quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Escândalo do Abuso Religioso

Concluí a leitura de Feridos em nome de Deus, escrito pela jornalista Marília de Camargo César e publicado pela editora Mundo Cristão. Fiquei consternado com os depoimentos, testemunhos e narrativas que, por um lado, revelam seríssimas questões emocionais na vida de pessoas como nós, e por outro, denunciam os abusos religiosos cometidos por líderes em nome de Deus, que se apoiam em pincelados textos bíblicos. Cheguei à conclusão incipiente de que o abuso espiritual é um escândalo para a Igreja na atualidade. O que mais me impressionou na leitura foi o fato de que ela despertou na minha consciência, diversas outras narrativas que envolviam pessoas conhecidas, que passaram por situações similares. Excetuando-se as Igrejas que procuram aliar a ética à simplicidade do Evangelho com a vontade de cuidar das pessoas, independente de suas situações particulares, Marília denuncia os “pastores com curriculum obscuros” que encantam o mundo chamado evangélico com imagens baratas (p. 16). Há, realmente, um abuso espiritual por parte de líderes que querem ou que almejam que seu poder – através das palavras ou de gestos grotescos – prevaleça sobre outrem. Os que não se curvam ou os que não se deixam levar pelos condicionamentos dos(as) “pastores(as)” recebem o rótulo de rebeldes. Além disso, o arcabouço do livro deixa claro que esses “pastores” são também vítimas de abusos sofridos no passado, o que gera uma infindável corrente marcada por pessoas feridas, que continuam ferindo mais ainda. O problema secundário levantado pelo texto de Marília refere-se à evidência de líderes eclesiásticos que apoiados em versículos bíblicos tais como: 1 Samuel 15. 23: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei”; Mateus 10.41: “Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo”; 1 Coríntios 5: 13: “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo"; 2 Coríntios 9.6: “E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará”, invocam sobre si mesmos uma autoridade sobrenatural". Assim, tudo o que falam ou fazem se torna “voz de Deus”. Kirie Eleysson. Ora, estes líderes buscam a dominação dos fiéis pertencentes a uma comunidade mediante a interpretação fundamentalista da Bíblia. Então, esse problema tem a ver, justamente, com esse uso indiscriminado da Bíblia como instrumento de manipulação, frente às pessoas de boa índole que querem, tão somente, buscar a Deus e resolver seus problemas. Num ambiente de culto, marcado por ansiedades, medos, culpas, ressentimentos, saudades, enfim, desesperos por parte dos fiéis, o terreno se torna fértil para o abuso espiritual. Eis o terreno fértil para campanhas abusivas. Em minha concepção, torna-se preponderante achacar toda e qualquer forma de abuso religioso. Como fez Jesus, diante das tentações do maligno, é preponderante fugir da mística de um semideus. Diante dessas sucintas considerações, quero evidenciar alguns posicionamentos com a finalidade de fugirmos do risco do abuso espiritual ou religioso.
Em primeiro lugar, é preciso afirmar de forma contundente que o pastor ou a pastora nada mais é do que um ser humano com todas as fragilidades, incongruências, imperfeições, contradições e pecados. O pastor e a pastora não é um mediador de Deus, ele é, tão somente, um servo, um membro do Corpo que teve a oportunidade de estudar e se preparar com o intuito único de ajudar outros companheiros e companheiras na trajetória cristã. Em segundo lugar, como a própria Bíblia declara, todos os seres humanos têm acesso direto a Deus, sendo completamente desnecessários os intermediários. Só há um mediador entre Deus e os seres humanos: Jesus Cristo, o justo. 1 Timóteo 2.5. Em terceiro lugar, tudo o que ocorre em nossa vida decorre da manifestação da Graça de Deus. Essa dimensão da gratuidade é o que favorece a todos nós a percepção de que todos os acontecimentos que nos sobrevêm encontram a resposta final na perspectiva da Graça de Deus. Assim, situações complexas e distintas de alegria ou sofrimento, somente encontram sentido na percepção dessa Graça. Como nos atesta a Bíblia: “Pela Graça, sois salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não por obras para que ninguém se glorie”. Efésios 2.8-9. Em quarto lugar, a leitura e a interpretação da Bíblia não pode ser fundamentalista. A Bíblia precisa ser lida a partir da realidade cultural e do modus vivendis de cada pessoa. Ela não é um instrumento de tortura, mas uma bússola que indica o caminho. Em último lugar, nossa fé está em íntima conexão com o Senhor da vida. Dessa forma, antes de aplicarmos à nossa vida as palavras deste ou daquela líder, precisamos colocá-las diante de dois crivos: a. isso que ouvi está em sintonia com a Bíblia e com o Evangelho do Senhor da vida? b. essa palavra gera-me culpa e medo? Diante desses dois questionamentos, confrontamos os posicionamentos e nos salvaguardamos dos impropérios vociferados por aqueles que se auto-denominam homens ou mulheres de Deus. Enfim, convido todos(os) a dizerem NÃO a toda e qualquer forma de abuso espiritual. É o mínimo que podemos fazer frente a este escândalo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Vela apagada na noite escura



