quarta-feira, 11 de março de 2015

Vou num vôo & Virando as páginas

Sim! Eu vou!
Vou porque preciso ir.
Vou porque me sinto mais livre assim.
Vou porque meu vôo é dos pássaros que nunca experimentaram a gaiola.
Vôo pra tornar distante os que almejam
Desestabilizar o canto do encanto.
Sim, vou num vôo pra qualquer canto.



Virar algumas páginas é difícil.
O livro está velho,
As páginas amareladas e frágeis,
Um odor fétido e irritante sobe às narinas.
Brotam os espirros.
Mas é preciso virar as páginas,
Há o risco em se rasgar cada uma delas...
Mas é preciso virá-las,
Nem que para isso, a página seja arrancada
Sei, o livro ficará mutilado,
Às vezes, é preciso transgredir...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Do recomeço


A vida da gente é feita de recomeços. Hoje, recomeço minha jornada, principalmente salvaguardando minhas emoções e espiritualidade. Preciso dessa salvaguarda, pois sou homem passional e envolvo-me rapidamente com as inerentes paixões das pessoas, inclusive sendo empático.
Por causa desse nível de envolvimento, e de intimidade também, tudo fica muito exposto e a exposição nem sempre é vantajosa. Há uma linha tênue entre a pessoalidade de cada um e as situações externas. Na passagem dessa linha, entre os abscônditos da intimidade de pessoa qualquer e a realidade nos campos das relações interpessoais, tudo se torna muito frágil e volátil, inclusive favorecendo os acidentes de percurso.
Grande parte destes acidentes refere-se ao mau entendimento do que foi discutido num foro íntimo. Aliás, o problema mais complexo refere-se à dúbia interpretação, que, como nau sem bússola, perde referências e se lança a sabor das correntes marítimas. É muito duro quando as interpretações ocorrem num terreno sem limites. O pior é quando tais interpretações ganham a alcunha de fatos, mesmo tendo sido sugeridas no campo das conversas informais. Quando isso ocorre, as angústias decorrentes da não possibilidade de defesa são evidentes; com o leite derramado, o caminho é, tão somente, juntar o balde, pegar o rodo e espraiar o pano de chão, com a finalidade de operar a limpeza, se possível. Doutra forma, somente o tempo poderá elaborar a cicatriz.
De minha parte, recolho-me ao profundo de minha alma com a finalidade de avaliar a vida e recomeçar com outros princípios. Nunca é tarde para um recomeço. E, dessa vez, prometo não me expor e não expor quem quer que seja, pois, ao final das contas, as pessoas ficam chateadas e se distanciam.
Sim, é preciso salvaguardar as emoções e a espiritualidade. É preciso, igualmente, seguir alguns conselhos clássicos de nossa cultura popular. Aprendi com meu pai um adágio que assim dizia: “Coração dos outros é terra que ninguém pisa”. Acho que esse dito tem sua parcela de verdade. Então, pra quê andar no terreno alheio se já tenho o meu próprio terreno para explorar?
Em dias sombrios, quando a relação claro-escuro não está definida e tudo se faz e se refaz e tons de cinza, o melhor é o recolhimento na dimensão do silêncio. Silenciar a alma e a inquietação para experimentar a quietude; se desfazendo para se refazer.
Não quero mais saber da vida das pessoas.
Não quero mais entender o porquê de tantas agonias e angústias.
Não quero mais me morder, sentindo a dor do outro.
Sigo, enfim, um aforismo de Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
Viver exige coragem, inclusive para recomeçar, já que tudo esquenta e esfria. Com coragem, quero ao fim do dia, sentar-me em um monte qualquer para contemplar o crepúsculo, mesmo nas tardes de chuva fria e fina; mesmo quando o arco-íris for apenas uma tênue imagem; mesmo quando o sol não irradiar sua luz e brilho intensos. Faço minhas as palavras do velho livro de intensa sabedoria; “Esqueço o que fica para trás, avanço em direção ao alvo da soberana vocação”.

