Acho que na simplicidade das manifestações do cotidiano, reside o sentido mais crucial da existência humana. Num contexto social marcado pela lógica do intenso, do vultoso e das manifestações que se estabelecem pela insistência da quantidade ao invés da qualidade, uma inferência às questões da similitude das coisas que se organizam na esfera do singelo conjugada à esfera da beleza corriqueira nos dá uma nova impressão do mundo e de suas demandas.
Confesso meu cansaço em perceber essa louca necessidade pelo grande e volumoso. Pelo que é visto ou o que aparece. Confesso, outrossim, andar um pouco abastado de tantas informações e resolvi caminhar pelo terreno da ignorância. Optei por ignorar muitas coisas por dois motivos evidentes: o primeiro refere-se ao fato de que jamais poderei absorver todas as informações que me chegam todos os dias numa espécie de avalanche de inutilidade; o segundo refere-se ao fato de que, neste exato momento de minha experiência vivencial, começo a ficar extremamente seletivo quanto ao que realmente se torna importante para minha cognição e prazer.
E assim, começo a buscar o que me proporciona conhecimento e prazer. Não se trata, também, de uma busca desenfreada, de característica hedonista, senão de uma execução sumária de elementos que nada tem a ver com os meus mais singulares sistemas de percepção. Por isso, por causa da minha lenta e contida busca e pela deleção de niilismos, minha cognição se torna prazerosa e sensitiva.
Ademais, ando cansado, enfim, das mediocridades presentes nos relacionamentos. Tenho a convicção de que ser o que se é ou se apresentar diante de um corpo social com todas as fragilidades inerentes, caracteriza-se como um grande problema, pois para a maioria das pessoas, com as suas respectivas necessidades de olharem para o alto em busca de ícones, um determinado ser humano que exerce uma função específica no estamento do corpo social, destacando somente sua humanidade, não consegue se estabelecer ou corresponder às ansiedades.
E aqui entramos em toda aquela discussão entre pessoa e personagem. Ora, pessoa é o ser humano em seus aspectos biopsicossociais. Já a personagem se refere aos papéis que, de uma forma ou de outra, representamos na dinâmica da vida. Somos muito mais personagens nesse corpo social e nas esferas da vida do que pessoas. Talvez, por causa dessa nossa necessidade de vivermos diversos papéis na vida social, se estabeleça essa leviandade marcada pelos absurdos das formas midiáticas que fabricam pontes entre o nada e o vazio, seja cada dia mais evidente.
Por isso, diante desse caldeirão de improbidades, almejo o cheiro de qualquer flor em qualquer jardim de qualquer praça de qualquer bairro de qualquer cidade de qualquer país desse mundo. Nesse lugar onde os sentidos se afloram e onde encontro o sentido da simplicidade e do prazer da vida, almejo, tão somente, contemplar a beleza possível sem dizer a quem quer que seja os símbolos que se formam em meus mais profundos devaneios.
Quem sabe assim, continue a expressar com convicção aquilo que o poeta de outros tempos disse: “mas isso não impede que eu desista. [A vida] é bonita, é bonita, é bonita...”
Moisés Coppe
O que é o amor? Me fizeram essa pergunta! E eu não tinha nenhuma resposta pronta. Ao contrário, fiquei confuso com a questão e me pus a refletir sobre o significado dessa expressão que abarca diversos sentimentos e reações físicas no corpo. Li e reli diversos poemas. Me percebi envolto pelas tramas e romances diversos que me trouxeram emoções. Ouvi e cantei músicas. A somatória de todas essas expressões era ainda, para mim, uma gota d’água no meio do oceano...
segunda-feira, 26 de abril de 2010
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
DEUS E O HAITI
Cansei-me de ouvir declarações bárbaras a respeito do terremoto no Haiti, principalmente oriundas de evangélicos. Cito algumas, com repugnância e reviravolta no estômago:
“Algo aconteceu há muito tempo no Haiti e as pessoas talvez não queriam falar sobre isso. Estavam sob domínio francês, nos tempos de Napoleão III, juntaram-se e fizeram um pacto com o diabo. Disseram: `Vamos servi-lo se nos libertar do Príncipe'. É uma história verdadeira. E o diabo disse: `Ok, está combinado'. E os franceses foram expulsos. Os haitianos revoltaram-se e conseguiram libertar-se. Mas, desde então, foram amaldiçoados com coisas atrás de coisas”. (Pat Robertson. Televangelista nos Estados Unidos. Frase dita no programa "Clube700", do canal Christian Broadcasting Network - CBN).
“Diante da imensa tragédia do terremoto no Haiti, onde dezenas de milhares morreram, o cônsul do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, foi sincero o suficiente — e também politicamente incorreto — para atribuir a tragédia à religião dos haitianos. A religião predominante do Haiti, um país formado esmagadoramente por descendentes de escravos africanos, é o vodu, que é oficial.
O vodu é uma religião vinda da África que, assim como o candomblé, incorporou elementos da religião dos dominadores católicos. Assim como no candomblé, os rituais do vodu são marcados pela música, dança e comida, inclusive com animais sacrificados. Na cerimônia de ambas, os participantes entram em transe e incorporam espíritos. Há relatos, fartamente documentados e noticiados, de sacrifício de seres humanos em alguns desses rituais — inclusive estupro de meninos por parte do líder, que geralmente é homossexual”. (Julio Severo – professor, escritor e blogueiro).
“-Acho que de tanto mexer com macumba… não sei o que é aquilo. -O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano tá f…. -Desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”. (George Samuel Antoine - cônsul do Haiti no Brasil).
Como se vê, são afirmações complexas e marcadas por ausência de amor e solidariedade. Ora, o que ocorreu no Haiti foi o resultado de uma abalo sísmico de fortes proporções peculiar àquela região. Afirmar que se trata de um “juízo antecipado de Deus” ou “a resposta de Deus em relação à religião haitiana” é, no mínimo, desconhecer as perspectivas bíblicas do amor de Deus às pessoas, tão caras ao genuíno evangelho.
Todas as vezes que me deparo com uma situação de tragédia tal como essa ocorrida com o povo haitiano, reflito sobre o texto de Lucas 13: 1 E, Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. 2 E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? 3 Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. 4 E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? 5 Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
Nas palavras de Jesus nos deparamos com a imagem bíblica de que não existem privilegiados e desfavorecidos. Assim como os fiéis de Jerusalém morreram, outros demais também. E será assim com todos nós. Não é pelo fato de sermos cristãos que estamos livres dos percalços e dificuldades da vida. A diferença se reflete unicamente pelo fato de que nos atentamos de forma mais detida e específica a respeito da companhia solidária do mestre.
Eu, particularmente, creio que o Deus da vida está sendo solidário a todos os haitianos. Ele que é sumo amor está se manifestando, fazendo ressurgir vida onde somente há cheiro de morte. E para os incautos que vêem Deus como um ser vingativo, uma repreensão: Deus não almeja a morte dos inocentes. O terremoto não é fruto da ira de Deus, mas sim da realidade imanente na qual todos estamos inseridos. Existem brechas em nosso planeta, ainda em criação e recriação, que não foram resolvidas. Deus, quando criou todas as coisas afirmou: Eis que é tudo muito bom. Ele não disse: Está tudo perfeito. Ademais, nós temos interferido diretamente na ordem e nas estruturas da ecologia e biodiversidade.
E quanto a nós cristãos? Que fazer?
Acho que devemos agir solidariamente e orar pela restauração do Haiti. Isso o faremos pela nossa fé, pela nossa convicção de que Deus ama a todos, indistintamente.
Moisés Coppe.
“Algo aconteceu há muito tempo no Haiti e as pessoas talvez não queriam falar sobre isso. Estavam sob domínio francês, nos tempos de Napoleão III, juntaram-se e fizeram um pacto com o diabo. Disseram: `Vamos servi-lo se nos libertar do Príncipe'. É uma história verdadeira. E o diabo disse: `Ok, está combinado'. E os franceses foram expulsos. Os haitianos revoltaram-se e conseguiram libertar-se. Mas, desde então, foram amaldiçoados com coisas atrás de coisas”. (Pat Robertson. Televangelista nos Estados Unidos. Frase dita no programa "Clube700", do canal Christian Broadcasting Network - CBN).
“Diante da imensa tragédia do terremoto no Haiti, onde dezenas de milhares morreram, o cônsul do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, foi sincero o suficiente — e também politicamente incorreto — para atribuir a tragédia à religião dos haitianos. A religião predominante do Haiti, um país formado esmagadoramente por descendentes de escravos africanos, é o vodu, que é oficial.