Já tive a oportunidade de tatear no escuro. Confesso que o sentimento que me envolveu no momento de minha perdida busca foi dos mais complexos e terríveis. Não é fácil ficar sem a luz. Aliás, o mundo só existe por causa da luz. Sem luz, nada do que existe, é.
Aconteceu tal situação de tateamento por causa de um descolamento de retina ocorrido em 2004. Nessa época, percebi nitidamente o drama de se desejar luz na escuridão.
No campo da existência e das realizações, coisa igual ocorre, mas aqui, os monstros imaginários assustam. No escuro, tudo é labiríntico e o Minotauro aguarda, espreita, bufa com insano instinto. Não quero encontrá-lo. Não saberei como vencê-lo.
Luzes e lanternas não servem, pois já não são encontradas, não existem e o vento insiste em diminuir, extenuar, apagar enfim, o sibilar da pequena chama no cabedal de uma vela.
A vela se apaga.
A ela continua apagada. Já foi usada em alguma crise passageira, e já não há fogo de esperança que a faça luzir novamente.
Assim, continuo bravamente a tatear.
Eu sei que em algum momento, a angústia que me atormenta passará. Se esmiuçara em fuligens que serão dispersadas pelo vento da imaginação. Somente a imaginação pode me fazer vislumbrar situações diferentes diante do meu caminho. As minhas "virtús" não bastam para a resolução da escuridão da minha trajetória. Preciso da "fortuna". Valei-me bom Maquiavel pois o que me resta é, tão somente, a vontade pela "fortuna", o acaso, o inusitado.
E mesmo que a vela nunca mais se acenda, continuarei a confabular com minha imaginação. E ela já não me amedronta na escuridão. Mesmo me apresentando os monstros imaginários, insisto em vencê-los. Preciso superar-me. A vela continua apagada na noite escura, mas eu sei, em algum momento, o dia raiará. Assim espero, contra a esperança.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quem avisa amigo é!


Não sei quanto a vocês, mas eu estou intuindo um tempo muito complexo para a instituição metodista nos próximos anos. E falo de instituição no seu sentido lato, abrangente.
Analisando as propostas que estão sendo discutidas neste concílio geral da igreja metodista, ficam evidentes tais intuições, pois tudo indica um fechamento de ideias ainda maior.
Como já deu pra perceber, estou tentando fazer uma distinção entre igreja e instituição, embora saiba que essa distinção consiste-se em uma aporia. Resolvi insistir nisso e propor alguns avisos. Vivemos uma sociedade marcada por avisos. Somos avisados todo o tempo, o tempo todo. Comerciais nos avisam, painéis nos avisam, panfletos nos avisam, pessoas nos avisam. Somos cercados, inevitavelmente, por avisos.
Por isso, considerando-me um amigo da igreja, resolvi avisar. Meus avisos não são despretensiosos, senão honestos e marcados por um estrito senso de responsabilidade. Acontece que, por uma razão óbvia, se sei que alguma coisa não está caminhando bem, então tenho a obrigação de avisar. Afinal de contas, quem avisa amigo é!

Primeiro Aviso
As primeiras decisões deste concílio geral favorecerão ainda mais o clericalismo nas esferas da igreja. Infelizmente, e para desespero do corpo leigo (embora não gosto muito dessa terminologia), este conclave vai dar mais amplitude aos pastores e às pastoras. Acontece que por causa de um desespero velado, as estruturas de poder da igreja precisam, inevitavelmente, de uma reação ante aos distúrbios que estão gerando a ausência de crescimento da igreja. Setores de poder da igreja acreditam que somente por intermédio do crescimento numérico, permeado pela visão do pastor ou da pastora, as coisas poderão ter uma perspectiva diferenciada. Que venham os famigerados “encontros com Deus” e suas “benesses”, bem como a lógica: "se não concordar, sai fora"!

Segundo Aviso
Ocorrerá um maior distanciamento da dimensão da missão. Quando se diz que tudo é missão, nada é. Assim, este concílio geral vai brincar de pensar e refletir missão, como os anteriores. Acontece que a igreja metodista nunca encarou e nunca pensou o que realmente é a missão. Ora, é claro que missão é uma palavra incrementada para se falar e se fazer o básico, ou seja, “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”. Inventaram essa palavra para se falar do básico, mas, infelizmente, o básico sequer é feito. Missão hoje, na igreja metodista, está maquiada de múltiplas coisas, menos do essencial que é encontrar as pessoas nas suas angústias e contradições e apresentá-las a Jesus.

Terceiro Aviso
Será reafirmada de forma mais enfática a dimensão não-ecumênica da igreja. E isso será reafirmado porque a igreja nunca refletiu detidamente sobre a questão ecumênica. Aliás, a igreja nunca estudou a história do ecumenismo. Ora, ecumenismo é coisa de protestante. A igreja católica, excetuando-se alguns setores mais progressistas, não é ecumênica coisa alguma. Prova disso é a Dominus Iesus publicada pelo santo ofício. Mas nós, protestantes, temos na veia esse sangue ecumênico. Aliás, somos ecumênicos porque a vida é ecumênica. Se estamos doentes e vamos ser atendidos por um médico, não perguntamos a ele sobre sua religião ou fundamentos de fé. Queremos sim é a resolução de nosso problema. Que se dane a proposta religiosa. A vida é sempre maior, muito maior que opções religiosas. Confirmei isso ao conversar muitas vezes com missionários que trabalharam em missões no exterior. Estes sempre me disseram que no front, questões confessionais ou religiosas ficam apequenadas. Esse é o ecumenismo que creio. Mas o atual concílio geral vai manter sua postura de segregação religiosa. O outro vai continuar sendo o demônio.