Sim, vou viver a vida, sempre me refazendo... sempre recomeçando...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Hipocrisia


Coisa triste é a hipocrisia. Ora, esta palavra significa fingimento, falsidade, sentimentos, crenças e virtudes que na verdade, a pessoa não possui. Hipocrisia tem a sua origem na tragédia grega, sempre teatral. O hipócrita é o que oculta a sua face usando uma máscara.
Tudo bem, me diriam os céticos, toda a sociedade é hipócrita, pois depende dessa dimensão para a própria sobrevivência. Não nego isso, mas o esforço pela melhor e mais transparente convivência entre as pessoas não pode ser ofuscado por gente que se acha superior às outras, fingindo comportamentos.
Em várias passagens do Evangelho, os hipócritas são denunciados por Jesus. O interessante é notar que os hipócritas não eram os pecadores, mas os religiosos que insistiam em parecer ser o que não eram. Veja, por exemplo, Marcos 7.6: “Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. Ou ainda, Mateus 6.5: “E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu asseguro que eles já receberam a recompensa”. E, enfim, 1 João 4.20: “Se alguém disser que ama a Deus, mas odiar o seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê”.
Bem, acho que esses versos bastam para mostrar claramente como Jesus tinha (e tem) verdadeiro asco de gente hipócrita.
Enfim, que diante dos nossos mais específicos relacionamentos, tenhamos a coragem e a autenticidade de fazer diferença, vivendo da melhor maneira possível, com dignidade e tolerância. O Senhor com a gente.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A Partida de Rubem Alves: poeta, guerreiro, profeta

Texto do amigo Zwínglio Mota Dias que eu partilho com vocês:
A partida de Rubem Alves: poeta, guerreiro, profeta
 
 
“Mortais, mas eternos somos:
eternos em alma,
eternos em gosto,
em mistérios eternos,
eternos sonoros,
eternos, eternos,
--mortais e eternos já somos...”
(C. Meireles)

