segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Hipocrisia


Coisa triste é a hipocrisia. Ora, esta palavra significa fingimento, falsidade, sentimentos, crenças e virtudes que na verdade, a pessoa não possui. Hipocrisia tem a sua origem na tragédia grega, sempre teatral. O hipócrita é o que oculta a sua face usando uma máscara.
Tudo bem, me diriam os céticos, toda a sociedade é hipócrita, pois depende dessa dimensão para a própria sobrevivência. Não nego isso, mas o esforço pela melhor e mais transparente convivência entre as pessoas não pode ser ofuscado por gente que se acha superior às outras, fingindo comportamentos.
Em várias passagens do Evangelho, os hipócritas são denunciados por Jesus. O interessante é notar que os hipócritas não eram os pecadores, mas os religiosos que insistiam em parecer ser o que não eram. Veja, por exemplo, Marcos 7.6: “Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. Ou ainda, Mateus 6.5: “E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu asseguro que eles já receberam a recompensa”. E, enfim, 1 João 4.20: “Se alguém disser que ama a Deus, mas odiar o seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”.
Bem, acho que esses versos bastam para mostrar claramente como Jesus tinha (e tem) verdadeiro asco de gente hipócrita.
Enfim, que diante dos nossos mais específicos relacionamentos, tenhamos a coragem e a autenticidade de fazer diferença, vivendo da melhor maneira possível, com dignidade e tolerância. O Senhor com a gente.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Partida de Rubem Alves: poeta, guerreiro, profeta

Texto do amigo Zwínglio Mota Dias que eu partilho com vocês:
A partida de Rubem Alves: poeta, guerreiro, profeta
 
 
“Mortais, mas eternos somos:
eternos em alma,
eternos em gosto,
em mistérios eternos,
eternos sonoros,
eternos, eternos,
--mortais e eternos já somos...”
(C. Meireles)