O vodu é uma religião vinda da África que, assim como o candomblé, incorporou elementos da religião dos dominadores católicos. Assim como no candomblé, os rituais do vodu são marcados pela música, dança e comida, inclusive com animais sacrificados. Na cerimônia de ambas, os participantes entram em transe e incorporam espíritos. Há relatos, fartamente documentados e noticiados, de sacrifício de seres humanos em alguns desses rituais — inclusive estupro de meninos por parte do líder, que geralmente é homossexual”. (Julio Severo – professor, escritor e blogueiro).
“-Acho que de tanto mexer com macumba… não sei o que é aquilo. -O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano tá f…. -Desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido”. (George Samuel Antoine - cônsul do Haiti no Brasil).
Como se vê, são afirmações complexas e marcadas por ausência de amor e solidariedade. Ora, o que ocorreu no Haiti foi o resultado de uma abalo sísmico de fortes proporções peculiar àquela região. Afirmar que se trata de um “juízo antecipado de Deus” ou “a resposta de Deus em relação à religião haitiana” é, no mínimo, desconhecer as perspectivas bíblicas do amor de Deus às pessoas, tão caras ao genuíno evangelho.
Todas as vezes que me deparo com uma situação de tragédia tal como essa ocorrida com o povo haitiano, reflito sobre o texto de Lucas 13: 1 E, Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. 2 E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? 3 Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. 4 E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? 5 Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
Nas palavras de Jesus nos deparamos com a imagem bíblica de que não existem privilegiados e desfavorecidos. Assim como os fiéis de Jerusalém morreram, outros demais também. E será assim com todos nós. Não é pelo fato de sermos cristãos que estamos livres dos percalços e dificuldades da vida. A diferença se reflete unicamente pelo fato de que nos atentamos de forma mais detida e específica a respeito da companhia solidária do mestre.
Eu, particularmente, creio que o Deus da vida está sendo solidário a todos os haitianos. Ele que é sumo amor está se manifestando, fazendo ressurgir vida onde somente há cheiro de morte. E para os incautos que vêem Deus como um ser vingativo, uma repreensão: Deus não almeja a morte dos inocentes. O terremoto não é fruto da ira de Deus, mas sim da realidade imanente na qual todos estamos inseridos. Existem brechas em nosso planeta, ainda em criação e recriação, que não foram resolvidas. Deus, quando criou todas as coisas afirmou: Eis que é tudo muito bom. Ele não disse: Está tudo perfeito. Ademais, nós temos interferido diretamente na ordem e nas estruturas da ecologia e biodiversidade.
E quanto a nós cristãos? Que fazer?
Acho que devemos agir solidariamente e orar pela restauração do Haiti. Isso o faremos pela nossa fé, pela nossa convicção de que Deus ama a todos, indistintamente.
Moisés Coppe.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
SE É BOM, SE É MAL, SÓ O FUTURO DIRÁ...
Dentre os textos de Rubem Alves, há um que conta a história de um homem muito rico que ao morrer deixou suas terras para os seus filhos. Todos receberam terras férteis com exceção do mais novo, para quem sobrou um charco inútil para o plantio. Seus amigos se entristeceram e lamentaram a injustiça que lhe ocorrera. Mas ele só lhes disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”. No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre a região e as terras de seus irmãos foram devastadas: as fontes secaram, os pastos ficaram esturricados e o gado morre. Mas, o charco do irmão mais novo se transformou em um oásis fértil e belo. Ele ficou rico e comprou um lindo cavalo. Seus amigos se alegraram e ele respondeu: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”. No dia seguinte, o cavalo fugiu e foi grande a tristeza. Seus amigos se entristeceram e ele lhes disse: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”. Passados alguns dias, o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos cavalos selvagens. Seus amigos se alegraram e ele novamente lhes disse: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”. No dia seguinte, seu filho montou um cavalo selvagem e caindo, quebrou a perna. Seus amigos se entristeceram e ele lhes disse: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”. Passados poucos dias, os soldados do rei vieram para levar os jovens para a guerra. Todos os moços partiram menos o filho da perna quebrada. Seus amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o tempo dirá... ”.
Alves termina a sua história dessa forma: reticente... Essa história é um exemplo claro e explícito de que a vida possui regras e elementos circunstanciais (positivos e negativos) que mudam os rumos das relações e das atividades humanas. Entender esses elementos é desafiante, contradizê-los é néscio. Talvez, a personagem da história se apresente passivo, entretanto, a crônica revela que a vida possui em seu bojo uma dimensão pedagógica. Essa é a realidade da vida humana, balizada por regras que preexistem e que determinam naturalmente êxitos e fracassos. Não existe nada na vida que expresse o finalmente. Em outras palavras, significa dizer que a vida, entendida dentro dessa espontaneidade, apresenta um campo de entendimento vasto, ao que se conclui que é melhor viver a vida do que tentar entendê-la, pelo menos, cientificamente.
Moisés Coppe.
Alves termina a sua história dessa forma: reticente... Essa história é um exemplo claro e explícito de que a vida possui regras e elementos circunstanciais (positivos e negativos) que mudam os rumos das relações e das atividades humanas. Entender esses elementos é desafiante, contradizê-los é néscio. Talvez, a personagem da história se apresente passivo, entretanto, a crônica revela que a vida possui em seu bojo uma dimensão pedagógica. Essa é a realidade da vida humana, balizada por regras que preexistem e que determinam naturalmente êxitos e fracassos. Não existe nada na vida que expresse o finalmente. Em outras palavras, significa dizer que a vida, entendida dentro dessa espontaneidade, apresenta um campo de entendimento vasto, ao que se conclui que é melhor viver a vida do que tentar entendê-la, pelo menos, cientificamente.
Moisés Coppe.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Sim à Emoção! Não ao Emocionalismo!
Nunca fui contrário à emoção que perpassa o corpo quando do contato com Deus na esfera da vida.
Nunca deixei de chorar ante as dificuldades de alguém que chorava.
Nunca deixei de rir ao perceber o lado cômico de muitas situações do cotidiano.
Nunca deixei de analisar no testemunho alvissareiro de uma ou outra pessoa o toque singular e gracioso de Deus.
Nunca deixei de expressar que a emoção é parte da nossa vida espiritual.
Mas, ao mesmo tempo, nunca deixei de manifestar-me contra o emocionalismo. E aqui cabe dizer que todo e qualquer emocionalismo é chantagem da alma contra a alma. É, em suma, manipulação diante do sagrado ou diante da vida.
Por isso, digo sim à emoção e não ao emocionalismo. E por razões muito óbvias. Declaro-as:
A emoção faz parte da vida humana. O emocionalismo é produzido por códigos e sistemas.
A emoção está aliada à razão. O emocionalismo ao inconsciente.
A emoção enquadra o ser humano, dando-lhe maturidade. O emocionalismo infantiliza espiritualmente.
A emoção dá dignidade à vida. O emocionalismo esvazia todo o sentido de viver.
A emoção me faz reagir diante das inquietações. O emocionalismo me condiciona a aceitá-las, muitas vezes, calado.
A emoção me dinamiza. O emocionalismo estatifica-me.
A emoção é própria de gente que vive a imanência. O emocionalismo pertence às pessoas dadas à transcendência.
A emoção me lança à esfera da adoração. O emocionalismo joga-me na idolatria.
A emoção lê a Bíblia e busca edificação. O emocionalismo dá a este livro o status de magnitude.
A emoção me faz melhor crente. O emocionalismo me faz "o crente".
A emoção me conquista para a unidade na diversidade. O emocionalismo me faz viver somente na desunião.
A emoção gera novos relacionamentos. O emocionalismo gera somente cumplicidades.
A emoção é capaz de me dar avivamento. O emocionalismo me lança a uma esfera puramente ativista.
A emoção crê nos milagres de Deus. O emocionalismo acredita nos passes de mágica.
A emoção gera frutos. O emocionalismo espinhos.
A emoção desloca-me à ação. O emocionalismo desloca-me da ação.
A emoção me faz enxergar o outro pobre. O emocionalismo vê o pobre como pecador.
A emoção é altruísta - pensa nos outros. O emocionalismo é egoísta - pensa somente em si.
A emoção louva e canta com os olhos abertos. O emocionalismo cante com os olhos fechados.
A emoção ora e se coloca ao lado de Deus para a ação missionária. O emocionalismo clama e espera Deus mover os céus.
A emoção centraliza a fé em Cristo. O emocionalismo centraliza o crer no homem ou na mulher de Deus.
A emoção vê coração. O emocionalismo vê aparência.
Deus nos livre da religião do emocionalismo e nos conserve na fé marcada pela emoção.
