O que é o amor?
Me fizeram essa pergunta! E eu não tinha nenhuma resposta pronta. Ao contrário, fiquei confuso com a questão e me pus a refletir sobre o significado dessa expressão que abarca diversos sentimentos e reações físicas no corpo.
Li e reli diversos poemas. Me percebi envolto pelas tramas e romances diversos que me trouxeram emoções. Ouvi e cantei músicas. A somatória de todas essas expressões era ainda, para mim, uma gota d’água no meio do oceano...
Seu dia! seu tempo! Em tudo, sua hora. Dia de celebrar! Tempo de recriar! Hora de se refazer! Celebrar a vida, Recriar as relações, Refazer as utopias! Vida que passa a cada dia! Relações que se valorizam no tempo! Utopias que lampejam a toda hora! Nos dias que se passaram e que chegarão No tempo que era ontem e já é amanhã Na hora que se encanta com simplicidade e sorrisos. Enfim, contentamentos!
Meu olho que
não vê, vê além do que precisa ser visto
Vê o tempo
passando lentamente, junto às nuvens espraiadas no urano.
O azul até
acalma os sentidos, mas o cinza insiste em machucar a alma.
Os cães
famintos e raivosos não se prendem ao âmago do ser. Eles avançam.
Um misto de
insanidade e agonia se instaura em meu semblante. Meu olho vai ser devorado.
Ouso
caminhar contra a ferocidade dos insanos que querem possuir o que não tenho.
Minha
respiração não é pausada, no meu peito pulsa a máquina de carne.
Sinto o
fluido rubro percorrer o corpo. Os músculos retesados não cedem ao relaxamento.
Deito-me num
leito de ansiedades e me debato como um louco que não quer ser contido.
Deflagro
meus intentos mais íntimos e os vejo expostos diante de mim. Tenho medo. Pavor
e assombro me lançam ao canto das paredes mofadas. Minhas narinas ficam
sufocadas e o cheiro dos fungos me provoca o nojo.
Quero o sol
e o seu calor. Quero o brilho intenso do fogo e o seu abraço aquecido nas
noites desérticas. Meu ser em si quer trégua.
Levanto
simbolicamente a bandeira branca num ato solitário, desejando cessar a batalha.
Quero o mesmo intento do meu inimigo que não existe. Todavia, ele insiste em
continuar.
Saio da
trincheira com o peito aberto. Desnudo, insisto alcançar tudo o que quero, sem
saber muito bem pelo que de fato lutar.
Se espero
algo do futuro? Acho que o futuro vai ter que esperar o que dele posso esperar.
O tempo
continua passando e eu o vejo, a cada momento mais perplexo.
Cheio do incerto
em minhas incontidas sérias bobagens, me detenho à beira do rio, só pra ver as
bolhas do fundo profundo e o fluxo que não há de cessar.
Hoje, no início da manhã, o
canto dos pássaros no quintal de minha casa não ecoava a mesma beleza de todos
os dias. Havia um lamento no ar. Minha mulher me alertou que um canto diferente
destoava entre os já conhecidos. O telefone toca e eu prontamente pronuncio: -
É o Márcio! Não era o Márcio, mas o Júnior me comunicando sobre o Márcio.
Recebi a notícia de seu
encantamento, pois pessoas como o Márcio não morrem. Ficam encantadas, como bem
diria o saudoso Rubem Alves.
Os amigos e amigas sabem bem
do que estou falando. Márcio é uma dessas obras raras que Deus molda com a
finalidade de fazer diferença na vida de outras múltiplas pessoas. Falo dele no
presente, por uma razão óbvia: ele só será lembrado no presente, como presente.
Envolto sempre numa
interminável obra em prol das pessoas, deixando de lado, por vezes, sua
família, Márcio é um autêntico exemplo que cabe bem no aforismo de
Groucho Marx, envolvendo a conversa entre duas crianças. Uma delas diz:
"- Vamos descobrir um tesouro naquela
casa?” “- Mas não há casa alguma ali!” Retrucou a outra. “- Então, vamos
construí-la!"
Assim, construindo o que não estava construído,
Márcio se põe a sinalizar os valores inegáveis do Reino, chamado de Deus,
especialmente na vida das pessoas. E não há limites. Seus braços fortes sempre
se estendem a quem quer que seja. Seu empenho sempre é dedicação exclusiva a
quem precisa de alguma ajuda nos campos emocionais, espirituais e materiais.
Sua generosidade excede o entendimento dos que abraçam, tão somente, os
interesses capitalistas.
Hoje, falo como você sempre fala, meu amigo: “-
Eu compreendo, mas não concordo”. Isso se dá sempre quando estudamos a Bíblia.
