
O que é o amor? Me fizeram essa pergunta! E eu não tinha nenhuma resposta pronta. Ao contrário, fiquei confuso com a questão e me pus a refletir sobre o significado dessa expressão que abarca diversos sentimentos e reações físicas no corpo. Li e reli diversos poemas. Me percebi envolto pelas tramas e romances diversos que me trouxeram emoções. Ouvi e cantei músicas. A somatória de todas essas expressões era ainda, para mim, uma gota d’água no meio do oceano...
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Uma Reflexão sobre a Morte

terça-feira, 24 de abril de 2012
Estou com uma Doença...
Estou com uma doença esquisita. É uma doença que está me deixando muito mal, afetando inicialmente, todos os meus 206 ossos e os meus 640 músculos, inclusive a estrela entre eles, o coração. Na verdade, descobri que essa doença está me provocando uma fobia, melhor dizendo, uma aversão à instituição e seu respectivo institucionalismo, aumentando meus batimentos cardíacos e fazendo meu sangue correr em todos os 96.560 km dos meus vasos sanguíneos. Aliás, essa fobia tem me provocado náuseas, principalmente quando me deparo com a esfera do poder, com gente que só quer saber de mandar em gente. Também tem me provocado ânsias quando visualizo, mesmo que sucintamente, qualquer ato ditatorial da parte daqueles que existem para servir. Tenho dores infernais na cabeça, principalmente quando leio artigos e documentos que estão longínquos da essência do Evangelho sinalizado por Jesus Cristo. Vejo múltiplas manchas vermelhas no meu corpo quando percebo o espírito de dominação, traduzido pela metáfora da visão ou da profecia, nos discursos e “pregações”. Triste saber de gente que usa a fé alheia para satisfazer seus desejos e viajarem a custa dos outros. Surgem-me calafrios quando contato a veracidade destes pares que buscam essa estirpe de espiritualidade idolátrica. Nessa percepção, minhas glândulas sudoríferas, localizadas na derme, produzem um suor salino e meus olhos ficam irritados, frente ao algo triste revelado, produzindo lágrimas que fluem para as narinas e provocam a vermelhidão. O choro se estrema e uma dor lancinante se instala no peito.
A pele é ferida, os capilares são rompidos, me deixando expostos a uma infecção. Meu sistema respiratório arfa por oxigênio. A respiração fica difícil, vírus invadem o meu corpo e busco remédios e vacinas. Pior são os calafrios que ocorrem, invariavelmente, quando constato também, o surgimento de campanhas de vitória e sucesso feitas em nome de Deus. Mas o que me mata mesmo é a taquicardia que altera toda a pressão arterial da alma provocando muitas inflamações no espírito.
Tais inflamações não permitem aproximações de quem quer que seja, fazendo-me recolher a um canto qualquer onde minha solidão seja elaborada e eu experimente a restauração misteriosa da graça. Alia-se a estas patologias citadas uma alergia aos títulos de toda e qualquer ordem – dos chamados “espirituais” aos acadêmicos.
Meu encéfalo – mais complexo do que qualquer computador que exista no mundo – controla o meu sistema nervoso. De todos os órgãos do corpo humano, este é o que é mais afetado pelo envelhecimento. Isso significa que no auge dos meus 41 anos, meu encéfalo já não é o mesmo de quando tinha 16. Não posso perder energia em bobagens, tais como estas citadas, com os meus 80,4 km de nervos do corpo. Assim, meus feixes de axônios e neurônios precisam liberar e transportar impulsos elétricos com coisas que valham à pena.
Fui ao médico e ele me receitou indiferença. E mais duas doses de “não esquenta a cabeça”.
Segui as orientações, mas não teve jeito. Resolvi apelar e visitar um curandeiro. Ele me deu algumas ervas pra fazer um chá de indignação. Deu-me também umas raízes, com as quais eu pude fazer uma pasta de rebeldia para passar na cabeça, o que de alguma forma me aliviou as dores cefálicas, entretanto a alma continua em agonia.
Não sei se há saídas para a minha doença. Acho que ela é incurável. Diante disso, me sobram duas perspectivas: resignar-me ou lutar contra a doença. Escolhi a segunda opção. Vou lutar contra essa doença, mesmo que ela me leve à morte. Vou lutar com todas as minhas forças contra essa invasão bárbara que não foi gerada por mim, mas que me atinge profundamente e silenciosamente como uma metástase.
Já estive no CTI, passei pela enfermaria e agora caminho trôpego com muletas emprestadas por amigos que não me desamparam nunca: o paulistano do trem, o crente do “pii” quente, o alienígena e o quixotesco dos livros.
Moribundo, espiritualmente, só me resta a esperança...
terça-feira, 17 de abril de 2012
O Sol Brilha Diferente
Quando as coisas não vão bem com a gente, o sol brilha diferente.
Se ao contrário, tudo está em ordem, o sol brilha diferente.
Quando os amigos se afastam e os bons risos cessam, o sol brilha diferente.
