quarta-feira, 13 de abril de 2011

A TRAGÉDIA NA ESCOLA


Todos estamos estarrecidos e inconformados com a ocorrência dessa última quinta-feira, dia 07 de abril de 2010, em uma Escola pública localizada em Realengo, no Rio de Janeiro, a escola Tasso da Silveira. Mais uma vez, a cidade maravilhosa, que é tão pechada por causa da violência, se vê amedrontada por um ataque insano a crianças e professoras num dia habitual de atividades.
Um jovem, por certo vítima de preconceitos e violência na vida pueril, atirou à queima roupa em pequenas brasileiras e pequenos brasileiros que, como eu e você, tinham todo o direito a vida. O ocorrido comoveu a nação brasileira e, mais uma vez, acendeu a luz vermelha quanto ao fato de que situações inusitadas podem acontecer em qualquer lugar onde as realizações inerentes à vida ocorrem. Mas, por uma razão óbvia, é certo que não esperamos que tais incidentes ocorram em escolas. Para nós, escolas, igrejas, shoppings e outros recintos privados não são locais propícios para a ocorrência de fatos como esses.
É claro que diante dessa tragédia, múltiplas perguntas nos surgem, principalmente aquela que vaticinam: onde está Deus que não impede tais situações? É realmente incrível a nossa facilidade em lançar a culpa para o Outro, principalmente para o Outro que só destila amor. As perguntas duvidosas nos surgem porque temos dificuldades em aceitar as nossas limitações humanas e entender que a vida e suas nuanças sempre nos pregam peças e apresentam surpresas.
A surpresa que amedrontou o povo carioca e que comoveu a nação brasileira foi, como já dissemos, de uma crueldade insana. Por isso, sobram as perguntas e faltam-nos as respostas.
Uma coisa é certa: aqueles que acusam Deus de permitir tais infortúnios se esquecem de que no Brasil ainda persiste uma má distribuição de renda. No Brasil, pobre tem pouco acesso a terapia. No Brasil, os melhores projetos educacionais, como o da escola em tempo integral, foram abortados. No Brasil, também, professores e professoras que deveriam existir tão somente para exercerem as tarefas de ensino se vêm obrigados(as) a cuidar das crianças para além dos limites da sala de aula. No Brasil, enfim, a violência dentro das escolas é um reflexo da violência que ocorre dentro das casas. Há uma repetição de gestos e palavras. Para ser mais preciso, de agressões e xingamentos. Será Deus o culpado disso tudo?
Nosso papel cristão, num momento como esse, passa, necessariamente, pelo silêncio e pela oração solidária às famílias enlutadas. Lágrimas me surgem ao pensar nos sonhos, sorrisos e brinquedos que foram calados. Nosso papel passa também pelo clamor profético. Não podemos nos calar frente aos desafios como o que essa tragédia nos aponta. Mais do que isso, deveríamos encher as caixas de mensagens e sairmos às ruas com uma fita preta atada ao braço, declarando com fé e vigor a essência significativa do evangelho que é para todos, não somente para alguns.
E ao final do dia, quando o corpo desejar o tombamento, tamanho o sentimento de saudade, só nos caberá procurar um canto qualquer com o intuito de chorar com o Deus que também chora lágrimas de indignação, a morte destas crianças.
Kirie Eleisson.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Foi inevitável