Moisés Coppe.
Nunca deixei de chorar ante as dificuldades de alguém que chorava.
Nunca deixei de rir ao perceber o lado cômico de muitas situações do cotidiano.
Nunca deixei de analisar no testemunho alvissareiro de uma ou outra pessoa o toque singular e gracioso de Deus.
Nunca deixei de expressar que a emoção é parte da nossa vida espiritual.
Mas, ao mesmo tempo, nunca deixei de manifestar-me contra o emocionalismo. E aqui cabe dizer que todo e qualquer emocionalismo é chantagem da alma contra a alma. É, em suma, manipulação diante do sagrado ou diante da vida.
Por isso, digo sim à emoção e não ao emocionalismo. E por razões muito óbvias. Declaro-as:
A emoção faz parte da vida humana. O emocionalismo é produzido por códigos e sistemas.
A emoção está aliada à razão. O emocionalismo ao inconsciente.
A emoção enquadra o ser humano, dando-lhe maturidade. O emocionalismo infantiliza espiritualmente.
A emoção dá dignidade à vida. O emocionalismo esvazia todo o sentido de viver.
A emoção me faz reagir diante das inquietações. O emocionalismo me condiciona a aceitá-las, muitas vezes, calado.
A emoção me dinamiza. O emocionalismo estatifica-me.
A emoção é própria de gente que vive a imanência. O emocionalismo pertence às pessoas dadas à transcendência.
A emoção me lança à esfera da adoração. O emocionalismo joga-me na idolatria.
A emoção lê a Bíblia e busca edificação. O emocionalismo dá a este livro o status de magnitude.
A emoção me faz melhor crente. O emocionalismo me faz "o crente".
A emoção me conquista para a unidade na diversidade. O emocionalismo me faz viver somente na desunião.
A emoção gera novos relacionamentos. O emocionalismo gera somente cumplicidades.
A emoção é capaz de me dar avivamento. O emocionalismo me lança a uma esfera puramente ativista.
A emoção crê nos milagres de Deus. O emocionalismo acredita nos passes de mágica.
A emoção gera frutos. O emocionalismo espinhos.
A emoção desloca-me à ação. O emocionalismo desloca-me da ação.
A emoção me faz enxergar o outro pobre. O emocionalismo vê o pobre como pecador.
A emoção é altruísta - pensa nos outros. O emocionalismo é egoísta - pensa somente em si.
A emoção louva e canta com os olhos abertos. O emocionalismo cante com os olhos fechados.
A emoção ora e se coloca ao lado de Deus para a ação missionária. O emocionalismo clama e espera Deus mover os céus.
A emoção centraliza a fé em Cristo. O emocionalismo centraliza o crer no homem ou na mulher de Deus.
A emoção vê coração. O emocionalismo vê aparência.
Deus nos livre da religião do emocionalismo e nos conserve na fé marcada pela emoção.
Moisés Coppe.
terça-feira, 21 de abril de 2009
O CHOQUE DAS DEFINIÇÕES

No artigo: “O Choque das Civilizações”, escrito e editado em uma revista que discute palestras externas intitulada: “Foreign Affair”, Samuel Huntington aponta que os conflitos políticos dar-se-ão de forma ideológica, dicotomizando civilizações ocidental e oriental. Segundo Edward Said (1935-2003), tal apontamento ressuscita a memória da Guerra Fria, logicamente, com nova roupagem. Mas a questão intrínseca na proposição de Huntington é de que há uma cultura e civilização superior à outra. No caso, Huntington evidencia que o ocidente, idealizado pelos EUA precisa ressaltar as diferenças presentes no Islã; apoiar os países que são simpáticos ao ocidente e promover conflitos entre países, que mesmo sendo islamitas, possuem suas diferenças.
Ora, Huntington qualifica sua tese na concepção nós e eles. Tal postura etnocentrista desconsiderava a pluralidade e diversidade presente neste “planeta cada vez mais apertado”. Percebe-se nitidamente, na citação: “As fronteiras do Islã são sangrentas, como também o são suas entranhas”, que Huntington faz questão de esboçar preconceituosamente o perfil do Islã – violento, sangrento, bojudo. E se assim o faz, é porque considera sua própria civilização o oposto, a saber, um exemplo a ser seguido por todas as demais civilizações, principalmente orientais.
Entretanto, Edward Said se opõe a toda a argumentação de Huntington. Segundo Said, o que pode dar direito a esta ou aquela civilização de estabelecer valores, princípios, modos de condutas, cultura, religião ou estilos sociais?
Ora, Said aponta que toda construção histórica é evidenciada por alguém com um objetivo claro. Tais relatos e narrativas estruturam tradições dando desfechos apoteóticos aos heróis e demonizando o inimigo. Ironicamente, Said critica Huntington por entendê-lo poético e emocional. Tal argumentação fica evidente na citação acima descrita.
Said evidencia também que Huntington, com sua tese, não coopera para o encontro entre as civilizações, mas ao contrário, incita e fomenta o conflito. O problema não tange a refletir sobre mônadas culturais, mas perceber que a compreensão de si passa necessariamente pela compreensão do outro. Trata-se, outrossim, de perceber que não existem blocos monolíticos, embora muitos ainda insistam em exaltá-los.
Aliás, Said evidencia que nos EUA, movimentos populares querem a mudança da história, e que a mesma inclua os escravos, criados e pobres imigrantes na oficialidade. E o que dizer do artigo: “Atenas negra”, citado por ele que revela uma Grécia diferente da concebida pelos livros de história e pelo ocidente – formada por negros, semitas e, posteriormente, setentrionais. É preciso ver com outros olhos as historiografias, pois todas as culturas e civilizações tomam parte naquilo que Clifford Geertz chamaria de “colagem”.
Por fim, Edward Said aponta que o posicionamento de Huntington é preconceituoso. Favorece a sua própria nação em detrimento das outras.
Citando Aimé Césaire (1913 – 2008) – poeta e político francês, ideólogo do conceito de negritude – Said assim finaliza seu artigo:
"Mas a obra do homem está apenas começando e resta ao homem conquistar toda a violência entrincheirada nos recessos de sua paixão.
E nenhuma raça possui o monopólio da beleza, da inteligência, da força, e há lugar para todos no encontro da vitória".
Nosso desafio, portanto, é o de entender as diferenças culturais, aceitar o princípio de liberdade entre todos os povos, visando a harmonização do mundo.
Resumo do artigo de Said
de mesmo título.
Preparado por Moisés Coppe
E nenhuma raça possui o monopólio da beleza, da inteligência, da força, e há lugar para todos no encontro da vitória".
Nosso desafio, portanto, é o de entender as diferenças culturais, aceitar o princípio de liberdade entre todos os povos, visando a harmonização do mundo.
Resumo do artigo de Said
de mesmo título.
Preparado por Moisés Coppe
quarta-feira, 25 de março de 2009
Ensinando com criatividade
“O corvo estava morrendo de sede. Viu um vaso que tinha tão pouca água que o bico não alcançava. Tentou derrubar o vaso com as asas, mas era muito pesado. Tentou quebrar com o bico e as garras, mas era muito duro. O corvo, com medo de morrer de sede tão perto da água, teve uma idéia brilhante. Pegou umas pedrinhas e foi jogando dentro do vaso. A água subiu e ele pode beber”. Não há beco sem saída pra quem se esforça na lida.[1]
PARA INÍCIO DE CONVERSA
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Ensinar e perseverar na atividade docente são sempre grandes desafios!
A bem da verdade, possuímos uma gama de experiências educacionais para todos os gostos e necessidades. Não é possível pensar em um único modelo que auxilie e oriente a formação e valoração da vida nas pessoas. A atividade docente não é um privilégio da Igreja, está também presente em outras estruturas sociais e afins sempre a serviço da humanidade.
Nossa tentativa será a de apontar pistas que servirão de diálogo para a formulação de um ensino criativo. Nossa intenção é justamente a de traçar uma discussão sobre a importância da criatividade no processo docente, ou melhor, como a criatividade pode contribuir na formulação de uma educação religiosa cristã mais expressiva.
A noção de corporeidade estará presente inicialmente em nossa reflexão, visto que não podemos entender criatividade na educação sem esta noção. Todo processo educacional deve passar pela experiência do corpo, pelos sentimentos, os desejos, o riso, o choro, a felicidade e a satisfação das necessidades básicas como comer, beber e vestir.
A CORPOREIDADE
A bem da verdade, possuímos uma gama de experiências educacionais para todos os gostos e necessidades. Não é possível pensar em um único modelo que auxilie e oriente a formação e valoração da vida nas pessoas. A atividade docente não é um privilégio da Igreja, está também presente em outras estruturas sociais e afins sempre a serviço da humanidade.