Se surgem novas amizades e a sinceridade irradia nos olhares, o sol brilha diferente.
Quando a enfermidade e a doença se instalam em nosso corpo, o sol brilha diferente.
Se ficamos sãos e nos lançamos novamente a todas as nossas atividades sem limitações, o sol brilha diferente.
Quando as questões familiares não têm uma boa resolução em nossos lares, o sol brilha diferente.
Se estamos em harmornia, casais conjugados e filhos em diálogo, o sol brilha diferente.
Quando a saudade se instala no profundo da alma, o sol brilha diferente.
Se nos reencontramos com a pessoa amada ou com o amigo distante, o sol brilha diferente.
Quando oramos, mas nos dispersamos em nossa oração por causa dos muitos problemas, o sol brilha diferente.
Se oramos, silenciando nosso ser para ouvir o grande Deus, o sol brilha diferente.
Quando querem transformar nossa espiritualidade em comércio, o sol brilha diferente.
Se nos aninhamos a uma vida espiritual cercada de realidade e esperança, o sol brilha diferente.
Quando somos banhados com a chuva da tempestade, o sol brilha diferente.
Se nos chega aos telhados a chuva fina que rega a terra, o sol brilha diferente.
Quando nos falta a fé para a jornada espiritual na dimensão do Reino de Deus, o sol brilha diferente.
Se o Reino de Deus é vivido por nós na dimensão plenificada da esperança, o sol brilha diferente.
Quando tomamos consciência de que Jesus morreu na cruz no calvário, o sol brilha diferente.
Se vamos ao túmulo e percebemos que ele não mais lá está, o sol brilha diferente.
Quando somos tomados pelo medo da morte ou pelos assaltos do pecado, o sol brilha diferente.
Se nos alimentamos da esperança da vida eterna, o sol brilha diferente.
De fato, o sol sempre brilha diferente?
Moisés Coppe
sexta-feira, 2 de março de 2012
Um Tributo ao Mestre Milton
Ao longo de toda a minha formação teológica, no chão da FATEO, lá pelos idos dos anos noventa, sempre nutri a imensa vontade de saborear as aulas ministradas pelo professor Milton Schwantes. Claro, recebi os conhecimentos em Antigo Testamento de um dos seus mais dedicados discípulos – o Tércio Machado Siqueira. E este mesmo, com seu peculiar jeito mineiro, sempre se referia ao Milton com brilho nos olhos, o que aguçava ainda mais a minha vontade para descobrir as novas hermenêuticas do sereno gaúcho de Carazinho.
Lembro-me de uma aula dada por ele em nossa sala de aula, somente uma, ainda nos tempos da graduação. E nós, alunos da Teologia, queríamos impressionar o mestre quanto aos nossos conhecimentos em relação às teorias Javista, Sacerdotal e Eloísta. Então, pipocávamos em diversas direções com uma série de informações sobre a teoria das fontes, de acordo com a abordagem latino-americana de Schwantes. Depois de nos ouvir atentamente, com os olhos espremidos, brilho nas bochechas e um largo sorriso na face, ele humildemente nos disse: “Sabe gente, não liguem pra essas bobagens que eu escrevi anteriormente. As coisas evoluem e as novas abordagens aí estão para nos redescobrirmos o Antigo Testamento”. E começou a apresentar as múltiplas tradições dos povos bíblicos que teceram a Bíblia.
Nos últimos dois anos – 2010 e 2011, enfim, tive a oportunidade de estudar por três períodos com o professor Milton Schwantes. Já agora, nos estudos de doutorado, confirmei a sapiência lúcida do mestre. Poucas vezes, tive a oportunidade de ouvir uma abordagem tão profunda e tão popular da Bíblia. Eu, que já estava a bons anos sem me aprofundar em exegese bíblica, me vi novamente em contato com o hebraico e todas as possibilidades da língua. Além disso, o tom lúdico das suas abordagens, aliada a uma preocupação sempre relevante em relação aos pobres dava às suas aulas um tom sapiencial-poético-profético.
Mas seu corpo não acompanhava mais sua mente.
Sua mente não acompanhava seu brilhantismo.
Seu brilhantismo era revestido de humildade.
Sua humildade era similar à de muitos profetas e poetas bíblicos.
Acho eu que por muitos anos, vamos falar de Milton. Vamos lembrar Milton. Vamos nos reportar ao Milton. Vamos beber em sua memória e contar casos, os mais diversos, como aquele que ele sempre contava do homem da mudança que estava com a “pressão baixa”.
Dizem que ele faleceu no dia de ontem, 01.03.12, mas eu acho que não. É somente mais uma treta bem elaborada deste que certamente ainda sorri valente frente aos desafios da existência.
Por fé, digo a você, estimado peregrino: a gente se esbarra por aí. Ontem, você se foi, mas acho que continuará por aqui, por muito tempo. Em nossos corações, em nossa memória, em nossa leitura da Bíblia, em nossa saudosa conversa despretensiosa.
Até mais ver. E se você perguntar sobre minha Juiz de Fora, mais uma vez, eu responderei: “Vai bem, obrigado! Esperando por você, mestre!”
