sexta-feira, 24 de novembro de 2023

DIA 49 - Pela simplicidade da vida...

 


Quando eu estava nos anos escolares, mais especificamente no Ensino Fundamental II, eu gostava muito das operações matemáticas que simplificavam números e frações. Eu que nunca fora muito afeito aos ordenamentos lógicos, acreditava que aqueles processos de simplificações favoreciam as minhas formas de ler e conhecer mais claramente a própria ciência matemática. Todavia, o meu encanto pela “bendita” matemática ficou por aí mesmo. Hoje eu a utilizo como arte. Tá de bom tamanho.

Passados os anos, já caminhando pelas ondas da maturidade, vi-me influenciado por uma série de perspectivas e olhares que me convocavam para a urgente e importante ação de simplificar a forma como a vida se me apresentava. Consciente das muitas demandas que me abordavam, especialmente as que ocupavam os meus pensamentos e as minhas reflexões, me debatia frente ao gasto insano da minha energia vital e psíquica com problemas e situações que não me traziam acréscimo, tampouco sentido. Passei, então, a investir naquilo que realmente eu considerava importante para mim. E o importante era a simplicidade mais simples e simplória.

Enquanto muitas pessoas se gastam, pensando em comprar isto ou aquilo ou pensando em fazer esta ou aquela viagem, coisas interessantes obviamente, mas não vitais, eu me propunha a andar na contramão – nada de me gastar ou gastar com algo. Em tempos de convocação para o consumo desenfreado, eu insisto em querer aliviar os pesos mortos – talvez dezenas de paralelepípedos – da minha mochila, pois em minha jornada, seja ela qual for, almejo andar leve, quase flutuando.

A pergunta basilar que me acompanha é a seguinte: do que realmente preciso para viver bem? Será que a compra de um novo automóvel me faria viver bem? Será que a aquisição de um apartamento na orla de uma praia me faria viver bem? Será que uma viagem internacional me faria viver bem?

Ora, não tiro o mérito dessas possibilidades e conquistas triviais, mas todas as dimensões alusivas a uma conquista material possuem prazo de validade. Tudo o que existe neste universo possui princípio, meio e fim. Só na música do cantor brasileiro Fábio Júnior é que o amor não se configura como uma história com princípio, meio e fim. O fato é que todas as conquistas chegam, mas, também, escorrem das mãos, por entre os dedos.

Além desta constatação, gostaria de destacar que a simplificação da vida pode favorecer a quebra da ansiedade, porque se uma dada pessoa não alimenta a necessidade de se suprir com múltiplas parafernálias, objetos, sonhos remotos ou coisas do gênero, poderá gastar o seu tempo para o cultivo do que realmente importa, ou seja, para ser quem é. Com essa conquista, tornam-se desnecessários 13 pares de tênis ou 172 camisas ou, ainda, 18 litros de perfume. A verdade é que coisa alguma é suficiente para fazer uma pessoa se sentir bem e feliz. Ter-se o básico para uma pequena diversificação no cotidiano é mais do que o suficiente.

No fundo, quando alguma pessoa compra para si algo, muitas vezes não compra por necessidade. Talvez, o que mova uma determinada pessoa a adquirir o que não precisa seja o desejo de revelar ao outro o seu poder de compra. Todos os dias, o sistema de mercado lança nas mídias em geral diversas novas opções para o consumo. Visam despertar o desejo, a fim de que as pessoas gastem os limites dos seus cartões de crédito ou economias com produtos que aparentemente favoreçam o bem-estar pessoal. Aqui, vale aquela velha premissa tão bem abordada por Erich Fromm e outros pensadores, a saber, de que é mais importante ser a ter.

Diante da vida social e seus prazeres, cada pessoa precisa apreender melhor o seu processo de simplificação. Nada melhor do que se assentar em uma cadeira e com a alma sossegada, contemplar a viva natureza que se revela exposta a cada um, permitindo que ocorra a simbiose e a inundação de uma tranquilidade contínua que aglutine o segredo da boa vida ou da vida boa. Tal vida se resume justamente na consideração de que tudo é muito simples, lindo e complexo. E está tudo bem. Por que matar-se tanto com as atividades rotineiras dos respectivos trabalhos desempenhados? Por que perder a oportunidade de festejar ou celebrar a vida, divertindo-se sem limites? Por que deixar tudo tão chato, assombrado e estranho? Aliás, eu detesto a chatice dos dias. Eu gosto mesmo é de coisas novas e se elas não me chegam, eu as crio.

Portanto, acho crucial que cada pessoa encontre em seu cotidiano as possíveis formas de leveza. Talvez, dessa maneira, a gente encontre o segredo de vivermos mais livres e soltos, como flores e passarinhos. Já que cada pessoa é nada mais, nada menos, que uma faísca no meio do incêndio, eu entendo ser coerente assinalar a ideia de se investir em um novo olhar sobre as dimensões existenciais com a simples vontade de se perceber o quanto de beleza, esplendor e simplicidade elas contém. Beleza, esplendor e simplicidade similar ao bater de asas de um beija-flor entre as flores cheinhas de néctar.

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