Quando eu estava nos anos escolares, mais especificamente
no Ensino Fundamental II, eu gostava muito das operações matemáticas que
simplificavam números e frações. Eu que nunca fora muito afeito aos
ordenamentos lógicos, acreditava que aqueles processos de simplificações
favoreciam as minhas formas de ler e conhecer mais claramente a própria ciência
matemática. Todavia, o meu encanto pela “bendita” matemática ficou por aí
mesmo. Hoje eu a utilizo como arte. Tá de bom tamanho.
Passados os anos, já caminhando pelas ondas da
maturidade, vi-me influenciado por uma série de perspectivas e olhares que me
convocavam para a urgente e importante ação de simplificar a forma como a vida
se me apresentava. Consciente das muitas demandas que me abordavam,
especialmente as que ocupavam os meus pensamentos e as minhas reflexões, me
debatia frente ao gasto insano da minha energia vital e psíquica com problemas
e situações que não me traziam acréscimo, tampouco sentido. Passei, então, a
investir naquilo que realmente eu considerava importante para mim. E o importante
era a simplicidade mais simples e simplória.
Enquanto muitas pessoas se gastam, pensando em
comprar isto ou aquilo ou pensando em fazer esta ou aquela viagem, coisas
interessantes obviamente, mas não vitais, eu me propunha a andar na contramão –
nada de me gastar ou gastar com algo. Em tempos de convocação para o consumo
desenfreado, eu insisto em querer aliviar os pesos mortos – talvez dezenas de
paralelepípedos – da minha mochila, pois em minha jornada, seja ela qual for,
almejo andar leve, quase flutuando.
A pergunta basilar que me acompanha é a
seguinte: do que realmente preciso para viver bem? Será que a compra de um novo
automóvel me faria viver bem? Será que a aquisição de um apartamento na orla de
uma praia me faria viver bem? Será que uma viagem internacional me faria viver
bem?
Ora, não tiro o mérito dessas possibilidades e
conquistas triviais, mas todas as dimensões alusivas a uma conquista material
possuem prazo de validade. Tudo o que existe neste universo possui princípio,
meio e fim. Só na música do cantor brasileiro Fábio Júnior é que o amor não se
configura como uma história com princípio, meio e fim. O fato é que todas as
conquistas chegam, mas, também, escorrem das mãos, por entre os dedos.
Além desta constatação, gostaria de destacar
que a simplificação da vida pode favorecer a quebra da ansiedade, porque se uma
dada pessoa não alimenta a necessidade de se suprir com múltiplas parafernálias,
objetos, sonhos remotos ou coisas do gênero, poderá gastar o seu tempo para o
cultivo do que realmente importa, ou seja, para ser quem é. Com essa conquista,
tornam-se desnecessários 13 pares de tênis ou 172 camisas ou, ainda, 18 litros
de perfume. A verdade é que coisa alguma é suficiente para fazer uma pessoa se
sentir bem e feliz. Ter-se o básico para uma pequena diversificação no
cotidiano é mais do que o suficiente.
No fundo, quando alguma pessoa compra para si
algo, muitas vezes não compra por necessidade. Talvez, o que mova uma
determinada pessoa a adquirir o que não precisa seja o desejo de revelar ao
outro o seu poder de compra. Todos os dias, o sistema de mercado lança nas
mídias em geral diversas novas opções para o consumo. Visam despertar o desejo,
a fim de que as pessoas gastem os limites dos seus cartões de crédito ou
economias com produtos que aparentemente favoreçam o bem-estar pessoal. Aqui, vale
aquela velha premissa tão bem abordada por Erich Fromm e outros pensadores, a
saber, de que é mais importante ser a
ter.
Diante da vida social e seus prazeres, cada
pessoa precisa apreender melhor o seu processo de simplificação. Nada melhor do
que se assentar em uma cadeira e com a alma sossegada, contemplar a viva
natureza que se revela exposta a cada um, permitindo que ocorra a simbiose e a
inundação de uma tranquilidade contínua que aglutine o segredo da boa vida ou
da vida boa. Tal vida se resume justamente na consideração de que tudo é muito
simples, lindo e complexo. E está tudo bem. Por que matar-se tanto com as
atividades rotineiras dos respectivos trabalhos desempenhados? Por que perder a
oportunidade de festejar ou celebrar a vida, divertindo-se sem limites? Por que
deixar tudo tão chato, assombrado e estranho? Aliás, eu detesto a chatice dos
dias. Eu gosto mesmo é de coisas novas e se elas não me chegam, eu as crio.
Portanto, acho crucial que cada pessoa encontre
em seu cotidiano as possíveis formas de leveza. Talvez, dessa maneira, a gente encontre
o segredo de vivermos mais livres e soltos, como flores e passarinhos. Já que
cada pessoa é nada mais, nada menos, que uma faísca no meio do incêndio, eu entendo
ser coerente assinalar a ideia de se investir em um novo olhar sobre as
dimensões existenciais com a simples vontade de se perceber o quanto de beleza,
esplendor e simplicidade elas contém. Beleza, esplendor e simplicidade similar
ao bater de asas de um beija-flor entre as flores cheinhas de néctar.