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
A Música "Palavra"
Eu tenho uma apreciação dantesca pela música Palavra de Irene Gomes. A singela letra dessa canção é poetizada da seguinte maneira:
Palavra não foi feita para dividir ninguém.
Palavra é a ponte onde o amor vai e vem.
Palavra não foi feita para dominar
Destino da palavra é dialogar.
Palavra não foi feita para opressão.
Destino da palavra é a união.
Palavra não foi feita para vaidade
Destino da palavra é a eternidade
Palavra não foi feita pra cair no chão.
Destino da palavra é o coração
Palavra não foi feita para semear
A dúvida a tristeza ou o mal estar
Destino da palavra é a construção
De um mundo mais feliz e mais irmão.
De fato, é através da palavra que temos a oportunidade de construir possibilidades outras. Isso ocorre porque há um há um poder nas palavras. E provo isso com uma ilustração: Minha filha não gosta de coco. Assim, ela evita todo e qualquer alimento que contenha coco. Em fins de setembro de 2011, ela comeu um bolo apelidado “formigueiro”, sem saber que tinha coco, sempre afirmando que o bolo estava uma delícia. Aí, ela resolveu ler na embalagem a composição alimentícia do bolo e descobriu que tinha coco. Pronto, o drama estava montado, porque agora, o bolo gostoso possuía um elemento que ela não aprecia. Então, ela começou a comer o bolo com certa suspeita. Mas o que realmente importou? Por certo, o poder da palavra coco. Foi a palavra que provocou nela um estranhamento. Aquilo que estava saboroso passou e ser suspeito.
É interessante notarmos como as palavras provocam em nós os mais diversos sentimentos e reações. Por isso, temos que ter um cuidado singular com a forma como conduzimos as palavras. Isso também é verdade quando analisamos a esferas dos relacionamentos. Ora, nessa esfera, se não temos coisa alguma de boa pra dizer para outrem, então é melhor não dizer nada. Aliás, nossa intencionalidade tem que ser sempre a voltada para a manifestação de palavras agradáveis às pessoas. Isso constroi a ponte onde o amor vai e vem.
No livro de Provérbios, há um verso que muito me agrada e que corrobora com nossa breve narrativa. Trata-se de Provérbios 16.24: “Palavras agradáveis são como favo de mel. Doces para a alma e medicina para o corpo”.
Há dois princípios interessantes nesse verso. O primeiro refere-se ao fato de que as palavras, como ditas, podem provocar a cura das emoções e a cura do físico numa dimensão holística. Em minha convicção, não se trata de mais um chavão evangélico, mas de um princípio que favorece a boa harmonização dos relacionamentos. Ora, se temos problemas na família e na igreja, um dos fatores fundamentais está relacionado ao fato de que usamos mal a palavra. Isso é muito verdadeiro, pois muitas vezes, mesmo sem saber, machucamos as pessoas com as palavras. Ora, todas as pessoas têm o direito de defenderem suas posturas e verdades, mas ao fazê-lo, devem se imbuir de uma atmosfera de boas resoluções relacionais, inscritas na esfera do shalom – paz, mesm na adversiadade. Pessoa alguma é obrigada a aceitar afrontas ou palavras deselegantes oriundas de quem quer que seja.
Por isso, a música de Irene e o verso bíblico ressaltado se tornam boas referência para todos nós. Entendemos da música e do verso que as palavras agradáveis são pontes onde o amor se desloca trazendo amenos sentimentos e cura emocional e física. Acho que é isso que deve estar na pauta das nossas conversas: bons sentimentos e desejo de cura para o outro. Fora isso, não tem sentido.
Então, cuidemos de nossas palavras, segundo a lógica: “destino da palavra é a construção de um mundo mais feliz e mais irmão.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Sossego?
Na palma da mão desenho minha lida
Cutuco a ferida que um dia se fez;
E canto suave, um canto sincero
Arfando sentidos do que tanto espero
Ou mesmo a toada do que se desfez.
Colhendo as flores da mata sombria
Onde o olhar se esguia pra ver o que há
E aí se descobre na úmida alma
que nunca sossega ou se perde na calma
Que somente se vive do jeito que dá.
Moisés Coppe - 21.11.11
sábado, 22 de outubro de 2011
CIdadã Honorária???
Acompanhando nesta sexta-feira, 21/10/2011, os noticiários que veiculavam nas rádios difusoras, fiquei mais uma vez embasbacado. Pois é, o gabinete da presidência da Assembleia Legislativa de Minas foi tomado nessa última quinta-feira por um clima de micareta. Literalmente, “rolou a festa”. É que a cantora baiana Ivete Sangalo recebeu o título de cidadã honorária do estado de Minas Gerais.
