É sempre um
privilégio recomeçar um novo ciclo de vida e experimentar o poder de ser quem
se quer ser, como se pode ser.
Nas múltiplas partes da existência, pessoas
são conjugações de corpos que se enriquecem quando se amam. As exposições ao
toque e as aberturas ao intenso calor emanados em cheiros favorecem os voos das
borboletas livres, eternizadas em lindas pinturas rupestres.
Enquanto elas voam em vôos de ventos, pode-se gritar à lua fina
para declarar a urgência que clona os olhos a fim de respirar as paixões que só
as estrelas cadentes e ridentes conhecem. Na clonagem, provocar os
encantamentos num abraço que envolve vidas e personas para, quem sabe,
vivenciar uma manhã de núpcias num quarto de núpcias sem jamais ceder aos
devaneios sem encantamentos.
Há uma rota que se abre no horizonte sem cerceamento de barbantes.
O amor é laçado em seu estado bruto, selvagem e surpreendente, tal
como o regime inebriante da dama-da-noite. De fato, felicidade só
ocorre em momentos de descuido, quando o perfume e os ecos são soprados no
interior da boca mordida.
No lugar chamado coração, é possível levar-se risos e emoções. Em
seu interior, bem interior, horizontes se abrem para viver o que nunca antes
foi vivido. Entregar-se ao inusitado é essencial para se experimentar o frenesi
e o arrepio daquele tesão que não cabe no corpo, a ponta dos dedos
percorrendo-o.
É preciso fundir o amor sem limites, mediante a língua que lambe o
universo para que a alma seja tocada.
Ornar-se da poesia enquanto fôlego houver. Preparar a mesa da casa
para aguardar o arauto do prazer, insistindo em harmonizar os sensos de forma
tal que o que importa continue se perdendo e se achando, não necessariamente
nessa ordem…
Estampa-se nas retinas aquela mulher do Apocalipse, vestida de sol
com a lua a seus pés, uma coroa de 12 estrelas, grávida para dar a luz. Para os
católicos é Maria, para os protestantes é a Igreja. Tanto faz, é imagem do
Sagrado Feminino e por esta imagem, todas as mulheres são amadas e adoradas.
No amor ou na adoração, combina aquele transplante que comporta um
coração maior capaz de acolher os fragmentos de qualquer amor e buscar sempre
as novas formas que demonstram a imensidão das paixões que se sente, enquanto
se conta as areias do mar. Se não se sabe ou se não se dá conta, importa brincar
com os corpos, experimentando ardentes sensações e sinceras emoções.
O amor pode até ser universal, mas não aprisiona individualidades.
Na cosmoeticidade, universos desejantes de afetos, detalhes, contornos,
peculiaridades se aplicam às voanças da vida para achar pouso em algum ninho
aconchegante.
Mesmo alado, eternizar-se nas peles espraiando as essências que
percorrem os corpos e beijam os poros.
E quando tudo estiver eriçado, soltar a fera na savana para a
exaltação do cio, permitindo-se ver no espelho da alma o que é puro deleite.
Deleite de amor para construir o amor, para viver o amor, para
fazer o amor acontecer em milhões de oportunidades que se expressam sem
palavras.
Que a exposição, ainda que tacanha, não se furte a uma safadeza
bestial. Tudo se extrapola no nada inusitado, salvaguarda dos momentos efêmeros
daquela convivência íntima, quando todos os nossos monstros se reúnem num só
corpo.
Deixar escorrer dos dedos as carícias ou o encontro das mãos
entrelaçadas a fim de cantarolar uma canção e que alguém que me importo me
acompanhe. Carinhos e malícias se revelam sem ordem.
Hora de tomar uma cervejinha e conversar bobagens.
O amor acontece…