Foi inevitável. Pela manhã de 30 de março de 2011, ao ouvir as notícias que anunciavam o falecimento do ex-vice presidente José Alencar, lembrei-me do meu pai Luiz Tecli Coppe. É que os dramas da personagem mais conhecida do Brasil me fizeram reviver os momentos dramáticos e traumáticos vivenciados pelo meu pai - um menos conhecido - que também lutou bravamente contra o câncer no intestino. Ele faleceu em dezembro de 2004.
Falar da morte de uma pessoa querida e amiga não é tarefa fácil, entretanto, minhas memórias surgiram como as larvas de um vulcão do Pacífico e não pude contê-las. A comoção tomou conta do meu viver. As analogias foram inevitáveis.
Não posso falar de Alencar pois nunca fui próximo a ele. Falo, então, de quem conheci bem.
Meu pai foi um cara legal. Um sujeito de muitas paixões, marinheiro e amante da vida e da simplicidade. Ele trabalhava como Técnico em Instrumentação pneumática e eletrônica, na extinta Siderúrgica Mendes Júnior, instalada na cidade de Juiz de Fora - MG. Nessa empresa, no desenvolver competente de sua função, ele conhecia todos os manômetros pelo nome e dava manutenção a cada um deles com precisão cirúrgica. Na intimidade da casa, era duro e firme com as palavras, mas profundamente sensível às belezas do cotidiano e determinado no cuidado com a esposa e filhos, continuamente exaltando a bandeira da honestidade, santa honestidade. Ele sempre se assumiu como um apaixonado por futebol, carro, religião, sinuca, samba canção e praia. Era muito fácil vê-lo emocionado frente a um momento de revelação da sensibilidade, fossem elas artísticas ou naturais. Enfim, um capixaba com espírito carioca, profundamente brasileiro.
O maior legado que esse homem me deixou foi o da humildade. Nunca foi de esnobar ou mostrar ser o que não era. Sempre nutrirei profunda admiração por esse legado.
Entre 2000 e 2004, ele lutou bravamente contra o câncer. Nunca perdeu a esperança e, como Jó, enfrentou sua luta pessoal com resignação. Nunca o vi difamando os céus, sequer as pessoas. Nem mesmo a fraqueza do corpo provocada pelas múltiplas quimio e radioterapias foi capaz de fazê-lo tombar em ressentimentos.
Tive o privilégio de conviver com ele nos últimos 10 meses de sua vida depois de uma decisão arrojada de mudar-me, com a família, da cidade de Belo Horizonte para Juiz de Fora. Nesse tempo de aproximação, se estabeleceu em minha mente um misto entre alegria e indignação. Não era fácil perceber meu pai naquela situação.
Então, diante do ocorrido recente, estampado na mídia, foi realmente inevitável não estabelecer comparações, guardadas as devidas proporções.
A vida continua e ela continuará a pregar peças em outros Coppes, Alencares, Marias e Sebastianas. A vida continua e sempre apontará as nossas fraquezas, as nossas limitações, as nossas lutas.
E diante desse quadro, não me sobra alternativas a não ser silenciar-me saudosamente em meio a preces.

terça-feira, 15 de março de 2011

Vamos ser o que a gente realmente é

Às vezes, as lágrimas rolam saudosas quando um fato inusitado nos visita a alma. Sempre sou visitado por esses lampejos de gratuidade que aparecem do nada – ex nihilo. Tenho passado semanas difíceis, marcadas por uma espécie de avaliação lancinante de minha caminhada e um pouco de ansiedade acompanhada de perguntas sobre o sentido de minha peregrinação nesse mundo cada dia mais insensível.
Hoje, pela madrugada, me vi aturdido por pensamentos desconectados que insistiam em construir pontes entre o nada e o vazio. A cabeça doía, pois eu insistia em controlar as chamas que rapidamente se tornaram labaredas. Debrucei-em em oração diante da constatação de que outra coisa não havia pra fazer. De vez em sempre, passo por esse caminho apertado e espinhoso marcado pelo encontro com a minha própria essência.
Não se trata de nenhuma crise de fé, mas de simples constatação da realidade e da impotência diante de fatos e situações porque a maioria das coisas que queria que acontecessem não acontecem, pois não dependem de mim. E os nós já apertados, se estreitam ainda mais. Como disse, não se trata de falta de fé, pois sinto Ele perto, até demais. Sei que a Sua Graça não me deixa, de forma alguma.
Mesmo com essa consciência, ainda me sinto perseguido por alguns "abortos" “poimênicos” que ocorreram em minha jornada. Abortos ministeriais que não sei se serão reparados. Abortos que envolveram pessoas que eu amava, pessoas que considerava da minha própria família. Quero deixar claro que os abortos poimênicos não foram espontâneos. Foram provocados por necessidades alheias à minha vontade e, principalmente, pelo sistema do qual faço parte. De qualquer forma, se ainda há equilíbrio em minha vida é porque no momento certo tomei a decisão por um projeto marcado pela ênfase: eu e minha casa serviremos a Ele. Mas o peso desses abortos ainda me persegue. Não que eu me considere algo ou alguma coisa, uma espécie de salvador da pátria, mas tenho me esforçado, veementemente, para ser autêntico, em palavras e em gestos, e toda autenticidade possui seus riscos. Não me considero solução de situação alguma. Somente tenho saudade de algo que não tive porque “optei” não ter. Sempre fugi da linha perversa da mediocridade, o que não é fácil, pois acabo me encontrando comigo mesmo, meu maior inimigo.
E assim, sigo questionando os que preferem a aparência de ser o que não são. Aliás, tenho me deparado com muitas pessoas que vivem dessa forma. Quando eu era adolescente, havia um comercial de um xampu chamado Denorex. O bordão dizia: “Parece xampu, mas não é; parece remédio, mas não é. Denorex: parece, mas não é”. Acho que tem muita gente buscando parecer o que não, em outras palavras, buscando ser santo, sem ser. Cansei desse tipo de gente. Gosto de quem paga preço pela sua honestidade e clareza de pensamento, sem fazer tipo. Por isso, onde estiver, sempre me lembrarei com respeito e orgulho das pessoas que são o que são. Infelizmente, conheço poucos que aprenderam a viver como o mestre de Nazaré, sem máscaras.
Por isso, quero, tão somente, agradecer aqueles que agem com sinceridade, vivem com sinceridade e demonstram o anelo carinhoso pela dimensão do Reino de Deus. Acho que, ao final das contas, o que vale é a gente não tentar colocar poano novo em roupa velha, nem, tampouco, vinho novo em odre velho. Vamos ser o que a gente realmente é.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Escrita do Deus


