Hoje, sinto-me comovido a falar do meu
entendimento de justiça. Digo “meu entendimento”, pois não se trata de um tema
de simples interpretação. Os meandros e aprofundamentos hermenêuticos que
acompanham esta palavra são extensos e profundos. Ao mesmo tempo, ao falar
dessa temática, incluo o seu oposto: a injustiça. Infelizmente, todos nós
vivemos o grande paradoxo entre a vida justa e as esferas da injustiça
presentes em todos os rincões sociais. Quero atrelar a minha reflexão à
complexidade do racismo sofrido pelo jogador de futebol Vinícius Júnior do Real
Madrid. Um rasgo ferino na dignidade humana.
Compreendo que, ao falar do evidente paradoxo
que envolve a justiça, acabo por apontar uma temática que envolve as
relações humanas, como elas se constroem e o estabelecimento delas em
nossos contextos sociais. De fato, a justiça tem a ver com o equilíbrio das
forças que se entrechocam, principalmente entre dimensões que são completamente
diferentes uma da outra. Por exemplo, em nossa sociedade marcada pela
desigualdade social, pelo machismo, pela intolerância religiosa e pelo racismo,
é fundamental que tenhamos parâmetros específicos que auxiliem as pessoas a
realmente acessarem todos os seus direitos. Pessoa alguma precisa ser igual à
outra para se alimentar da justiça, pois este ideal fascinante é o caminho que
favorece a igualdade aos direitos fundamentais, previstos no Artigo 5° da Carta
Cidadã, segundo a premissa; “Pessoa alguma é melhor do a outra”.
Infelizmente, desde que as primeiras sociedades
se formaram, o valor da justiça teve que se manifestar para proteger
especialmente os desfavorecidos.
Estas sociedades se constituíram e se
estabeleceram com critérios diferenciados, violentos e abusivos entre as pessoas,
fazendo com que muitas delas ficassem à margem.
Imaginemos, por exemplo, um núcleo social onde
alguns se destacaram pelo carisma, pela aplicação da força violenta ou mesmo
pelo sequenciamento tradicional – relembrando aqui os tipos ideais indicados
pelo sociólogo Max Weber – se estabelecendo sobre as outras pessoas,
determinando processos e aprofundando domínios e acumulação. Certamente, tais
pessoas impulsionadas pelas suas posições sociais impuseram as suas vontades
sobre as outras, criando normas absolutas com forte teor religioso. Como disse
previamente, isso se encontra diretamente ligado ao processo espúrio de acumulação
de riquezas, especialmente produtos da terra, enquanto que outros seres que
exerciam as atividades agropastoris ficavam espoliados.
Ao falar de injustiça, por sua vez, considero
os fatores mais objetivos que levam uma pessoa a determinar como deve ser a
vida da outra pessoa. Fatores misóginos, racistas, religiosos, econômicos
e estruturais determinam as formulações injustas que se estabelecem entre as
pessoas. Em minhas percepção, entendo que cada um de nós deve se manifestar
como um veemente combatente de todas as formas de injustiça humana, sem nenhuma
possibilidade de unilateralismos. O fato é que, querendo ou não,
precisamos que toda forma de violência, agressividade e injustiça ao outro
sejam extirpadas dos nossos atuais cenários sociais.
Neste último domingo, fomos aturdidos com a
violência, agressividade e injustiça sofrida pelo jogador Vinícius Júnior, do
time espanhol Real Madrid. Vini, como tradicionalmente é conhecido, foi chamado
de macaco pela torcida. Todavia, é preciso que se diga que a torcida é uma
pequena parcela da sociedade, uma reprodutora das ideologias presentes no todo.
De fato, o racismo está presente em toda a sociedade espanhola em particular ao
fato e em todo o mundo, em geral. Quem o nega presta um desserviço à sociedade.
A luta por direitos humanos cada vez mais humanos é urgente e necessária. E ela
precisa ser aguerrida, confrontando toda forma de injustiça. Enfim, ficam as
palavras contundentes de Vini Júniro em postagem no Twitter em 21 de maio de
2023: “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O
racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e
os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de
Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda,
que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um
país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a
Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que
acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte
e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.
Nossa luta contra a injustiça é grande. Ela não
se finda aqui...