O Brasil está de luto... O movimento ecumênico, nacional e internacional, está de luto... Os trabalhadores da educação estão de luto... Os amantes da literatura estão de luto...
Nós em KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço estamos de luto... É que faleceu sábado passado, dia 19 de julho, na cidade de Campinas, onde residia, nosso amigo, companheiro e irmão, o teólogo, filósofo, psicanalista, educador, poeta e cronista Rubem Alves, depois de um longo e sofrido período de enfermidades.
Depois de oitenta anos bem vividos e com o corpo enfraquecido por crescentes disfunções orgânicas, Rubem partiu para a eternidade legando-nos uma obra imensa de escritor prolixo voltado para os grandes temas da vida, tratados sempre com leveza, simplicidade e fino humor.
Personalidade ímpar, sabia conjugar com maestria seriedade e sonhos, responsabilidade política e poesia. Sempre com um largo sorriso a lhe iluminar o rosto e um profundo sentimento de dever com relação as suas tarefas de intelectual comprometido com as grandes causas da humanidade, Rubem deixou suas inconfundíveis marcas na construção e consolidação do movimento ecumênico na América Latina e contribuiu de forma criativa e original para o estabelecimento de um novo paradigma teológico no continente que até hoje baliza os esforços de renovação e recriação da comunidade cristã por toda parte. “Para uma teologia da libertação” foi o título que escolheu para a sua tese doutoral, em 1969, na Universidade de Princeton nos Estados Unidos que, quando publicada, ganhou outra denominação. Assim ele se inscreve como um dos “pais” de uma nova forma de se fazer teologia que, desde então, vem agitando os ambientes eclesiásticos, especialmente na América Latina.
Um “protestante obstinado” como se declarou uma vez, Rubem foi, na verdade, um “atravessador de fronteiras”, inconformado sempre com as limitações que encontrava nos vários campos do saber a que se dedicava. Ao descobrir-se poeta e contador de histórias, abandonou os pressupostos formais da teologia para dedicar-se ao que chamou de teopoética que passou então, a expressar nas centenas de contos, poemas e crônicas reunidas em seus mais de 160 títulos publicados. Dedicou-se profundamente aos temas da educação tornando-se um dos mais originais pensadores dessa área a partir de suas práticas e reflexões como professor da Universidade Estadual de Campinas.
Homem sensível, rigoroso consigo mesmo e com todos e todas que faziam parte de sua existência, Rubem acaba de encerrar seus dias entre nós. Mas, a ser verdade o que proclama o também mineiro Guimarães Rosa, o Rubem, na verdade, não morreu... apenas encantou-se, para continuar, de um outro jeito, presente em nossas vidas. Nosso companheiro de sonhos e utopias, dores e lutas, mas também de momentos alegres e festivos, ausenta-se agora, apenas fisicamente, para ressuscitar em nossa memória, com o testemunho de sua vida para nos instigar a seguir em frente na luta incansável de plantar sinais, por menores e insignificantes que possam parecer, de um mundo outro que ele sempre perseguiu, marcado pelo amor, a justiça e pela paz.
Certa vez, acompanhando-o nos funerais de um amigo comum, pude ouvi-lo comparar a vida a uma peça musical. Por mais bela e tocante que venha a ser, dizia ele, a música precisa, em algum momento,ser interrompida para não perder seu encantamento, seu frescor, sua capacidade de nos comover. Entendamos, pois, que a melodia da vida de Rubem Alves acaba de ser interrompida para que possamos ouvi-la de novo, na leitura de seus muitos textos e poemas, sempre que quisermos e ela possa, outra vez, nos sensibilizar, nos fazer sorrir, nos ajudar a corrigir nossos passos, nos enlevar e nos alertar para os perigos tantos que nos rodeiam...
Ao término dos últimos acordes da música que foi sua vida, embora tristes por sua ausência física, nos alegramos por sua “coragem de ser” o que foi e a incorporamos, ainda mais, em nossa vivência, na esperança de que os seus sonhos e a sua ousadia continuem em nossos gestos de amor e solidariedade. Que o Mistério profundo que a todos e todas nos envolve o receba em seu esplendor vital e que todos nós possamos ser consolados pela lembrança de seus sorrisos e recolher as lições de sua vida.
Não tendo palavras próprias de poeta capazes de expressar de forma bela e certeira os sentimentos que povoam as vidas de todos e todas que conviveram com Rubem, tomo emprestado as lindas palavras do poema daquela que foi uma de suas poetas preferidas, Adélia Prado:
“De um único modo se pode dizer a alguém:
‘não esqueço você’.
A corda do violoncelo fica vibrando sozinha
sob um arco invisível
e os pecados desaparecem como ratos flagrados.
Meu coração causa pasmo por que bate
e tem sangue nele e vai parar um dia
e vira um tambor patético
se falas ao meu ouvido:
‘não esqueço você’.
Manchas de luz na parede
uma jarra pequena
com três rosas de plástico.
Tudo no mundo é perfeito
e a morte é amor.”

KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, para quem Rubem sempre foi uma referência, registra com pesar e tristeza seu “encantamento” desta vida, porém, nela inspirada, espera que os gestos claros e corajosos de seu compromisso com a dignidade e beleza da vida de todos e todas continuem a reverberar nas novas trilhas do movimento ecumênico e nas lutas pelos direitos de todos e todas no continente.
Deixamos nosso abraço fraterno e solidário para Lidia, Sérgio, Marcos, Raquel, sua esposa, filhos e filha, e demais familiares.
 
Autor: Zwinglio Dias
Data: 21/7/2014

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Dissertação de mestrado

Pra quem curte um texto acadêmico, segue o link para a minha dissertação de mestrado cujo título é: A RESPONSABILIDADE SÓCIOPOLITICA DOS CRISTÃOS - História e memória da União Cristã dos Estudantes do Brasil - UCEB.
http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/cp141200.pdf

