domingo, 31 de dezembro de 2023

DIA 55 - Esperançando como as crianças esperançam...

 


A vida exige de cada um de nós certa atitude para enfrentar os desafios complexos do dia-a-dia, pois cada um deles possui sua constituição inusitada. Diante das múltiplas afrontas, acabamos por desenvolver certo temor e cedemos espaços para a angústia e a possibilidade do desespero. Em momentos tais como este, o pensar humano se refugia na atitude de se dar um salto no escuro ou tentar fugir das realidades que confrontam a existência.

Uma gama de pessoas entende que este confronto somente pode ocorrer por intermédio da esperança. Em geral, o que se convencionou se chamar de esperança é uma espécie de mola precursora para aqueles que vivem com vigor a experiência da existência. Para outros, ela é a contínua respiração ofegante por um novo tempo, um novo mundo. Mas será mesmo?

O antigo adágio popular expressa: “a esperança é a última que morre”. A inspiração desta frase remonta a antiguidade e a mitologia grega. O titã Prometeu havia roubado o fogo do Olimpo para partilhá-lo aos seres humanos. Ao mesmo tempo, trancafiou em uma caixa todos os males do mundo, inclusive a esperança. Recebeu de Zeus o castigo de ser preso em uma pedra para ter o seu fígado devorado por um abutre durante o dia. O órgão se recuperaria durante a noite e o castigo eterno se repetiria. Além disso, Zeus cria Pandora, uma mulher linda que se casa com Epimeteu, irmão de Prometeu. Na terra, Pandora encontrou a caixa de Prometeu e a abriu, liberando todos os males e os sofrimentos à humanidade, inclusive a esperança – Elpis. Mas por que a esperança também fora aprisionada nesta caixa? Ela possui uma conotação maligna?

Para os gregos, a esperança era filha da mentira e, portanto, era considerada má por afastar os seres humanos dos ideais da verdade que não poderia ser ignorada. Decerto, se uma determinada expectativa quanto ao futuro paralisa uma determinada pessoa, a esperança se torna extremamente negativa. O filósofo Nietzsche, seguindo esta linha, afirma que a esperança é o pior dos males, pois se refere a confiar em um futuro incerto.

De fato, o futuro é incerto. Felizmente ou infelizmente, não temos como controlar as coisas que acontecem em nosso cotidiano. Existem muitas situações que fogem ao controle das mãos ou das mínimas organizações de vida. Quando as pessoas se deparam com as suas respectivas complexidades existenciais, sentem-se atormentadas e, em muitos casos, se angustiam em pensamentos mil, até perderem o sono. Entretanto, é preciso considerar que apesar de todas as complicações da vida, cada pessoa em sua subjetividade pode se esmerar em fazer diferente a sua própria realidade de vida.

Um caminho pertinente é o de se respeitar o tempo presente como as crianças o respeitam. É preciso aceitar o desafio de olhar o tempo presente sem a necessidade de se buscar respostas quanto ao futuro. É preciso que os olhos brilhem dentro do espectro de espontaneidade tão comum ao mundo das crianças. Ora, as crianças não se gastam pensando no futuro. A esperança nas crianças se traduz na possibilidade de vivenciar as experiências lúdicas sem a mínima preocupação quanto ao que vai acontecer amanhã. É desnecessário nutrir altas expectativas quanto ao tempo vindouro e, tampouco, tornar o que se concebe como esperança como algo desnecessário. Aliás, mais do que esperar, é necessário esperançar, todavia sem aquela ansiedade para se alcançar um determinado objetivo. Deve-se, sim, esperançar no cotidiano, vivendo o que dá para se viver, como se quer viver.