O pedido foi requerido pelo deputado estadual Bruno Siqueira, que têm por principal colégio eleitoral – eleitoreiro? – a cidade de Juiz de Fora. Além do referido deputado, outros foram ao gabinete da presidência para, pelo menos, vislumbrarem de perto a beleza da cantora e constatar “o quê que a baiana tem”. Simpaticíssima, Ivete distribuiu beijos e autógrafos aos nobilíssimos homens do poder público, bem como a seus respectivos familiares. Imaginem vocês que o deputado Carlin Moura do PC do B postou em seu Twitter as imagens da, agora, honrada cidadã mineira. O deputado Adelmo Carneiro do PT discursou num tom de tietagem e assim, sucessivamente, outros deputados se desmancharam em elogios. E estavam presentes também os membros da Câmara Municipal, inclusive seu presidente Léo Burguês do PSDB. Mais uma vez, revelou-se a capacidade política de nossos governantes que insistem em manter a lógica romana bem sucedida de pão e circo.
A questão ressaltada pela maioria da casa tinha por tônus a ideia de que o título à cantora baiana pode fomentar mais ainda o turismo de Minas. Inclusive o próprio deputado Bruno Siqueira justificou o pedido nessa mesma linha de raciocínio, dizendo que a cantora divulga o estado e “ajuda” as economias das cidades, principalmente as pequenas. Em suas palavras: “Ivete esteve em Juiz de Fora, minha cidade natal, e mesmo sendo uma cidade de tamanho médio, foi grande a movimentação de pessoas, vindo de todas as regiões”. Preciso concordar com o Siqueira, pois realmente as nossas belezas naturais e culturais – rios, cachoeiras, lagos, serras, vales, montanhas, cidades históricas, cidades modernas, queijo, pão de queijo, culinária, brejeirices, músicas, músicos – deixam a desejar. É, realmente, precisamos da Ivete para alavancar o turismo. Assim, o pedido do deputado foi encaminhado pela Comissão de Cultura e sancionado pelo governador Anastasia.
Ora, prezados leitores, a minha indignação se dá por um motivo que considero simplesmente moral. É que a constituição de uma cidade se dá mediante gente real que se esmera cotidianamente com o intuito de sobreviver e manter o estamento social. Na minha humilde concepção, é um absurdo sem proporções o encaminhamento de pedidos, tais como este aqui referido, de gente que nada tem a ver com a cultura do local. Não tenho absolutamente nada contra a Ivete Sangalo, mas, cá pra nós, a cantora não é melhor do que nenhum cidadão de nossa Gerais. Eu sei que artistas, em geral, são muito preocupados com a imagem que veiculam na mídia. Aliás, artistas vivem da imagem. Mas, aceitar um título como este oferecido é, no mínimo, um absurdo, principalmente porque o título deveria ser conferido a quem de mérito relevante e não a quem de representação. Um título de cidadão honorário deveria ser entregue a pessoas que tivessem relevância política para a cidade, estado ou nação, mas ao contrário, é dado segundo interesses subjetivos dos futuros candidatos em futuras eleições. De qualquer forma, para mim, falta bom senso de quem aceita tais homenagens.
Ademais, com tantos problemas em tantas esferas sociais no conjunto do nosso estado, é cruel saber que nossos governantes, pífios em sua maioria, gastam tempo e dinheiro público para encaminhamentos como este. Então, cidadãos como eu ficam com uma pulga atrás da orelha e com uma pergunta sempre inquietante: o que está por trás dessa indicação? Infelizmente, não consigo ver outra coisa que os fins eleitoreiros. Ao final das contas, pelo menos o Siqueira passa do anonimato em sua bancada para a referência no imaginário coletivo. Hoje, Minas Gerais sabe quem é o dito “cidadão” que pediu título para a “cidadã”.
Faço desse texto um manifesto político indignado. E não pensem que estou chateado ou mal resolvido. É que diante de besteiras como essa que eu ouvi e constatei, não consigo me conter. Quero a democracia e não a midiocracia! Quero a integridade e não a mediocridade.
Portanto, com a finalidade de ser bastante prático, quero convidar todos a refletirem sobre as entregas de títulos como este a pessoas sem significado real. Aliás, em minha concepção, a pessoa sabe se ela merece ou não aquele título. Em muitos casos, se a pessoa for de notável presença no todo social ou possua envergadura política, social e econômica, tudo bem, não vamos ser radicais; mas, se por outro lado, a pessoa não tiver coisa alguma a ver com aquela cidade ou estado, é melhor se recolher a um canto qualquer e aguardar em silêncio a passagem dessa tentação de ser exaltado diante de outros. Seria sensato para estes rejeitarem concessões como essas.
Ao final, com a finalidade de apaziguar a minha alma, fica para mim a seguinte frase de Weber: “O político deve ter: paixão por sua causa; ética em sua responsabilidade; mesura em suas atuações”. Na rede da filosofia político, me deito, e espero, sim, espero, hei de esperar... pelos homens simples que farão coisas simples sem segundas intenções.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
SUBVERSÃO
Explodiu em minha mente a constatação de que os ensinamentos de Jesus, especialmente as suas parábolas, possuem um grande teor subversivo. Eu sei que essa palavra possui uma forte carga de preconceitos. É que ela condiciona a mente a pensar em coisas que são negativas em sua essência. Mas, seguindo aqui um conselho de Stanley Jones, “as palavras, assim como as pessoas, precisam ser resgatadas”. Assim, vou tentar resgatar o sentido dessa palavra e pensar na espiritualidade subversiva e protestante, em si.