terça-feira, 1 de julho de 2014

Entre o evento da copa e as memórias


Sou amante do futebol arte e gosto de assistir um jogo de futebol com a tensão inerente a um torcedor. Não sou nenhum enlouquecido, tampouco exagerado em jeitos e trejeitos, tanto nas vitórias como nas derrotas.
Não posso negar o fato de gostar da celebração futebolística alcunhada como Copa do Mundo. Em que pese todos os interesses políticos e econômicos inerentes a este macro evento, o fato é que a alegria e o sentimento de nação simbolizado em um time de futebol dá a todos nós a certeza de que vale a pena pertencer a um todo cultural.
Nasci em 1970, quando o Brasil havia conquistado o seu tricampeonato. Da Copa de 1974, não tenho lembranças. A de 1978 foi a primeira que curti, talvez motivado pela coleção de fotos dos atletas que vinha por intermédio das tampinhas de alguns refrigerantes. Em 1982, as figurinhas eram adquiridas pelo Chiclete de bola “Ping Pong”. Esta foi a minha Copa! Em primeiro lugar, porque o time era brilhante e cheio de estrelas que jogavam um futebol arte. Torci ao lado de minha família, vestido com o uniforme da seleção, saboreando um amendoim torrado e doce que minha mãe preparava. Ainda hoje, quando vejo estes amendoins torrados nas esquinas e vielas, minha memória viaja no tempo. Em segundo lugar, porque depois dos jogos, eu, ainda uniformizado, me reunia com meus amigos em um campinho de argila na cidade de Betim – MG, para uma partida até o pôr do sol. Ali, o Zico, o Sócrates, o Júnior, o Éder, o Cerezo, o Leandro, o Mozer era eu, eu mesmo.
Não chorei, mas fique silencioso quando o Paulo Rossi desfez os sonhos do tetracampeonato naquela Copa.
Então veio 1986. Torci, mas sem a mesma empolgação de 1982. Fomos eliminados pelo time de Marcel Platini.
Chegou 1990 e faltou empolgação também. Maradona e sua trupe nos tiraram o sonho.
Em 1994, estava eu em São Paulo, fazendo meu curso de Teologia e sendo abrigado aos fins de semana na casa de pessoas queridas em Vila Galvão - Guarulhos. Nos jogos que aconteciam durante a semana, torcíamos no Pombal – como ainda é conhecido o setor de hospedagem dos seminaristas metodistas na Universidade de São Paulo. Vi a final em Guarulhos e vi o grande jogador Roberto Baggio da seleção italiana perder o pênalti. Celebrei e fomos às ruas ver as pessoas, cumprimentá-las e ouvir os fogos que singravam os céus.
Na Copa da França, a empolgação estava em alta, ainda mais porque o Brasil bateu adversários difíceis e se classificou para a final juntamente com a França. Já no início, a notícia esquisita de que o Ronaldinho não jogaria a final porque tinha passado mal me deixou cabreiro. Dito e feito, três a zero para a França. Brasil ficou com o vice-campeonato mundial.
Gato escaldado tem medo até da água fria. E foi assim que em 2002, fiquei mais cauteloso. Mas o Ronaldinho queria apagar aquela “situação” ocorrida na final de 1998 e fez daquela Copa, a sua Copa. Brasil, pentacampeão de futebol. Fiz muita festa. Foi muito bom. Nesta época, eu estava em Belo Horizonte e assisti a final na casa de amigos também.
Em 2006, depois de muitas situações complexas que afetaram minha família, não podia ter a mesma alegria. Assisti a Copa sem muita empolgação. Ademais, estava vivendo um tempo profissional de muita instabilidade e tudo contribuía para meu desânimo. Perdemos pra França, mais uma vez.
Já em 2010, minha alegria havia retornado e reunimos a família para vários encontros em frente à televisão. Havia comprado uma TV de 42” que era a sensação na época em que ainda existiam muitas TVs antigas de 29”. Agora aquela TV está obsoleta por causa de revolução tecnológica. Ao final, vi a tonalidade da TV nova ficar mais alaranjada, principalmente no jogo contra a Holanda.
Pois bem, estamos em 2014 e todas essas e outras memórias me visitam. A mais forte pra mim é a dos jogos nos campinhos, onde nos tornávamos os jogadores que assistíamos. Independente do resultado desta Copa, já vale as histórias e memórias que nos sobressaltam. Para mim, em específico, já tá valendo a festa nas cidades sedes dos jogos. Se a seleção do Brasil ganhar, beleza. Se não, a vida vai continua do mesmo jeito. Aliás, não temos nenhuma obrigação de ganhar coisa alguma e nem de cobrar êxitos de um bando de garotos que não se cansa de fazer selfies e lançar na web, salvo algumas exceções. De qualquer forma, no fundo, no fundo, estes eventos ressaltam em nós a alegria teimosa que insiste em resistir mesmo nas cadeias e hospitais. Coisa boa é a capacidade que o ser humano possui para reagir mesmo quando as coisas não estão boas.