Nossa tentativa será a de apontar pistas que servirão de diálogo para a formulação de um ensino criativo. Nossa intenção é justamente a de traçar uma discussão sobre a importância da criatividade no processo docente, ou melhor, como a criatividade pode contribuir na formulação de uma educação religiosa cristã mais expressiva.
A noção de corporeidade estará presente inicialmente em nossa reflexão, visto que não podemos entender criatividade na educação sem esta noção. Todo processo educacional deve passar pela experiência do corpo, pelos sentimentos, os desejos, o riso, o choro, a felicidade e a satisfação das necessidades básicas como comer, beber e vestir.
A CORPOREIDADE
Todo processo educacional salutar possui uma preocupação voltada à corporeidade. Isto significa dizer que tal processo preocupa-se com a valorização do ser humano e a provocação da vida em abundância.
Ao falarmos de vida em abundância, referimo-nos às reflexões de José Lima Júnior. O referido autor aponta-nos a capacidade transcendente do ser humano em superar as opressões vigentes em nosso mundo que transitam nos seguintes níveis:
a) O nível político: o fazer que privilegia - ao nível soma - o palpável;
b) O nível teológico: o crer que privilegia - ao nível pneuma - o provável;
c) O nível erótico: o sentir que privilegia - ao nível psiquê - o programável.[2]
Claramente, José Lima revela a relevância da corporeidade em qualquer processo de transcendência da opressão no corpo humano.
É a saída da ingenuidade-postiça para a criticidade-própria; é a saída da individualidade ingênua para a sociedade crítica; é a saída da acomodação no natural-necessário para a transformação do contigente-histórico. Falar de transcendência do corpo oprimido, portanto, é o mesmo que falar de desejos, relações e mudanças deste corpo.[3]
A compreensão de ser humano a partir da noção de corpo é ilimitada. O corpo vivencia o riso e o choro, a dança e a saúde, o belo e o feio, o medo e a coragem, os sonhos e os pesadelos, a guerra e a paz, o prazer e o dever, o amigo e o inimigo.
Sobre este assunto, Rubem Alves expressa o seguinte:
Parece que esta é a marca característica do mundo dos homens: ele é duplo, rachado. Vivemos entre fatos e valores; as coisas tais como são, e as coisas tais como poderiam ser.[4]
O mundo do ser humano é duplo dentro de um mesmo corpo. Por isso, quando refletimos sobre o corpo, precisamos pensar de antemão na corporeidade que transcende a realidade orgânica e experimenta o desejado e o sonhado.
Talvez seja por isso que Rubem Alves expressa:
Cada corpo é o centro do mundo. Quaisquer que sejam as realidades que me atingem, nada sei sobre elas em si mesmas. Só as conheço como reverberações do meu corpo. Os limites do meu corpo denotam os limites do meu mundo.[5]
Os limites do meu corpo e os limites do meu mundo, portanto, não me deixam outra opção a não ser a de transcender na busca de meus mais saudáveis desejos. O corpo também possui limitações e torna-se fundamental respeitá-las. Os seres humanos, não conformados, buscam a transcendência, o sonho o desejo e utopia. Esta constatação revela outras vertentes do desafio do ensino. Rubem Alves ainda expressa:
O mundo é uma extensão do corpo. É vida: ar, alimento, amor, sexo, brinquedo, prazer, amizade, praia, céu azul, auroras, crepúsculos, dor, multidões, impotência, velhice, solidão, morte, lágrimas, silêncio. Não somos seres do conhecimento neutro, como queria Descartes. Somos seres do amor e do desejo.[6]
Este é o nosso mundo; esta é a nossa vida.
É a partir destes pressupostos que entendemos ser fundamental que educadores e educadoras nas comunidades de fé desenvolvam um diálogo entre o processo educacional e o corpo, buscando acima de tudo, dar significado imanente ao que muitas vezes é transcendente. Diante desta consideração, entendemos que torna-se importante fugir da dicotomia social e espiritual (muito empregada em nossas Igrejas). É necessário pensar no corpo integral, no corpo dos desejos e das utopias.
A Igreja é um corpo formado por muitos corpos (e muitos mundos), onde estão presentes as diversas manifestações de vida e de morte; onde encontramos o desafio de sonhar e desejar na nostalgia, a dimensão pedagógica-lúdica-ética do Reino de Deus.
O corpo em si é frágil. Os desejos do corpo, ao contrário, renovam-se constantemente, aflorando sentimentos de poder. Pode-se acabar com o corpo mutilando seus órgãos, mas não é possível mutilar os desejos e sentimentos. Para Rubem Alves, o corpo deve combinar desejo e possibilidade de poder avançar este desejo, Segundo ele:
É necessário crer que há um poder disponível, seja no poder do corpo, seja no poder de muitos corpos, de mãos dadas, seja no poder do Universo... E é assim que, sob a magia do desejo e o sentimento de poder, os corpos se levantam da letargia, para se exprimirem no trabalho, na dança, no amor, no brinquedo, na luta, nos altares...[7]
A educação religiosa cristã está marcada pela possibilidade de alcançar os objetos do desejo, ou seja, o reconhecimento humilde de que somos agentes proclamadores de vida numa atitude sinergista[8].
O ensino passa pelo corpo. A corporeidade é o elemento fundamental para o seu desenvolvimento. Na relevância da corporeidade, prenunciamos a ressurreição do corpo.
Arlindo C. Pimenta anota que
Ao falarmos de vida em abundância, referimo-nos às reflexões de José Lima Júnior. O referido autor aponta-nos a capacidade transcendente do ser humano em superar as opressões vigentes em nosso mundo que transitam nos seguintes níveis:
a) O nível político: o fazer que privilegia - ao nível soma - o palpável;
b) O nível teológico: o crer que privilegia - ao nível pneuma - o provável;
c) O nível erótico: o sentir que privilegia - ao nível psiquê - o programável.[2]
Claramente, José Lima revela a relevância da corporeidade em qualquer processo de transcendência da opressão no corpo humano.
É a saída da ingenuidade-postiça para a criticidade-própria; é a saída da individualidade ingênua para a sociedade crítica; é a saída da acomodação no natural-necessário para a transformação do contigente-histórico. Falar de transcendência do corpo oprimido, portanto, é o mesmo que falar de desejos, relações e mudanças deste corpo.[3]
A compreensão de ser humano a partir da noção de corpo é ilimitada. O corpo vivencia o riso e o choro, a dança e a saúde, o belo e o feio, o medo e a coragem, os sonhos e os pesadelos, a guerra e a paz, o prazer e o dever, o amigo e o inimigo.
Sobre este assunto, Rubem Alves expressa o seguinte:
Parece que esta é a marca característica do mundo dos homens: ele é duplo, rachado. Vivemos entre fatos e valores; as coisas tais como são, e as coisas tais como poderiam ser.[4]
O mundo do ser humano é duplo dentro de um mesmo corpo. Por isso, quando refletimos sobre o corpo, precisamos pensar de antemão na corporeidade que transcende a realidade orgânica e experimenta o desejado e o sonhado.
Talvez seja por isso que Rubem Alves expressa:
Cada corpo é o centro do mundo. Quaisquer que sejam as realidades que me atingem, nada sei sobre elas em si mesmas. Só as conheço como reverberações do meu corpo. Os limites do meu corpo denotam os limites do meu mundo.[5]
Os limites do meu corpo e os limites do meu mundo, portanto, não me deixam outra opção a não ser a de transcender na busca de meus mais saudáveis desejos. O corpo também possui limitações e torna-se fundamental respeitá-las. Os seres humanos, não conformados, buscam a transcendência, o sonho o desejo e utopia. Esta constatação revela outras vertentes do desafio do ensino. Rubem Alves ainda expressa:
O mundo é uma extensão do corpo. É vida: ar, alimento, amor, sexo, brinquedo, prazer, amizade, praia, céu azul, auroras, crepúsculos, dor, multidões, impotência, velhice, solidão, morte, lágrimas, silêncio. Não somos seres do conhecimento neutro, como queria Descartes. Somos seres do amor e do desejo.[6]
Este é o nosso mundo; esta é a nossa vida.
É a partir destes pressupostos que entendemos ser fundamental que educadores e educadoras nas comunidades de fé desenvolvam um diálogo entre o processo educacional e o corpo, buscando acima de tudo, dar significado imanente ao que muitas vezes é transcendente. Diante desta consideração, entendemos que torna-se importante fugir da dicotomia social e espiritual (muito empregada em nossas Igrejas). É necessário pensar no corpo integral, no corpo dos desejos e das utopias.
