“O bom
humor é a única qualidade divina do homem”.
Arthur
Schopenhauer
Viver é uma aventura cheia de
percalços. O tempo todo eu enfrento os dramas diversos que em nada favorecem as
boas harmonizações do meu ser interior. Então, não dá para eu viver o cotidiano
e suas (in)conclusões sem uma boa dose de bom humor e boas risadas. Aliás,
coisa boa é a gente estar em uma roda de boa conversa, tendo um bom contador de
prosas, causos e piadas.
Eu gosto de conviver com gente bem-humorada.
Logicamente, eu sei, que por causa das complexidades inerentes aos relacionamentos
diversos que todos possuímos, é-nos impossível manter a potência do humor
elevada em todo tempo. Tem horas que a pilha perde a carga, o que é
absolutamente natural, pois, às vezes, sou surpreendido por situações geradas
por outros que me fogem ao controle. Paciência. A surpresa faz parte do jogo no
dia a dia e, mesmo quando tudo me parece fechado e sem definições, preciso
surpreender a minha alma, olhando-me no espelho, trocando um sorriso com a
minha imagem. Eu sei que isso, por si só, não resolve, mas já é um bom começo.
Minha índole é daquelas onde o humor
varia consideravelmente. Em alguns momentos, fico eufórico; em outros me
deprimo a ponto de perder meu olhar num espaço vazio. De qualquer forma, em
meio a minha rotina na montanha russa, eu sei que não posso deixar a alegria e
o bom humor se esvaírem, deixando o cotidiano chato.
Ao mesmo tempo, não sou daqueles que
acham que a gente tem que ficar de boca aberta o dia todo, rindo como um
boboca. Aliás, é muito esquisito quando me deparo com gente que fica rindo à
toa, às vezes, sem nenhuma causa aparente.
Pra não fugir muito da regra, o ideal
mesmo é buscar a zona de equilíbrio, visando o bem estar da própria existência.
E aqui não é abertura para autoajuda. Eu, particularmente, não gosto disso. Pra
mim, em especial, o bom humor tem a ver com a forma como minha psique interior
se resguarda quanto aos fenômenos que ocorrem no exterior. Assim, o bom humor
nasce do bom equilíbrio emocional que é essencial à vida de qualquer pessoa.
A necessidade de manifestação do bom
humor se dá mediante às situações que confrontam o bem-estar pessoal ou social.
Todas as vezes que somos agredidos em nossa vida comum, somos forçados à
reação. O bom humor, nessa perspectiva é sempre a reação ante ao caótico e, não
entendido. Em todos os momentos onde a vida pessoal é posta em xeque, o bom
humor se estabelece como uma válvula de escape. E existem os humoristas profissionais
que, muitas vezes, exageram em suas piadas, gerando diversos constrangimentos.
Isso se dá por causa de uma linha tênue que separa o risível do não-risível.
Com isso, chegamos à conclusão de que existem dois tipos de bom humor: o
sensato e o ridículo. Ora, o primeiro refere-se ao bom humor que se manifesta
de forma equilibrada e não agride pessoa alguma, ao contrário, só provoca o
bem-estar e o riso, até mesmo a gargalhada que faz bem para a alma. Já o
segundo, cria mal-estar aos ouvintes e aquele sentimento de constrangimento que
acaba conflitando os sentimentos humanos. É o caso da piada mal posta num
ambiente não preparado para ela.
A cada dia, fica mais claro para mim
que o bom humor é fundamental para o desencadeamento de emoções equilibradas no
decorrer do dia. De fato, pessoas bem-humoradas conseguem transpor os maiores
desafios do cotidiano sem perder a sensibilidade. Obviamente, existem muitas
pessoas que são mestras na arte de celebrar o bom humor. Fazem piadas e contam
causos sobre quase tudo. Existem aquelas que são chulas, e vivem em meio a
gozações diversas, algumas delas espúrias. Há, entretanto, outras que possuem
um humor refinado, favorecendo na dinâmica dos dias, o fluir das palavras e dos
gestos pontuais geradores de contentamento.
Portanto, para se levar a vida com bom
humor, não é necessário ser irônico, preconceituoso e sátiro. Tudo bem que
essas três dimensões estejam também presentes no cotidiano de todas as pessoas,
mas o excesso delas leva ao constrangimento de outrem. O problema é quando
ironia, preconceito e sátira interferem diretamente na dignidade da pessoa que
é posta numa roda de conversa jocosa. Esse é o caminho para o cômico que acaba
desconfigurando o humor. Conheço gente que gosta de fazer gozação com todo
mundo, mas quando passa a ser o centro das piadas, fica aborrecida. Mas é assim
mesmo! Rir dos outros é bem mais fácil do que rir de si mesma.
Todavia, é preciso rir de si mesmo! É
preciso fazer chacota com o próprio eu. É preciso encarar as dificuldades e
vicissitudes da vida com certa dose de alegria, afinal de contas, somos todos
imperfeitos! E quando rimos da nossa imperfeição, damos abertura para a
aceitação, tão necessária a qualquer pessoa.
Levar a vida com muita seriedade não é
vigoroso para ninguém. O famoso comediante Charles Chaplin certa feita disse: “Através
do humor vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante,
o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e
preserva a nossa saúde mental!”
O bom humor nos ajuda a vermos o mundo
de outra maneira. Ora, não se trata aqui de repetir o “jogo do contente”
realizado pela Pollyanna no famoso clássico publicado em 1913, escrito por
Eleanor H. Porter, uma cristã presbiteriana. Basicamente, o livro trata as
relações da menina Pollyanna, uma menina órfã de onze anos, com diversas
pessoas mais velhas, especialmente com uma tia rica, com quem vai morar. Na sua
nova casa, ensina a todos o “jogo do contente”, aprendido com seu pai, que
consiste em sempre olhar o lado positivo de todas as coisas, mesmo nas
aparentemente desagradáveis.
Para mim, em especial, bom humor não é
jogo do contente. É atitude assumida diante das dificuldades e percalços que a vida
nos apresenta. É uma forma de dizer: deu ruim, mas a gente vai dar um jeito de
melhorar contando causos, piadas, chacotas e rindo das desgraças que nos
ocorrem.
Ao final das contas, a gente vai
perceber que estamos cercados por um monte de bobagens, as mais diversas. O bom
humor nos leva a fazer a seguinte pergunta: o que realmente importa para ser
contente? Não nos assustemos se chegarmos conjuntamente á conclusão de que bom
humor é estar de bem com a vida e com as pessoas, de preferência, numa roda de
boa conversa, comida, bebidas, violão e cantorias...