Recentemente um cliente que eu muito prezo perguntou-me em uma
das nossas sessões psicoterápicas: “Moisés, porventura você tem algum problema
na vida”? Respeitosamente, soltei uma gostosa gargalhada e respondi que não,
pois eu, na verdade era um extraterrestre ou um astronauta de mármore fixado no
planeta Saturno, e, portanto, sem problemas existenciais.
Em que pese o tom jocoso da minha brincadeirinha,
sequencialmente eu deixei claro ao meu cliente que, como qualquer pessoa no
mundo, eu também tenho os meus problemas pessoais e comunitários. Não
é pelo fato de ser um psicólogo e versar sobre algumas nuances da mente humana e
a consequente busca pelo bem estar que eu não esteja sujeito a situações
complexas e problemas diversos, passíveis de atingir, diametralmente, a minha saúde
mental.
Enquanto eu pensava sobre os altos e baixos que me acometem a
vida, presentes em toda a dinâmica da vida humana, eu revisitei os alguns
baixos que eu vivenciei na primeira semana de 2024. Pela minha habilidade socioemocional,
eu acabei por vencer as situações diversas que mexeram com a dinâmica do meu
cotidiano, entretanto eu queria que aqueles problemas passassem o mais rápido
possível. Como toda e qualquer pessoa, queria um “remedinho” para dormir.
Eu sei que quando nós vivemos situações adversas, tendemos a
buscar soluções rápidas e facilitadas. Das soluções mais buscadas pelas pessoas
na atualidade, uma se refere à utilização dos psicofármacos disponíveis nas
redes farmacêuticas. É interessante notar como que no decorrer destes últimos
anos o número de farmácias e drogarias aumentou consideravelmente nos grandes
centros, alarmando os diversos grupos sociais. A busca considerável de remédios
em todos os níveis e em todos os graus revela que alguma coisa não está bem na
sociedade. Acresce-se a isso o fato de que ninguém quer sofrer. Sentir a angústia
ou ansiedade, embora amplamente naturais na experiência existencial, não é fácil
para pessoa alguma, mas é uma realidade.
Eu entendo que todos nós precisamos acolher bem as nossas angústias
e as nossas ansiedades. A melhor forma de encontrarmos saídas para os problemas
que muitas vezes agravam a nossa saúde mental se dá por intermédio de um diálogo
consigo, uma boa conversa com o “self”.
Eu sinto que precisamos investir mais e mais no desenvolvimento de algumas
novas – não tão novas – atitudes para a boa resolução de nossas demandas
emocionais. Além do investimento na clínica psicoterápica, é essencial que cada
um de nós desenvolva três nobres capacidades fundamentais: 1. A capacidade de
se desenvolver ludicamente, se divertindo mais, mesmo com as tensões inerentes;
2. A capacidade de ressignificar os sentidos para ampliar a postura contemplativa;
3. A capacidade de harmonizar afetos amorosos, dignos de posicionamentos mais
maduros e menos centrados em si-mesmo. Aliás, sobre esta última capacidade, é
fundamental pensar que a maturidade nos livra dos pensamentos desconexos que
insistem em visitar a nossa mente, fazendo com que monstros e fantasmas nos
visitem. Todavia, se eles chegarem, torna-se vital aprender a acolhê-los. Não são
necessários os receios. O que nos assombra ou assusta não precisa ser repelido,
ao contrário, acolhido.
Neste mês de janeiro, por iniciativa do Instituto Janeiro
Branco, ocorre uma série de atividades em diversas partes do mundo visando o
estabelecimento de uma cultura de Saúde Mental que abarque toda a humanidade.
Ora, sabemos de antemão que ao mesmo tempo em que possuímos a nossa
subjetividade, vivemos em comunidade, respeitando as instituições. Dessa forma,
pensar a saúde mental é pensar a sanidade das emoções e dos sentimentos como um
problema público, pois todas as perspectivas biológicas, fisiológicas, afetivas,
espirituais e sexuais fazem parte da integralidade humana e, portanto, com
amplas ligações à saúde mental.
Enfim, a possibilidade de se discutir a saúde mental em janeiro
nos abre a porta para nos atentarmos a todos os pormenores inerentes ao cuidado
integral do ser humano pelo ser humano. Acho que mais do que se buscar soluções
rápidas para os dilemas emocionais, vale à pena aquela conversa intensa com o
eu, a fim de realmente percepcionar se o que é considerado dor, de fato é dor.