O escritor argentino Jorge Luís Borges escreveu um texto intitulado A Escrita do Deus onde, de uma forma bastante misteriosa, descreve o encontro de Tzinacan com o sagrado.
A crônica refere-se à narrativa dos sentimentos e percepções simbólicas de um prisioneiro religioso, um mago da pirâmide de Qohalon, chamado Tzinacan. Sua pirâmide fora queimada e destruída por Pedro de Alvarado, sendo ele, posteriormente, encarcerado.
Ele está preso em um fosso de pedra, cuja estrutura é separada por um muro que possui uma janela ao nível do chão. Do outro lado do muro há um jaguar. Tzinacan somente pode vê-lo quando o alçapão se abre ao meio dia e a luz adentra o recinto, justamente no momento em que o carcereiro leva água e carne para o homem e o animal encarcerado. Nas trevas, o jaguar é imaginado por Tzinacan. Com a luz, o animal pode ser vislumbrado.
Tzinacan fala de seu mundo, de suas inquietações, de seus temores e de seu desespero. Isso fica claro quando ele mesmo aborda que quando jovem andava por toda a prisão, mas agora não consegue magia que o livre.
Ele foi maltratado por algozes que almejavam a revelação de um tesouro escondido, mas, mesmo moribundo, se manteve silencioso e resignado, seu sentimento denuncia certo contentamento: o ídolo do deus não lhe abandonou.
Na treva do cárcere, premido pela necessidade de fazer algo, vagueia na sombra e busca entender a escrita do deus, ou seja, a revelação dada na criação. Essa era uma escrita que poderia libertá-lo daquele cárcere. Talvez, ele já a tenha visto, mas falta-lhe o entendimento.
Decorre de sua reflexão a vertigem e ele busca uma forma que pudesse significar seu símbolo. Buscou a forma árvore, a forma pássaro, a forma homem, talvez, ele mesmo. Mas, ao final constatou que o símbolo podia ser o jaguar que estava ao seu lado. Com essa conclusão, sua alma se enche de piedade. A mente de Tzinacan divaga e ele pensa na escrita do deus revelada na vivência e pelagem da rede de tigres. Nesse momento, a percepção do jaguar transmuda-se. Gastou-se no afã de decifrar a pelagem, inclusive os pontos e manchas, mas reconheceu ao final, a grandeza do mistério e sua impossibilidade de entender o símbolo. Isso porque uma coisa pode conter o todo, o tudo, o mundo, o universo. Mas, mesmo assim, essas são pobres palavras humanas que buscam conter o incontido.
Decorre dessa experiência o delírio. Areias que se multiplicam. Areias que o sufocam. Sonhos dentro de sonhos e uma corajosa confissão: o homem é ele e suas circunstâncias. Regressando do labirinto dos sonhos, desperta em seu cárcere e bendiz todas as coisas: a umidade, o tigre, a treva, a fresta de luz, o corpo dolorido, a pedra...
É quando Tzinacan encontra sentido em sua circunstância. A união mística com o deus ocorre e os símbolos dessa revelação não se repetem. Na infinitude das visões, Tzinacan encontra sentido para o que não tem sentido. São os infinitos processos que formavam uma só felicidade. A sua experiência mística o leva a cogitar a possibilidade de se tornar também um deus, e assim vingar-se dos seus algozes. A plenitude estava tão próxima e intangível. Mas a plenitude o leva a esquecer-se de si mesmo, de Tzinacan. E assim, mediante seu encontro com a escrita do deus, conclui triunfante:

Que morra comigo o mistério que está escrito nos tigres. Quem entreviu o universo, quem entreviu os ardentes desígnios do universo não pode pensar em um homem, em suas triviais venturas e desventuras, mesmo que esse homem seja ele. Esse homem foi ele e agora não lhe importa. Que lhe importa a sorte daquele outro, que lhe importa a nação daquele outro, se ele agora é ninguém. Por isso não pronuncio a fórmula, por isso deixo que os dias me esqueçam, deitado na escuridão.