Viver sem muita expectativa quanto ao futuro não significa se tornar pessimista, mas saborear o tempo presente de forma mais perceptiva. Acho que, aqui, vale um antigo conselho que eu recebi do meu pai: “Filho! Coloque as suas barbas de molho”. E olha que eu nem tenho barba. Descobri que essa expressão está ligada a um provérbio espanhol que diz: “Quando vir as barbas do seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”. Aliás, descobri também que na antiguidade e na Idade Média, a barba simbolizava honra e poder. Se cortada, representava uma grande humilhação. Independente de comentários aleatórios, certo é que essa expressão tem a ver com desconfiar daquilo que se apresenta diante do olhar. Acho mais prudente essa postura a ser surpreendido por alguma novidade que possa ocasionar algum desconforto. Ora, não temo coisa alguma que me desafie na vida, a não ser a hipocrisia dos que sorriem pela frente e ameaçam pelas costas. Por isso, prefiro colocar as barbas de molho, mesmo sem tê-las, como já disse. Ademais, minha alma é povoada por uma série de sentimentos difusos que se deslocam com facilidade nos meus jogos mentais e me dão a sensação de múltiplas transitoriedades. O poeta Raulzito declarou a necessidade de se tornar uma metamorfose ambulante, a ter sempre a velha opinião formada sobre tudo. Corroboro com a intuição do poeta e me sinto igualmente em completa e complexa transformação. Talvez decorra daqui essa minha dúvida inquietante frente à esperança. Por isso, prefiro a teimosia das crianças em sua sanha pela vivência cotidiana. Sigo aqui, também, um princípio de Gandhi: “Coisas que nos parecem impossíveis, só podem ser conseguidas com uma teimosia pacífica”. Nos dicionários, teimosia se define por uma persistente obstinação às próprias ideias, gostos etc. Eu sei que para muitas pessoas a teimosia tem um aspecto completamente negativo, mas no arcabouço dessa reflexão, abarca uma conotação positiva e extremamente propícia para esses tempos de transitoriedades ou metamorfoses.

Por uma razão inerente a mim mesmo, somente consegui alcançar o que alcancei por causa da minha teimosia em dado momento presente. Eu sei também que pelo fato de me autodesignar um teimoso, acabo por ser considerado um chato para muitos. Que se dane. Confirmo aquilo dito pelo mesmo poeta de antes: “Não sei aonde vou chegar, mas estou no meu caminho”. Então, independente do que se estabelecer frente aos meus olhos, vou continuar com minha teimosia no presente, pois é a única forma de continuar sobrevivendo diante do caos que se instala travestido em discursos informes.

Os dias muitas vezes são sombrios e nublados. Mesmo diante da minha recatada esperança que se concretiza numa espécie de teimosia chata, faço minhas as palavras de Darcy Ribeiro: “Na verdade, sou um homem feito muito mais de dúvidas que de certezas, e estou sempre predisposto a ouvir argumentos e a mudar de opinião. Tenho mudado muitas vezes na vida. Felizmente”.

E é isso o que eu vou fazer em meu tempo presente, esperançando, mudando de opinião, metamorfoseando-me sem muitas expectativas ilusórias quanto ao que virá amanhã.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

DIA 54 - Das emoções inteligentes e os sentimentos conscientes

 


Viver requer de cada um de nós uma série de comprometimentos diversos com os eventos que nos ocorrem no cotidiano e com as pessoas com as quais nos envolvemos direta ou indiretamente, distantes ou intimamente.

Na verdade, cada um de nós é desafiado a equilibrar as emoções que fluem como vulcões em erupção da interioridade humana. Gosto sempre de fazer uma distinção entre o que são as emoções e o que são os sentimentos. A emoção é o que brota no momento exato em que os sentidos percepcionam algo ou alguma coisa que escapa ao habitual, como, por exemplo, quando vemos um filme e nos emocionamos, rindo ou chorando, ou ainda, quando enfrentamos um acidente de percurso ou o ataque de algum animal. É o que ocorre, também, quando entramos em uma discussão acalorada com alguém, num conflito que se estende em gritos, berros, choros e nervosismos. Num momento como este, tudo e todos se perdem. Instala-se o reinado das emoções que se descontrolam.

Os sentimentos, por sua vez, também em minha concepção, se configuram como a boa resolução das emoções. Então, no momento em se sente que algo vai explodir ou convulsionar na corporeidade, é preciso buscar a possibilidade de diálogo internalizado. A boa conduta e possível resolução dos sentimentos pode fazer com que as emoções se tornem inteligentes. Em suma, as emoções inteligentes são as resultantes de um processo de autoconhecimento, autocontrole e autoestima, mediados pela consciência que, por sua vez, acalma as emoções deslocadoras do ser. Para quem se entende em um processo de contínua mudança ou identidade fluída, uma espécie de metamorfose ambulante, para fazer deferência ao cantor Raul Seixas, os entroncamentos complexos e confusos pertencentes ao campo emocional dos eventos e das pessoas são tirados de letra.

O contínuo desafio quanto a se viver bem e alcançar o bem-estar é sempre confrontado pelo caudal de situações difíceis que exigem uma postura marcada pelas emoções inteligentes, mesmo quando se é tomado por sensações e percepções diversas que se encontram distantes do entendimento pessoal ou da sempre requisitada zona de conforto. Que fique claro, nada tenho contra as respectivas zonas de conforto. Cada um sabe a sua e deve conquista-la da melhor forma possível. O que não vale é a preguiça para se tornar um ser humano bem equilibrado na dinâmica existencial.

