Eu sou daqueles que
pouco me encanto com a comemoração de Natal. Ora, comemorar significa festejar
um acontecimento e para mim, o Natal como acontecimento é o que acontece no cotidiano...
Natal é acordar às 5h30
da manhã, tomar um café correndo pra pegar o metrô lotado em Santana – SP, com
a finalidade de bater o cartão no horário previsto.
Natal é um grupo de
crianças da periferia de Recife – PE, andando seis quilômetros para ir à escola
e se encontrar com uma professora ainda jovem que acredita na utopia do
processo educacional.
Natal é o reencontro
com os colegas de trabalho – pedreiros, pintores, serventes e ajudantes, todos oriundos
do Nordeste do país, cansados da rotina na cidade grande e das dificuldades
financeiras originárias do baixo salário.
Natal é comer uma
quentinha preparada por uma senhora idosa e trabalhadora que ainda labuta pra
ajudar na criação dos netos na cantina ou cozinha da pequena Gráfica em Belo
Horizonte – MG.
Natal é enfrentar o
chefe chato da Multinacional em Minas Gerais que, disposto tão somente ao
lucro, esgota toda a sua equipe com um cronograma de metas.
Natal é a mulher que
vai dar a luz a uma criança em um Hospital da rede pública do Rio de Janeiro sem
saber se sua criança nascerá bem.
Natal é comparado a centenas
de milhares de doentes e acidentados longe das suas respectivas famílias em
diversos hospitais e pronto-socorros espalhados pelo país.
Natal é o mendigo que
dormiu toda a madrugada de chuva fina debaixo de uma marquise de uma grande
loja localizada na Rua 25 de Março – SP e, que ao acordar, remexe o lixo em
busca de algo pra comer.
Natal é o carro
quebrado em dia de pico na Reta da Penha – Vitória – ES.
Natal é a briga de casal
em Campo Grande – MS, por motivos fúteis e inimagináveis.
Natal é a “ceia”
familiar realizada às 20h, cujo cardápio revela macarronada e frango assado em
Pirapora – MG. Pagode no som e alegria espontânea.
Natal é a criança do
Educandário Carlos Chagas – Juiz de Fora – MG, recebendo um brinquedo oriundo
de uma pessoa que ela não conhece.
Natal é a velhinha no
abrigo em Porto Alegre tomando a sua canja com saudades da filha que não dá
noticias há anos.
Natal é a comunhão
celebrada por uma família de belenenses no entorno de uma mesa de madeira tendo
à disposição dos olhos uma singela vela e pedaço de pão festivo.
Natal é a jovem vendedora
com pernas cansadas de tanto ficar em pé durante a jornada do comércio e
mercado pesados.
Natal é a loja de X,99
lotada de gente comprando lembrancinhas para o amigo X, amigo oculto, amigo
secreto ou amigo urso, que acontecerá na noite do dia 24 de dezembro.
Natal é o carro cheio
de bagagens e cheio de gente. Ansiedade no ar, farofada e música sertaneja no ambiente.
Natal é aperto de mãos
e beijos aliados a um desejo intenso de que dias melhores aconteçam.
Natal é uma singela
celebração em memória do nascimento de Cristo numa capela qualquer em um
vilarejo distante.
Natal é, enfim, o
paradoxo de se perceber na simplicidade de um bebê a esperança de novos tempos.