sábado, 2 de outubro de 2010

ELEIÇÕES 2010 – VOTO E LIBERDADADE

Neste domingo, dia 03 de outubro de 2010, paradoxalmente, votamos pela democracia. Digo paradoxalmente porque, se realmente vivêssemos em uma democracia, o voto não seria obrigatório. Independente das questões reflexivas que poderíamos suscitar sobre esse valor universal chamado democracia, o importante é que participamos de um pleito que tem possibilidades de melhorar a dimensão de vida social no Estado. Pelo menos esse é o nosso intento.
Nessa perspectiva de melhoria dos nossos anseios sociais, venho propor uma reflexão oriunda do pensamento do filósofo florentino Nicolau Maquiavel que escreveu a clássica obra “O Príncipe” entre os anos de 1513 e 1516. A obra de Maquiavel evidencia, pela primeira vez na história, o desenvolvimento da política como ela realmente é. Ao contrário dos antigos escritos gregos ou mesmo dos posicionamentos dos pensadores da cristandade, Maquiavel revelou a política em sua configuração nua e crua. Decorreu dessa sua leitura detida o adjetivo “maquiavélico” para designar ações escusas e impróprias para aqueles que almejam o poder em qualquer de suas esferas. Entretanto, o uso desse adjetivo para situações equivocadas é uma injustiça à Maquiavel. A máxima que lhe é atribuída, de que os fins justificam os meios, não pode ser vista como proposição do seu pensamento, mas como leitura de uma situação dada à priori. Por exemplo, vou citar uma de suas frases com o intuito de melhor clarificar essa constatação.
Maquiavel disse: “Há ainda duas maneiras de um cidadão comum tornar-se príncipe, quando não se pode atribuir tudo a sorte ou valor. Não quero deixa-los para trás, apesar de que um deles possa ser melhor discutido ao se falar de república. Trata-se de quando, por atos maus ou nefandos, chega-se ao principado, ou quando um cidadão comum, com o favor de outros cidadãos, torna-se príncipe de sua pátria”.
Nessa citação, visualizamos nas entrelinhas os conceitos de virtú e fortuna. Não me aterei a apresentar suas recíprocas definições mais entranhadas senão situar que virtú e fortuna têm a ver com competência e sorte. Ora, o poder pode ser conquistado em uma dessas duas perspectivas. O que mais me importa nessa citação de Maquiavel é considerar que no cenário político atual temos bons candidatos com boas propostas, mas, infelizmente, péssimos candidatos com péssimas propostas, e ainda bons candidatos com propostas ruins. Independente do candidato ou de suas propostas, torna-se importante, em nossa condição de cidadãos, votar com consciência e liberdade. É digno votar com a certeza de que se está contribuindo com um sistema um pouco mais humanizado. Pelo menos, é isso o que se espera de cidadãos comprometidos com as pessoas de suas comunidades, principalmente os chamados cristãos. Dito isso, importa afirmar que pessoa alguma deve votar por coação ou porque este ou aquele candidato defende esta ou aquela fé. Por exemplo, ao abordar uma pessoa que estava trabalhando no caixa de um supermercado, perguntei-a: - Você vai votar em quem? Ela me respondeu: - Em ninguém. Aliás, vou votar no meu pastor! Fiquei estupefato. Sentimentos díspares de raiva e compaixão se imbricaram em mim, mas ao final vaticinei: - Fazer o quê? Mas contrariando meu vaticínio, volto a me manifestar pelo voto consciente.
Eu não tenho nenhuma ilusão em relação a este ou aquele candidato, pois tenho clareza de que as engrenagens do sistema político são complexas e estranhas à ética. Nosso sistema politica é regido pelo sistema econômico. Dessa forma, mesmo que um político eleito tenha as melhores intenções, os desafios da manutenção de sua ética serão, por demais, difíceis de serem mantidos. Quem manda, ao final das contas é Mamon. Quem não se lembra da decisão de Collor e sua equipe econômica em confiscar a poupança da população brasileira em 16 de março de 1990? Um verdadeiro golpe à boa fé brasileira. Lembremo-nos que um dos apoios mais preponderantes para a eleição de Collor foi dado pela Igreja Universal do Reino de Deus em troca de “coisinhas”, segundo a lógica “Tudo isso te darei se prostrado me adorares”.
De qualquer forma, é preciso ter a consciência transparente. Vamos fazer a nossa parte da forma como nos pudermos. No final, vale o fato de termos tentado

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os Ipês Amarelos e o Inusitado da Vida

