quinta-feira, 21 de setembro de 2023

DIA 39 - A beleza do ipê amarelo e suas lições para a vida

 


 

Gosto de viajar. Gosto mais ainda de observar as belezas naturais que se revelam pelas janelas dos veículos diversos: ônibus, trens, automóveis, navios ou aviões. Gosto, especialmente, do visual liberto provocado pelas trilhas feitas com a minha bicicleta, mas invejo os aventureiros que, mesmo levando uma vida marcada por altos e baixos, singram montanhas e vales, abismos e cachoeiras conhecendo relevos, climas, naturezas, animais e gentes diversas.

A ideia de um visual liberto tem a ver com a entonação do olhar, melhor dizendo, com o desenvolvimento da contemplação em todas as nuances do cotidiano. É fundamental que nosso olhar esteja fixado à concretude dos corpos em ação no enfrentamento dos dilemas corriqueiros, sempre ajudando-nos a vivenciar a maior expressão de nossa humanidade: a espontaneidade para sermos e vivermos a nossa melhor versão, dentro dos limites que nos forem propostos.

 

A poesia natural e o meio ambiente

Em minhas viagens, encanto-me com a poesia colorida, revelada e expressa pela natureza e pelos seus respectivos biomas. Infelizmente, lugares lindíssimos estão sendo violentados pelos seres humanos, detentores do poder econômico. É o caso da nossa floresta amazônica e do pantanal. Sofremos quando visualizamos o meio ambiente ser atacado de diversas maneiras. Choca-nos, por exemplo, quando nos chega às narinas o odor das queimadas que destroem a vegetação, os animais, a água e a própria terra. Seres humanos, de todos os lugares deste planeta, devem denunciar as referidas afrontas e desenvolverem uma atitude mais cuidadora para com o meio ambiente. De qualquer forma, independente destas distorções presenciadas por cada um de nós, a natureza e o meio ambiente são nossas ambientações mais efetivas. O planeta e sua natureza são os quintais das nossas casas.

 

A beleza do ipê amarelo e suas lições para a vida

Preciso confessar que a poesia que mais me encanta, entre todos os seres vivos nos mais distintos biomas, é o ipê amarelo, uma árvore brasileira bastante conhecida e muito bela. Ela se encontra presente em todas as regiões do Brasil e pertence ao grupo das Tabebuia alba.

As árvores desta espécie proporcionam um belo espetáculo com sua esplêndida floração na arborização de ruas e matas. Elas embelezam e promovem um colorido no final do inverno, anunciando a chegada da primavera. Essa árvore é natural do semiárido alagoano e levou o governo deste estado, por meio do Decreto nº 6239, a transformá-la em árvore símbolo. Em fins de setembro, os ipês revelam suas belas cores, numa espécie de “epifania” – uma aparição inusitada na terra dos viventes.

Curiosamente, é o estresse causado pelo frio e pela seca que aciona o relógio biológico das árvores, indicando o florescimento. É de uma experiência de “quase morte” que surge a beleza das flores dos ipês anunciando sua beleza comovedora. Do frio e da seca surgem flores exuberantes e seus tons que fazem os olhos sorrirem. As flores atraem abelhas e pássaros, principalmente beija-flores. As sementes espalhadas pelos pássaros são semeadas pelos ventos.

 

Da contemplação à existência

O que mais me espanta é o fato de que estes ipês, na maioria das vezes, se encontram solitários. Independente da forma e do tamanho de sua copa, os ipês são seres lindíssimos que nos convidam à contínua contemplação. Parecem convocar cada alma ao despertar das emoções e sentimentos mais aprofundados. Talvez, por conta da minha leitura mais atenta à obra de Rubem Alves, eu tenha me sentido mais tocado quanto à beleza dos ipês amarelos, suas árvores preferidas. Ele via estas árvores como sacramentos. Em suas palavras: “Penso que os ipês são uma metáfora do que poderíamos ser. Seria bom se pudéssemos nos abrir para o amor no inverno. Corra o risco de ser considerado louco: vá visitar ipês. E diga-lhes que eles tornam o seu mundo mais belo. Eles nem o ouvirão e não responderão. Estão muito ocupados com o tempo de amar, que é tão curto. Quem sabe acontecerá com você o que aconteceu com Moisés, e sentirá que ali resplandece a glória divina”. (As Cores do Crepúsculo, 49). Cabe salientar, encerrando momentaneamente a inspiração deste autor de Boa Esperança, que o logotipo do Instituto Rubem Alves é um ipê amarelo. Amarelo era, também, a cor preferida de Van Gogh, que pintou múltiplos girassóis, minhas flores preferidas.

 

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