Quarto Aviso
As instituições de ensino da Rede Metodista de Educação serão vendidas. Ora, é sabido que há tempos, as nossas instituições estão passando por momentos difíceis. Essa situação tem várias facetas. Elas vão desde o abuso da instituição eclesial em relação ao “repasse” de verbas para a “missão” da igreja até a disputa acirrada no mercado da educação. Então, poucas pessoas, as mais lúcidas, se lembrarão da proposta inicial da igreja que era a de “salvar e educar”. Ora, as nossas instituições surgiram em terras brasileiras com um propósito especial de formar uma geração de líderes para a nação segundo os princípios bíblicos. Entretanto, educação agora é um apêndice maldito que precisa ser excluído ou um câncer que precisa urgentemente de um tratamento quimeoterápico. É, a coisa vai ficar feia para as instituições. Mas que ninguém se engane, com a venda das instituições capítulos outros serão escritos e movimentos outros surgirão, infelizmente, para a cisão da igreja metodista. Kirie eleisson.

Quinto Aviso
O colégio episcopal terá mais poder para dirimir sobre a vida dos clérigos da igreja, principalmente no que se refere àqueles que discordarem do sistema. Que seja assim, pois, pelo menos, haverá mais transparência por parte do colégio em relação ao sistema que dirigem e, principalmente, posturas mais coerentes sobre o que realmente pensa o colégio. Pelo menos, não serão ironizados aqueles que se apresentam críticos do sistema. É triste saber que membros de um colégio que se responsabiliza pela unidade da igreja riem e caçoam de grupos que tecem críticas ao sistema. Que o tal poder seja dado ao colégio, o parafuso espane e “salve-se quem puder”.

Enfim, eu gostaria realmente que todas essas minhas colocações fossem somente uma variação tresloucada de um peregrino espiritual, mas não são, infelizmente. No repartir dos despojos, sobrará pouca coisa. Triste fim para uma igreja que, por seus ideais, sempre pareceu bem maior do que sempre foi.
Pelo menos, sobra-nos ainda as palavras vivas de João Wesley quando deixou evidente que seu medo não era de que o movimento metodista deixasse de existir, mas sim que ele se tornasse um movimento sem efeito para a sociedade, uma religião fria.
Se acabar, que pelo menos acabe com dignidade. Detestaria a ideia de morrer institucionalmente num movimento fracassado pelas suas frustrações bestiais. Podemos perder tudo, menos a nossa característica de ser um exemplo para as pessoas e para a sociedade.
Deus tenha misericórdia da igreja metodista.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A TRAGÉDIA NA ESCOLA


Todos estamos estarrecidos e inconformados com a ocorrência dessa última quinta-feira, dia 07 de abril de 2010, em uma Escola pública localizada em Realengo, no Rio de Janeiro, a escola Tasso da Silveira. Mais uma vez, a cidade maravilhosa, que é tão pechada por causa da violência, se vê amedrontada por um ataque insano a crianças e professoras num dia habitual de atividades.
Um jovem, por certo vítima de preconceitos e violência na vida pueril, atirou à queima roupa em pequenas brasileiras e pequenos brasileiros que, como eu e você, tinham todo o direito a vida. O ocorrido comoveu a nação brasileira e, mais uma vez, acendeu a luz vermelha quanto ao fato de que situações inusitadas podem acontecer em qualquer lugar onde as realizações inerentes à vida ocorrem. Mas, por uma razão óbvia, é certo que não esperamos que tais incidentes ocorram em escolas. Para nós, escolas, igrejas, shoppings e outros recintos privados não são locais propícios para a ocorrência de fatos como esses.
É claro que diante dessa tragédia, múltiplas perguntas nos surgem, principalmente aquela que vaticinam: onde está Deus que não impede tais situações? É realmente incrível a nossa facilidade em lançar a culpa para o Outro, principalmente para o Outro que só destila amor. As perguntas duvidosas nos surgem porque temos dificuldades em aceitar as nossas limitações humanas e entender que a vida e suas nuanças sempre nos pregam peças e apresentam surpresas.
A surpresa que amedrontou o povo carioca e que comoveu a nação brasileira foi, como já dissemos, de uma crueldade insana. Por isso, sobram as perguntas e faltam-nos as respostas.
Uma coisa é certa: aqueles que acusam Deus de permitir tais infortúnios se esquecem de que no Brasil ainda persiste uma má distribuição de renda. No Brasil, pobre tem pouco acesso a terapia. No Brasil, os melhores projetos educacionais, como o da escola em tempo integral, foram abortados. No Brasil, também, professores e professoras que deveriam existir tão somente para exercerem as tarefas de ensino se vêm obrigados(as) a cuidar das crianças para além dos limites da sala de aula. No Brasil, enfim, a violência dentro das escolas é um reflexo da violência que ocorre dentro das casas. Há uma repetição de gestos e palavras. Para ser mais preciso, de agressões e xingamentos. Será Deus o culpado disso tudo?
Nosso papel cristão, num momento como esse, passa, necessariamente, pelo silêncio e pela oração solidária às famílias enlutadas. Lágrimas me surgem ao pensar nos sonhos, sorrisos e brinquedos que foram calados. Nosso papel passa também pelo clamor profético. Não podemos nos calar frente aos desafios como o que essa tragédia nos aponta. Mais do que isso, deveríamos encher as caixas de mensagens e sairmos às ruas com uma fita preta atada ao braço, declarando com fé e vigor a essência significativa do evangelho que é para todos, não somente para alguns.
E ao final do dia, quando o corpo desejar o tombamento, tamanho o sentimento de saudade, só nos caberá procurar um canto qualquer com o intuito de chorar com o Deus que também chora lágrimas de indignação, a morte destas crianças.
Kirie Eleisson.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Foi inevitável