Gosto de viajar. Gosto mais ainda de observar as belezas naturais. Às vezes, invejo os caminhoneiros que singram estradas conhecendo relevos, climas e gentes diversas, embora reconheça também a vida ingrata que levam.
Eu gosto de viajar e me encanto com a poesia colorida expressa pela natureza. Entretanto, preciso confessar que a poesia que mais me encanta é o ipê amarelo. Em meio aos diversos tons de verde, impera absoluta a singela árvore de flores amarelas. Na verdade, o ipê amarelo é uma árvore brasileira bastante conhecida e muito bela. Está presente em todas as regiões do Brasil e pertence à espécie Tabebuia alba.
As árvores desta espécie proporcionam um belo espetáculo com sua bela floração na arborização de ruas e matas. Elas embelezam e promovem um colorido no final do inverno. Essa árvore é natural do semi-árido alagoano e levou o governo, por meio do Decreto nº 6239, a transformá-la em árvore símbolo do estado.
Em fins de agosto e início de setembro se revela essa beldade do Criador. O ipê amarelo é uma “teofania”, uma aparição de Deus na terra dos viventes. É o anúncio profético de que no cotidiano e habitual, o inusitado e belo tem o seu lugar. Dos galhos secos nasce ou floresce as flores que por sua exuberância, atraem abelhas e pássaros, principalmente beija-flores. As sementes são semeadas pelos ventos...
O que mais me espanta é o fato de que esses ipês, na maioria das vezes, se encontram solitários. Independente da forma e do tamanho de sua copa, são seres oníricos que não servem para enfeitar as casas, tampouco para a fabricação de móveis, embora sua madeira seja forte. É, tão somente, uma árvore que mitiga as profundezas da alma, despertando emoções. Se eu fosse uma árvore, seria, indubitavelmente, um ipê amarelo. Não por causa da sua beleza, ou do aspecto inusitado, ou mesmo da perspectiva solitária, mas pela capacidade de despertar no observador os sentimentos mais intensos.
Acho que todos precisam vislumbrar e se deter ante a reflexão dos ipês amarelos. Eu, por exemplo, gostaria de dominar a arte dos bonsais para ter o meu próprio ipê amarelo, já que não posso ser um. É admirável ver aquelas árvores em miniatura. Eu inclusive pensei como seria maravilhoso receber em minha casa a presença sagrada desse ser vivo encantador. Por enquanto, contento-me em contemplá-los, livres, belos e encantadores nas relvas do nosso rico país.

sábado, 4 de setembro de 2010

Sem apresentações de candidatos, por favor!

Recebi dois e-mail´s essa última semana de representantes da cúpula religiosa da Igreja Metodista apresentando candidatos metodistas para os quadros políticos. Fiquei indignado. Sempre me gabei do fato de que a Igreja Metodista era politizada, mas não politiqueira; supra partidária e não defensora desse ou daquele nome.
Pois bem, recebi esses e-mail´s e, além de indignado, fiquei estupefato. Acontece que, por uma razão óbvia, entendo que toda e qualquer pessoa tem o direito de escolher o seu candidato. Acho desonesto que um líder, pelo seu estamento ou status social, queira "apresentar" um candidato de forma oficial e documentada. É como se esse líder estivesse de alguma forma, em alguma esquina, entregando um “santinho”. E essa atitude é completamente estranha, por outra razão óbvia: se fizermos uma rápida pesquisa às últimas cartas pastorais da Igreja Metodista, que procuraram discutir a questão das eleições, descobriremos que suas letras deixam claro que a Igreja Metodista e seus pastores não se manifestam em relação a nomes ou partidos. O pior nessa história toda é o fato de que nenhuma apresentação vem de forma isenta. Não quero generalizar, mas, infelizmente, existem muitos envolvimentos escusos que se desenvolvem nos bastidores.
Já vi e vejo ainda muitos candidatos que, por causa do anseio pelo cargo eletivo público, fazem promessas falaciosas. Falo isso por ter presenciado gente “crente” sem escrúpulo fazer promessa em troca de votos. Líderes vendem seus votos em troca de rádios. Líderes vendem seus votos em troca de tijolos, e assim vai. Acho isso uma tragédia, principalmente para o mundo evangélico.
Quero deixar claro que não sou contra a política. Não sou daqueles que acham que a política é coisa do diabo. Para mim, política é uma das mais importantes manifestações da vida. Aliás, tudo em nossa vida dialoga de forma clara e evidente com a dimensão política. Aristóteles disse que política é a arte de viver bem. Eu acredito nisso. Eu acredito que a única forma de desenvolvermos melhores estruturas em nossa vida se dá pelos caminhos oferecidos pela atividade política.
Mas descreio da politicagem. Para mim, distribuir santinho, de uma forma ou de outra, tem a ver com o jogo político partidário, não com lideres religiosos que têm muito mais o que fazer.
Quero ver os líderes denominacionais com inflamados discursos políticos desfraldando as bandeiras evangélicas da justiça, mas não como meros “boss” – empreendedores do jogo político que não têm interesse na política – para usar aqui uma importante definição de Max Weber.
Quero ver os lideres denominacionais expondo com audácia a posição oficial da Igreja, ou seja, a de não apoiar ninguém de forma enfática.
Quero ver os líderes denominacionais se entregando à oração e ao jejum pelo Estado, ao invés de escreverem cartas em relação a pessoas que, na maioria da vezes, eles nem conhecem.
Nessa minha singela manifestação política, quero deixar claro que se souber de gente prometendo recurso público para obra de Igreja – desde um ônibus para o piquenique, passando pela verba para a festa de rua ou mesmo a construção de qualquer parede de templo – vou efetivar uma denúncia escrita para o Ministério Público. Quem sabe assim, coremos de vergonha quando estampados na vida social e voltemos aos princípios basilares da fé genuinamente cristã.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Não quero mais saber de Fórmula 1

