Um sério problema a ser considerado pelas nações em geral e pelas pessoas em particular é o que se refere ao cuidado com o meio ambiente. Aliás, este é um problema de real emergência.
Precisamos
partir da premissa de que o Planeta Terra é o único lugar em que podemos
habitar neste universo. É a casa comum para a humanidade e suas contradições,
geradoras de todas as formas de injustiças e distanciamentos estruturais, mas
também de todas as belezas e alegrias.
Hoje,
enquanto me deslocava para o meu ambiente de trabalho, reconfigurei toda a
minha contemplação, pois toda a natureza que eu contemplava apresentava a sua
exuberância e esplendor pela primeira vez aos meus olhos, mesmo tendo eu
passado por este caminho uma dezena de vezes. Todos os dias, as dimensões que
nos visitam devem ser observadas por nós como sendo reveladas pela primeira
vez. O cuidado com o meio ambiente precisa ser renovado cotidianamente.
Apesar
de algumas correntes teóricas afirmarem a supremacia antropológica sobre a face
deste planeta, somos todos sabedores da nossa relação de interdependência dos
reinos animal, vegetal e mineral. Estamos em ampla e completa relação de
simbiose. Cabe aqui a premissa de que o todo é maior do que as partes que o
compõe. E nessa perspectiva, importa pontuar também que pessoa alguma é mais
importante do que a outra. Apesar dos esforços extenuantes quanto à apropriação
indevida de recursos para a salvaguarda de riquezas pessoais, o que realmente
importa é a atitude de solidariedade que deve se expressar de forma viva entre
os reinos supracitados, preservando-se, assim, a continuidade da vida em nossa
casa comum.
Todo
esse processo de solidariedade abraça, também, a busca pela dignidade humana,
especialmente para os pobres e desvalidos, completamente afastados das mínimas
possibilidades de sobrevida. É preciso lutar pela justiça, inclusive na
proteção do meio ambiente, pois a degradação da terra, do ar e da água é
tamanha. Todos os sinais de alerta já foram acesos e os líderes mundiais sabem
disso. Desde o início do ano de 2005, uma preocupação com o meio ambiente e com
a ecologia foi ampliada por conta do furacão Katrina. Deflagrou-se, a partir do
ocorrido nos EUA uma preocupação mais efetiva com o planeta. Diante dos olhos, se
estampava os rescaldos do aquecimento global, as grandes precipitações e a
inconstância dos ventos. De fato, os grandes cataclismas atuais estão deixando os
cientistas comprometidos como o meio ambiente em estado de tensão e atenção.
Entendemos
que as novas possibilidades históricas podem remeter o ser humano a uma
reconsideração da visão de mundo, desembocando a reflexão à busca por um
equilíbrio entre três importantes forças que se referem aos cuidados com a casa
comum: a ecologia, a economia e o ecumenismo. O prefixo destas palavras é o
mesmo. Refere-se à palavra grega oikos, que se caracteriza em língua portuguesa
como casa.
Como
já afirmamos, o planeta terra é a casa comum de todos os seres humanos, mas em
todas as três dimensões, se pode inferir que a casa comum se encontra em crise.
Ora, nas últimas três décadas aguçou-se a preocupação com a preservação da vida
em todos os continentes. O ambientalista Maurício Waldman que foi assessor de
Chico Mendes ressaltou que os problemas socioambientais são sem precedentes. Toda
a biosfera está ameaçada por causa de uma falsa dicotomia que o mundo ocidental
estabeleceu entre economia e ecologia, mesmo porque os termos não são antagônicos:
“A palavra ecologia, proveniente de oikos-logos, significa “estudo”, “tratado
sobre a casa”, e a palavra economia, derivado de oikos-nomos, reportaria a
“ordem”, “organização da casa”. Porém, esta etimologia não esgota o significado
de ambas as palavras”. (WALDMAN: 2003: 14). No passado, oikos tinha ver com uma
unidade marcada pela auto-suficiência, produção e consumo, da qual dependia a
sobrevivência do grupo, subtendendo também uma determinada organização
política”. (WALDMAN: 2003: 14). Mediante esse apontamento, Waldman
apresenta-nos a relação indissociável entre nomos e logos, especialmente quanto
à questão ambiental: “Uma economia que pretenda de fato ser uma oiko-nomos tem
de ser uma economia ecológica. Por sua vez, uma oiko-logos que faça sentido tem
também de incorporar uma vertente econômica”. (WALDMAN: 2003: 15). Dentro do
arcabouço do termo oikos, a noção de auto-suficiência, sobrevivência do grupo, equilíbrio,
ordem sociopolítica e econômica precisam ser consideradas de forma intencionalial,
enfim, da sobrevivência do grupo. Digno de nota é a seguinte argumentação de
Waldman: “O enfrentamento da deterioração da biosfera deve buscar a causa comum
da conquista da justiça social e do respeito ao meio ambiente, um mundo que não
seja mais da divisão dos riscos, e sim do risco comum de não sermos divididos.
É deste modo que ecologia e economia desdobram-se obrigatoriamente em
ecumenismo”. (WALDMAN: 2003: 16).
Essas
premissas de Waldman estabelecem eixos fundamentais para a nossa reflexão sobre
os riscos e oportunidades inerentes ao planeta. É preciso ainda considerar que
a mídia, apesar de acelerar as informações, também favorece um tratamento chulo
a questões sérias. É possível que alguns temas, como o tema do meio ambiente,
mediante abordagens equivocadas, se tornem uma espécie de “moda”, não sendo
enfáticos e, tampouco, não direcionando de forma evidente as ações de políticas
públicas que provoquem mutações para o futuro do planeta.
Portanto,
é preciso que todos nos conscientizemos quanto à necessidade e urgência quanto
ao cuidado da nossa casa comum, o planeta que habitamos. Se há uma correlação
efetiva entre economia e ecologia, é de vital importância que a grande miríade
de religiões espalhadas sobre a face da terra se abrace numa corrente solidária
e se esmere na possibilidade de cuidar do planeta, independente de suas
narrativas e convicções específicas. O ecumenismo se associa à economia e
ecologia no cuidado com este planeta que vaga por este universo de dimensões
inimagináveis.