E vamos continuar as nossas conversas, pois como você, eu também compreendo muitas
coisas e não concordo com várias delas. Aliás, eu compreendo seu encantamento,
mas não concordo com ele. Não agora, visto que todos(as) também seremos
encantados.
Estamos na Primavera. Das estações do ano, a
mais florida. Você é o ipê amarelo que encanta o caminho e insite em revelar o
poder das flores amarelas. É bom que seja assim, independente do fim fatídico
que elas têm, quando se transformam em tapetes. Diante do inevitável, você
continua a florir. Diante do inevitável, sua beleza provoca a saudade.
Lembro-me de Drummond quando disse:
Por muito tempo achei que saudade é falta. E
lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A
ausência é um estar em mim. E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada nos meus
braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa
ausência assimilada, ninguém a rouba de mim.
Meu amigo, você está encantado como presença-ausência.
Ficam já, agora, para mim, as boas memórias, os risos, os debates pelo melhor. E
quando quiser visitar minhas memórias, venha de braços abertos, pois os meus
também estarão. O seu legado já acontece em mim, desde ontem mesmo, quando nos
conhecemos.
E se muitos teólogos, afoitos que são, dizem que
primeiro a morte, depois a ressurreição, já me antecipo em discordância e digo:
morte é ressurreição. Você está vivo, e porque vivo, encantado, e porque
encantado, sugiro que continue a nos encorajar nessa grande e inusitada
aventura chamada vida. E por favor: tome cuidado ao andar de moto por aí!
Vinicius de Moraes disse que saudade é a vontade de estar perto, se longe e mais perto, se perto.
Recentemente, em um almoço familiar, tivemos uma experiência de saudade muito significativa. Enquanto saboreávamos uma apetitosa feijoada e partilhávamos as bebidas geladas, um copo destacou-se em outros. Sua cor era azul, mas não era um copo azul qualquer. Era o copo que meu avô usava todos os dias em suas refeições. Como eu disse, aquele copo não era só um copo, mas um poço de contos e histórias. Um poço de rememorações e saudades. Minha tia Penha, bem humorada, e que estava completando mais um aniversário naquele dia, perguntou: “Esse é o copo de pai?” Ao que outra minha tia, Marluce, respondeu: “Sim! É dele!” Curiosamente, notei que elas não usaram o verbo no passado. Naquele instante, emoções eclodiram em todos os presentes, nas formas inusitadas dos choros e risos, das memórias e das lembranças, as mais diversas. Já não era só um copo, mas um objeto de saudade. Naquele exato momento, histórias, as mais diversas vieram à tona, fazendo com que a ausência de meu avô José Silvério Abdon se fizesse presente. Aquele copo havia sido tocado por suas mãos. Aquele copo havia sido o portador de diversas bebidas que meu avô ingeriu por necessidade ou prazer. Aquele copo transportou toda a minha família reunida naquela ceia-eucarística para os melhores tempos de nossas vidas, especialmente, os tempos onde houvera a manifestação dos mais singelos sentimentos de amor. Aquele copo havia sido lavado centenas de vezes pela minha avó Maria Nina Fernandes. Suas mãos carinhosas o lavaram e o enxugaram centenas de milhares de vezes. No bom eterno momento de celebração das memórias, a alegria da vida nos visitou. Minha outra tia Marluce disse haver guardado aquele copo com muito carinho. Naquele momento, ela fez um gesto carinhoso e deu de presente aquele objeto de saudade para a tia Penha. Não é isso os que os poetas chamam de instante de eternidade? Eu, de minha parte, quis registrar isso com o intuito de enfatizar que a saudade, além de ser um sentimento que consome a gente, igualmente nos refaz, nos recria, pois sempre se manifestando no coração das pessoas de bem. Sim, Vinícius de Moraes estava certo: saudade sempre é um convite para as pessoas – de perto e de longe – se aninharem com a gente.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Um Natal com contentamentos...
Muitas coisas nos aconteceram em 2015. De fato, muitas dificuldades foram vivenciadas por todas as pessoas de bem neste ano. Todavia, estamos chegando ao fim de mais um ciclo em nossas jornadas existenciais. Neste ano, já quase passado, muitos eventos ocorreram, alguns positivos, outros negativos, e eles trouxeram alegrias ou desorientações. Em todos eles, saímos mais fortes e com o olhar confiante de que as coisas podiam melhorar. Podem melhorar! Hão de melhorar! E por estarmos melhores ou esperarmos as coisas melhores, precisamos pausar agora a nossa jornada para agradecer aos céus tudo de oportuno que nos ocorreu. O Natal é sempre um convite para vislumbrarmos a serenidade do menino infante na manjedoura e assim recriarmos a nossa trajetória com os passos firmados em humildade. Para este tipo de culto à simplicidade, neste tempo de celebrações alusivas ao fim do ano, acho até desnecessária a festa, propriamente dita, mas a necessária companhia das pessoas amigas a quem se quer bem. Sendo assim, quero desejar a todos(as) um Natal cheio de contentamentos, não necessariamente feliz, pois felicidade é passageira; e um Ano de 2016 relativamente bom e cheio de satisfações pessoais e comunitárias. Tudo isso regado a boas palavras, educação, gentilezas e muita esperança. Moisés Coppe.