Hoje, dia 25 de julho de 2010, por ocasião de uns merecidos dias de férias, tive a oportunidade de assistir a corrida de Fórmula 1 – o grande prêmio de Hockenheim, na Alemanha. Confesso que sempre fui apaixonado pelas corridas desses automóveis fantásticos. E essa minha paixão não é de agora. Ela vem dos tempos do famoso “Coopersucar” de Emerson Fitipaldi. Depois veio a “Brabham” de Nelson Piquet e claro, as estupendas corridas daquele que se transformou em um dos maiores ícones das corridas automobilísticas, nosso saudoso Airton Senna “do Brasil”.

Mas no dia supracitado, fiquei estarrecido com a atitude da Ferrari quando, através de uma mensagem codificada na 49º. volta, forçou o Massa a dar passagem para o Alonso. A cena me deixou completamente tomado de indignação. Ora, tudo bem que visivelmente o Alonso estava mais rápido, mas ele tinha que resolver esse problema com o Massa na pista. Isso é briga pra quem entende do negócio. Mas aquilo que meus olhos viram foi de matar.

Fiquei realmente indignado, pois me confesso também um torcedor extremamente passional. Por exemplo, torci muito pela Seleção Brasileira de Voleibol, quando da conquista de seu nono título da liga mundial no mesmo dia à noite. O time comandado por Bernardinho é eneacampeão. Congratulações a essa equipe fantástica. Como se vê, sou passional e me junto a gente que nem conheço para torcer, simplesmente torcer.

Acontece que, por um motivo muito específico, nós gostamos de participar de movimentos que dão a idéia de grandiosidade. Queremos sempre fazer parte de estruturas que estão para além de nós ou que nos fazem maiores. Por isso, nos tornamos flamenguistas, corintianos, atleticanos, colorados, remenses e assim por diante.

Então, quando torcemos também pelos nossos pilotos da Fórmula 1, estamos nos ingressando em uma legião de gentes que querem se sentir vitoriosos como o nosso conterrâneo. A bem da verdade, eu queria vencer com o Massa ou pelo menos subir no pódio com ele, afinal de contas, eu sou brasileiro, com muito orgulho.

Por isso decidi: enquanto houver esse tipo de estapafúrdia, não mais assistir as corridas de Fórmula 1. Cansei de ser bibelô de entretenimento esportivo fazendo papel de palhaço. Eu, com meus mais singelos sentimentos, assisto a televisão e torço com fé de torcedor enquanto os magnatas da Fórmula 1 tomam as suas decisões em nome dos seus interesses econômicos, segundo a lógica: que se danem os torcedores!

O Massa perdeu. Perdeu a corrida e perdeu a dignidade ao afirmar que “deixou” o Alonso lhe passar. Ora, só um louco deixaria de ganhar uma corrida que estava sob controle. Eu não deixaria. Mas ele tem um contrato. E mais vale o contrato com a Ferrari à alegria de um torcedor na sua manhã dominical.

O Massa perdeu um torcedor. Sei que não vai fazer falta pra ele. O que importa pra ele são os dólares e euros, não necessariamente nessa ordem. Dirão novamente: mas ele tem um contrato! Eu replicarei: o maior contrato que qualquer pessoa pode ter se assina com os sentimentos e quando esses são quebrados, resta a possibilidade de torcer por gente que quer ser gente, ou que pelo menos respeita gente.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Jabulani e Vuvuzela