Foi inevitável. Pela manhã de 30 de março de 2011, ao ouvir as notícias que anunciavam o falecimento do ex-vice presidente José Alencar, lembrei-me do meu pai Luiz Tecli Coppe. É que os dramas da personagem mais conhecida do Brasil me fizeram reviver os momentos dramáticos e traumáticos vivenciados pelo meu pai - um menos conhecido - que também lutou bravamente contra o câncer no intestino. Ele faleceu em dezembro de 2004.
Falar da morte de uma pessoa querida e amiga não é tarefa fácil, entretanto, minhas memórias surgiram como as larvas de um vulcão do Pacífico e não pude contê-las. A comoção tomou conta do meu viver. As analogias foram inevitáveis.
Não posso falar de Alencar pois nunca fui próximo a ele. Falo, então, de quem conheci bem.
Meu pai foi um cara legal. Um sujeito de muitas paixões, marinheiro e amante da vida e da simplicidade. Ele trabalhava como Técnico em Instrumentação pneumática e eletrônica, na extinta Siderúrgica Mendes Júnior, instalada na cidade de Juiz de Fora - MG. Nessa empresa, no desenvolver competente de sua função, ele conhecia todos os manômetros pelo nome e dava manutenção a cada um deles com precisão cirúrgica. Na intimidade da casa, era duro e firme com as palavras, mas profundamente sensível às belezas do cotidiano e determinado no cuidado com a esposa e filhos, continuamente exaltando a bandeira da honestidade, santa honestidade. Ele sempre se assumiu como um apaixonado por futebol, carro, religião, sinuca, samba canção e praia. Era muito fácil vê-lo emocionado frente a um momento de revelação da sensibilidade, fossem elas artísticas ou naturais. Enfim, um capixaba com espírito carioca, profundamente brasileiro.
O maior legado que esse homem me deixou foi o da humildade. Nunca foi de esnobar ou mostrar ser o que não era. Sempre nutrirei profunda admiração por esse legado.
Entre 2000 e 2004, ele lutou bravamente contra o câncer. Nunca perdeu a esperança e, como Jó, enfrentou sua luta pessoal com resignação. Nunca o vi difamando os céus, sequer as pessoas. Nem mesmo a fraqueza do corpo provocada pelas múltiplas quimio e radioterapias foi capaz de fazê-lo tombar em ressentimentos.
Tive o privilégio de conviver com ele nos últimos 10 meses de sua vida depois de uma decisão arrojada de mudar-me, com a família, da cidade de Belo Horizonte para Juiz de Fora. Nesse tempo de aproximação, se estabeleceu em minha mente um misto entre alegria e indignação. Não era fácil perceber meu pai naquela situação.
Então, diante do ocorrido recente, estampado na mídia, foi realmente inevitável não estabelecer comparações, guardadas as devidas proporções.
A vida continua e ela continuará a pregar peças em outros Coppes, Alencares, Marias e Sebastianas. A vida continua e sempre apontará as nossas fraquezas, as nossas limitações, as nossas lutas.
E diante desse quadro, não me sobra alternativas a não ser silenciar-me saudosamente em meio a preces.