Subversão é uma palavra polissêmica. Ela pode ser interpretada a partir de diversos prismas. Subversão tem a ver com movimentações intestinais que escatologicamente se impõem. É uma dimensão que ocorre sem que haja, necessariamente, uma causa. Subversão é acontecimento extático. É a ação da água represada que busca caminhos alternativos. É o mofo na parede ou no muro. É o esguicho transtornador que insiste em se lançar ao ar, num afã libertário. É a semente debaixo da terra que insiste, teimosamente, a buscar um lugar ao sol. Basicamente, subversão tem a ver com verter por baixo; fazer ruir estruturas; destruir conceitos; superar paradigmas.
Quem me alertou sobre o teor subversivo da fé foi Eugene Peterson. Nos seus livros: A Espiritualidade Subversiva e O Pastor Contemplativo, ele ressalta a natureza da subversão como um princípio da espiritualidade humana coligada à ideia de Reino de Deus. Aliás, não há dimensão mais subversiva do que a do Reino de Deus. Essa nossa constatação se dá porque a natureza do Reino está ligada a algumas coisas que nada tem a ver com o mundo real. Nessa linha de raciocínio, todas as questões inerentes ao Reino de Deus acabam acontecendo nas entranhas estranhas da espiritualidade humana.
A fé é a mola mestra da subversão. Fé é a qualidade da atitude que todos assumimos frente ao desconhecido. Uma fé subversiva não possui limites, pois não se condiciona a estruturas ou institucionalizações. Ela vai além e provoca ações e reações que mexem e remexem com as pessoas dadas a tranqüilidade e conforto. A subversão provoca pessoas a agirem e reagirem contra estigmas e postulações pré-fixadas. O agente, contaminado pelo espírito da subversão, não tem medo, não tem culpa, não se ressente, não se prostra, não se enquadra, subverte, independente das lógicas e dos mandos e desmandos. A fé é salto no escuro, já nos advertiu Kierkegaard no estágio religioso de sua filosofia existencial que critica o idealismo, principalmente o hegeliano, e salto no escuro é subversão sempre seguindo a lógica: “Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se”, conforme este mesmo autor.
Acho que o que vale a pena é a elaboração de temáticas que buscam elaborar jocosamente uma série de argumentos que criticam a ordem estabelecida e as lógicas do poder. Ora, a subversão ri daquilo que está evidente e reelabora a interpretação do mundo e das suas armações pelos caminhos inimagináveis de uma outra lógica. Realmente, os últimos serão os primeiros e quem quiser ganhar, vai perder. Portanto, trata-se de um processo ironicamente criativo, extremamente criativo. Somente os criativos podem se considerar subversivos.
Jesus, inclusive admoestou seus discípulos a serem símplices como as pombas e astutos como as serpentes, conforme Mateus 10.16. Assim, a opção que se impõe a nós é a de subvertermos. Ora, não se trata de perverter, mas subverter: pensar, falar e agir diferente, segundo a lógica do que é atribuído a Che Guevara: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás! Ora, é realmente preciso acolher essa síntese marcada pela postura firme, pela serenidade e pela ternura sempre. Assim, pode-se empreender uma guerra e até estabelecer o posicionamento das armas, mas não se pode perder a serenidade. É o estabelecimento dialético entre o lúdico e o lúcido. Dessa forma, os olhos demonstram a firmeza e a ternura. A convicção e a tranqüilidade. A iluminação de um futuro antecipado frente a um presente complexo. Nesse estágio de iluminação, tranqüilidade e consistência, coisas e fatos podem acontecer e ninguém pode prever, pois não há afeição plena ao poder. O subversivo possui um encantamento pelas pessoas e luta contra sistemas e instituições. Acho que essa é a lógica abraçada e empenhada anteriormente pelos reformadores protestantes.
Subversão é o que eu abraço nesse momento. Seja ela bem-vinda em minha alma.
sábado, 10 de setembro de 2011
Os caminhos de Mandela: lições de vida, amor e coragem
Tenho tido a oportunidade de ler diversos livros interessantes. Um deles foi escrito por Richard Stengel e tem por temática uma série de ensinamentos baseados na vida de Nelson Mandela – o líder negro que lutou contra o apartheid na África do Sul. Aliás, Stengel teve a oportunidade de conviver com Mandela e a partir disso escrever o livro cujo título é o mesmo do nosso sucinto artigo.