Em todas as copas anteriores à de 2010, sempre se destacaram em cada partida os craques, as jogadas e o futebol arte. Lembro-me, por exemplo, da seleção canarinho de 1982, da Argentina de 1986 e das antológicas jogadas do marrento Maradona, do Zidane de 1998 e dos Ronaldos de 2002. Seleções e jogadores que fascinam os que são amantes do futebol. Mas a copa de 2010, na África do Sul, ficará marcada de forma inusitada pela presença e manifestação espectral de duas outras entidades: a jabulani e a vuvuzela.
É interessante perceber que as personagens que tomam o lugar de destaque nesta copa não se encontram na esfera humana. São coisas. São objetos que ganharam um status público e mundial.
A jabulani foi projetada pela Adidas e lançada oficialmente em 04 de dezembro de 2009. Ela possui 11 cores diferentes e comporta em sua insígnia os diferentes dialetos e etnias presentes na África do Sul. O significado de jabulani é “celebrar”. Ora, como é sabido, foram tecidas muitas críticas em relação a essa bola. Por exemplo, o camisa 9 da seleção brasileira disse que a bola tinha algo de “sobrenatural”. Já o camisa 1 da mesma seleção disse que a bola se parecia com aquelas que são compradas no mercado. Sintomático saber que as principais críticas surgiram de atletas que são patrocinados pela Nike, principal concorrente da Adidas.
No caso das vuvuzelas, uma espécie de cornetão, que na atualidade é confeccionada em plástico, com aproximadamente 1 metro de comprimento e que faz muito barulho, o fator inusitado também é presente. A vuvuzela é uma herança das primeiras tribos sul-africanas que a utilizavam para convocar reuniões. Independente dos dados que podem dar uma melhor compreensão da historicidade da vuvuzela, certo é que sua soma em um estádio de futebol pode gerar desconforto entre os atletas. Enquanto escrevo essa crônica, assisto o jogo entre Holanda e Eslováquia e é impressionante o fato de que o som das vuvuzelas é ininterrupto. Se a atenção ao jogo não filtrar o som dos cornetões, acaba-se ficando irritado.
Uma coisa é certa: essa será a copa da jabulani e da vuvuzela.
Tenho uma intuição de que o desprezo e a admiração por esses dois objetos possuem ligações com as dimensões relacionadas às nossas mais profundas manifestações humanas. Por exemplo, a característica inusitada da jabulani tem a ver com a nossa própria vida. Existem situações que não podemos controlar. Definitivamente, nem sempre podemos dar a direção querida para todas as manifestações da nossa vida. Às vezes, damos uma direção, mas sai completamente ao contrário. Há uma inegável manifestação do acaso em nossa vida. A jabulani, assim como a vida, pode pregar peças e trair até mesmo os mais confiantes.
Já a vuvuzela possui essa capacidade de expandir sentimentos e emoções gerados em algum evento. Percebo que a alegria dos torcedores se expande no som contínuo que não para, não cessa, atormenta... Nem sempre temos um cornetão em mãos, mas é certo que quando somos aturdidos por algum evento que nos provoca grande entusiasmo, tocamos nossas mais singulares vuvuzelas interiores. Todos temos vuvuzelas interiores que se caracterizam como expansão de nossas mais internas alegrias.
Enfim, entendo que o nosso “encantamento” com a jabulani e com a vuvuzela se dá, justamente, pelo fato de que esses símbolos evidentes na copa da África do Sul, dialogam com algumas estruturas internas de nossa existência, a saber: acaso e expansão dos sentimentos. E, independente dos resultados que advirão dos jogos da copa, somos incitados a “celebrar” com entusiasmo e fazer barulho, muito barulho.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O assassinato da advogada

Recentemente, a mídia nos impactou com a notícia do assassinato da advogada Mércia Nakashima, de 28 anos, desaparecida desde o dia 23 de maio, quando saiu de um almoço com a família. A polícia investiga o caso e já possui suspeitas de que várias pessoas participaram do assassinato. O Honda Fit, de propriedade da advogada, foi encontrado junto ao seu corpo, no fundo de uma represa na cidade de Nazaré Paulista, localizada a 64 km de São Paulo.
O principal suspeito é o ex-namorado e ex-sócio, Mizael Bispo de Souza, de 40 anos. Ele negou a participação, mas ao que aprece, trata-se de mais um crime passional. A situação continuará a ser investigada enquanto a sociedade aguarda um desfecho para este caso.
Mas o que tem a ver esse assassinato com a nossa igreja e fé?
De antemão, quero afirmar que, vez por outra, a mídia destaca um ícone para ser noticiado. Entretanto o problema da violência contra a mulher é paradoxalmente evidente aos nossos olhos e silencioso em nossos sentimentos. Só para termos uma idéia da questão que estamos propondo, o Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA aponta-nos dados estatísticos que nos levam e perceber de forma mais nítida esse grave problema social. Cerca de 33% das mulheres brasileiras afirmam terem sofrido violência física, emocional ou psíquica em algum estágio da vida. Isso é tão verdadeiro que acredito que metade das pessoas que são membros e membras de nossa igreja conhecem alguma mulher que foi agredida de forma afrontosa. Então, como podemos perceber, muitas mulheres são vitimadas por pessoas próximas e acabam se encolhendo socialmente.
Ora, a questão da violência contra a mulher não é nova. A Bíblia relata vários casos em que a mulher foi violentada, como por exemplo: Sara, Agar, Rute, Bate-Seba, Sunamita, Maria entre outras. Isso ocorria porque a mulher era uma espécie de objeto para a procriação. A cultura patriarcal e machista sempre trouxe uma evidência para o homem em detrimento da mulher. É importante lembrar que Jesus procurou restaurar a dignidade feminina com seus gestos, palavras e ações, como no caso da mulher samaritana junto ao poço de Jacó.
Acho que precisamos investir em atitudes e ações evangelizadoras que possuam teor profético. Eu não consigo mais pregar o evangelho sem um enfrentamento das questões e dilemas que essa sociedade impõe. O evangelho que precisamos pregar não pode se configurar como uma proposta para o “além-vida”. Deve ser o posicionamento de palavras e ações que motivem a nossa comunidade a agir de forma contundente contra toda e qualquer espécie de violência. Em primeiro plano, a violência contra mulher. Em segundo plano, violência contra a vida.
A morte de Mércia Nakashima não é a única morte que aconteceu nos últimos dias. Mas ela nos remete a múltiplas reflexões sobre o nosso papel como igreja. E aqui cabe uma outra consideração: é certo que não vamos resolver todos os problemas do mundo, tampouco da nossa cidade, mas de uma forma concreta podemos resolver aqueles que têm a ver com a nossa comunidade de fé.
Para ser bem prático, quero desafiar os homens a tratarem as suas mulheres com mais carinho e atenção. Quero desafiá-los também a demonstrarem em gestos concretos o valor de cada mulher, não em uma perspectiva piegas, mas sim amorosa.
Se nós que somos conhecidos pelo nome de cristãos não tratamos as nossas mulheres com relações amáveis e afáveis, então nosso cristianismo não passa de adereço.
Assim, me solidarizo com a família de Mércia, e me comprometo com as mulheres que conheço, dizendo: não à violência contra a mulher.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quero viver dias que ainda não vivi

