quinta-feira, 20 de abril de 2023

DIA 15 - Dizendo não à automação em 1000 balões...

 


Eu acredito no princípio ativo da espontaneidade como uma vacina contra toda e qualquer forma de automação do ser humano. Embora sejamos livres para vivermos as nossas experiências e tomarmos as nossas decisões, todos os dias somos convidados a robotizarmos as nossas ações dentro dos contextos sociais aonde vivemos os mais diversos processos. A perspectiva da automação parece ser uma convidativa porta aberta em nossa vida pessoal conduzindo-nos ao abraço à rotina.

Desde a dinâmica família até a estrutura do ambiente de trabalho a rotina se manifesta como companheira, marcando-nos pela mesma repetição das atividades corriqueiras. São poucas as vezes em que temos a oportunidade de recriar as nossas próprias ações e viver coisas que fazem um novo sentido em nossa dinâmica existencial.

O Grande Mestre da espontaneidade, a meu ver, é o médico romeno Jacob Levi Moreno. Ele é o pai do Psicodrama, que se caracteriza por uma abordagem psíquica baseada no teatro espontâneo. Ao criar o Psicodrama, Moreno enfatizou as profundas dinâmicas subjetivas e coletivas que envolvem a espontaneidade e a criatividade, elementos fundamentais para a vivência humana, favorecendo a projeção humana para uma nova realidade de bem-estar.
É importante situar que o conceito de espontaneidade em Moreno tem a ver com a questão da adequação. Pessoa alguma pode ser espontânea e sem limites. Toda liberdade precisa ser equilibrada pelos limites. Assim, toda e qualquer atitude marcada pela espontaneidade precisa considerar os parâmetros dessa ação.

Todavia, como somos seres limitados pela nossa corporeidade, pelo tempo e pelo espaço, a criatividade se atrela à espontaneidade para possibilitar atitudes extremamente novas diante de contextos que parecem bem resolvidos. Não precisamos deslindar as nossas vidas em ações deslocadas de uma realidade vivencial, mas podemos evidenciar uma série de cenas e ações psíquicas que possibilitem a contemplação de  outros mundos mais coerentes com as nossas expectativas.
Curiosamente, enquanto escrevo este texto, recebo a notícia de que hoje se completam 15 anos do desaparecimento do padre Adelir de Carli. O referido padre ficou conhecido por voar com 1000 balões, cheios de gás hélio, do Paraná até o Mato Grosso do Sul. Ele queria arrecadar uma quantia de dinheiro para construir um hotel para abrigar os caminhoneiros na região do Paranaguá, no litoral do Paraná.

Infelizmente, apesar de toda a sua experiência com voos e saltos de paraquedas, o referido padre acabou enfrentando uma tempestade tropical, vindo a  desaparecer no mar, sendo encontrado somente sete meses depois no litoral do Estado do Rio de Janeiro.

Certamente ele vai ficar registrado na memória de todo e qualquer brasileiro que teve a oportunidade de conhecer a sua história. Hoje, passados quinze anos, ele é relembrado como o “padre do balão”. O seu ato certamente foi um ato espontâneo e criativo. Ele ousou fazer o voo por conta dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Quis arrecadar dinheiro de uma forma inusitada, mas a situação saiu do controle. Seu legado continua entre nós.

Não vou entrar no mérito quanto a decisões certas ou erradas tomadas por ele. Não cabe a qualquer um de nós um julgamento. Ele fez o que acreditava e isso é o que importa.

Mas passo a refletir com os meus botões: Será que em nossos cotidianos não precisamos também fazer os nossos voos inusitados com balões? Obviamente, não precisamos ir às últimas consequências, vindo a  enfrentar situações intempestivas, mas criarmos possibilidades novas que nos afugentem daquilo que é tão concreto, tão cartesiano, tão lógico e tão matemático.
Enfim, eu acho que podemos acreditar um pouquinho mais em nós mesmos em nossas potencialidades pessoais. Indicarmos a nós mesmos os nossos limites com a finalidade de alcançarmos novos tônus vitais em nossa dinâmica existencial, afinal de contas, como sempre gosto de refletir, a aventura da vida é inédita e precisamos experimentar coisas novas todos os dias, de preferência.

DIA 71 - Olho e língua da minha amiga - Em memória de Iracy Costa Rampinelli

  Quando eu era criança, sempre me convidavam para as festas de aniversários. Eu, que nunca tive festas de aniversário, ficava deslumbrado c...