Assim, como uma borboleta que insiste em exibir a exuberância de suas cores nas relvas e jardins, mesmo sabendo que vai se extinguir entre duas semanas a um mês – com exceção da borboleta monarca que vive até 9 meses – nós insistimos em revelar a beleza da alegria, mesmo sabendo que ela possui prazo de validade. A copa vai acabar, mas as memórias vão continuar. Que pelo menos, nós brasileiros, nos lembremos de que eventos são eventos e a vida é muito maior que o evento. Lembremo-nos igualmente que o que vale é a representação de um espírito nacional e não a vitória.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Reflexões em Tempos de Angústia


Ando angustiado e com uma dor lancinante na alma. A respiração pausada sofre a interferência de taquicardias descompassadas. Sei que não há normalidade nisso, ao contrário, trata-se da somatização de diversos sentimentos que se misturam complexamente dentro da mente. Como se diz na França: “Esta é a vida”.
A minha angústia nasce da constatação de que existem pessoas que se dizem amigos ou amigas, mas que infelizmente, só se aproximam com o intuito de se dar bem ou de se organizarem melhor nas suas vidas pessoais. Eu, de fato, não tenho muitos amigos, mas gosto de cultivar amizades no campo da sinceridade, humildade e cumplicidade.
Eu não me sinto bem quando me sinto usado por esta ou aquela pessoa. Eu não me sinto bem quando pessoas se aproximam com o único intuito de usar-me segundo seus interesses. Isso me angustia veementemente. Isso me angustia e me trás amargor na alma.
A minha angústia nasce também da constatação de que as dimensões eclesiásticas estão invertidas. A cada dia mais, o movimento evangélico se distancia do Evangelho e as lideranças se ocupam e se preocupam, tão somente, com o poder, principalmente financeiro, pois sabem que no fundo, quem manda é quem tem grana.
E assim, vou vivendo dia-a-dia, tentando organizar meus sentimentos colocando minha ideias nos seus devidos lugares, todavia as borboletas insistem em continuar voando na altura do estômago. Dêem o nome que quiserem a isso, mas para mim é angústia.
Foi Kierkegaard quem estabeleceu como ponto fundamental da perspectiva das transições necessárias à vida humana o conceito de angústia. Esta dimensão da angústia, além de impulsionar a pessoa a um novo estado na vivência, acompanha-o no confronto com uma nova realidade, principalmente aquela que está na contramão do que se pensa ou se quer. Segundo este filósofo dinamarquês, a angústia faz parte da natureza humana, jogando o ser humano num precipício de possibilidades e impulsionando-o a tornar-se responsável pela sua própria existência.
Não vou entrar nos méritos do conceito de angústia em Kierkegaard, mas somente pontuar sua relevância para refletir os momentos em que a alma humana, mesmo em seus conflitos internalizados, busca a realização de sua jornada no encontro de sentido na vida. E não é isso o que todas as pessoas procuramos?
Sim, queremos sentido na vida, e que ele venha de forma ética, sem os jogos de poder ou mesmo pelas pessoas em suas subjetividades querendo se dar bem à custa do outro.
Por enquanto, fico com minha angústia, sendo provocado por ela com vias a transições que se tornam extremamente necessárias para mim, já...? agora...?

DIA 73 - Separações acontecem e a vida segue como dá...

  1. Quando penso sobre o processo que envolve as separações conjugais, constato que muito do possível sofrimento que acomete o casal não ...