sexta-feira, 2 de março de 2012

Um Tributo ao Mestre Milton

Ao longo de toda a minha formação teológica, no chão da FATEO, lá pelos idos dos anos noventa, sempre nutri a imensa vontade de saborear as aulas ministradas pelo professor Milton Schwantes. Claro, recebi os conhecimentos em Antigo Testamento de um dos seus mais dedicados discípulos – o Tércio Machado Siqueira. E este mesmo, com seu peculiar jeito mineiro, sempre se referia ao Milton com brilho nos olhos, o que aguçava ainda mais a minha vontade para descobrir as novas hermenêuticas do sereno gaúcho de Carazinho. Lembro-me de uma aula dada por ele em nossa sala de aula, somente uma, ainda nos tempos da graduação. E nós, alunos da Teologia, queríamos impressionar o mestre quanto aos nossos conhecimentos em relação às teorias Javista, Sacerdotal e Eloísta. Então, pipocávamos em diversas direções com uma série de informações sobre a teoria das fontes, de acordo com a abordagem latino-americana de Schwantes. Depois de nos ouvir atentamente, com os olhos espremidos, brilho nas bochechas e um largo sorriso na face, ele humildemente nos disse: “Sabe gente, não liguem pra essas bobagens que eu escrevi anteriormente. As coisas evoluem e as novas abordagens aí estão para nos redescobrirmos o Antigo Testamento”. E começou a apresentar as múltiplas tradições dos povos bíblicos que teceram a Bíblia. Nos últimos dois anos – 2010 e 2011, enfim, tive a oportunidade de estudar por três períodos com o professor Milton Schwantes. Já agora, nos estudos de doutorado, confirmei a sapiência lúcida do mestre. Poucas vezes, tive a oportunidade de ouvir uma abordagem tão profunda e tão popular da Bíblia. Eu, que já estava a bons anos sem me aprofundar em exegese bíblica, me vi novamente em contato com o hebraico e todas as possibilidades da língua. Além disso, o tom lúdico das suas abordagens, aliada a uma preocupação sempre relevante em relação aos pobres dava às suas aulas um tom sapiencial-poético-profético. Mas seu corpo não acompanhava mais sua mente. Sua mente não acompanhava seu brilhantismo. Seu brilhantismo era revestido de humildade. Sua humildade era similar à de muitos profetas e poetas bíblicos. Acho eu que por muitos anos, vamos falar de Milton. Vamos lembrar Milton. Vamos nos reportar ao Milton. Vamos beber em sua memória e contar casos, os mais diversos, como aquele que ele sempre contava do homem da mudança que estava com a “pressão baixa”. Dizem que ele faleceu no dia de ontem, 01.03.12, mas eu acho que não. É somente mais uma treta bem elaborada deste que certamente ainda sorri valente frente aos desafios da existência. Por fé, digo a você, estimado peregrino: a gente se esbarra por aí. Ontem, você se foi, mas acho que continuará por aqui, por muito tempo. Em nossos corações, em nossa memória, em nossa leitura da Bíblia, em nossa saudosa conversa despretensiosa. Até mais ver. E se você perguntar sobre minha Juiz de Fora, mais uma vez, eu responderei: “Vai bem, obrigado! Esperando por você, mestre!”

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser q...