quinta-feira, 23 de novembro de 2023

DIA 48 - Incômodos quanto à violência contra a mulher...

 


Nem todos os dias em que temos a oportunidade de viver são bons e tranquilos. Continuamente, experimentamos as variações que ocorrem no desenrolar dos segundos, dos minutos e das horas; da aurora ao crepúsculo.

Nestas variações, somos aturdidos por problemas, os mais diversos, cujas perspectivas podem provocar o desequilíbrio emocional. De fato, as dificuldades que ocorrem com cada um de nós são inerentes à nossa condição de seres viventes neste mundo. Aliás, não existe absolutamente coisa alguma que aconteça conosco que não seja pertencente às esferas existenciais nas quais estamos inseridos. Obviamente, muitos destes acontecimentos nos incomodam profundamente.

No atual momento da minha vida eu tenho me sentido bastante desconfortável com as formas pelas quais os homens se relacionam ou tratam as mulheres. Eu aqui me incluo, pois não sou melhor do que qualquer um dos homens e nem me considero assim. Não sou um exemplo para qualquer pessoa alheia seguir. Todavia, vivo a sempre viva insistência pela condução de minhas posturas mais pessoais de uma forma tal que as minhas convicções sejam razoavelmente coerentes. Não posso abrir mão da elegância e da gentileza para com todas as mulheres, tanto as próximas como as distantes, indistintamente. Mesmo com essa minha insistência pela coerência, não me sinto ou me vejo como um arauto dos relacionamentos perfeitos, nem mesmo nas horas em que fui convocado a sê-lo. Sei dos meus podres e posso conta-los a quem de direito, um a um, acompanhado, obviamente, de uma gelada e alguns deliciosos petiscos numa mesa de bar.

Acontece que, por uma razão lógica, sinto-me um artesão e, como tal, eu procuro desenvolver a minha obra de arte relacional da melhor maneira possível, sem uma preocupação quanto ao êxito final. Como um bom artesão, faço o que posso dentro das minhas limitações, com o que tenho e no momento oportuno. Gosto de assim sê-lo. Dessa maneira, talvez, eu possa oferecer um pouco do que é melhor e mais autêntico em mim mesmo ao que me circunda.

Mediante esta postura, o que almejo oferecer? Sem ser pretencioso, almejo apresentar algumas possibilidades em meu viver que possam favorecer a reflexão em torno do aumento da gentileza dos homens para com as mulheres. É crucial que os homens em meu entorno ampliem as suas visões para que alcancem uma maior consciência de quem são e de como podem melhorar as suas formas de cuidado para com as mulheres em geral.

Este autoexame é fundamental para que se evitem litígios e discussões indevidas contra as mulheres.  Infelizmente, muita violência é gerada dentro das casas. Muitos homens intimidam as mulheres de formas verbal, física e psicológica. Batem e até estupram as mulheres com as quais se relacionam. Há estupros no casamento. Como é cruel recebermos as notícias pelas mídias apontando as situações em que as mulheres são completamente expostas em situações constrangedoras.

Na minha atuação como psicólogo tenho acolhido diversas mulheres de várias idades e de vários amores, e todas elas trazem os seus respectivos relatos quanto aos maus tratos, abusos morais e abusos sexuais. Quando acolho as narrativas, não consigo me eximir ao fato de sofrer empaticamente estes níveis de violência. Atônito em meus pensamentos e corado de vergonha, fico cabisbaixo e angustiado, especialmente por muitas pessoas – mulheres e homens – acharem que tudo isso é normal. Toda e qualquer violência contra a mulher é a prova visível e cabal de que fracassamos como sociedade e como família.

Enfim, eu espero sinceramente que no decorrer dos tempos, mediante os acolhimentos oferecidos por mim no setting terapêutico, as palavras se transformem em ações e estas ações favoreçam a conquista dos direitos das mulheres. As mulheres pelas mulheres e os homens se sensibilizando mais, evidenciando o respeito e as palavras gentis, se responsabilizado, também, por esta luta. Toda a sociedade precisa renunciar às possibilidades trágicas e violentas que se anunciam às mulheres em suas vidas cotidianas, a fim de que, com os olhos trocados com o outro, provoquemos e proporcionemos paulatinamente o desenvolvimento de um olhar mais integral e mais humano. De todos para com todos, favorecendo a igualdade de direitos.

Ao final, quem ganha somos nós e a vida boa aplaude.

 

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