A Igreja é um corpo formado por muitos corpos (e muitos mundos), onde estão presentes as diversas manifestações de vida e de morte; onde encontramos o desafio de sonhar e desejar na nostalgia, a dimensão pedagógica-lúdica-ética do Reino de Deus.
O corpo em si é frágil. Os desejos do corpo, ao contrário, renovam-se constantemente, aflorando sentimentos de poder. Pode-se acabar com o corpo mutilando seus órgãos, mas não é possível mutilar os desejos e sentimentos. Para Rubem Alves, o corpo deve combinar desejo e possibilidade de poder avançar este desejo, Segundo ele:
É necessário crer que há um poder disponível, seja no poder do corpo, seja no poder de muitos corpos, de mãos dadas, seja no poder do Universo... E é assim que, sob a magia do desejo e o sentimento de poder, os corpos se levantam da letargia, para se exprimirem no trabalho, na dança, no amor, no brinquedo, na luta, nos altares...[7]
A educação religiosa cristã está marcada pela possibilidade de alcançar os objetos do desejo, ou seja, o reconhecimento humilde de que somos agentes proclamadores de vida numa atitude sinergista[8].
O ensino passa pelo corpo. A corporeidade é o elemento fundamental para o seu desenvolvimento. Na relevância da corporeidade, prenunciamos a ressurreição do corpo.
Arlindo C. Pimenta anota que
é provável que de início os seres humanos fossem ligados à natureza como hoje o são os animais. Inteiramente submetidos a ela, não tinham o menor traço de consciência desta submissão. Não tinham angústia. Não tinham conflito. A evolução levou o homem a uma ruptura com esse estado. Surgiu um novo ser, a partir daí, consciente da presença do mortífero em si, da falta, da separação da natureza, que ele tenta desesperadamente superar[9].
Pimenta ainda acrescenta que na busca deste reencontro, os seres humanos desenvolveram o que a Psicologia conhece como pulsão, ou seja, um aspecto bifronte do ser humano que expressa desejos psíquicos e orgânicos. Por isso, os seres humanos possuem prazer na satisfação das carências biológicas (fome, sede, tensão sexual).
O que estamos querendo dizer é justamente que, ao falar de ensino dentro de uma concepção criativa, temos a obrigatoriedade de refletir sobre o corpo: sentimentos, emoções, mundos; mesmo porque, um processo educacional que se apresenta criativamente entende o corpo como espaço para a valoração da vida e crescimento do conhecimento.
Estamos certos de que este tema é bastante complexo, justamente porque existem muitos elementos fundamentais e importantes que dialogam com a educação religiosa cristã. Nossa abordagem não está fechada dentro de uma verdade considerando-se única e absoluta; ao contrário, ela deve estar associada permanentemente com outros aspectos que definem e identificam a espécie humana.
Ademais, necessário nos é pensar que o processo educacional criativo não pode ser uma obrigação. Mas agora, reflitamos um pouco sobre o que vem a ser criatividade.
A CRIATIVIDADE NO ENSINO
Um processo de ensino que se desenvolve criativamente possui muito mais expressão do que um que nada possui de criativo. É claro que o papel pedagógico-criativo não será definido de forma regrada. Não podemos sistematizar nenhum processo de atividade educacional, pois ela acontece fundamentada na expontaneidade das relações. Mas o que podemos entender por criatividade? Passemos a este tópico.
Entendendo o termo criatividade
O termo criatividade nasceu nos EUA na época do segundo pós-guerra, no âmbito das ciências psicológicas, para designar a capacidade de reação da inteligência do indivíduo, diante de um problema totalmente inédito: se ele, em vez de se limitar a uma solução única (‘converger’) conseguir excogitar - descobrir, imaginar e elaborar - o máximo de soluções possíveis, poderemos falar de inteligência criativa[10].
Rapidamente, o termo passa a fazer parte do corpo da pedagogia como chave para um novo tipo de educação principalmente para as crianças, atingindo posteriormente os âmbitos mais numerosos da atividade humana.
A criatividade é, ao nosso ver, a possibilidade de descobrir diversos caminhos diferentes quando, ante a um primeiro olhar, encontramos uma ou nenhuma solução aparente.
A verdade é que o conceito de criatividade ficou muito difícil de ser definido com precisão. Parece-nos mais útil apresentar os principais tipos em que ela aparece:
a) Criatividade de expressão: atividade querida por si mesma, sem dar importância à habilidade, à originalidade, `a qualidade da obra ( exemplo: desenhos espontâneos de crianças);
b) Criatividade de produção: controle e canalização da atividade lúdica depois do progressivo aumento dos condicionamentos da técnica;
c) Criatividade de invenção: capacidade de captar a possibilidade de relações novas entre elementos até então dissociados;
d) Criatividade de inovação: modificação dos próprios fundamentos e postulados de determinado sistema;
e) Criatividade de emergência: a manifestação de uma norma ou de uma hipótese completamente novas, como no caso da arte abstrata.[11]
A criatividade é uma importante manifestação da vida e, torna-se viável a busca de um tipo de criatividade que está ao alcance dos(as) cristãos(as). É justamente a criatividade que se manifesta no culto, na celebração, no ensino nos grupos pequenos que se empenha em valorizar o encontro com os mistérios do Senhor[12].
A partir dessas breves considerações, passaremos a refletir especificamente na educação religiosa cristã e como esta pode se desenvolver criativamente.
SÓ SE APRENDE SER CRIATIVO CRIANDO
Atualmente, homens e mulheres que assumiram o ministério docente não se preocupam com processos significativamente criativos. O que geralmente acontece é que educadores e educadoras possuem uma criatividade estéril. Ademais, criar é virtude para o enriquecimento de determinado valor partilhado. A criatividade tem profundas e íntimas ligações com a obra de arte, que é artesanato: só se aprende fazer, fazendo. Só se aprende ser criativo criando. A criatividade nunca deixa de ser artística.
Então, o ensino que dialoga com a criatividade está relacionado com a vida e responsabiliza-se por esta. Nesta ótica, procuraremos refletir, de forma mais direta, sobre a realidade de nossas comunidades de fé.
ENSINO CRIATIVO COM AMOR E RESPONSABILIDADE
Todo processo docente parte das necessidades. Para descobrir as necessidades, faz-se necessário conhecer bem o grupo a partir das individualidades e não somente por uma análise institucional ou de classes. Isso se faz necessário justamente porque as “razões da cabeça não fazem as pessoas caminhar, o que impulsiona as pessoas é justamente as razões do coração”[13]. Então é preciso afirmar que no que tange a falar de razões do coração, necessário nos é pensar que o ensino precisa acontecer com responsabilidade e mor. O (A) educador(a), antes de dizer qualquer coisa, de anunciar sua verdade, de viver uma vida de serviço e de bondade, precisa ser profundamente amado(a). “Depois que estes laços de amor e confiança forem estabelecidos, as palavras deslizam com muita facilidade”[14]. Consideramos este um aspecto vital.
Portanto, afirmamos que um ensino que se esboça responsável, amoroso e criativo provocará excelentes resultados para a vivência do grupo.
Jesus, conforme percebido pelas comunidades de fé do primeiro século, desenvolveu um ministério pedagógico criativo. Isto é aferível, quando deciframos seus jogos parabólicos. Estes jogos nos levam a conclusões óbvias com significados tão simples e ao mesmo tempo tão profundos. Estes jogos parabólicos nos tornam crianças, pois as palavras de Jesus dialogam com as nossas experiências cotidianas revelando-nos a beleza da simplicidade da vida. É preciso resgatar a alegria de ensinar, principalmente porque não somos sujeitos que transformarão a realidade somente pela práxis, mas principalmente pela atuação gratuita de Deus.
CONCLUSÃO
Concluir nunca é satisfatório. Apesar de termos consciência da fragilidade de uma conclusão, acreditamos que conseguimos atingir o nosso objetivo, ou seja, o de resgatar a importância da criatividade na educação religiosa cristã. Entendemos que todos os projetos que envolvem a ação ministerial docente da Igreja estão marcados pela criatividade.
Afirmamos que, no contexto atual é impossível pensar em ensino sem pensar em criatividade. Professoras e professores, lideranças em geral são desafiadas(os) a acreditarem na possibilidade de que a Igreja precisa ser um espaço de cultivo da criatividade, e não somente isso, mas também, espaço para a brincadeira e para a expressão livre de nossos desejos e anseios. Se a Igreja juntamente com a ministério docente conseguir desenvolver uma nova proposta dinâmica, então teremos condições de tornar o ensino prenúncios do que chamamos Reino de Deus.
