vem a ser prioridade? Segundo o dicionário: “prioridade é a condição de
algo que necessita correr de maneira imediata, preferencial ou emergencial. Normalmente,
a prioridade está relacionada a algo importante que ocorre em primeiro lugar,
quando em uma relação com outras questões, sejam de tempo ou de ordem”. O psicólogo
humanista Abraham Maslow nos oferece uma perspectiva muito interessante ao
apresentar a sua pirâmide de necessidades. Sua teoria é conhecida como uma
importante teoria de motivação.
Em
sua premissa, as necessidades humanas se qualificam em uma escala de valores que
devem ser transpostos. Em outras palavras, no momento em que uma pessoa vence
uma necessidade, outra sobrevém em seu lugar de acordo com a importância e a
influência. Os cinco níveis a serem superados são: Necessidades fisiológicas básicas
(respirar, comer, beber, dormir e transar); Necessidades de segurança; Necessidades
de associação (harmonia relacional e afetos); Necessidades de Autoestima
(dignidade, respeito, prestígio e reconhecimento) e Necessidades de realização
integral (ser autônomo e fazer o que se gosta). No aprofundamento dos seus
estudos, Maslow identificou ainda outras duas necessidades adicionais: a Necessidade
de conhecer e entender (conhecer e entender o mundo ao seu redor, as pessoas e
a natureza) e a Necessidade de satisfação estética (beleza, simetria e arte em
geral). Sobre esta última, Maslow expressa:
"Um
músico deve compor, um artista deve pintar, um poeta deve escrever, caso
pretendam deixar seu coração em paz. O que um homem pode ser, ele deve ser. A
essa necessidade podemos dar o nome de auto realização.” Abraham Harold Maslow
(1908 - 1970).
Com
base na ideia da pirâmide das necessidades de Maslow, podemos estabelecer algumas
prioridades com base nos objetivos que pretendemos alcançar sem sermos
seduzidos pela euforia do sucesso. A finalidade de visualizar as prioridades é
fundamental, pois no processo de elencar aquilo que tem que vir antes ou
depois, a orientação básica deve sempre se perguntar pelo que é importante e/ou
urgente. Essa dinâmica ajuda cada pessoa na identificação daquilo que é a
prioridade. Ora, existem coisas que são importantes e urgentes; outras que são
importantes, mas não urgentes; outras, ainda, que são urgentes, mas não
importantes e outras, enfim, que não são importantes e nem urgentes. Brincar
com estas ideias ajuda cada ser em uma mínima organização das prioridades. A
organização não significa o estabelecimento de um processo automatizado, mas do
reconhecimento à luz de nossa própria existência, das situações que podem nos
favorecer na complexidade dos dias vividos, a fim de que o bem-estar pessoal se
estabeleça na dinâmica existencial.
Imaginemos
psicodramaticamente uma dinâmica: encontramos uma lâmpada mágica e nela um
gênio. Este vai nos dar a oportunidade de fazermos rapidamente três pedidos
concretos, oriundos dos nossos desejos. Será que estaríamos preparados para fazê-los
ou titubearíamos? Será que teríamos em claridade o que, de fato, desejamos em
nossa interioridade? Será que saberíamos, de fato, quais são as nossas
prioridades?
Diante
de uma possibilidade tal como esta, seria salutar que as necessidades e as
prioridades de cada ser estivessem na ponta da língua, para que pessoa alguma
seja surpreendida quando visitada pela surpresa.
Enfim,
o estabelecimento das prioridades não pode ser assumido como uma camisa de
forças, mas como uma orientação para que os horizontes não se percam, pois como
bem disse o Gato Cheshirepara a Alice: “Para quem não sabe aonde vai, qualquer
caminho serve”.