terça-feira, 15 de março de 2011

Vamos ser o que a gente realmente é

Às vezes, as lágrimas rolam saudosas quando um fato inusitado nos visita a alma. Sempre sou visitado por esses lampejos de gratuidade que aparecem do nada – ex nihilo. Tenho passado semanas difíceis, marcadas por uma espécie de avaliação lancinante de minha caminhada e um pouco de ansiedade acompanhada de perguntas sobre o sentido de minha peregrinação nesse mundo cada dia mais insensível.
Hoje, pela madrugada, me vi aturdido por pensamentos desconectados que insistiam em construir pontes entre o nada e o vazio. A cabeça doía, pois eu insistia em controlar as chamas que rapidamente se tornaram labaredas. Debrucei-em em oração diante da constatação de que outra coisa não havia pra fazer. De vez em sempre, passo por esse caminho apertado e espinhoso marcado pelo encontro com a minha própria essência.
Não se trata de nenhuma crise de fé, mas de simples constatação da realidade e da impotência diante de fatos e situações porque a maioria das coisas que queria que acontecessem não acontecem, pois não dependem de mim. E os nós já apertados, se estreitam ainda mais. Como disse, não se trata de falta de fé, pois sinto Ele perto, até demais. Sei que a Sua Graça não me deixa, de forma alguma.
Mesmo com essa consciência, ainda me sinto perseguido por alguns "abortos" “poimênicos” que ocorreram em minha jornada. Abortos ministeriais que não sei se serão reparados. Abortos que envolveram pessoas que eu amava, pessoas que considerava da minha própria família. Quero deixar claro que os abortos poimênicos não foram espontâneos. Foram provocados por necessidades alheias à minha vontade e, principalmente, pelo sistema do qual faço parte. De qualquer forma, se ainda há equilíbrio em minha vida é porque no momento certo tomei a decisão por um projeto marcado pela ênfase: eu e minha casa serviremos a Ele. Mas o peso desses abortos ainda me persegue. Não que eu me considere algo ou alguma coisa, uma espécie de salvador da pátria, mas tenho me esforçado, veementemente, para ser autêntico, em palavras e em gestos, e toda autenticidade possui seus riscos. Não me considero solução de situação alguma. Somente tenho saudade de algo que não tive porque “optei” não ter. Sempre fugi da linha perversa da mediocridade, o que não é fácil, pois acabo me encontrando comigo mesmo, meu maior inimigo.
E assim, sigo questionando os que preferem a aparência de ser o que não são. Aliás, tenho me deparado com muitas pessoas que vivem dessa forma. Quando eu era adolescente, havia um comercial de um xampu chamado Denorex. O bordão dizia: “Parece xampu, mas não é; parece remédio, mas não é. Denorex: parece, mas não é”. Acho que tem muita gente buscando parecer o que não, em outras palavras, buscando ser santo, sem ser. Cansei desse tipo de gente. Gosto de quem paga preço pela sua honestidade e clareza de pensamento, sem fazer tipo. Por isso, onde estiver, sempre me lembrarei com respeito e orgulho das pessoas que são o que são. Infelizmente, conheço poucos que aprenderam a viver como o mestre de Nazaré, sem máscaras.
Por isso, quero, tão somente, agradecer aqueles que agem com sinceridade, vivem com sinceridade e demonstram o anelo carinhoso pela dimensão do Reino de Deus. Acho que, ao final das contas, o que vale é a gente não tentar colocar poano novo em roupa velha, nem, tampouco, vinho novo em odre velho. Vamos ser o que a gente realmente é.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Escrita do Deus


O escritor argentino Jorge Luís Borges escreveu um texto intitulado A Escrita do Deus onde, de uma forma bastante misteriosa, descreve o encontro de Tzinacan com o sagrado.
A crônica refere-se à narrativa dos sentimentos e percepções simbólicas de um prisioneiro religioso, um mago da pirâmide de Qohalon, chamado Tzinacan. Sua pirâmide fora queimada e destruída por Pedro de Alvarado, sendo ele, posteriormente, encarcerado.
Ele está preso em um fosso de pedra, cuja estrutura é separada por um muro que possui uma janela ao nível do chão. Do outro lado do muro há um jaguar. Tzinacan somente pode vê-lo quando o alçapão se abre ao meio dia e a luz adentra o recinto, justamente no momento em que o carcereiro leva água e carne para o homem e o animal encarcerado. Nas trevas, o jaguar é imaginado por Tzinacan. Com a luz, o animal pode ser vislumbrado.
Tzinacan fala de seu mundo, de suas inquietações, de seus temores e de seu desespero. Isso fica claro quando ele mesmo aborda que quando jovem andava por toda a prisão, mas agora não consegue magia que o livre.
Ele foi maltratado por algozes que almejavam a revelação de um tesouro escondido, mas, mesmo moribundo, se manteve silencioso e resignado, seu sentimento denuncia certo contentamento: o ídolo do deus não lhe abandonou.
Na treva do cárcere, premido pela necessidade de fazer algo, vagueia na sombra e busca entender a escrita do deus, ou seja, a revelação dada na criação. Essa era uma escrita que poderia libertá-lo daquele cárcere. Talvez, ele já a tenha visto, mas falta-lhe o entendimento.
Decorre de sua reflexão a vertigem e ele busca uma forma que pudesse significar seu símbolo. Buscou a forma árvore, a forma pássaro, a forma homem, talvez, ele mesmo. Mas, ao final constatou que o símbolo podia ser o jaguar que estava ao seu lado. Com essa conclusão, sua alma se enche de piedade. A mente de Tzinacan divaga e ele pensa na escrita do deus revelada na vivência e pelagem da rede de tigres. Nesse momento, a percepção do jaguar transmuda-se. Gastou-se no afã de decifrar a pelagem, inclusive os pontos e manchas, mas reconheceu ao final, a grandeza do mistério e sua impossibilidade de entender o símbolo. Isso porque uma coisa pode conter o todo, o tudo, o mundo, o universo. Mas, mesmo assim, essas são pobres palavras humanas que buscam conter o incontido.
Decorre dessa experiência o delírio. Areias que se multiplicam. Areias que o sufocam. Sonhos dentro de sonhos e uma corajosa confissão: o homem é ele e suas circunstâncias. Regressando do labirinto dos sonhos, desperta em seu cárcere e bendiz todas as coisas: a umidade, o tigre, a treva, a fresta de luz, o corpo dolorido, a pedra...
É quando Tzinacan encontra sentido em sua circunstância. A união mística com o deus ocorre e os símbolos dessa revelação não se repetem. Na infinitude das visões, Tzinacan encontra sentido para o que não tem sentido. São os infinitos processos que formavam uma só felicidade. A sua experiência mística o leva a cogitar a possibilidade de se tornar também um deus, e assim vingar-se dos seus algozes. A plenitude estava tão próxima e intangível. Mas a plenitude o leva a esquecer-se de si mesmo, de Tzinacan. E assim, mediante seu encontro com a escrita do deus, conclui triunfante:

Que morra comigo o mistério que está escrito nos tigres. Quem entreviu o universo, quem entreviu os ardentes desígnios do universo não pode pensar em um homem, em suas triviais venturas e desventuras, mesmo que esse homem seja ele. Esse homem foi ele e agora não lhe importa. Que lhe importa a sorte daquele outro, que lhe importa a nação daquele outro, se ele agora é ninguém. Por isso não pronuncio a fórmula, por isso deixo que os dias me esqueçam, deitado na escuridão.

sábado, 2 de outubro de 2010

ELEIÇÕES 2010 – VOTO E LIBERDADADE

Neste domingo, dia 03 de outubro de 2010, paradoxalmente, votamos pela democracia. Digo paradoxalmente porque, se realmente vivêssemos em uma democracia, o voto não seria obrigatório. Independente das questões reflexivas que poderíamos suscitar sobre esse valor universal chamado democracia, o importante é que participamos de um pleito que tem possibilidades de melhorar a dimensão de vida social no Estado. Pelo menos esse é o nosso intento.
Nessa perspectiva de melhoria dos nossos anseios sociais, venho propor uma reflexão oriunda do pensamento do filósofo florentino Nicolau Maquiavel que escreveu a clássica obra “O Príncipe” entre os anos de 1513 e 1516. A obra de Maquiavel evidencia, pela primeira vez na história, o desenvolvimento da política como ela realmente é. Ao contrário dos antigos escritos gregos ou mesmo dos posicionamentos dos pensadores da cristandade, Maquiavel revelou a política em sua configuração nua e crua. Decorreu dessa sua leitura detida o adjetivo “maquiavélico” para designar ações escusas e impróprias para aqueles que almejam o poder em qualquer de suas esferas. Entretanto, o uso desse adjetivo para situações equivocadas é uma injustiça à Maquiavel. A máxima que lhe é atribuída, de que os fins justificam os meios, não pode ser vista como proposição do seu pensamento, mas como leitura de uma situação dada à priori. Por exemplo, vou citar uma de suas frases com o intuito de melhor clarificar essa constatação.
Maquiavel disse: “Há ainda duas maneiras de um cidadão comum tornar-se príncipe, quando não se pode atribuir tudo a sorte ou valor. Não quero deixa-los para trás, apesar de que um deles possa ser melhor discutido ao se falar de república. Trata-se de quando, por atos maus ou nefandos, chega-se ao principado, ou quando um cidadão comum, com o favor de outros cidadãos, torna-se príncipe de sua pátria”.
Nessa citação, visualizamos nas entrelinhas os conceitos de virtú e fortuna. Não me aterei a apresentar suas recíprocas definições mais entranhadas senão situar que virtú e fortuna têm a ver com competência e sorte. Ora, o poder pode ser conquistado em uma dessas duas perspectivas. O que mais me importa nessa citação de Maquiavel é considerar que no cenário político atual temos bons candidatos com boas propostas, mas, infelizmente, péssimos candidatos com péssimas propostas, e ainda bons candidatos com propostas ruins. Independente do candidato ou de suas propostas, torna-se importante, em nossa condição de cidadãos, votar com consciência e liberdade. É digno votar com a certeza de que se está contribuindo com um sistema um pouco mais humanizado. Pelo menos, é isso o que se espera de cidadãos comprometidos com as pessoas de suas comunidades, principalmente os chamados cristãos. Dito isso, importa afirmar que pessoa alguma deve votar por coação ou porque este ou aquele candidato defende esta ou aquela fé. Por exemplo, ao abordar uma pessoa que estava trabalhando no caixa de um supermercado, perguntei-a: - Você vai votar em quem? Ela me respondeu: - Em ninguém. Aliás, vou votar no meu pastor! Fiquei estupefato. Sentimentos díspares de raiva e compaixão se imbricaram em mim, mas ao final vaticinei: - Fazer o quê? Mas contrariando meu vaticínio, volto a me manifestar pelo voto consciente.
Eu não tenho nenhuma ilusão em relação a este ou aquele candidato, pois tenho clareza de que as engrenagens do sistema político são complexas e estranhas à ética. Nosso sistema politica é regido pelo sistema econômico. Dessa forma, mesmo que um político eleito tenha as melhores intenções, os desafios da manutenção de sua ética serão, por demais, difíceis de serem mantidos. Quem manda, ao final das contas é Mamon. Quem não se lembra da decisão de Collor e sua equipe econômica em confiscar a poupança da população brasileira em 16 de março de 1990? Um verdadeiro golpe à boa fé brasileira. Lembremo-nos que um dos apoios mais preponderantes para a eleição de Collor foi dado pela Igreja Universal do Reino de Deus em troca de “coisinhas”, segundo a lógica “Tudo isso te darei se prostrado me adorares”.
De qualquer forma, é preciso ter a consciência transparente. Vamos fazer a nossa parte da forma como nos pudermos. No final, vale o fato de termos tentado