O Brasil está de luto... O movimento ecumênico, nacional e internacional, está de luto... Os trabalhadores da educação estão de luto... Os amantes da literatura estão de luto...
Nós em KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço estamos de luto... É que faleceu sábado passado, dia 19 de julho, na cidade de Campinas, onde residia, nosso amigo, companheiro e irmão, o teólogo, filósofo, psicanalista, educador, poeta e cronista Rubem Alves, depois de um longo e sofrido período de enfermidades.
Depois de oitenta anos bem vividos e com o corpo enfraquecido por crescentes disfunções orgânicas, Rubem partiu para a eternidade legando-nos uma obra imensa de escritor prolixo voltado para os grandes temas da vida, tratados sempre com leveza, simplicidade e fino humor.
Personalidade ímpar, sabia conjugar com maestria seriedade e sonhos, responsabilidade política e poesia. Sempre com um largo sorriso a lhe iluminar o rosto e um profundo sentimento de dever com relação as suas tarefas de intelectual comprometido com as grandes causas da humanidade, Rubem deixou suas inconfundíveis marcas na construção e consolidação do movimento ecumênico na América Latina e contribuiu de forma criativa e original para o estabelecimento de um novo paradigma teológico no continente que até hoje baliza os esforços de renovação e recriação da comunidade cristã por toda parte. “Para uma teologia da libertação” foi o título que escolheu para a sua tese doutoral, em 1969, na Universidade de Princeton nos Estados Unidos que, quando publicada, ganhou outra denominação. Assim ele se inscreve como um dos “pais” de uma nova forma de se fazer teologia que, desde então, vem agitando os ambientes eclesiásticos, especialmente na América Latina.
Um “protestante obstinado” como se declarou uma vez, Rubem foi, na verdade, um “atravessador de fronteiras”, inconformado sempre com as limitações que encontrava nos vários campos do saber a que se dedicava. Ao descobrir-se poeta e contador de histórias, abandonou os pressupostos formais da teologia para dedicar-se ao que chamou de teopoética que passou então, a expressar nas centenas de contos, poemas e crônicas reunidas em seus mais de 160 títulos publicados. Dedicou-se profundamente aos temas da educação tornando-se um dos mais originais pensadores dessa área a partir de suas práticas e reflexões como professor da Universidade Estadual de Campinas.
Homem sensível, rigoroso consigo mesmo e com todos e todas que faziam parte de sua existência, Rubem acaba de encerrar seus dias entre nós. Mas, a ser verdade o que proclama o também mineiro Guimarães Rosa, o Rubem, na verdade, não morreu... apenas encantou-se, para continuar, de um outro jeito, presente em nossas vidas. Nosso companheiro de sonhos e utopias, dores e lutas, mas também de momentos alegres e festivos, ausenta-se agora, apenas fisicamente, para ressuscitar em nossa memória, com o testemunho de sua vida para nos instigar a seguir em frente na luta incansável de plantar sinais, por menores e insignificantes que possam parecer, de um mundo outro que ele sempre perseguiu, marcado pelo amor, a justiça e pela paz.
Certa vez, acompanhando-o nos funerais de um amigo comum, pude ouvi-lo comparar a vida a uma peça musical. Por mais bela e tocante que venha a ser, dizia ele, a música precisa, em algum momento,ser interrompida para não perder seu encantamento, seu frescor, sua capacidade de nos comover. Entendamos, pois, que a melodia da vida de Rubem Alves acaba de ser interrompida para que possamos ouvi-la de novo, na leitura de seus muitos textos e poemas, sempre que quisermos e ela possa, outra vez, nos sensibilizar, nos fazer sorrir, nos ajudar a corrigir nossos passos, nos enlevar e nos alertar para os perigos tantos que nos rodeiam...
Ao término dos últimos acordes da música que foi sua vida, embora tristes por sua ausência física, nos alegramos por sua “coragem de ser” o que foi e a incorporamos, ainda mais, em nossa vivência, na esperança de que os seus sonhos e a sua ousadia continuem em nossos gestos de amor e solidariedade. Que o Mistério profundo que a todos e todas nos envolve o receba em seu esplendor vital e que todos nós possamos ser consolados pela lembrança de seus sorrisos e recolher as lições de sua vida.
Não tendo palavras próprias de poeta capazes de expressar de forma bela e certeira os sentimentos que povoam as vidas de todos e todas que conviveram com Rubem, tomo emprestado as lindas palavras do poema daquela que foi uma de suas poetas preferidas, Adélia Prado:
“De um único modo se pode dizer a alguém:
‘não esqueço você’.
A corda do violoncelo fica vibrando sozinha
sob um arco invisível
e os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo por que bate
e tem sangue nele e vai parar um dia
e vira um tambor patético
se falas ao meu ouvido:
‘não esqueço você’.
Manchas de luz na parede
uma jarra pequena
com três rosas de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
e a morte é amor.”

KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, para quem Rubem sempre foi uma referência, registra com pesar e tristeza seu “encantamento” desta vida, porém, nela inspirada, espera que os gestos claros e corajosos de seu compromisso com a dignidade e beleza da vida de todos e todas continuem a reverberar nas novas trilhas do movimento ecumênico e nas lutas pelos direitos de todos e todas no continente.
Deixamos nosso abraço fraterno e solidário para Lidia, Sérgio, Marcos, Raquel, sua esposa, filhos e filha, e demais familiares.
 
Autor: Zwinglio Dias
Data: 21/7/2014

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Dissertação de mestrado

Pra quem curte um texto acadêmico, segue o link para a minha dissertação de mestrado cujo título é: A RESPONSABILIDADE SÓCIOPOLITICA DOS CRISTÃOS - História e memória da União Cristã dos Estudantes do Brasil - UCEB.
http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/cp141200.pdf

