Acredito que seja igual para você. Há dias em que a gente acorda com uma diferenciada emoção no peito. Do nada, se manifesta aquela alegria esfuziante que se irrompe pela manhã, conjugando o lindo sorriso com o raio de sol que rasga as cortinas das janelas e as retinas dos olhos. Todavia, em outros dias, a situação é diferente. Acordamos como que cansados, pensativos, reflexivos e perplexos diante da vida. O fato é que em alguns dias, vivemos dias bons, em outros, dias maus. Em todos, é fundamental que cada um de nós entenda que as variações não podem ser evitadas.
Acordei
em minha segunda feira com o humor elevado, afinal de contas, tive um bom, relaxante
e gostoso final de semana. Aproveitei o sábado e o domingo para investir em
leituras e, também, assistir alguns documentários e filmes. O dia foi muito
prazeroso, tranquilo, eivado de silêncio e boas reflexões. O sábado culminou
com uma festa de aniversário, onde tivemos a oportunidade de celebrar a vida de
uma adolescente de 13 anos. Lembro-me de ter dito a ela para jamais abrir mão
das suas potencialidades, das suas alegrias e da sua espontaneidade. Disse,
também, para ela não ter pressa para decidir, absolutamente, coisa alguma em
sua vida, antes dos 25 anos. Ela me respondeu com um sorriso nos lábios e sua
tênue simpatia adolescente que nunca se esqueceria do que eu havia lhe dito.
A
noite estava chuvosa e no retorno para casa senti bater o cansaço próprio do
tempo. Computo, hoje, 52 anos de histórias bem vividas e experiências
contínuas. Depois de 2004, quando sofri um deslocamento de retina, apesar de
toda a boa adaptação que eu resilientemente adquiri, muitas dificuldades
inerentes sempre se manifestaram, como, por exemplo, colocar o suco presente em
um simples jarro em um copo. Às vezes, até acho que está tudo certo, até o
momento em vejo se espraiar parte do suco sobre a toalha da mesa. E no tempo
atual, não tenho apreciado dirigir à noite. Em dias de chuvas, tudo piora,
embora eu dirija com extremo cuidado. Cheguei em casa, tomei um bom banho e
parti para um sono profundo.
No
domingo, acordei alegre, festivo e sorridente. Assisti a um filme nada a ver,
meio besteirol. Comecei a ler com outro livro: Mulheres que correm com lobos da
escritora Clarissa Pinkola Estés. Aliás, tenho nutrido um forte interesse, ultimamente,
por assuntos que se referem a saúde mental da mulher, o universo feminino e
suas variações. Confesso que já tive a oportunidade de começar a ler este livro
no passado, mas não o li como na atualidade. Agora, assumi a leitura com mais
afinco, lendo o livro de uma forma bem mais atenta e afetiva.
Meus
filhos vieram almoçar conosco. Almoçamos um saboroso arroz à piamontez,
acompanhado de bifes suculentos. Após o almoço, resolvemos ir para uma roda de
samba. Eu curto demais um grupo formado só por mulheres, chamado Samba de Colher.
Chegamos ao local onde o grupo iria se apresentar, no Bar do Antônio em Juiz de
Fora. Descobrimos que não havia mesas para nos assentarmos e, então, ficamos do
lado de fora sob a pequena garoa que caía, mas tendo um ângulo privilegiado,
pois o grupo estava a 4 metros de nós. A chuva começou a apertar e um dos
garçons, muito atencioso por sinal, conseguiu uma mesa para nós na varanda do
bar. Fomos para lá, nós sentamos e pedimos alguns quitutes: Fígado com jiló e
batatas com queijo. Estava tudo uma delícia. Tudo regado, obviamente, pelas cervejas
estupidamente geladas.
Participamos
do momento, conversamos e curtimos as músicas. Uma amiga se ajuntou a nós. Depois,
com o fechamento do bar, resolvemos ir para a nossa casa, para continuar a
nossa bebericação e jogar conversa fora, nossa grande especialidade. Justamente
nesse momento fomos aturdidos, mais detidamente, pelas notícias que nos
chegavam pelas mídias, sobre a violência dos criminosos golpistas em Brasília. Confesso
que assistir às bárbaras cenas dos extremistas provocou-me um genuíno nojo. Como
pode existir gente que não aceita o resultado democrático de uma nação livre e soberana?
Deu-me asco ver as caretas hipócritas de cristãos esdrúxulos que, de certa
forma, manifestavam a patologia da fé cristã, conjuntamente ao anúncio do anticristo.
A destruição do patrimônio dos Três Poderes constituídos provocou-me os meus piores
instintos sentimentais. Eu, que estou ao lado da democracia, mesmo sabedor das
suas fragilidades, sei que vamos virar essa página, assim como aconteceu nos
Estados Unidos. Essa cópia gerada por esse gado criminoso, aqui no Brasil, não
ficará impune.
Enquanto
terminava a presente narrativa, me organizava para ir ao consultório atender
aos meus clientes. Essa minha ação psicoterápica me gera muita satisfação.
Sempre acolho os meus clientes com alegria. É preciso abraçar cada um em suas
singularidades. Todo eivado, obviamente, pela dinâmica do amor. Mesmo na
simplicidade de um momento, fazer acontecer o amor é necessário. Sim! O amor
explode no ar. Depois dos atendimentos, retornei à minha casa e estudei um
pouco mais. O dia foi bom e o diferencial dele foi buscar um lugar de refúgio
para descansar a psique pessoal. Todos nós, psicólogos e psicólogas precisamos,
em dado momento do dia, nos esquecermos de quem somos e o que fazemos. Vida que
segue. Eu, de minha parte, espero que todos os terroristas que depredaram o
patrimônio públicos paguem pelos seus crimes.