[1] BENNETT, William J. O Livro das Virtudes. Rio de Janeiro, Novas Fronteiras, 1995. Pg. 348.
[2] JÚNIOR, José Lima. Corpoética: cosquinhas filosóficas no umbigo da utopia. São Paulo, Paulinas, 1988, p.17.
[3] Id. Ibid., p. 26 - 27.
[4] ALVES, Rubem. Variações sobre a vida e a morte. São Paulo, Paulinas, 1982, p. 43.
[5] Id. Ibid., p. 37.
[6] Id. Ibid., p. 39.
[7] Id. Ibid., p. 199.
[8] O sinergismo evidencia que a salvação humana se dá de acordo com a colaboração da graça divina com a vontade humana.
[9] PIMENTA, Arlindo C. Sonhar, brincar, criar, interpretar. São Paulo, Ática, 1993. P. 23.
[10] SARTORE, Domenico & TRIACCA, Achille M. Dicionário de Liturgia. São Paulo, Paulinas, 1992. P. 256.
[11] Id. ibid., p. 256.
[12] Id. ibid., p. 268.
[13] Este artigo foi escrito no ano de 1981, quando o CEDI estáva iniciando o Programa de Acessoria à Pastoral Protestante. A época era de discussões. Muitas idéias , concepções de pastoral e perspectivas teológicas estavam sendo revistas na tentativa de encontrar os caminhos de atuação de uma pastoral popular para as igrejas evangélicas. Rubem Alves escreveu este texto no sentimento e no espírito das reflexões daquela época, no entanto ainda consideramos as suas reflexões plausíveis para o momento atual. Os comentários em itálico são todos retirados desta cartilha. P. 7.
[14] Id. ibid., p. 25.
quarta-feira, 18 de março de 2009
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
A Capacidade do nosso Cérebro
Teste o seu... De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Sohw de bloa. Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito.
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Extraído da Net
sábado, 1 de novembro de 2008
Como Sinalizar a Vida em um Mundo Esquisito?

O nosso mundo anda esquisito demasiadamente. O egoísmo e a cobiça, entre seres humanos, crescem de forma assustadora. As mega-corporações batem, mês a mês, recordes nas produções. Pessoas se entregam diariamente à amizade virtual através dos micro-computadores e note book´s. Os relacionamentos tornam-se paulatinamente mais frios e calculistas. A natureza geme ante à agressividade dos poderosos que vêem matéria bruta com os olhos da lucratividade. Não se importam com os meios desde que o fim seja o enriquecimento.
Quanto ao ambiente religioso, nunca se falou tanto de Deus, mas também de formas equivocadas. O número dos novos movimentos religiosos que surgem, mostram-nos a fragilidade da fé e dos milhares de “cultos”. Ora, fé, entendida nos diversos movimentos presentes neste chamado mundo pós-moderno, é na verdade um sentimentalismo emocionado na vivência daquele(a) que sente um arrepio no “culto”. Ademais, busca-se prioritariamente a satisfação das necessidades básicas. Busca-se o sagrado, mas ao mesmo tempo este sagrado deve alimentar, curar, vestir, enfim, dar prazer.
Um importante desafio para os cristãos do presente século tange à recriação da Igreja e de suas organizações secundárias – grupos societários, ministérios, associações etc., a partir da lógica do pensamento peregrino de John Wesley, o fundador da Igreja Metodista. Frisamos, de antemão, que Wesley nunca escreveu um tratado sobre a Igreja. Ele era um teólogo do caminho. Por isso, sempre buscou a renovação e o equilíbrio entre fé e obras. Por exemplo: certa feita Wesley reclamou dos pregadores que “se esquecem de suas obrigações morais, desprezam a santidade como se fosse lixo, ensinam às pessoas esse caminho fácil para alcançar os céus, a fé sem obras”[1]. Ainda, em consonância com a argumentação anterior, Wesley atesta: “Não reconheço como tendo um grão de fé a pessoa que não faz o bem, que não está disposta a empregar toda oportunidade que tenha em fazer o bem a todos os homens”[2]. Finalizando, diz que “o peso de nossa religião, como nós entendemos, reside na santidade de coração e da vida. (...) Não queremos gastar o tempo com disputas, queremos gastar o nosso tempo e nos gastarmos no anúncio da religião autêntica e prática”[3]. Mas a renovação eclesiástica praticada por muitos líderes é outra, marcada pelo sensacionalismo e pelas promessas metafísicas.
O que muitos líderes religiosos têm feito com a Igreja beira a banalização. É claro que em muitas épocas da história eclesiástica, essa atitude de tratar a Igreja como objeto factível de desenvolvimento dos ideais personalistas sempre esteve presente. Mas, o que se vê hoje é uma religiosidade coligada às estruturas espoliantes do mercado. O Evangelho tornou-se, para estes, mero produto dos projetos de marketing. Paulo, na epístola à Roma escreveu: “Não me envergonho do Evangelho, pois ele é a força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita, do judeu em primeiro lugar, mas também do grego”. (Rm. 1: 16). Em contraposição ao argumento paulino, esta estirpe de “evangelho” baseado na prosperidade e nas ansiedades da atualidade causa espanto e vergonha.
O cenário político também é suspeito. Muitos “severinos” e “sanguessugas” revelam-nos como estão “preparados” nossos governantes. Bem sabido é por nós que Antônio Gramsci sempre afirmou nos seus escritos filosóficos, a saber, os “Cadernos do Cárcere”, que toda atividade é, em suma, atividade política. Se aceitarmos essa afirmação, então nossa prática de fé e de vida também é atividade política. Nosso relacionamento pessoal e familiar também é atividade política. A sexualidade é atividade política. Nossas decisões e escolhas são, em última instância, atividades políticas. Até mesmo, o lugar que escolhemos para nos assentarmos dominicalmente no templo é espaço de manifestação política. Em contraposição sempre afirmamos que não “discutimos política”. Talvez, por causa dessa lacuna gerada pela nossa indiferença, políticos medíocres estejam assumindo cargos da elite no cenário brasileiro.
Nosso mundo anda castigado de informações de todos os tipos para todos os gostos. Notícias de outros continentes nos chegam rapidamente e em tempo real. Por certo, a tecnologia avança de forma assustadora e veemente. Vale ressaltar, assim como Júlio de Santana, que em um mundo dotado de uma tecnologia capaz de erradicar a fome de todo o planeta, é inconcebível a idéia de pessoas morrendo de inanição. E o que dizer da anorexia e da bulimia, reflexos esquizofrênicos de um mundo esquisito. Uns morrem porque não têm o que comer, outros ficam doentes e até morrem porque, mesmo tendo o que comer, por causa dos padrões de beleza vigentes no “mundo” da moda, assumem a postura irresponsável do culto ao corpo em detrimento do próprio corpo.
Poderíamos discorrer sobre muitos temas neste breve artigo, entretanto a pergunta – “como sinalizar a vida em um mundo esquisito?” – necessita ainda de uma resposta.
Diante deste quadro crítico, visualizado sucintamente, reafirmamos que a teologia wesleyana pode nos apresentar algumas pistas significativas à questão proposta.
A consistente e persistente busca pela salvação, sempre evidenciada por Wesley centralizou, sem sombras de dúvidas, a doutrina da perfeição cristã. A vontade e empenho em entregar “todo o coração e toda a vida a Deus”[4] possuía duas vertentes: a primeira, talvez influenciada pela leitura dos místicos católicos, levava Wesley a considerar que o comprometimento com a perfeição cristã estava ligado diretamente a uma condição de santidade marcada pela obediência à Lei de Deus, bem como à prática de obras visando o prêmio final. Em segundo lugar, a perfeição cristã entendida como dom de Deus[5], fruto da manifestação da graça sobre o ser humano (conforme sermão 83,9).
Essas duas características, aparentemente opostas, são argumentadas pelo próprio Wesley, em seu tratado: “O caráter de um metodista”:
Quanto ao ambiente religioso, nunca se falou tanto de Deus, mas também de formas equivocadas. O número dos novos movimentos religiosos que surgem, mostram-nos a fragilidade da fé e dos milhares de “cultos”. Ora, fé, entendida nos diversos movimentos presentes neste chamado mundo pós-moderno, é na verdade um sentimentalismo emocionado na vivência daquele(a) que sente um arrepio no “culto”. Ademais, busca-se prioritariamente a satisfação das necessidades básicas. Busca-se o sagrado, mas ao mesmo tempo este sagrado deve alimentar, curar, vestir, enfim, dar prazer.