terça-feira, 1 de julho de 2014

Entre o evento da copa e as memórias


Sou amante do futebol arte e gosto de assistir um jogo de futebol com a tensão inerente a um torcedor. Não sou nenhum enlouquecido, tampouco exagerado em jeitos e trejeitos, tanto nas vitórias como nas derrotas.
Não posso negar o fato de gostar da celebração futebolística alcunhada como Copa do Mundo. Em que pese todos os interesses políticos e econômicos inerentes a este macro evento, o fato é que a alegria e o sentimento de nação simbolizado em um time de futebol dá a todos nós a certeza de que vale a pena pertencer a um todo cultural.
Nasci em 1970, quando o Brasil havia conquistado o seu tricampeonato. Da Copa de 1974, não tenho lembranças. A de 1978 foi a primeira que curti, talvez motivado pela coleção de fotos dos atletas que vinha por intermédio das tampinhas de alguns refrigerantes. Em 1982, as figurinhas eram adquiridas pelo Chiclete de bola “Ping Pong”. Esta foi a minha Copa! Em primeiro lugar, porque o time era brilhante e cheio de estrelas que jogavam um futebol arte. Torci ao lado de minha família, vestido com o uniforme da seleção, saboreando um amendoim torrado e doce que minha mãe preparava. Ainda hoje, quando vejo estes amendoins torrados nas esquinas e vielas, minha memória viaja no tempo. Em segundo lugar, porque depois dos jogos, eu, ainda uniformizado, me reunia com meus amigos em um campinho de argila na cidade de Betim – MG, para uma partida até o pôr do sol. Ali, o Zico, o Sócrates, o Júnior, o Éder, o Cerezo, o Leandro, o Mozer era eu, eu mesmo.
Não chorei, mas fique silencioso quando o Paulo Rossi desfez os sonhos do tetracampeonato naquela Copa.
Então veio 1986. Torci, mas sem a mesma empolgação de 1982. Fomos eliminados pelo time de Marcel Platini.
Chegou 1990 e faltou empolgação também. Maradona e sua trupe nos tiraram o sonho.
Em 1994, estava eu em São Paulo, fazendo meu curso de Teologia e sendo abrigado aos fins de semana na casa de pessoas queridas em Vila Galvão - Guarulhos. Nos jogos que aconteciam durante a semana, torcíamos no Pombal – como ainda é conhecido o setor de hospedagem dos seminaristas metodistas na Universidade de São Paulo. Vi a final em Guarulhos e vi o grande jogador Roberto Baggio da seleção italiana perder o pênalti. Celebrei e fomos às ruas ver as pessoas, cumprimentá-las e ouvir os fogos que singravam os céus.
Na Copa da França, a empolgação estava em alta, ainda mais porque o Brasil bateu adversários difíceis e se classificou para a final juntamente com a França. Já no início, a notícia esquisita de que o Ronaldinho não jogaria a final porque tinha passado mal me deixou cabreiro. Dito e feito, três a zero para a França. Brasil ficou com o vice-campeonato mundial.
Gato escaldado tem medo até da água fria. E foi assim que em 2002, fiquei mais cauteloso. Mas o Ronaldinho queria apagar aquela “situação” ocorrida na final de 1998 e fez daquela Copa, a sua Copa. Brasil, pentacampeão de futebol. Fiz muita festa. Foi muito bom. Nesta época, eu estava em Belo Horizonte e assisti a final na casa de amigos também.
Em 2006, depois de muitas situações complexas que afetaram minha família, não podia ter a mesma alegria. Assisti a Copa sem muita empolgação. Ademais, estava vivendo um tempo profissional de muita instabilidade e tudo contribuía para meu desânimo. Perdemos pra França, mais uma vez.
Já em 2010, minha alegria havia retornado e reunimos a família para vários encontros em frente à televisão. Havia comprado uma TV de 42” que era a sensação na época em que ainda existiam muitas TVs antigas de 29”. Agora aquela TV está obsoleta por causa de revolução tecnológica. Ao final, vi a tonalidade da TV nova ficar mais alaranjada, principalmente no jogo contra a Holanda.
Pois bem, estamos em 2014 e todas essas e outras memórias me visitam. A mais forte pra mim é a dos jogos nos campinhos, onde nos tornávamos os jogadores que assistíamos. Independente do resultado desta Copa, já vale as histórias e memórias que nos sobressaltam. Para mim, em específico, já tá valendo a festa nas cidades sedes dos jogos. Se a seleção do Brasil ganhar, beleza. Se não, a vida vai continua do mesmo jeito. Aliás, não temos nenhuma obrigação de ganhar coisa alguma e nem de cobrar êxitos de um bando de garotos que não se cansa de fazer selfies e lançar na web, salvo algumas exceções. De qualquer forma, no fundo, no fundo, estes eventos ressaltam em nós a alegria teimosa que insiste em resistir mesmo nas cadeias e hospitais. Coisa boa é a capacidade que o ser humano possui para reagir mesmo quando as coisas não estão boas.

