segunda-feira, 5 de setembro de 2016

"EU COMPREENDO, MAS NÃO CONCORDO!"


(Em memória do amigo Márcio Quaglio de Souza)

Hoje, no início da manhã, o canto dos pássaros no quintal de minha casa não ecoava a mesma beleza de todos os dias. Havia um lamento no ar. Minha mulher me alertou que um canto diferente destoava entre os já conhecidos. O telefone toca e eu prontamente pronuncio: - É o Márcio! Não era o Márcio, mas o Júnior me comunicando sobre o Márcio.
Recebi a notícia de seu encantamento, pois pessoas como o Márcio não morrem. Ficam encantadas, como bem diria o saudoso Rubem Alves.
Os amigos e amigas sabem bem do que estou falando. Márcio é uma dessas obras raras que Deus molda com a finalidade de fazer diferença na vida de outras múltiplas pessoas. Falo dele no presente, por uma razão óbvia: ele só será lembrado no presente, como presente.
Envolto sempre numa interminável obra em prol das pessoas, deixando de lado, por vezes, sua família, Márcio é um autêntico exemplo que cabe bem no aforismo de Groucho Marx, envolvendo a conversa entre duas crianças. Uma delas diz:
"- Vamos descobrir um tesouro naquela casa?” “- Mas não há casa alguma ali!” Retrucou a outra. “- Então, vamos construí-la!"
Assim, construindo o que não estava construído, Márcio se põe a sinalizar os valores inegáveis do Reino, chamado de Deus, especialmente na vida das pessoas. E não há limites. Seus braços fortes sempre se estendem a quem quer que seja. Seu empenho sempre é dedicação exclusiva a quem precisa de alguma ajuda nos campos  emocionais, espirituais e materiais. Sua generosidade excede o entendimento dos que abraçam, tão somente, os interesses capitalistas.
Hoje, falo como você sempre fala, meu amigo: “- Eu compreendo, mas não concordo”. Isso se dá sempre quando estudamos a Bíblia. E vamos continuar as nossas conversas, pois como você, eu também compreendo muitas coisas e não concordo com várias delas. Aliás, eu compreendo seu encantamento, mas não concordo com ele. Não agora, visto que todos(as) também seremos encantados.
Estamos na Primavera. Das estações do ano, a mais florida. Você é o ipê amarelo que encanta o caminho e insite em revelar o poder das flores amarelas. É bom que seja assim, independente do fim fatídico que elas têm, quando se transformam em tapetes. Diante do inevitável, você continua a florir. Diante do inevitável, sua beleza provoca a saudade.

Lembro-me de Drummond quando disse:
Por muito tempo achei que saudade é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba de mim.

Meu amigo, você está encantado como presença-ausência. Ficam já, agora, para mim, as boas memórias, os risos, os debates pelo melhor. E quando quiser visitar minhas memórias, venha de braços abertos, pois os meus também estarão. O seu legado já acontece em mim, desde ontem mesmo, quando nos conhecemos.

E se muitos teólogos, afoitos que são, dizem que primeiro a morte, depois a ressurreição, já me antecipo em discordância e digo: morte é ressurreição. Você está vivo, e porque vivo, encantado, e porque encantado, sugiro que continue a nos encorajar nessa grande e inusitada aventura chamada vida. E por favor: tome cuidado ao andar de moto por aí!

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser q...