Um dos mais profundos elementos para a elaboração das emoções inteligentes é a empatia. Colocar-se no lugar do outro para sentir o que o outro sente ou, ao menos, percepcionar o que o outro anseia, é um dos elementos mais preponderantes para a organização mental dos sentimentos. Isso evita, por exemplo, o surgimento de anseios equivocados e interpretações apressadas quanto a pessoas que compõem o tecido social. Em outras palavras, torna-se fundamental que o sujeito no auge de sua empatia, não sendo bobo, tenha a oportunidade de se conhecer bem, sabendo dos seus limites, assumindo aquilo que de fato é importante em seu determinado momento da vida.

Particularmente, tenho vivido muitas situações em que as vontades eruptivas do meu próprio ser tendem a consolidar ações que certamente vão criar constrangimentos a mim ou a alguém. Para evitar tais constrangimentos, eu procuro cadenciar as minhas emoções transformando-as em palavras, em narrativas e, até mesmo, em textos que favoreçam a preservação da minha identidade, o que é um grande desafio.

Expressar-se da melhor maneira possível em um ambiente qualquer nem sempre é fácil, mesmo porque as pessoas, em geral, precisam se esmerar em suas pretensas verdades. Mas quem pode ser inteiramente verdadeiro ou honesto com o outro? Ora, uma verdade até pode ser dita, mas ela precisa deslizar amorosamente na vida de outrem. Algo dito de forma direta, sem filtros, pode gerar sentimentos desconexos e interpretações díspares. Todos nós, sem exceção, somos seres da contradição e dotados de identidades fluídas. Sendo assim, o sentimento de impermanência e transitoriedades, tão comum também à natureza que organiza caoticamente este mundo e suas polissemias, é respeitado em alto e bom tom.

Enfim, eu gostaria muito que cada um de nós pudesse privilegiar o seu melhor lado, evitando a defesa aguerrida de pontos de vistas que não são, necessariamente, particulares; evitando-se as alterações de voz; evitando-se a raiva; evitando-se os ressentimentos, cadenciando as situações de forma tal a que não se perca a idoneidade de quem se é na essência, deixando vazar desnecessariamente, e somente, a aparência. Nunca é pertinente a exposição efêmera a quem não é interessante a revelação íntima do ser. Nunca é pertinente deixar de se viver bem com a consciência pessoal, exalando pelos rincões deste mundo as emoções inteligentes e os sentimentos bem resolvidos.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

DIA 53 - Solidão para quem precisa dar tchau à solidão

 


Será possível sentir a solidão mesmo em convivência com outras pessoas? Qualquer resposta premeditada seria ridiculamente idiota. Talvez, sim! Talvez, não.

Com este dilema no córtex pré-frontal, eu analiso os encontros solitários que ocorrem nos desertos existenciais. Para os incautos, uma singela consideração: o deserto é um lugar para poucos. Em especial, somente suportam as areias no deserto aqueles que se preparam para ele ou os que são forçados a vivê-lo, mesmo contrariados.

Há, indubitavelmente, uma relação muito próxima entre a solidão e o deserto que, metaforicamente, pode ser considerado a habitação da alma. A alma, se a concebermos como os gregos a concebiam, é o campo da psique e da subjetividade humana, ambiente paradoxal e desértico onde os desejos, os cerceamentos e as possibilidades se agitam continuamente em busca das respostas às perguntas insolúveis. No silêncio da solidão desértica a alma perambula como se fosse aventureira desbravadora. Ela só e todos sós com os pés descalços na areia quente.

A solidão que visita cada ser relaciona-se às dimensões psíquicas. É a solidão em se ter muito para oferecer ao outro sem a oportunidade de partilha. É a solidão de desejar a comunhão da partilha quando não se tem espaços ou motivos para ela. É a solidão que insiste e até persiste em ser quando não há possibilidades para ser. Mas, quem sabe, depois das chuvas, o arco-íris dê o ar da sua graça?

Em meio aos temores, a ansiedade não será ofuscada pelo sentimento de nada ser, nada poder. Na solidão, o desprezo requererá motivos para o ajuntamento e a possibilidade de sonhar com um novo tempo, uma nova vida.

