Quem
disse que precisamos de eventos bons e glamorosos para nos divertimos? Quem disse
que precisamos de pompas e circunstâncias para nos consideramos mais gente?
Há
duas semanas eu tive a oportunidade de viajar para o Rio de Janeiro, onde vivi
algumas boas e inusitadas experiências. Após concluir o meu compromisso, motivo
de minha viagem, fui à casa de minha tia onde iria pousar. Reencontramo-nos,
almoçamos juntos e rumamos ao hospital Miguel Couto no Leblon, onde o esposo
dela estava internado. Eu a deixei na portaria, pois eu não poderia entrar. Fiquei
aguardando ela resolver todas as questões inerentes ao processo de cuidado e
recuperação dele.
Enquanto
eu a aguardava, tive oportunidade de rever muitas das minhas ideias. Eu sempre
tenho o costume de paralisar o meu momento presente com a finalidade de refazer
as minhas intenções. Eu acredito plenamente no processo de contínua revisão da
vida e da existência. Faço essas revisões com muito prazer e alegria. Não me
sinto constrangido em me autodeclarar um ser em contradições. Gosto de ressignificar
o que vivo e entendo que este movimento precisa existir continuamente entre nós.
E, assim, escrevo poemas, faço poesias...
Enquanto
eu visitava as minhas ideias, comprei um picolé para saboreá-lo e passar o
tempo. Saboreei o meu preferido: o Tablito, enquanto eu assistia a reprise do
filme Rocky VI, estrelado por Sylvester Stallone. O filme na verdade estava
dentro de um projeto de merchandising
da Rede Globo de televisão e do Banco Itaú. O sistema de mercado dando o seu “tchauzinho”
para toda a galera numa tarde de sábado. Na sequência do filme, veio o programa
exibido pela referida emissora, intitulado Caldeirão com Mignon e aquela
enxurrada de propagandas ligando o apresentador ao ator norte-americano. Percebi
que tudo se encontrava bem orquestrado para favorecer a contínua venda de
produtos da rede bancária. Nada novo debaixo do sol.
Depois,
eu busquei a minha tia no hospital e nos destinamos à sua casa. Tive a oportunidade
de me encontrar com o meu primo. Ele é um contador de histórias do cotidiano. Muito
divertido, fala às pessoas e conta casos com uma precisão tão fantástica e tão
bem humorada, digna dos grandes humoristas espalhados por este país de meu
Deus. Só para ter uma ideia do que eu estou falando, ele trabalha com o turismo
na cidade do Rio de Janeiro. Naquele mesmo dia, ele falou que acompanhou um
casal de Porto Alegre em uma visita ao Cristo Redentor. Como um bom guia
turístico, contou diversas histórias sobre o Rio e sobre a construção do
Cristo. Ao se aproximar do destino final, aquele que dá destino às Vans do
último trecho, ele percebeu que a fila dos turistas estava completamente lotada.
Então ele provocou uma das cenas mais hilárias que eu já tive a oportunidade de
ouvir. Combinou com a senhora do casal para que ela se passasse por uma pessoa com
deficiência visual. Ela titubeou, mas concordou. Então, ele cortou toda a fila
para ir à frente, com a finalidade de adentrar em uma das Vans. A missão foi
cumprida, e com sucesso. Se verdade ou não, não importa. A história é boa e nos
rimos a valer.
À
noitinha, eu e a minha tia resolvemos fazer uma programação bem simples e
próxima à sua casa. Fomos para uma barraquinha organizada em uma calçada onde
havia um pai e um filho fazendo churrasquinhos e pães de alho. Resolvemos tomar
umas cervejas, celebrando aquele momento todo especial de conversa aberta
franca e honesta.
Um vento
forte começou a nos visitar, fazendo redemoinhos de poeira e anunciando a
chegada de uma chuva. Ela já era esperada, pois o dia fora extremamente quente.
A chuva veio como uma dádiva. Não nos importamos com ela e permanecemos
assentados em nossos banquinhos de plástico, curtindo o momento e sendo
banhados pela água fria. Eu já disse algumas vezes aos amigos mais próximos o
quanto eu gosto da chuva. Tanto isso é verdade que quando vem uma forte chuva,
gosto de banhar-me nela.
Bebemos,
comemos, divertimo-nos e tomamos banho de chuva. Nenhum glamour, mas muita
alegria e satisfação. Quem disse que precisamos de eventos bons e glamorosos
para nos divertimos? Quem disse que precisamos de pompas e circunstâncias para
nos consideramos mais gente? Grandes momentos se encontram na simplicidade do
momento.