terça-feira, 23 de maio de 2023

DIA 21 - Justiça, injustiça e o racismo

 


Hoje, sinto-me comovido a falar do meu entendimento de justiça. Digo “meu entendimento”, pois não se trata de um tema de simples interpretação. Os meandros e aprofundamentos hermenêuticos que acompanham esta palavra são extensos e profundos. Ao mesmo tempo, ao falar dessa temática, incluo o seu oposto: a injustiça. Infelizmente, todos nós vivemos o grande paradoxo entre a vida justa e as esferas da injustiça presentes em todos os rincões sociais. Quero atrelar a minha reflexão à complexidade do racismo sofrido pelo jogador de futebol Vinícius Júnior do Real Madrid. Um rasgo ferino na dignidade humana.

Compreendo que, ao falar do evidente paradoxo que envolve a justiça, acabo por apontar uma  temática que envolve as relações humanas,  como elas se constroem e o estabelecimento delas em nossos contextos sociais. De fato, a justiça tem a ver com o equilíbrio das forças que se entrechocam, principalmente entre dimensões que são completamente diferentes uma da outra. Por exemplo, em nossa sociedade marcada pela desigualdade social, pelo machismo, pela intolerância religiosa e pelo racismo, é fundamental que tenhamos parâmetros específicos que auxiliem as pessoas a realmente acessarem todos os seus direitos. Pessoa alguma precisa ser igual à outra para se alimentar da justiça, pois este ideal fascinante é o caminho que favorece a igualdade aos direitos fundamentais, previstos no Artigo 5° da Carta Cidadã, segundo a premissa; “Pessoa alguma é melhor do a outra”.

Infelizmente, desde que as primeiras sociedades se formaram, o valor da justiça teve que se manifestar para proteger especialmente os desfavorecidos.
Estas sociedades se constituíram e se estabeleceram com critérios diferenciados, violentos e abusivos entre as pessoas, fazendo com que muitas delas ficassem à margem.

Imaginemos, por exemplo, um núcleo social onde alguns se destacaram pelo carisma, pela aplicação da força violenta ou mesmo pelo sequenciamento tradicional – relembrando aqui os tipos ideais indicados pelo sociólogo Max Weber – se estabelecendo sobre as outras pessoas, determinando processos e aprofundando domínios e acumulação. Certamente, tais pessoas impulsionadas pelas suas posições sociais impuseram as suas vontades sobre as outras, criando normas absolutas com forte teor religioso. Como disse previamente, isso se encontra diretamente ligado ao processo espúrio de acumulação de riquezas, especialmente produtos da terra, enquanto que outros seres que exerciam as atividades agropastoris ficavam espoliados.

Ao falar de injustiça, por sua vez, considero os fatores mais objetivos que levam uma pessoa a determinar como deve ser a vida da outra pessoa. Fatores misóginos, racistas,  religiosos, econômicos e estruturais determinam as formulações injustas que se estabelecem entre as pessoas. Em minhas percepção, entendo que cada um de nós deve se manifestar como um veemente combatente de todas as formas de injustiça humana, sem nenhuma possibilidade de unilateralismos.  O fato é que, querendo ou não,  precisamos que toda forma de violência, agressividade e injustiça ao outro sejam extirpadas dos nossos atuais cenários sociais.

Neste último domingo, fomos aturdidos com a violência, agressividade e injustiça sofrida pelo jogador Vinícius Júnior, do time espanhol Real Madrid. Vini, como tradicionalmente é conhecido, foi chamado de macaco pela torcida. Todavia, é preciso que se diga que a torcida é uma pequena parcela da sociedade, uma reprodutora das ideologias presentes no todo. De fato, o racismo está presente em toda a sociedade espanhola em particular ao fato e em todo o mundo, em geral. Quem o nega presta um desserviço à sociedade. A luta por direitos humanos cada vez mais humanos é urgente e necessária. E ela precisa ser aguerrida, confrontando toda forma de injustiça. Enfim, ficam as palavras contundentes de Vini Júniro em postagem no Twitter em 21 de maio de 2023: “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”.

Nossa luta contra a injustiça é grande. Ela não se finda aqui...

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