Sei que muitos não conseguem ver a luz no fim do túnel. Ao contrário, tudo lhes parece cinza e sem definições. Nessa paleta de uma cor e algumas tonalidades, tudo pode ser e nada tem razão...

Somos todos solitários em busca de algo que, por estar tão ao nosso alcance, não podemos avistar. Somos assim solitários como Tales de Mileto, que sendo filósofo, teve a oportunidade de prever um eclipse, mas não conseguiu perceber o buraco diante de si. Caiu no buraco e foi ridicularizado pela mulher de Trácia.

E assim, a solidão continua a doer e provocar feridas profundas em todas as pessoas que, não tendo medo da dor provocada pelas feridas, fogem das feridas sem dor e sem cuidados. Optam, muitas vezes, pela caverna, o recôndito envolvido de trevas e obscuridade. Quem sabe um tempo de esquecimento do que se é, do que se faz, do que se almeja para mergulhar no abismo do silêncio e provocar o misto paradoxal do prazer, fugindo da autocomiseração. A solidão se compromete com a solidariedade e a solidariedade avilta-se com os jornaleiros da vida.

E nessa jornada efêmera e comprometida somos peregrinos, somos companheiros, somos talvez... e coisa alguma possuímos. Lançamo-nos ao inusitado da existência, sendo afrontado pela dimensão lúdica, vivendo ou morrendo como quem, mesmo em meio à solidão, continua acreditando na vida.

De uma maneira mais particular, vivi a solidão no primoroso tempo da adolescência, onde o amor dava os seus primeiro berros. Lembro-me que aprendi a tocar violão com as músicas que povoavam a cabeça da maioria dos meus colegas e amigos. Era a década de 80. Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, entre outros. Além das tradicionais bandas de Rock, eu gostava também da irreverência da Blitz. A voz estranha de Evandro Mesquita era interessante de ser ouvida porque apresentava, ele mesmo também, a referida irreverência.

E nesse processo de aprendizado, cansei de ensaiar a música que tinha por título: A dois passos do Paraíso. Seu início: “Longe de casa, a mais de uma semana. Milhas e milhas distantes do meu amor...”. De alguma forma, todas as pessoas, física ou emocionalmente, sempre se encontram a milhas e milhas dos seus amores. Mas distância alguma nesse mundão pode afastar pessoas que se gostam. A subjetividade e a efemeridade do amor ganham na jornada dos dias uma dimensão real inexplicável, que toca a alma e se concretiza num sentimento profundo de presença ausente, típica dos amantes dados à poesia.

Sinto que mesmo a milhas e milhas de distância, não posso impedir que os desejos se misturem, evidenciando o toque das almas. O acontecimento amor precisa ser eivado do carinho dos namorados e o desejo ardente dos amadores.

No cotidiano, quando se recebe a visita da solidão, é preciso sentir a pessoa amada bem próxima, como se fosse a presença de uma fada cuidadosa e zelosa. Todavia, é preciso se desfazer rapidamente dessa imagem pueril, pois o desejo pela beleza tem que deixar tudo bem vivo. Quando longe de casa, torna-se urgente desejar o envolvimento dos abraços, o toque dos beijos e a delícia das falas cheias de bobagens ditas à borda dos ouvidos.

Invariavelmente, um ser só é uma pecinha que falta no outro ser. Uma pecinha que sem a sua parte maior não funciona. Assim, é preciso uma mútua redescoberta como numa primeira vez, quando uma pessoa toca outra pessoa, sem distinção de gêneros ou orientações. Em meio aos gemidos e sussurros do prazer, o mais íntimo, importa se pertencer ao outro com o amplo direito de se perder para se achar em quem está próximo.

Nessas horas, dizer que se ama é muito pouco. Na verdade, no gosto e no gozo, amadores fazem estrelas e apequenam o planeta azul dando tchau à solidão.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

DIA 52 - E por falar em prioridades...

 


Eu sempre tenho abordado em meus textos e em minhas palestras sobre a importância de não vivermos de forma automatizada na complexidade do tecido social. Essa premissa assertiva objetiva, simplesmente, a possibilidade de favorecer a organização da vida nas respectivas agendas do nosso cotidiano, afinal de contas, como nos remete a sabedoria milenar, “há tempo para todas as coisas”. Tudo o que ocorre na face deste planetinha chamado Terra se qualifica dentro de um ciclo contínuo dos ventos e das águas que não pode ser controlado. Todavia, em tempos quentes como os que estamos experimentando na atualidade, condicionamos os ventos em ventiladores e as águas em tubulações e recipientes. Mas, ainda assim, são entidades libertas e que não podem ser controladas.