O livro tem por coluna vertebral uma citação de Mandela: “Na África existe um conceito conhecido como ubuntu – o sentimento profundo de que somos humanos somente por intermédio da humanidade dos outros; se vamos realizar qualquer coisa neste mundo, ela será devida em igual medida ao trabalho e às realizações dos outros”(p. 9). Ubuntu – palavra tem origem no provérbio zulu – umuntu ngu muntu ngabantu – “uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas”. Ora, essa perspectiva de que somos um com os outros é fundamental para a nossa vida social, principalmente numa sociedade marcada pelo individualismo. Depois de ter feito um poético prefácio, contando um pouco sobre a personalidade de Mandela cujo nome verdadeiro é Rolihlahla (agitador de árvores), Stengel evidencia algumas lições de vida que são importantes para todas as pessoas. Vamos a elas:
1. Coragem não é a ausência de medo. Podemos fingir que somos corajosos. Alguém tem que sempre parecer corajoso. “No começo da década de 1980, não muito antes de Mandela ter sido transferido da Ilha Robben, um prisioneiro levou uma cópia das obras reunidas de Shakespeare para todos os prisioneiros políticos da ala C e pediu que marcassem suas passagens favoritas. Mandela não hesitou. Foi até Júlio César, ato 2, cena 2 e marcou o trecho: Covardes morrem muitas vezes antes de suas mortes. O bravo sente o gosto da morte uma única vez. De tudo que vi, o mais estranho é que os homens tenham medo, já que a morte, um fim necessário vem quando vem”. (p. 40 e 41).
2. Seja ponderado. É preciso ficar calmo em situações turbulentas. Perca o controle e você perde a situação. Às vezes, ser calmo aproxima-se de ser sem graça, mas isso não parece incomodar Mandela. Ele sempre preferiu pecar por ser calmo e sem graça do que ser excitante e excitável (p. 55).
3. Lidere na frente. Líderes devem não apenas liderar, mas ser vistos liderando – isso é parte do perfil do trabalho (p. 61). Tomar a dianteira/ fazer coisas que não necessariamente chamam a atenção. Não aceitar vantagens especiais e realizar a tarefa que todos executam. Depoimento de Mandela, últimas palavras que falou em público até finalmente ser solto da prisão em 1990. “Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer” (p. 63). Quando você lidera na frente, não pode deixar seus companheiros muito atrás. (p. 70). “É absolutamente necessário, às vezes, o líder agir independentemente, sem consultar ninguém e apresentar o que fez à organização. Há casos dessa natureza, em que vou tomar uma decisão e confrontá-la com você, e a única questão que você tem de considerar é se o que fiz está no interesse do movimento. Quero dizer, se tivesse discutido a questão [das negociações] com meus companheiros antes de ter me reunido com o governo, eles teriam recusado. Não estaríamos tendo negociações hoje” (p. 72). Liderar na frente é uma grande responsabilidade. No âmbito dessas responsabilidades, é importante mudar de ideia quando as circunstâncias mudam. Isso é bom senso (p. 72).
4. Lidere na retaguarda. A notoriedade precisa ser compartilhada e a liderança é simbólica (p. 77). É por intermédio da capacitação dos outros que partilhamos nossa própria liderança e nossas ideias. Mandela sabia que não há nada que faça outra pessoa gostar mais de você do que lhe pedir sua ajuda – quando você reconhece a opinião dos outros, aumenta a lealdade deles a você. O principal estilo de liderança não era se lançar à frente, mas ouvir e conseguir o consenso (p. 82). “O modelo africano de liderança é mais bem expresso como ubuntu, a ideia de que as pessoas recebem o poder de outras pessoas, que nós nos tornamos melhores por meio da interação altruísta com os outros” (p. 83). Desde a infância, ele sabia que a liderança coletiva se baseava em dois pontos: a maior sabedoria do grupo comparada à individual e o maior investimento do grupo em qualquer resultado atingido por meio do consenso. Era uma vitória dupla (p. 85).
5. Represente o papel; As aparências importam e temos somente uma chance de causar a primeira impressão (p. 89). Para Mandela, a roupa é importante, ou seja, há uma importância simbólica na aparência (p. 92). Importante também refletir sobre as interpretações de suas ações pela mídia e leitores (p. 94). “As aparências constituem a realidade” (p. 94) pois elas unem o símbolo e a essência (p. 94). Nessa linha de raciocínio, é preciso cultivar a ideia de que se é um homem de disciplina. Mandela tornou-se o que ele queria ser (p. 101).
6. Tenha um princípio essencial – todo o resto é tática. Nelson Mandela é um homem de princípio – exatamente um: direitos iguais para todos, independentemente de raça, classe ou gênero. Quase todo o resto é tática (p. 105).
“Mandela é um completo pragmatista que estava disposto a chegar a um acordo, mudar, adaptar e refinar suas estratégias, desde que isso levasse á terra prometida” (p. 105).
7. Veja o que há de bom nos outros; Embora muitos o consideravam portador de certa cegueira e até de certa ingenuidade, Mandela procurava ver o lado bom das pessoas, até que elas provassem o contrário. Isso era fundamental. “Acredita nisso, julgando que o que há de bom nas outras pessoas melhora as chances de que revelarão o melhor de si” (p. 119). Assim, ele não estava disposto a ver somente o lado sombrio das pessoas. “Julgam que considero demais o que há de bom nas pessoas. Então, é uma crítica que tenho de tolerar, e tentei me ajustar, porque, sendo assim ou não, é algo que julgo benéfico. É bom supor, agir com base no fato de que os outros são homens de integridade e honradez, se é dessa forma que você julga aqueles com os quais trabalha. Acredito nisso” (p. 130 e 131).
