Moisés Coppe
Meu olho que
não vê, vê além do que precisa ser visto
Vê o tempo
passando lentamente, junto às nuvens espraiadas no urano.
O azul até
acalma os sentidos, mas o cinza insiste em machucar a alma.
Os cães
famintos e raivosos não se prendem ao âmago do ser. Eles avançam.
Um misto de
insanidade e agonia se instaura em meu semblante. Meu olho vai ser devorado.
Ouso
caminhar contra a ferocidade dos insanos que querem possuir o que não tenho.
Minha
respiração não é pausada, no meu peito pulsa a máquina de carne.
Sinto o
fluido rubro percorrer o corpo. Os músculos retesados não cedem ao relaxamento.
Deito-me num
leito de ansiedades e me debato como um louco que não quer ser contido.
Deflagro
meus intentos mais íntimos e os vejo expostos diante de mim. Tenho medo. Pavor
e assombro me lançam ao canto das paredes mofadas. Minhas narinas ficam
sufocadas e o cheiro dos fungos me provoca o nojo.
Quero o sol
e o seu calor. Quero o brilho intenso do fogo e o seu abraço aquecido nas
noites desérticas. Meu ser em si quer trégua.
Levanto
simbolicamente a bandeira branca num ato solitário, desejando cessar a batalha.
Quero o mesmo intento do meu inimigo que não existe. Todavia, ele insiste em
continuar.
Saio da
trincheira com o peito aberto. Desnudo, insisto alcançar tudo o que quero, sem
saber muito bem pelo que de fato lutar.
Se espero
algo do futuro? Acho que o futuro vai ter que esperar o que dele posso esperar.
O tempo
continua passando e eu o vejo, a cada momento mais perplexo.
Cheio do incerto
em minhas incontidas sérias bobagens, me detenho à beira do rio, só pra ver as
bolhas do fundo profundo e o fluxo que não há de cessar.