Uma das características do Rock, pelo menos em sua concepção musical
incipiente, tem a ver com a manifestação contra a cultura ou contracultura.
Nessa perspectiva insere-se a composição musical intitulada “Faroeste Caboclo”
– 1990, de Renato Russo e Dado Dolabela.
A canção narra, de forma ficcional, a trajetória de João de Santo
Cristo, uma personagem que tendo nascido em condições econômicas adversas, teve
que se virar na vida de acordo com os marcos categoriais que ele aprendeu ou
apreendeu no decorrer de sua possível existência.
A canção aponta os altos e baixos experimentados, vivenciados e
escolhidos pelo Santo Cristo em sua vivência na cidade de Brasília – Distrito
Federal.
Basicamente, como afirmam os compositores, Santo Cristo se perdeu quando
presenciou o assassinato do pai, efetivado por um policial. Depois de diversas
aventuras em sua cidade natal, Santo Cristo resolve ir para Brasília com a
finalidade de experimentar nova vida. Ao chegar à cidade, vivencia a
experiência de aprendiz de carpinteiro, passando posteriormente a se envolver
no tráfico de drogas e na “bandidagem”.
No enredo, em meio aos dramas e contradições de sua trajetória, ele se
apaixona pela “Maria Rita, a menina linda a quem ele jura o seu amor”. O
desenrolar da narrativa, para ser bem lacônico, tem a ver com os encontros e
desencontros desse amor e a morte de Santo Cristo e Maria Rita. Ao final, a
canção aponta o surgimento de mitos sobre quem foi o tal de Santo Cristo. Isso
fica evidente na seguinte frase: “Ele queria era falar com o presidente pra
ajudar toda essa gente que só faz sofrer”. Como se percebe, não era esse o
propósito inicial, mas foi o que ficou para a interpretação mítica das gentes,
em geral.
Logicamente, a música apresenta uma série de possibilidades para
hermenêuticas em diversos campos das ciências sociais e humanas.
Entretanto, nossa abordagem visa analisar dois aspectos centrais,
ligados ao tema da psicologia. O primeiro refere-se à perspectiva da psicologia
social e de como o meio social, evidenciado principalmente pela convivência
entre pessoas, pode influenciar o subjetivo de determinada pessoa. O segundo
refere-se à ampla discussão que envolve a perspectiva do desenvolvimento
humano, especialmente no que se refere a categorias inatas ou adquiridas.
Uma observação se torna necessária nessa nossa abordagem, e ela se
refere a impossibilidade de aprofundarmos as duas perspectivas em relação à
música. Portanto, nossa abordagem será, tão somente, introdutória, merecendo
uma dialogação futura maior.
1. Santo Cristo e a psicologia social;
A psicologia social caracteriza-se, basicamente, como um ramo da
psicologia moderna que estuda a interdependência, interação e a influência
entre as pessoas. Isso denota um processo onde pessoa alguma pode viver ou
mesmo angariar sua autonomia sem a participação efetiva de seus semelhantes,
dentro de determinado contexto cultura e social.
Esse sucinto apontamento indica que a vida das pessoas e seus possíveis
desenvolvimentos em âmbito subjetivo e social decorrem do processo de
interação. Nessa perspectiva, o personagem João de Santo Cristo é ao mesmo
tempo influenciado pelo meio e agente de mudanças dentro do seu nicho de
mundivivência.
2. Santo Cristo e seu desenvolvimento humano;
Aliada a constatação anterior, a dinâmica do desenvolvimento
biopsicossocial, inerente a todo ser humano, consiste em conhecimentos inatos,
que fazem parte da própria constituição física de cada ser humano, bem como de
conhecimentos adquiridos nas múltiplas relações com os agrupamentos humanos.
Assim, a música expressa as características de João, mais precisamente
aquelas que lhe são inatas, próprias da sua natureza, como por exemplo: sua
coragem e ousadia. Mas também suas
características adquiridas, por causa da vivência com outras pessoas e os
respectivos acontecimentos que envolveram sua vida.
Considerações Finais
Com base na música e nas nossas observações singulares que aqui fizemos,
enfatizamos, finalmente, que o desenvolvimento biopsicossocial de João se dá
mediante a conjunção de diversos fatores, internos e externos, assim como
ocorre na vida real, na vida de cada um de nós.