Assim, como uma borboleta que insiste em exibir a exuberância de suas cores nas relvas e jardins, mesmo sabendo que vai se extinguir entre duas semanas a um mês – com exceção da borboleta monarca que vive até 9 meses – nós insistimos em revelar a beleza da alegria, mesmo sabendo que ela possui prazo de validade. A copa vai acabar, mas as memórias vão continuar. Que pelo menos, nós brasileiros, nos lembremos de que eventos são eventos e a vida é muito maior que o evento. Lembremo-nos igualmente que o que vale é a representação de um espírito nacional e não a vitória.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Reflexões em Tempos de Angústia


Ando angustiado e com uma dor lancinante na alma. A respiração pausada sofre a interferência de taquicardias descompassadas. Sei que não há normalidade nisso, ao contrário, trata-se da somatização de diversos sentimentos que se misturam complexamente dentro da mente. Como se diz na França: “Esta é a vida”.
A minha angústia nasce da constatação de que existem pessoas que se dizem amigos ou amigas, mas que infelizmente, só se aproximam com o intuito de se dar bem ou de se organizarem melhor nas suas vidas pessoais. Eu, de fato, não tenho muitos amigos, mas gosto de cultivar amizades no campo da sinceridade, humildade e cumplicidade.
Eu não me sinto bem quando me sinto usado por esta ou aquela pessoa. Eu não me sinto bem quando pessoas se aproximam com o único intuito de usar-me segundo seus interesses. Isso me angustia veementemente. Isso me angustia e me trás amargor na alma.
A minha angústia nasce também da constatação de que as dimensões eclesiásticas estão invertidas. A cada dia mais, o movimento evangélico se distancia do Evangelho e as lideranças se ocupam e se preocupam, tão somente, com o poder, principalmente financeiro, pois sabem que no fundo, quem manda é quem tem grana.
E assim, vou vivendo dia-a-dia, tentando organizar meus sentimentos colocando minha ideias nos seus devidos lugares, todavia as borboletas insistem em continuar voando na altura do estômago. Dêem o nome que quiserem a isso, mas para mim é angústia.
Foi Kierkegaard quem estabeleceu como ponto fundamental da perspectiva das transições necessárias à vida humana o conceito de angústia. Esta dimensão da angústia, além de impulsionar a pessoa a um novo estado na vivência, acompanha-o no confronto com uma nova realidade, principalmente aquela que está na contramão do que se pensa ou se quer. Segundo este filósofo dinamarquês, a angústia faz parte da natureza humana, jogando o ser humano num precipício de possibilidades e impulsionando-o a tornar-se responsável pela sua própria existência.
Não vou entrar nos méritos do conceito de angústia em Kierkegaard, mas somente pontuar sua relevância para refletir os momentos em que a alma humana, mesmo em seus conflitos internalizados, busca a realização de sua jornada no encontro de sentido na vida. E não é isso o que todas as pessoas procuramos?
Sim, queremos sentido na vida, e que ele venha de forma ética, sem os jogos de poder ou mesmo pelas pessoas em suas subjetividades querendo se dar bem à custa do outro.
Por enquanto, fico com minha angústia, sendo provocado por ela com vias a transições que se tornam extremamente necessárias para mim, já...? agora...?

sexta-feira, 14 de março de 2014

Aqui é lá!

Tudo o que quero e anelo
Longe de mim sempre está
Mas estendo o meu braço teimoso
Tentando a utopia tocar

Olho com fé para a frente
Não sei o que vem por aí
Quem sabe o choro do infante
Ou o velho que insiste em sorrir

E assim, me faço, refaço 
Com um gesto singelo e profundo
Mantendo a luz na memória
Que quer inventar novo mundo.