8. Conheça o seu inimigo. Importa ir direto ao coração do inimigo e não se dirigir somente ao cérebro. O que move as pessoas são razões do coração e não da cabeça. Dirija-se ao coração deles. Aprenda a língua e a cultura e desenvolva a política em correlação ao esporte – o rúgbi para Mandela possuía essas duas dimensões. Um dos seus personagens preferidos em quadrinhos é Pogo que afirma em uma das suas estórias: “Encontramos o inimigo e ele somos nós” (p. 148). Da mesma forma, no momento da sua vitória contra o inimigo, evidenciar uma postura: “O momento do seu maior triunfo é quando você deve ser o mais compassivo. Não os humilhe sob nenhuma circunstância. Deixe-os, na verdade, salvar as aparências. E então você terá transformado seu inimigo em seu amigo”. (p. 148).
9. Mantenha seus rivais por perto. Nunca deixar de prestar atenção nos inimigos. É preciso mantê-los perto.
10. Saiba quando dizer não. Em muitas circunstâncias, o “Não” se torna o princípio mais importante.
11. É um jogo demorado. É preciso pensar a longo prazo. Nossa cultura, infelizmente, recompensa a velocidade. Não é a velocidade da decisão, mas a sua direção. Milagres, se existem, são feitos pelos homens. Não se pode contar com a sorte ou a intervenção divina. A pergunta ‘você é feliz’ é uma questão superficial e indiscreta. Tudo pode mudar no último capítulo.
12. O amor faz diferença. Há um Romantismo pragmático na vivência de Mandela. Um dia pode ser tempo suficiente para toda a intensidade.
13. Desistir também é liderar. O fundamental é estabelecer o caminho, não comandar o navio. “Quando você sai do palco não pode ficar enfiando a cabeça pela cortina”(201). Ceder significa passar para o lado vencedor. Assim, se vence também (203).
14. Sempre ambos. Mandela aprecia a música: Song of my self, de Walt Whitman. Sua tradução: Eu me contradigo?Muito bem, então me contradigo. (sou enorme, contenho multidões). A consistência, por si só, é uma falsa virtude e que a inconsistência não é automaticamente uma falha. Por que não isso e aquilo? Por que uma coisa só? Ver todos os lados, falar com todos os lados e tentar reconciliar todos os lados, Mas nem sempre é possível deixar todo mundo feliz. Gradações cinzas não são fáceis de articular.
15. Encontre sua própria horta. Finalmente, é preciso buscar um lugar onde se possa se perder para se encontrar.
Ao final das apresentações centrais desse livro, somente expresso: Um pouquinho de boa auto-ajuda não faz mal a ninguém.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
O Escândalo do Abuso Religioso
Concluí a leitura de Feridos em nome de Deus, escrito pela jornalista Marília de Camargo César e publicado pela editora Mundo Cristão. Fiquei consternado com os depoimentos, testemunhos e narrativas que, por um lado, revelam seríssimas questões emocionais na vida de pessoas como nós, e por outro, denunciam os abusos religiosos cometidos por líderes em nome de Deus, que se apoiam em pincelados textos bíblicos. Cheguei à conclusão incipiente de que o abuso espiritual é um escândalo para a Igreja na atualidade.
O que mais me impressionou na leitura foi o fato de que ela despertou na minha consciência, diversas outras narrativas que envolviam pessoas conhecidas, que passaram por situações similares.
Excetuando-se as Igrejas que procuram aliar a ética à simplicidade do Evangelho com a vontade de cuidar das pessoas, independente de suas situações particulares, Marília denuncia os “pastores com curriculum obscuros” que encantam o mundo chamado evangélico com imagens baratas (p. 16). Há, realmente, um abuso espiritual por parte de líderes que querem ou que almejam que seu poder – através das palavras ou de gestos grotescos – prevaleça sobre outrem. Os que não se curvam ou os que não se deixam levar pelos condicionamentos dos(as) “pastores(as)” recebem o rótulo de rebeldes. Além disso, o arcabouço do livro deixa claro que esses “pastores” são também vítimas de abusos sofridos no passado, o que gera uma infindável corrente marcada por pessoas feridas, que continuam ferindo mais ainda.