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os Ipês Amarelos e o Inusitado da Vida

Gosto de viajar. Gosto mais ainda de observar as belezas naturais. Às vezes, invejo os caminhoneiros que singram estradas conhecendo relevos, climas e gentes diversas, embora reconheça também a vida ingrata que levam.
Eu gosto de viajar e me encanto com a poesia colorida expressa pela natureza. Entretanto, preciso confessar que a poesia que mais me encanta é o ipê amarelo. Em meio aos diversos tons de verde, impera absoluta a singela árvore de flores amarelas. Na verdade, o ipê amarelo é uma árvore brasileira bastante conhecida e muito bela. Está presente em todas as regiões do Brasil e pertence à espécie Tabebuia alba.
As árvores desta espécie proporcionam um belo espetáculo com sua bela floração na arborização de ruas e matas. Elas embelezam e promovem um colorido no final do inverno. Essa árvore é natural do semi-árido alagoano e levou o governo, por meio do Decreto nº 6239, a transformá-la em árvore símbolo do estado.
Em fins de agosto e início de setembro se revela essa beldade do Criador. O ipê amarelo é uma “teofania”, uma aparição de Deus na terra dos viventes. É o anúncio profético de que no cotidiano e habitual, o inusitado e belo tem o seu lugar. Dos galhos secos nasce ou floresce as flores que por sua exuberância, atraem abelhas e pássaros, principalmente beija-flores. As sementes são semeadas pelos ventos...
O que mais me espanta é o fato de que esses ipês, na maioria das vezes, se encontram solitários. Independente da forma e do tamanho de sua copa, são seres oníricos que não servem para enfeitar as casas, tampouco para a fabricação de móveis, embora sua madeira seja forte. É, tão somente, uma árvore que mitiga as profundezas da alma, despertando emoções. Se eu fosse uma árvore, seria, indubitavelmente, um ipê amarelo. Não por causa da sua beleza, ou do aspecto inusitado, ou mesmo da perspectiva solitária, mas pela capacidade de despertar no observador os sentimentos mais intensos.
Acho que todos precisam vislumbrar e se deter ante a reflexão dos ipês amarelos. Eu, por exemplo, gostaria de dominar a arte dos bonsais para ter o meu próprio ipê amarelo, já que não posso ser um. É admirável ver aquelas árvores em miniatura. Eu inclusive pensei como seria maravilhoso receber em minha casa a presença sagrada desse ser vivo encantador. Por enquanto, contento-me em contemplá-los, livres, belos e encantadores nas relvas do nosso rico país.

sábado, 4 de setembro de 2010

Sem apresentações de candidatos, por favor!

Recebi dois e-mail´s essa última semana de representantes da cúpula religiosa da Igreja Metodista apresentando candidatos metodistas para os quadros políticos. Fiquei indignado. Sempre me gabei do fato de que a Igreja Metodista era politizada, mas não politiqueira; supra partidária e não defensora desse ou daquele nome.
Pois bem, recebi esses e-mail´s e, além de indignado, fiquei estupefato. Acontece que, por uma razão óbvia, entendo que toda e qualquer pessoa tem o direito de escolher o seu candidato. Acho desonesto que um líder, pelo seu estamento ou status social, queira "apresentar" um candidato de forma oficial e documentada. É como se esse líder estivesse de alguma forma, em alguma esquina, entregando um “santinho”. E essa atitude é completamente estranha, por outra razão óbvia: se fizermos uma rápida pesquisa às últimas cartas pastorais da Igreja Metodista, que procuraram discutir a questão das eleições, descobriremos que suas letras deixam claro que a Igreja Metodista e seus pastores não se manifestam em relação a nomes ou partidos. O pior nessa história toda é o fato de que nenhuma apresentação vem de forma isenta. Não quero generalizar, mas, infelizmente, existem muitos envolvimentos escusos que se desenvolvem nos bastidores.
Já vi e vejo ainda muitos candidatos que, por causa do anseio pelo cargo eletivo público, fazem promessas falaciosas. Falo isso por ter presenciado gente “crente” sem escrúpulo fazer promessa em troca de votos. Líderes vendem seus votos em troca de rádios. Líderes vendem seus votos em troca de tijolos, e assim vai. Acho isso uma tragédia, principalmente para o mundo evangélico.
Quero deixar claro que não sou contra a política. Não sou daqueles que acham que a política é coisa do diabo. Para mim, política é uma das mais importantes manifestações da vida. Aliás, tudo em nossa vida dialoga de forma clara e evidente com a dimensão política. Aristóteles disse que política é a arte de viver bem. Eu acredito nisso. Eu acredito que a única forma de desenvolvermos melhores estruturas em nossa vida se dá pelos caminhos oferecidos pela atividade política.
Mas descreio da politicagem. Para mim, distribuir santinho, de uma forma ou de outra, tem a ver com o jogo político partidário, não com lideres religiosos que têm muito mais o que fazer.
Quero ver os líderes denominacionais com inflamados discursos políticos desfraldando as bandeiras evangélicas da justiça, mas não como meros “boss” – empreendedores do jogo político que não têm interesse na política – para usar aqui uma importante definição de Max Weber.
Quero ver os lideres denominacionais expondo com audácia a posição oficial da Igreja, ou seja, a de não apoiar ninguém de forma enfática.
Quero ver os líderes denominacionais se entregando à oração e ao jejum pelo Estado, ao invés de escreverem cartas em relação a pessoas que, na maioria da vezes, eles nem conhecem.
Nessa minha singela manifestação política, quero deixar claro que se souber de gente prometendo recurso público para obra de Igreja – desde um ônibus para o piquenique, passando pela verba para a festa de rua ou mesmo a construção de qualquer parede de templo – vou efetivar uma denúncia escrita para o Ministério Público. Quem sabe assim, coremos de vergonha quando estampados na vida social e voltemos aos princípios basilares da fé genuinamente cristã.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Não quero mais saber de Fórmula 1