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Porta Aberta


A porta aberta é um convite à vida. Sair da rotina e se lançar ao inusitado, sem saber aonde chegar; caminhar sem rumo ao roçar do vento. Esperar o relento e os primeiros brilhos cintilantes das imensas pequenas estrelas.
O caminho largo-estreito desafia-me a lida e desfere golpes profundos no ser interior que anda inquieto.
É preciso pacientar - me dizem os que querem meu consolo, mas em vão.
O olhar se lança ao infinito alcance das mãos que tateiam o que se pode pegar.
É hora de abrir o sorriso e, teimosamente, tentar de novo, tudo de novo, nada de novo, quem sabe um renovo.
Fazer do cotidiano o melhor que se tem e no contentamento - encontro de sentido - pisar firme o chão de gelatina.
A porta continua aberta...
Moisés Coppe.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal é...


Eu sou daqueles que pouco me encanto com a comemoração de Natal. Ora, comemorar significa festejar um acontecimento e para mim, o Natal como acontecimento é o que acontece no cotidiano...
Natal é acordar às 5h30 da manhã, tomar um café correndo pra pegar o metrô lotado em Santana – SP, com a finalidade de bater o cartão no horário previsto.
Natal é um grupo de crianças da periferia de Recife – PE, andando seis quilômetros para ir à escola e se encontrar com uma professora ainda jovem que acredita na utopia do processo educacional.
Natal é o reencontro com os colegas de trabalho – pedreiros, pintores, serventes e ajudantes, todos oriundos do Nordeste do país, cansados da rotina na cidade grande e das dificuldades financeiras originárias do baixo salário.
Natal é comer uma quentinha preparada por uma senhora idosa e trabalhadora que ainda labuta pra ajudar na criação dos netos na cantina ou cozinha da pequena Gráfica em Belo Horizonte – MG.
Natal é enfrentar o chefe chato da Multinacional em Minas Gerais que, disposto tão somente ao lucro, esgota toda a sua equipe com um cronograma de metas.
Natal é a mulher que vai dar a luz a uma criança em um Hospital da rede pública do Rio de Janeiro sem saber se sua criança nascerá bem.
Natal é comparado a centenas de milhares de doentes e acidentados longe das suas respectivas famílias em diversos hospitais e pronto-socorros espalhados pelo país.
Natal é o mendigo que dormiu toda a madrugada de chuva fina debaixo de uma marquise de uma grande loja localizada na Rua 25 de Março – SP e, que ao acordar, remexe o lixo em busca de algo pra comer.
Natal é o carro quebrado em dia de pico na Reta da Penha – Vitória – ES.
Natal é a briga de casal em Campo Grande – MS, por motivos fúteis e inimagináveis.
Natal é a “ceia” familiar realizada às 20h, cujo cardápio revela macarronada e frango assado em Pirapora – MG. Pagode no som e alegria espontânea.
Natal é a criança do Educandário Carlos Chagas – Juiz de Fora – MG, recebendo um brinquedo oriundo de uma pessoa que ela não conhece.
Natal é a velhinha no abrigo em Porto Alegre tomando a sua canja com saudades da filha que não dá noticias há anos.
Natal é a comunhão celebrada por uma família de belenenses no entorno de uma mesa de madeira tendo à disposição dos olhos uma singela vela e pedaço de pão festivo.
Natal é a jovem vendedora com pernas cansadas de tanto ficar em pé durante a jornada do comércio e mercado pesados.
Natal é a loja de X,99 lotada de gente comprando lembrancinhas para o amigo X, amigo oculto, amigo secreto ou amigo urso, que acontecerá na noite do dia 24 de dezembro.
Natal é o carro cheio de bagagens e cheio de gente. Ansiedade no ar, farofada e música sertaneja no ambiente.
Natal é aperto de mãos e beijos aliados a um desejo intenso de que dias melhores aconteçam.
Natal é uma singela celebração em memória do nascimento de Cristo numa capela qualquer em um vilarejo distante.

Natal é, enfim, o paradoxo de se perceber na simplicidade de um bebê a esperança de novos tempos.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Protesto contra os buracos!