Um importante desafio para os cristãos do presente século tange à recriação da Igreja e de suas organizações secundárias – grupos societários, ministérios, associações etc., a partir da lógica do pensamento peregrino de John Wesley, o fundador da Igreja Metodista. Frisamos, de antemão, que Wesley nunca escreveu um tratado sobre a Igreja. Ele era um teólogo do caminho. Por isso, sempre buscou a renovação e o equilíbrio entre fé e obras. Por exemplo: certa feita Wesley reclamou dos pregadores que “se esquecem de suas obrigações morais, desprezam a santidade como se fosse lixo, ensinam às pessoas esse caminho fácil para alcançar os céus, a fé sem obras”[1]. Ainda, em consonância com a argumentação anterior, Wesley atesta: “Não reconheço como tendo um grão de fé a pessoa que não faz o bem, que não está disposta a empregar toda oportunidade que tenha em fazer o bem a todos os homens”[2]. Finalizando, diz que “o peso de nossa religião, como nós entendemos, reside na santidade de coração e da vida. (...) Não queremos gastar o tempo com disputas, queremos gastar o nosso tempo e nos gastarmos no anúncio da religião autêntica e prática”[3]. Mas a renovação eclesiástica praticada por muitos líderes é outra, marcada pelo sensacionalismo e pelas promessas metafísicas.
O que muitos líderes religiosos têm feito com a Igreja beira a banalização. É claro que em muitas épocas da história eclesiástica, essa atitude de tratar a Igreja como objeto factível de desenvolvimento dos ideais personalistas sempre esteve presente. Mas, o que se vê hoje é uma religiosidade coligada às estruturas espoliantes do mercado. O Evangelho tornou-se, para estes, mero produto dos projetos de marketing. Paulo, na epístola à Roma escreveu: “Não me envergonho do Evangelho, pois ele é a força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita, do judeu em primeiro lugar, mas também do grego”. (Rm. 1: 16). Em contraposição ao argumento paulino, esta estirpe de “evangelho” baseado na prosperidade e nas ansiedades da atualidade causa espanto e vergonha.
O cenário político também é suspeito. Muitos “severinos” e “sanguessugas” revelam-nos como estão “preparados” nossos governantes. Bem sabido é por nós que Antônio Gramsci sempre afirmou nos seus escritos filosóficos, a saber, os “Cadernos do Cárcere”, que toda atividade é, em suma, atividade política. Se aceitarmos essa afirmação, então nossa prática de fé e de vida também é atividade política. Nosso relacionamento pessoal e familiar também é atividade política. A sexualidade é atividade política. Nossas decisões e escolhas são, em última instância, atividades políticas. Até mesmo, o lugar que escolhemos para nos assentarmos dominicalmente no templo é espaço de manifestação política. Em contraposição sempre afirmamos que não “discutimos política”. Talvez, por causa dessa lacuna gerada pela nossa indiferença, políticos medíocres estejam assumindo cargos da elite no cenário brasileiro.
Nosso mundo anda castigado de informações de todos os tipos para todos os gostos. Notícias de outros continentes nos chegam rapidamente e em tempo real. Por certo, a tecnologia avança de forma assustadora e veemente. Vale ressaltar, assim como Júlio de Santana, que em um mundo dotado de uma tecnologia capaz de erradicar a fome de todo o planeta, é inconcebível a idéia de pessoas morrendo de inanição. E o que dizer da anorexia e da bulimia, reflexos esquizofrênicos de um mundo esquisito. Uns morrem porque não têm o que comer, outros ficam doentes e até morrem porque, mesmo tendo o que comer, por causa dos padrões de beleza vigentes no “mundo” da moda, assumem a postura irresponsável do culto ao corpo em detrimento do próprio corpo.
Poderíamos discorrer sobre muitos temas neste breve artigo, entretanto a pergunta – “como sinalizar a vida em um mundo esquisito?” – necessita ainda de uma resposta.
Diante deste quadro crítico, visualizado sucintamente, reafirmamos que a teologia wesleyana pode nos apresentar algumas pistas significativas à questão proposta.
A consistente e persistente busca pela salvação, sempre evidenciada por Wesley centralizou, sem sombras de dúvidas, a doutrina da perfeição cristã. A vontade e empenho em entregar “todo o coração e toda a vida a Deus”[4] possuía duas vertentes: a primeira, talvez influenciada pela leitura dos místicos católicos, levava Wesley a considerar que o comprometimento com a perfeição cristã estava ligado diretamente a uma condição de santidade marcada pela obediência à Lei de Deus, bem como à prática de obras visando o prêmio final. Em segundo lugar, a perfeição cristã entendida como dom de Deus[5], fruto da manifestação da graça sobre o ser humano (conforme sermão 83,9).
Essas duas características, aparentemente opostas, são argumentadas pelo próprio Wesley, em seu tratado: “O caráter de um metodista”:
Não estabelecemos a totalidade da religião (como fazem muitos e Deus sabe muito bem) em não fazer o mal, nem em fazer o bem ou em seguir os mandamentos de Deus. Nem tampouco todos esses aspectos juntos, porque sabemos por experiência que uma pessoa pode dedicar-se a isso por muitos anos e no final não possuir uma religião verdadeira, nada melhor do que tinha antes.[6]
A simples postura da observação dos mandamentos ou o seguir cego de orientações e regras é rechaçado por Wesley. Isso se confirma ainda na expressão: “Que o Senhor dos meus antepassados me preserve de uma religião tão miserável!”[7]
Na seqüência, Wesley afirma com veemência contra aqueles que criticam o ser metodista:
A simples postura da observação dos mandamentos ou o seguir cego de orientações e regras é rechaçado por Wesley. Isso se confirma ainda na expressão: “Que o Senhor dos meus antepassados me preserve de uma religião tão miserável!”[7]
Na seqüência, Wesley afirma com veemência contra aqueles que criticam o ser metodista:
Metodista é quem tem o amor de Deus derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhe foi dado; quem ama o Senhor seu Deus com todo seu coração com toda a sua alma e com toda a sua mente e com todas as suas forças. Deus é a alegria em seu coração e desejo de sua alma, que clama constantemente: “A quem tenho no céu senão a Ti? Fora de ti não desejo nada na terra! Meu Deus e meu tudo. Tu és a rocha em meu coração e minha porção para sempre!”[8]
Ora, o que se percebe claramente neste sermão de 1738, refere-se à conjunção conflituosa entre esforço humano e gratuidade de Deus. Entretanto, a aparente contradição se encerra quando o próprio Wesley atesta:
Guarda os mandamentos de Deus com toda a sua força, pois a obediência está em proporção ao seu amor, a fonte pela qual flui. Portanto, amando a Deus como todo coração, lhe serve com todo vigor. Continuamente, apresenta sua alma e corpo em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, completamente e sem reservas, entregando tudo o que possui e a si mesmo para a sua glória. Todos os talentos recebidos, todo poder, toda faculdade da alma e cada membro do corpo, emprega-os constantemente de acordo com a vontade do Mestre[9].
A importância dada por Wesley ao tema da perfeição cristã se confirma claramente pela dedicação e estudos evidentes ao longo de cinqüenta e dois anos. As muitas revisões do seu estudo denotam que a mesma doutrina estava em evidência na sua formulação teológica. Mais que isso – consistia em ênfase centrada na salvação do ser humano, na nova criação provocada pelo novo nascimento e pela entrega completa da vida a Deus. A salvação alcançada provocaria uma nova vivência. O crente não seria salvo pelas obras, mas justificado mediante o Espírito como o fim de realizar boas obras, de antemão preparadas desde a criação do mundo, entre todos os pobres e necessitados.
Por certo, o cenário religioso brasileiro marcado pela proliferação de movimentos religiosos, os mais diversificados, precisa de orientações, ditas espirituais, mais significativas e condizentes com os princípios e valores do evangelho genuíno. A doutrina da perfeição cristã torna-se referencial para a boa elaboração de uma espiritualidade sadia e formativa.
É desnecessário dizer que no âmbito das comunidades de fé, principalmente as de tradição wesleyna, torna-se evidente o desafio de se viver a dinâmica do amor humilde de Deus.
