Perdoem-me
aqueles que pensam diferente de mim, mas eu não consigo pensar em sexo, ou no
sexo, sem coligá-lo à dimensão do amor. Para mim em específico, o ato está
ligado ao sentimento. Tenho consciência de que para outras pessoas, é possível
fazer sexo sem amor, o que considero excêntrico e provável. Todavia, para mim,
fazer sexo sem amor é como fazer uma atividade física, como outra qualquer e
registrar no insta a terrível frase: “Tá pago”.
Daí,
alguém poderia até me perguntar se eu já tentei fazer sexo sem amor? Ao que responderei
prontamente que não tentei, nem tentarei, porque eu sei, de antemão, que me
propondo a agir desta maneira, poderei me agredir contundentemente. É
completamente sem sentido para mim uma relação sexual sem ligações diretas com
a dinâmica do amor. Aliás, em minha perspectiva bastante pontual, o amor é a
premissa fundamental de toda e qualquer relação.
Rita
Lee e Roberto de Carvalho, inspirados em uma crônica do Arnaldo Jabor, escreveram
uma música intitulada Amor e Sexo.
Nas linhas melódicas da canção, sexo e amor se dissociam e se completam ao
mesmo tempo. Entretanto, os compositores brincam com as evidentes diferenças
entre uma dimensão e outra, com forte ênfase na ideia de que fazer sexo é mais
apimentado do que sentir e viver o amor.
O
amor para mim é o que move e o que movimenta toda a perspectiva da vida, dando
a ela o contorno necessário para a garantia do bem-estar. Eu não me sinto um
ser que se enriquece de qualquer maneira em qualquer situação em um determinado
momento. Sinto-me sempre aberto a perspectiva da sexualidade se estou em uma
relação de afetuosidade e intensa troca amorosa. Com isso, afirmo que jamais eu
poderia ser colocado ou até mesmo rotulado na condição de um “pegador”
contumaz, destes que colecionam suas ficadas. Às vezes, ouço algumas narrativas
dos meus amigos mais próximos e alguns conhecidos, quanto às suas respectivas aventuras
sexuais cotidianas. Dou risadas, até, mas não me vejo envolvido em nenhuma
dessas histórias, qualquer que sejam elas.
Não
sei por que cargas d'água eu gosto de seguir o meu coração e permitir, de
alguma maneira, que ele seja tocado por outro coração que bata em sintonia com
o meu, mas isso é bem efetivo para mim. Por esta razão, não me sinto muito
aberto e propício a conquistas pontuais que se estabeleçam pelo acaso ou pelo
ineditismo do momento, talvez pelo “Tinder”. Nada contra, entendam-me, por
favor. É que nunca me vi assim, pois existe um lado meu extremamente romântico
e apegado à poesia. O amor tem a sua conotação de sofrimento e isso me afeta
positivamente. Eu não me cobro por viver dessa maneira. Ao contrário,
respeito-me profundamente por entender que esse é o meu melhor jeito de captar
a vida e de me equilibrar positivamente em minha dinâmica existencial. Eu entendo
que existe uma relação muito próxima entre os sexos e os amores que se querem
bem. Em minha humilde opinião, sexo e amor devem andar de mãos dadas, ampliando
a arte do romance resultante daquela conversa atenta, marcada pela intensidade
do mergulho dos olhos nos olhos.
Por
isso, atrevo-me a dialogar com a saudosa Lee, com o Carvalho e o saudoso Jabor,
especialmente com a sua crônica O amor
atrapalha o sexo, publicada pelo jornal O Globo em 17 de dezembro de 2002,
disponível no link: https://oglobo.globo.com/cultura/o-amor-atrapalha-sexo-25395132.
Vale a pena a sua leitura.
Neste
dialogo, eu, mais afeito ao meu lado poético, fico somente com as partes piegas
do amor, dizendo que: Gosto do jardim,
com cerca e projeto. Gosto de depender do desejo e construir o que crio. Não me
masturbo. Sou agradecido após o ato sexual. Sou do depois, não do antes. Perco
a cabeça ao mesmo tempo em que penso. Quero a redenção e o alcance da
plenitude. Amo a impossibilidade no horizonte e até permito que o amor
atrapalhe o sexo, sem necessidade de que gozem juntos. Quero a propriedade e a
lei, mesmo que estejam presentes num sonho que deseja o um romântico
latifúndio. Sou narcisista, ofereço e recebo o remédio e o veneno.
Continuamente, escrevo o meu texto sem
exigir a presença do outro, mesmo o que é ausente. Quero a ilusão da
masturbação que vem de dentro, de nós. Concordo com Rodrigues: "O amor, se
não for eterno, não era amor". Invento a alma, a eternidade, a linguagem,
a moral. Sou ridículo, patético, egoísta e domador. Sou da prosa, sou
mulher e quero a grandeza dos afetos. Que tudo vire amizade e que eu faça sexo
sem camisinha. Sonho com a pureza e com o sonho dos solteiros. Posso até ser
chamado de careta. No amor, morro me afastando da morte.
Aceito
os paradoxos e as contradições do meu recorte, afirmando a minha posição
continuamente, sempre ciente de que a discussão sobre a temática é muito ampla.
Atualmente, num ambiente cultural e social totalmente tomado pela lógica da “sofrência”
relacional e os seus decorrentes encontros e desencontros marcados pelo
fortuito e pelo acaso, as relações se revelam puramente frugais, marcadas pela
lógica do fazer por fazer, sem amor, sem apego. Mas eu quero o amor e o apego.
Continuarei respeitando todos os que pensam ao contrário, seguindo o que acho
que acontece em meu coração. Para mim, sexo e amor se complementam sempre. Bem
sei que foi justamente isso que Jabor, Lee e Carvalho, dentre outros muito
mais, disseram e corroboraram. Portanto, jamais direi que “Tá pago”.
Um comentário:
Então o amor divino é o sexo animal podem se encontrar?? Acho difícil. Mas nada é impossível né
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