As chuvas chegaram fortes à cidade de Juiz de Fora – MG. Interessante notar como todas as nossas potências são insuficientes para deter os fenômenos da natureza. Interessante também notar como somos seres vulneráveis, mesmo com todas as nossas pretensões de autonomia. Além da nossa impotência frente aos fenômenos naturais, sofremos também com a falta de infra-estrutura e de políticas públicas no campo da defesa civil em nossos contextos urbanos. Milhares de pessoas que perderam bens materiais diversos tentam salvaguardar, pelo menos, a dignidade e cuidar dos poucos itens que lhes restaram. O que mais me implica neste processo é o surgimento dos buracos! Ora, não falo dos buracos mágicos que surgem de uma hora para a outra nos asfaltos e ruas, vielas e calçadas da cidade, complicando as vias públicas. Falo sim, dos buracos que surgem na vida das pessoas em diversas localidades das mais distintas cidades do nosso país tão sofrido. Na hora em que famílias inteiras são abaladas pelos fenômenos naturais e acabam perdendo seus bens simbólicos e materiais, a indiferença de muitos políticos é de doer. A desculpa é sempre em relação ao crescimento desordenado das vilas e bairros das cidades. De fato, há situações indevidas que infelizmente foram geradas pela ausência do Estado e dos poderes públicos. O crescimento desordenado é, antes de tudo, um dado que demonstra a ausência de um planejamento para a vida das pessoas que pagam seus impostos. São poucas as cidades que podem se gabar desse planejamento. Em minha concepção, deveria existir um maior engajamento público dos representantes para com os cidadãos. Se os recursos não estiverem sob a mesa dos interesses puramente econômicos e eleitoreiros, poderão estar à disposição para planejamentos mais ousados que, por tão conscientes, contarão inclusive com o apoio dos cidadãos. Penso, não de forma utópica, no critério de co-participação de todos no tecido social, em busca dos interesses comuns, visando sempre o bem-estar de todos. Os buracos que se instalam na vida das pessoas não são cicatrizados com facilidade. É claro que, em nosso caso brasileiro, a força da superação é sempre evidente. No meio das dificuldades, o brasileiro sempre encontra um jeitinho de superar-se. Mas isso só não basta! E não basta também a solidariedade tão nobre que se amplia frente ao caos que se instaura. É preciso algo mais! Espero, sinceramente, que no decorrer dos tempos, novas políticas públicas participativas surjam com o intuito de minorar situações complexas. Quem sabe assim, com gestos políticos concretos, não consigamos evitar os buracos. Não os das ruas que são chatos também, mas prioritariamente os que se instalam na vida e nas almas das pessoas.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

OS OLHOS TRISTES DO LOBO


Eu os vi...
Olhos tristes quando ainda um filhote
Lutando pra escapar da morte
Ansiando o acaso ou a sorte

Eu o vi...
Não deveria ter viçoso vivido
Mas cresceu forte, ensandecido
Devorando mesmo o não-percebido

Eu o vi...
Acabei deixando-o crescer
Como ser, precisava viver
Nada mais poderia o deter

Todavia...
Furioso, quis minh'alma destruir
Me desfez sem me reconstruir
Os seus olhos tristes eu vi

E assim...
Levei o lobo agora criado
Para ser sacrificado
No silêncio do nada enluarado.

A adaga em minha mão reluzia
Sob a parca luz que se via
Todo o meu corpo tremia

Eu vi nos seus olhos o terror
Estampado em meio a dor
De perder todo brilho e vigor

Era preciso dizer ao lobo: basta!
Sua sanha inquieta me arrasta
Para um profundo onde o fogo se alastra...

Mas ao invés de matá-lo num ato
Resolvi liberá-lo no mato
E deixá-lo viver tempo ingrato

Sim, deixei-o viver sem um rumo
Sem chão, sem teto, sem prumo

Seus olhos tristes, cabisbaixo no mundo...

DIA 73 - Separações acontecem e a vida segue como dá...

  1. Quando penso sobre o processo que envolve as separações conjugais, constato que muito do possível sofrimento que acomete o casal não ...