De qualquer forma, a doutrina da perfeição cristã somente pode ser pensada a partir das seguintes considerações:
1. Na lógica do pensamento de Wesley, que acompanha cinqüenta e dois anos de vida pastoral e dedicação teológica em meio à caminhada do povo, chamado metodista, e do movimento incipiente;
2. Na influência dos pais orientais e sua doutrina da deificação, bem como na leitura das clássicas obras de Taylor, Kempis e Law;
3. Na aproximação do tema da perfeição com o processo da santificação;
4. Nos inúmeros debates e reflexões com os contemporâneos sobre o tema;
5. Na compreensão da doutrina a partir do prisma da sinergia – participação conjunta em entre Deus e o ser humano;
6. Em uma vivência de amor humilde, que poderia ser traduzida como ápice do processo de santificação, portanto a plena santificação ou perfeição cristã;
Se é possível ou não alcançar a plena santificação na existência, não cabe julgamentos transitórios e infundados. Para Wesley era possível. Mas, a despeito do que seja realmente a dimensão da perfeição cristã, por certo, as pistas apresentadas neste artigo serão norteadoras para uma boa reflexão da teologia wesleyana no âmbito de nossa própria vida. Enfim, poderemos dizer que o Espírito de Deus busca a reconciliação do mundo com Deus e espera deste a resposta. A nova criação está sendo gerada pela ação amorosa de Deus entre os seres humanos. É, indubitavelmente, na vivência amorosa em relação ao outro que poderemos sinalizar a vida nesse mundo cada dia mais esquisito. Seja essa a nossa atitude perante a lógica da perfeição cristã de Wesley.
[1] BARBOSA, José Carlos. Adoro a Sabedoria de Deus. Piracicaba: UNIMEP, 2002. P. 373.
[2] Idem. P. 373.
[3] Idem. P. 373.
[4] RUNYON, op. cit, p. 125.
[5] KLAIBER, op. cit, p. 313.
[6] Obras de Wesley. Tomo VIII, p. 28ss.
[7] Obras de Wesley. Tomo V, p. 18 & 19.
[8] Obras de Wesley. Tomo V, p. 19.
[9] Idem, p. 24.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
O Campeão e o Vencedor - Divagações poéticas

A vida é marcada por uma série de ritos de passagens. Desde o nascimento até a morte, colecionamos ritos que nos lançam ao inesperado e inusitado. Todos os dias, portais se abrem para todos nós e ao atravessá-los, vislumbramos o “novo” que se reveste de realidade. Essa realidade nos conduz aos mais diversos riscos inerentes à vida. E a vida é marcada por vitórias e derrotas. É na dialética dessas duas dimensões que confrontamos e somos confrontados.
Ao pensar nos confrontos e nas peças que a vida nos apresenta, à minha memória vem a imagem da atleta Gabriele Andersen-Scheiss. Quem não se lembra desta brava suíça capengando, desorientada, se arrastando no final da maratona Olímpica de 1984, em Los Angeles. No calor escaldante daquele dia, Gabriele desafiou a natureza e o clima ao não aceitar água no ultimo posto d’agua no percurso. Gabriele disse depois que estava com 39 anos e não teria outra oportunidade de honrar o seu diploma de participação olímpica. Resolveu, então, cumprir o seu calvário nos últimos 500 metros para completar a maratona em 2:48.42. E a suíça Gabriele é hoje mais lembrada que a própria Joan Benoit, vencedora da primeira maratona de 1984, exatamente a primeira maratona olímpica feminina. Mas também nos lembramos do nosso atleta brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona nas Olimpíadas de Atenas - Grécia.
Vanderlei liderava a prova com mais de 45 segundos de vantagem. Foi quando o insano padre irlandês Cornélius Horan resolveu pregar aquela peça e travá-lo na sua jornada rumo ao ouro. Vanderlei chegou em terceiro lugar, depois desse indesejado ocorrido. Trouxe o bronze para o Brasil e ganhou do COI - Comitê Olímpico Internacional - a medalha "Pierre de Coubertin", que é dada a pessoas que dignificam o esporte com o conhecido "fair play". Como Gabrielle e Vanderlei, escolhemos ir ao final de nossa maratona, e mesmo que não cheguemos em primeiro lugar, o importante é chegar. Aliás é justamente nesse ponto que vale a pena fazer uma distinção entre o campeão e o vencedor. A distinção que ora faço, é muito mais simbólica do que real, mesmo porque há uma aproximação entre as duas expressões. Mas quero sugerir que a distinção perpassa a lógica da plausibilidade.
O campeão é aquele que chega em primeiro lugar, ganha os louros da vitória e a taça dourada que, em breve, ficará empoeirada em uma estante qualquer, como Joan Benoit. A conquista do primeiro lugar é efêmera, embora marcada pelo glamour dos aplausos.
O vencedor não necessariamente é aquele que chega em primeiro lugar. É aquele que chega. É aquele que experimenta a luta do cotidiano e se impõe, mesmo que tudo lhe diga o contrário. O vencedor é aquele que resiste, agüenta, suporta... como Gabrielle A. Scheiss.
A vida é cheia de oportunidades, de possibilidades, de conquistas. Entramos nela completamente inexperientes. Vivenciamos alegrias, tristezas, namoros, paixões, desentendimentos, construções, separações. Conhecemos lugares, pessoas, coisas e culturas diferentes. Enfrentamos situações diversas, boas ou ruins que contribuem para a grande mudança do efêmero.
Nesse caminho de desafios e incertezas, inunda-nos um sentimento de realização. Doravante, em qualquer canto deste planeta cada dia mais apertado, novos paradigmas serão superados. E nessa esfera de pululação inusitada, almejamos a consciência de um mundo melhor, um mundo formado por vencedores que façam a diferença nos relacionamentos e não por campeões que se gabam por causa da vaidade.
Ao pensar nos confrontos e nas peças que a vida nos apresenta, à minha memória vem a imagem da atleta Gabriele Andersen-Scheiss. Quem não se lembra desta brava suíça capengando, desorientada, se arrastando no final da maratona Olímpica de 1984, em Los Angeles. No calor escaldante daquele dia, Gabriele desafiou a natureza e o clima ao não aceitar água no ultimo posto d’agua no percurso. Gabriele disse depois que estava com 39 anos e não teria outra oportunidade de honrar o seu diploma de participação olímpica. Resolveu, então, cumprir o seu calvário nos últimos 500 metros para completar a maratona em 2:48.42. E a suíça Gabriele é hoje mais lembrada que a própria Joan Benoit, vencedora da primeira maratona de 1984, exatamente a primeira maratona olímpica feminina. Mas também nos lembramos do nosso atleta brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona nas Olimpíadas de Atenas - Grécia.

O campeão é aquele que chega em primeiro lugar, ganha os louros da vitória e a taça dourada que, em breve, ficará empoeirada em uma estante qualquer, como Joan Benoit. A conquista do primeiro lugar é efêmera, embora marcada pelo glamour dos aplausos.
O vencedor não necessariamente é aquele que chega em primeiro lugar. É aquele que chega. É aquele que experimenta a luta do cotidiano e se impõe, mesmo que tudo lhe diga o contrário. O vencedor é aquele que resiste, agüenta, suporta... como Gabrielle A. Scheiss.
A vida é cheia de oportunidades, de possibilidades, de conquistas. Entramos nela completamente inexperientes. Vivenciamos alegrias, tristezas, namoros, paixões, desentendimentos, construções, separações. Conhecemos lugares, pessoas, coisas e culturas diferentes. Enfrentamos situações diversas, boas ou ruins que contribuem para a grande mudança do efêmero.
Nesse caminho de desafios e incertezas, inunda-nos um sentimento de realização. Doravante, em qualquer canto deste planeta cada dia mais apertado, novos paradigmas serão superados. E nessa esfera de pululação inusitada, almejamos a consciência de um mundo melhor, um mundo formado por vencedores que façam a diferença nos relacionamentos e não por campeões que se gabam por causa da vaidade.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Carta escrita pela educadora Ana Maria Araújo Freire - Em repúdio à matéria publicada na Veja, pelas jornalistas: Monica Weinberg e Camila Pereira

Viúva de Paulo Freire escreve carta de repúdio à revista Veja
Na semana passada, a viúva do educador Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire, escreveu uma carta de repúdio à revista Veja, em decorrência de reportagem publicada na edição de 20 de agosto, intitulada "O que estão ensinando a ele?". De autoria das jornalistas Monica Weinberg e Camila Pereira, a reportagem foi baseada em uma pesquisa sobre a qualidade do ensino no Brasil. Em um determinado trecho da reportagem, lê-se:
"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado". Diante disso, Ana Maria Araújo Freire escreveu a seguinte carta de repúdio:
"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo deste.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoa pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorado com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja os dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado". Diante disso, Ana Maria Araújo Freire escreveu a seguinte carta de repúdio:
"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo deste.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoa pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do "filósofo" e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu "Norte" e "Bíblia", esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorado com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja os dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire
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