Hoje, dia 25 de julho de 2010, por ocasião de uns merecidos dias de férias, tive a oportunidade de assistir a corrida de Fórmula 1 – o grande prêmio de Hockenheim, na Alemanha. Confesso que sempre fui apaixonado pelas corridas desses automóveis fantásticos. E essa minha paixão não é de agora. Ela vem dos tempos do famoso “Coopersucar” de Emerson Fitipaldi. Depois veio a “Brabham” de Nelson Piquet e claro, as estupendas corridas daquele que se transformou em um dos maiores ícones das corridas automobilísticas, nosso saudoso Airton Senna “do Brasil”.

Mas no dia supracitado, fiquei estarrecido com a atitude da Ferrari quando, através de uma mensagem codificada na 49º. volta, forçou o Massa a dar passagem para o Alonso. A cena me deixou completamente tomado de indignação. Ora, tudo bem que visivelmente o Alonso estava mais rápido, mas ele tinha que resolver esse problema com o Massa na pista. Isso é briga pra quem entende do negócio. Mas aquilo que meus olhos viram foi de matar.

Fiquei realmente indignado, pois me confesso também um torcedor extremamente passional. Por exemplo, torci muito pela Seleção Brasileira de Voleibol, quando da conquista de seu nono título da liga mundial no mesmo dia à noite. O time comandado por Bernardinho é eneacampeão. Congratulações a essa equipe fantástica. Como se vê, sou passional e me junto a gente que nem conheço para torcer, simplesmente torcer.

Acontece que, por um motivo muito específico, nós gostamos de participar de movimentos que dão a idéia de grandiosidade. Queremos sempre fazer parte de estruturas que estão para além de nós ou que nos fazem maiores. Por isso, nos tornamos flamenguistas, corintianos, atleticanos, colorados, remenses e assim por diante.

Então, quando torcemos também pelos nossos pilotos da Fórmula 1, estamos nos ingressando em uma legião de gentes que querem se sentir vitoriosos como o nosso conterrâneo. A bem da verdade, eu queria vencer com o Massa ou pelo menos subir no pódio com ele, afinal de contas, eu sou brasileiro, com muito orgulho.

Por isso decidi: enquanto houver esse tipo de estapafúrdia, não mais assistir as corridas de Fórmula 1. Cansei de ser bibelô de entretenimento esportivo fazendo papel de palhaço. Eu, com meus mais singelos sentimentos, assisto a televisão e torço com fé de torcedor enquanto os magnatas da Fórmula 1 tomam as suas decisões em nome dos seus interesses econômicos, segundo a lógica: que se danem os torcedores!

O Massa perdeu. Perdeu a corrida e perdeu a dignidade ao afirmar que “deixou” o Alonso lhe passar. Ora, só um louco deixaria de ganhar uma corrida que estava sob controle. Eu não deixaria. Mas ele tem um contrato. E mais vale o contrato com a Ferrari à alegria de um torcedor na sua manhã dominical.

O Massa perdeu um torcedor. Sei que não vai fazer falta pra ele. O que importa pra ele são os dólares e euros, não necessariamente nessa ordem. Dirão novamente: mas ele tem um contrato! Eu replicarei: o maior contrato que qualquer pessoa pode ter se assina com os sentimentos e quando esses são quebrados, resta a possibilidade de torcer por gente que quer ser gente, ou que pelo menos respeita gente.

DIA 73 - Separações acontecem e a vida segue como dá...

  1. Quando penso sobre o processo que envolve as separações conjugais, constato que muito do possível sofrimento que acomete o casal não ...