Diante do importante fato de que não podemos controlar os entes, tampouco a nossa própria existência, torna-se fulcral pensarmos no parco estabelecimento das prioridades, pois a vida requer uma mínima organização em suas demandas. Em que pese a possibilidade de navegarmos em um rio contemplando todas as belezas naturais que se revelam aos nossos sentidos, não podemos nos eximir ao fato de que alguns aspectos precisam ser percepcionados de forma mais atenciosa. Há instantes que são únicos e devem ser fotografados pela retina. Da mesma forma, há demandas que precisam de considerações mais reflexivas, pois se tornam fundamentais para os alicerces existenciais.

Entretanto, o que vem a ser prioridade? Segundo o dicionário: “prioridade é a condição de algo que necessita correr de maneira imediata, preferencial ou emergencial. Normalmente, a prioridade está relacionada a algo importante que ocorre em primeiro lugar, quando em uma relação com outras questões, sejam de tempo ou de ordem”. O psicólogo humanista Abraham Maslow nos oferece uma perspectiva muito interessante ao apresentar a sua pirâmide de necessidades. Sua teoria é conhecida como uma importante teoria de motivação.

Em sua premissa, as necessidades humanas se qualificam em uma escala de valores que devem ser transpostos. Em outras palavras, no momento em que uma pessoa vence uma necessidade, outra sobrevém em seu lugar de acordo com a importância e a influência. Os cinco níveis a serem superados são: Necessidades fisiológicas básicas (respirar, comer, beber, dormir e transar); Necessidades de segurança; Necessidades de associação (harmonia relacional e afetos); Necessidades de Autoestima (dignidade, respeito, prestígio e reconhecimento) e Necessidades de realização integral (ser autônomo e fazer o que se gosta). No aprofundamento dos seus estudos, Maslow identificou ainda outras duas necessidades adicionais: a Necessidade de conhecer e entender (conhecer e entender o mundo ao seu redor, as pessoas e a natureza) e a Necessidade de satisfação estética (beleza, simetria e arte em geral). Sobre esta última, Maslow expressa:

"Um músico deve compor, um artista deve pintar, um poeta deve escrever, caso pretendam deixar seu coração em paz. O que um homem pode ser, ele deve ser. A essa necessidade podemos dar o nome de auto realização.” Abraham Harold Maslow (1908 - 1970).

 

Com base na ideia da pirâmide das necessidades de Maslow, podemos estabelecer algumas prioridades com base nos objetivos que pretendemos alcançar sem sermos seduzidos pela euforia do sucesso. A finalidade de visualizar as prioridades é fundamental, pois no processo de elencar aquilo que tem que vir antes ou depois, a orientação básica deve sempre se perguntar pelo que é importante e/ou urgente. Essa dinâmica ajuda cada pessoa na identificação daquilo que é a prioridade. Ora, existem coisas que são importantes e urgentes; outras que são importantes, mas não urgentes; outras, ainda, que são urgentes, mas não importantes e outras, enfim, que não são importantes e nem urgentes. Brincar com estas ideias ajuda cada ser em uma mínima organização das prioridades. A organização não significa o estabelecimento de um processo automatizado, mas do reconhecimento à luz de nossa própria existência, das situações que podem nos favorecer na complexidade dos dias vividos, a fim de que o bem-estar pessoal se estabeleça na dinâmica existencial.

Imaginemos psicodramaticamente uma dinâmica: encontramos uma lâmpada mágica e nela um gênio. Este vai nos dar a oportunidade de fazermos rapidamente três pedidos concretos, oriundos dos nossos desejos. Será que estaríamos preparados para fazê-los ou titubearíamos? Será que teríamos em claridade o que, de fato, desejamos em nossa interioridade? Será que saberíamos, de fato, quais são as nossas prioridades?

Diante de uma possibilidade tal como esta, seria salutar que as necessidades e as prioridades de cada ser estivessem na ponta da língua, para que pessoa alguma seja surpreendida quando visitada pela surpresa.

Enfim, o estabelecimento das prioridades não pode ser assumido como uma camisa de forças, mas como uma orientação para que os horizontes não se percam, pois como bem disse o Gato Cheshirepara a Alice: “Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve”.

DIA 71 - Olho e língua da minha amiga - Em memória de Iracy Costa Rampinelli

  Quando eu era criança, sempre me convidavam para as festas de aniversários. Eu, que nunca tive festas de aniversário, ficava deslumbrado c...