Qual é o sentido da vida? Será que existe algum sentido para a
existência de cada um de nós?
O psicanalista Contardo Calligaris apresentou em uma de suas
conferências uma resolução interessante e significativa sobre o que de fato vem
a ser o sentido da vida. Para ele, em especial, o sentido da vida possui uma
característica mais singularizada e refere-se justamente á própria “vida que
cada um de nós leva”. Nesta perspectiva, o sentido não está no ponto partida ou
no ponto de chegada, mas em todas as circunstâncias que emolduram o cotidiano
de cada pessoa em sua subjetividade. Eu, particularmente, gosto muito da
premissa de Calligaris, especialmente porque ela me aponta a ideia de que cada
um de nós pode: criar, recriar, achar ou desenvolver o próprio sentido da vida
na vida em cada um leva.
Quando penso e reflito sobre a vida e as percepções que ocorrem
em meus sentidos, buscando compreender os aspectos biopsicossociais e, mesmo, a
existência que eu tenho, minha mente viaja e imagina as estruturas que geraram
a vida neste planeta. Segundo Marcelo Domingos Leal – Coordenador da área de
ciências naturais do Parque de Ciências Newton Freire –, uma pesquisa mais
específica, lançada em fevereiro de 2014, realizada pela Universidade Estadual
Paulista – UNESP em colaboração com colegas da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR) e do Instituto de Astrobiologia da
agência espacial norte-americana – NASA, trouxe
dados mais efetivos sobre a origem da água e da vida no planeta. Além dos
cometas batizados como planetessimais ou protoplanetas, a pesquisa indicou que
“parte deste recurso pode ter vindo de outros objetos planetesimais (que
deram origem aos planetas), como asteróides carbonáceos – o tipo mais abundante
de asteróides no Sistema Solar –, por meio da interação com planetas e embriões
planetários durante a formação do Sistema Solar. A hipótese foi confirmada nos
últimos anos por observações de asteróides feitas a partir da Terra e de
meteoritos (pedaços de asteróides) que entraram na atmosfera terrestre. Outras
possíveis fontes de água da Terra, também propostas nos últimos anos, são grãos
de silicato (poeira) da nebulosa solar (nuvem de gás e poeira do cosmos
relacionada diretamente com a origem do Sistema Solar), que encapsularam
moléculas de água durante o estágio inicial de formação do Sistema Solar”.
É
curioso pensar como os entrechoques destes pequenos asteroides e cometas
provocaram uma modificação no todo e a possibilidade de existência neste
planeta com o surgimento de toda uma exuberância que se exibe diante dos
sentidos. Foi nos encontros e nos desencontros dos quatro elementos: água,
terra, ar e fogo, que o mundo conhecido por nós hoje se formou.
De alguma maneira, os nossos sentidos captam as possibilidades
destes encontros e desencontros, pois eles ainda ocorrem profusamente em
pequenos e múltiplos eventos naturais, inclusive em nossa própria corporeidade.
Muitas das nossas potências residem no corpo e favorecem a dinamização do ser
em movimentos efêmeros e nada substanciais. Como diria Heráclito: “A vida é uma
faísca no meio de um incêndio”. Em
outras palavras, precisamos considerar a insignificância que é ser neste mundo.
Apesar de nada sermos, existimos e resistimos numa constante luta biológica
para nos entendermos em nossas demandas mais cruciais. E nesse constante
conflito, cada um de nós possui um fragmento. Como se um grande espelho se
estilhaçasse e cada pessoa angariasse para si um pequeno caco. Nossa imagem
refletida no fragmento é imperfeita, mas, se conjugada a outros fragmentos,
pode ganhar novo sentido.
Muitas vezes, na clínica psicoterápica, sou convidado a
responder aos meus clientes sobre se, de fato, existe um sentido na vida. Eu
até entendo a curiosidade, mas respondo categoricamente que não sei. Fico com o
posicionamento de Calligaris e afirmo sempre que o que vale à pena, mesmo, são
os afetos e os encantos que nos cercam, favorecendo a nossa identificação como
pessoa mais efetiva e integrada com o bem-estar. Aliás, para mim, viver em
sintonia e em harmonia com o cosmos e com a natureza, sem orgulho ou avareza,
sem se considerar superior a qualquer coisa, é muito especial, pois somos
partes constituídas de um todo muito maior do que cada um de nós. Há enzimas e
substâncias em nós presentes em todos os demais seres vivos coexistentes na
natureza. Há simbioses lindas entre os reinos animal, vegetal e mineral e os
seres humanos fazem parte disso.
Em meu trajeto diário para o município de Coronel Pacheco – MG,
eu me deparo com a exuberância de uma natureza linda. Há, por exemplo, uma
árvore maravilhosa cuja formação se desponta à margem da estrada. Ela recebeu o
nome de “Árvore da Babá”. Reza a lenda que uma antiga babá levava as crianças
que ela cuidava para brincarem naquele espaço e no entorno da árvore, daí o
nome, mas eu confesso que ela me remete sempre a um Baobá – uma árvore nativa do continente africano que possui grande importância para os povos africanos,
sendo considerado símbolo de fertilidade, fartura e cura. Contemplo a árvore e silencio a minha alma, trazendo á memória
toda a minha ancestralidade. Lembro-me, ao mesmo tempo, das singularidades
poderosas e subversivas deste mundo, como as flores que desabrocham nos
canteiros e as Marias-sem-vergonha que nascem nas brechas das calçadas,
rompendo os concretos para beijarem o sol. Talvez, o sentido da vida esteja
justamente ligado ao entendimento de que participamos de uma simbiose amorosa
que convoca todos os seres a uma troca relacional e a subversões diversas. Sob
esta significativa consciência, talvez nós tenhamos a possibilidade de não nos
sentirmos aquém ou além de qualquer ser, mas em completude com o que nos
cerceia, seguindo o fluxo da vida, como faíscas no meio de um incêndio, sendo
pessoas mais legais, sem nos gastarmos em muitas firulas filosóficas e nos
abastando da ideia de que pertencemos a um todo muito maior do que nós
imaginamos.
Sobre o sentido da vida? Ah! Deixa pra lá! O que vale é curtir o
que se nos apresenta no aqui e no agora, nessa eterna simbiose do todo com as
partes e das partes com o todo...