O problema secundário levantado pelo texto de Marília refere-se à evidência de líderes eclesiásticos que apoiados em versículos bíblicos tais como: 1 Samuel 15. 23: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei”; Mateus 10.41: “Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo”; 1 Coríntios 5: 13: “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo"; 2 Coríntios 9.6: “E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará”, invocam sobre si mesmos uma autoridade sobrenatural". Assim, tudo o que falam ou fazem se torna “voz de Deus”. Kirie Eleysson. Ora, estes líderes buscam a dominação dos fiéis pertencentes a uma comunidade mediante a interpretação fundamentalista da Bíblia. Então, esse problema tem a ver, justamente, com esse uso indiscriminado da Bíblia como instrumento de manipulação, frente às pessoas de boa índole que querem, tão somente, buscar a Deus e resolver seus problemas. Num ambiente de culto, marcado por ansiedades, medos, culpas, ressentimentos, saudades, enfim, desesperos por parte dos fiéis, o terreno se torna fértil para o abuso espiritual. Eis o terreno fértil para campanhas abusivas.
Em minha concepção, torna-se preponderante achacar toda e qualquer forma de abuso religioso. Como fez Jesus, diante das tentações do maligno, é preponderante fugir da mística de um semideus. Diante dessas sucintas considerações, quero evidenciar alguns posicionamentos com a finalidade de fugirmos do risco do abuso espiritual ou religioso.
Em primeiro lugar, é preciso afirmar de forma contundente que o pastor ou a pastora nada mais é do que um ser humano com todas as fragilidades, incongruências, imperfeições, contradições e pecados. O pastor e a pastora não é um mediador de Deus, ele é, tão somente, um servo, um membro do Corpo que teve a oportunidade de estudar e se preparar com o intuito único de ajudar outros companheiros e companheiras na trajetória cristã.
Em segundo lugar, como a própria Bíblia declara, todos os seres humanos têm acesso direto a Deus, sendo completamente desnecessários os intermediários. Só há um mediador entre Deus e os seres humanos: Jesus Cristo, o justo. 1 Timóteo 2.5.
Em terceiro lugar, tudo o que ocorre em nossa vida decorre da manifestação da Graça de Deus. Essa dimensão da gratuidade é o que favorece a todos nós a percepção de que todos os acontecimentos que nos sobrevêm encontram a resposta final na perspectiva da Graça de Deus. Assim, situações complexas e distintas de alegria ou sofrimento, somente encontram sentido na percepção dessa Graça. Como nos atesta a Bíblia: “Pela Graça, sois salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não por obras para que ninguém se glorie”. Efésios 2.8-9.
Em quarto lugar, a leitura e a interpretação da Bíblia não pode ser fundamentalista. A Bíblia precisa ser lida a partir da realidade cultural e do modus vivendis de cada pessoa. Ela não é um instrumento de tortura, mas uma bússola que indica o caminho.
Em último lugar, nossa fé está em íntima conexão com o Senhor da vida. Dessa forma, antes de aplicarmos à nossa vida as palavras deste ou daquela líder, precisamos colocá-las diante de dois crivos: a. isso que ouvi está em sintonia com a Bíblia e com o Evangelho do Senhor da vida? b. essa palavra gera-me culpa e medo?
Diante desses dois questionamentos, confrontamos os posicionamentos e nos salvaguardamos dos impropérios vociferados por aqueles que se auto-denominam homens ou mulheres de Deus.
Enfim, convido todos(os) a dizerem NÃO a toda e qualquer forma de abuso espiritual. É o mínimo que podemos fazer frente a este escândalo.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Vela apagada na noite escura
Já tive a oportunidade de tatear no escuro. Confesso que o sentimento que me envolveu no momento de minha perdida busca foi dos mais complexos e terríveis. Não é fácil ficar sem a luz. Aliás, o mundo só existe por causa da luz. Sem luz, nada do que existe, é.
Aconteceu tal situação de tateamento por causa de um descolamento de retina ocorrido em 2004. Nessa época, percebi nitidamente o drama de se desejar luz na escuridão.
No campo da existência e das realizações, coisa igual ocorre, mas aqui, os monstros imaginários assustam. No escuro, tudo é labiríntico e o Minotauro aguarda, espreita, bufa com insano instinto. Não quero encontrá-lo. Não saberei como vencê-lo.
Luzes e lanternas não servem, pois já não são encontradas, não existem e o vento insiste em diminuir, extenuar, apagar enfim, o sibilar da pequena chama no cabedal de uma vela.
A vela se apaga.
A ela continua apagada. Já foi usada em alguma crise passageira, e já não há fogo de esperança que a faça luzir novamente.
Assim, continuo bravamente a tatear.
Eu sei que em algum momento, a angústia que me atormenta passará. Se esmiuçara em fuligens que serão dispersadas pelo vento da imaginação. Somente a imaginação pode me fazer vislumbrar situações diferentes diante do meu caminho. As minhas "virtús" não bastam para a resolução da escuridão da minha trajetória. Preciso da "fortuna". Valei-me bom Maquiavel pois o que me resta é, tão somente, a vontade pela "fortuna", o acaso, o inusitado.
E mesmo que a vela nunca mais se acenda, continuarei a confabular com minha imaginação. E ela já não me amedronta na escuridão. Mesmo me apresentando os monstros imaginários, insisto em vencê-los. Preciso superar-me. A vela continua apagada na noite escura, mas eu sei, em algum momento, o dia raiará. Assim espero, contra a esperança.
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