Recentemente apareceram alguns fios de cabelo branco. Eles não foram vistos por mim, mas por um amigo. Ele não somente os reparou, mas também enfatizou sua homérica gozação: “Tá ficando velho, hem?
Não vou negar, dentro de alguns dias completarei 40 anos de idade. Acho que estou chegando quase no meio de toda a minha trajetória nesse planeta que gira sem parar pelo universo afora. Tenho uma expectativa silenciosa de viver até os 82 anos. Deixou de ser silenciosa.
Não vou negar também que a idéia de ficar velho não me assusta. Eu até estou gostando. É claro que limites já vão se impondo sobre a demanda dos dias, mas eu continuo driblando o cansaço e os dramas de saúde, ou da falta dela. De qualquer modo, não tenho medo da palavra velho. Até gosto.
E nesse afã por minha velhice, para não perder o costume, fico ansioso pelos dias que ainda não vivi. Essa minha ansiedade tem sido salutar, diferente das anteriores que me deixavam triste. E ela está desembocando na organização de uma festa num canto qualquer em cima da terra e debaixo do céu, regada ao saudosismo de uma infância que não volta mais, aos brinquedos e brincadeiras registrados na memória, a muita conversa fiada, quem sabe um vinho de excelente sabor, cheirosa boa comida e música da melhor qualidade. Usarei nessa festa uma camisa do Flamengo, um short preto e um chinelo desgastado pelo tempo. Deixei, propositalmente, o último ingrediente dessa festa para um destaque especial: os amigos e amigas. A festa somente será assim, tão profundamente festa, com eles, com elas...
E aí, depois da festa, vou querer viver os dias que ainda não vivi. A vida é curta e constato isso, de forma evidente, quando olho pra trás. Ontem era menino, hoje sou quarentão. Tenho cabelos brancos e não quero escondê-los.
Ora, não sou bobo e sei que não poderei viver todos os dias que ainda não vivi. Mas podem ter certeza de que vou me esforçar pra ser
mais
em muitas coisas e
menos
em outras não tão poucas. É que, por uma razão bastante singular, apesar de todas as peças que a vida tem me pregado, eu ainda continuo amando-a. Não a deixo por nada. Ela é bela. Mas quero que ela continue a me desafiar ao novo, sempre de novo.
Não, não pensem que perdi o juízo e vou me debandar por aí, fazendo o que der na telha.
Quero fazer tudo o que faço e tudo o que puder fazer de formas sempre novas. Sabe aquelas coisas de se desejar amar sempre a mesma mulher que nunca será a mesma, pois o que ela foi ontem virou novo ser hoje e se tornará outra amanhã? Pois é, não há trivialidades nem cotidianidades quando se tem sempre e de novo, novas simplicidades. Quando se pode ver o que diante dos olhos está com outras imagens, com outros focos, com outras luzes.
Quero dizer mais sim´s do que não´s. Acho que assim, e somente assim poderei viver os dias que ainda não vivi, e deixar as coisas acontecerem.
Ouso citar a Adélia Prado no seu singelo pensamento por título: Tempo

A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.

Sou um homem ocidental, latino-americano e que se fosse mulher amaria chamar-me Reticências.
E no dia 14 de agosto de 2010, além do céu, do frio, da estética, do beijo de qualquer jeito, vou querer faca, queijo, goiabada cascão e fome, como a Adélia.

DIA 73 - Separações acontecem e a vida segue como dá...

  1. Quando penso sobre o processo que envolve as separações conjugais, constato que muito do possível sofrimento que acomete o casal não ...