Nem
todos os dias em que temos a oportunidade de viver são bons e tranquilos.
Continuamente, experimentamos as variações que ocorrem no desenrolar dos
segundos, dos minutos e das horas; da aurora ao crepúsculo.
Nestas
variações, somos aturdidos por problemas, os mais diversos, cujas perspectivas
podem provocar o desequilíbrio emocional. De fato, as dificuldades que ocorrem com
cada um de nós são inerentes à nossa condição de seres viventes neste mundo.
Aliás, não existe absolutamente coisa alguma que aconteça conosco que não seja
pertencente às esferas existenciais nas quais estamos inseridos. Obviamente,
muitos destes acontecimentos nos incomodam profundamente.
No
atual momento da minha vida eu tenho me sentido bastante desconfortável com as
formas pelas quais os homens se relacionam ou tratam as mulheres. Eu aqui me
incluo, pois não sou melhor do que qualquer um dos homens e nem me considero
assim. Não sou um exemplo para qualquer pessoa alheia seguir. Todavia, vivo a
sempre viva insistência pela condução de minhas posturas mais pessoais de uma
forma tal que as minhas convicções sejam razoavelmente coerentes. Não posso
abrir mão da elegância e da gentileza para com todas as mulheres, tanto as
próximas como as distantes, indistintamente. Mesmo com essa minha insistência
pela coerência, não me sinto ou me vejo como um arauto dos relacionamentos
perfeitos, nem mesmo nas horas em que fui convocado a sê-lo. Sei dos meus
podres e posso conta-los a quem de direito, um a um, acompanhado, obviamente,
de uma gelada e alguns deliciosos petiscos numa mesa de bar.
Acontece
que, por uma razão lógica, sinto-me um artesão e, como tal, eu procuro
desenvolver a minha obra de arte relacional da melhor maneira possível, sem uma
preocupação quanto ao êxito final. Como um bom artesão, faço o que posso dentro
das minhas limitações, com o que tenho e no momento oportuno. Gosto de assim
sê-lo. Dessa maneira, talvez, eu possa oferecer um pouco do que é melhor e mais
autêntico em mim mesmo ao que me circunda.
Mediante
esta postura, o que almejo oferecer? Sem ser pretencioso, almejo apresentar
algumas possibilidades em meu viver que possam favorecer a reflexão em torno do
aumento da gentileza dos homens para com as mulheres. É crucial que os homens
em meu entorno ampliem as suas visões para que alcancem uma maior consciência
de quem são e de como podem melhorar as suas formas de cuidado para com as
mulheres em geral.
Este
autoexame é fundamental para que se evitem litígios e discussões indevidas
contra as mulheres. Infelizmente, muita
violência é gerada dentro das casas. Muitos homens intimidam as mulheres de
formas verbal, física e psicológica. Batem e até estupram as mulheres com as
quais se relacionam. Há estupros no casamento. Como é cruel recebermos as
notícias pelas mídias apontando as situações em que as mulheres são
completamente expostas em situações constrangedoras.
Na
minha atuação como psicólogo tenho acolhido diversas mulheres de várias idades
e de vários amores, e todas elas trazem os seus respectivos relatos quanto aos maus
tratos, abusos morais e abusos sexuais. Quando acolho as narrativas, não
consigo me eximir ao fato de sofrer empaticamente estes níveis de violência. Atônito
em meus pensamentos e corado de vergonha, fico cabisbaixo e angustiado,
especialmente por muitas pessoas – mulheres e homens – acharem que tudo isso é
normal. Toda e qualquer violência contra a mulher é a prova visível e cabal de
que fracassamos como sociedade e como família.
Enfim,
eu espero sinceramente que no decorrer dos tempos, mediante os acolhimentos oferecidos
por mim no setting terapêutico, as
palavras se transformem em ações e estas ações favoreçam a conquista dos
direitos das mulheres. As mulheres pelas mulheres e os homens se sensibilizando
mais, evidenciando o respeito e as palavras gentis, se responsabilizado,
também, por esta luta. Toda a sociedade precisa renunciar às possibilidades
trágicas e violentas que se anunciam às mulheres em suas vidas cotidianas, a
fim de que, com os olhos trocados com o outro, provoquemos e proporcionemos paulatinamente
o desenvolvimento de um olhar mais integral e mais humano. De todos para com
todos, favorecendo a igualdade de direitos.
Ao
final, quem ganha somos nós e a vida boa aplaude.