sábado, 29 de setembro de 2012

A VIDA ABERTA ( para a amiga Ellen)

Eu gosto muito de Guimarães Rosa. Apesar de sua conhecida obra Grande Sertão Veredas nos apontar diversas dimensões fundamentais para se pensar a fé na vida, escolho, preferencialmente, suas assertivas que me ajudam no entendimento da pessoa humana, como a que cito: “o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam”. Além desse apontamento literário em relação às pessoas, o filósofo francês Paul Ricoeur, afirma que toda a nossa vida é marcada por duas dimensões: a do voluntário e a do involuntário. Ora, existem múltiplas situações que nós podemos controlar, pois advém de nossas próprias escolhas e outras que nada podemos fazer, pois ocorrem inusitadamente e desestabilizam a jornada. Surgem de repente. Sendo assim, pessoas e situações se entroncam na existência para afirmar contundentemente que a vida está aberta. Em minha humilde concepção, baseando-me em Rosa e Ricoeur, afirmo que somos como músicas que em momentos distintos afinam ou desafinam mediante o jogo da vida. Outros muitos, ao contrário, pensam que o mais importante é que as pessoas sejam iguais ou que ajam da mesma forma. Ora, a riqueza da vida humana está em pensarmos coisas diferentes e somarmos nossas diferenças, quem sabe, para a construção de uma cultura de paz. Tal cultura não pode ser o fruto de uma ditadura ou da ordenança de uma pessoa sobre as outras. A cultura de paz é a resultante de gente que tem ao mesmo tempo um coração aquecido e mente esclarecida. É isso o que eu defendo. Quanto ao voluntário, podemos dizer que é relativamente tranquilo acolher-se o bem e o mal quando estes ocorrem por causa de cada escolha pessoal. Assim, quando sofremos a perda ou celebramos uma vitória, nos organizamos emocionalmente bem, pois sabemos que aquilo é fruto de nossa decisão. Entretanto, quanto ao involuntário, o acolhimento possui outros contornos, mesmo porque o que ocorre nesta dimensão é oriundo dos acidentes de percurso. É extremamente desagradável a gente ser conflitado por uma ou outra situação que surge sem a devida espera ou preparação. Sendo assim, acho que em todos os grandes dilemas da vida, sejam pessoais ou impessoais, a vida aberta deve cultivar os melhores sentimentos em relação às pessoas que nos cercam. Por isso, acho que na dinâmica da vida e suas relações, a gente tem que garantir a todas as pessoas a possibilidade de elas serem elas mesmas ou acolhe-las em suas crises diversas. Não somos pessoas comuns que vivem em organizações comuns. A vida da gente é como a nossa casa, onde as coisas acontecem de forma inusitada e às vezes, atravessada. E eu preciso confessar que eu gosto dessa aparente confusão de situações, pessoas, acidentes etc. A casa, mais do que um motorzinho bem regulado, é um organismo vivo formado por gente que afina e desafina ou que se assusta frente ao inusitado. Nesse ponto, podemos afirmar em tom dissonante que a vida está sempre aberta, mas nem tanto, mesmo porque o mais importante são as pessoas que ainda não foram terminadas. Aliás, foi conversando com uma amiga que essa ideia surgiu. Essa noção de vida aberta está ligada ao fato de sempre estarmos em entroncamentos, os mais diversos, sendo convidados(as) à escolha e também à visualização estupefata do que sobrevém. É que em alguns momentos a gente é motorista e controla o que acontece. Em outros momentos, somos passageiros e nesse ponto, as coisas se complicam para nós. Mas a vida está aberta e não podemos nutrir nenhuma espécie de medo em relação ao que vem ou possa ocorrer. É mais ou menos o que aconteceu com Jó. Ele fez suas escolhas, mas também sofreu o inusitado em sua vida, perdendo tudo e quase todos ao seu redor. Mas assim é a vida e de alguma forma, todos temos que encará-la da melhor maneira possível. Então, na vida aberta – mas nem tanto – e seus respectivos voluntários e involuntários, tenhamos no mínimo a atitude, primeiro para escolher bem quando pudermos escolher; e enfrentar bem, quando precisarmos enfrentar. Em tudo, porém, contando com a graça maravilhosa de Deus e nos tornando mais pessoas: desafinadas ou afinadas? Não nos importa, simplesmente pessoas.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Digo Não ao Coco de Cachorro na Rua

Na terça-feira do dia 18 de setembro de 2012, eu fui ao supermercado próximo à minha casa, com o intuito de comprar alguns itens para a composição do almoço familiar. Resolvi ir à pé para aproveitar os primeiros raios de sol da manhã. Ao sair do portão da minha casa, localizada no bairro Cascatinha, na cidade de Juiz de Fora – MG, fiquei estupefato com o que vi: uma quantidade imensa de cocos de cachorros. Rapidamente, tive que abandonar o calçamento para dividir espaço com os veículos. Foi-me impossível manter minhas caminhada da forma como queria. Me desviei e comecei a contar os “montes”. Cheguei à soma de vinte e dois, e desisti. Confesso aos leitores que aquilo me tomou de ira. Algumas perguntas vieram à minha cuca: Será que estes cachorros não têm donos? Será que a Prefeitura da cidade instituiu que agora é lícito transformar as ruas e calçamentos destinados a pedestres em banheiros para cachorros? Os donos desses cachorros não tinham mãos para carregarem sacolinhas plásticas? Eram deficientes? E com essas perguntas circulantes em minha cabeça, passei a ficar enojado com essa trite e vergonhosa realidade. Os que me conhecem de perto sabem que não sou muito fã de cuidar de animais. Minha criação como pessoa não me permitiu esse relacionamento, que até admiro, entre as pessoas e seus bichinhos. Admiro demais as pessoas que gastam seu dinheiro no cuidado com os animais. Não à toa, o mercado de Pet Shop’s e as clínicas veterinárias estão entre os centros que mais crescem na atualidade. Segundo dados da Revista Veterinária, o número de estabelecimentos como os citados cresceu de forma contundente. Segundo fontes do Sebrae: “O mercado brasileiro de pets movimentou R$ 11 bilhões em 2010. Deste total, 66% correspondem à venda de comida para animais de estimação e 20% a serviços do setor. Este mercado realmente é promissor. Mundialmente, o setor faturou US$ 76 bilhões em 2010. Os dados são da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação (Anfalpet). Em artigo, Marcos Gouvêa de Souza, diretor geral da GS&MD – Gouvêa de Souza avalia as boas perspectivas para o segmento de pet shops no Brasil. O segmento teve um faturamento aproximado, na ponta do varejo, superior a R$ 11,3 bilhões, com um crescimento real de 4,5% em 2011. Em 2010 esse mercado cresceu 8,5% em relação ao ano anterior de 2009 e tudo indica que deverá continuar a se expandir em percentual superior ao crescimento do PIB nos próximos anos. Estima-se em 25 mil o número de pet shops no país. Hoje a tendência do mercado de Pet shops inova com produtos diferenciados, como esmaltes e refrigerantes, salões de beleza para animais, novos tipos de banhos, tosas e secagem de pêlos, com produtos importados de alto nível e serviços de entrega. No quesito luxo, o mercado pet do Brasil também tem muito a crescer. Uma pesquisa realizada pelo portal WebLuxo revela que apenas 5,5% do mercado brasileiro é composto por produtos mais caros. Os mais vendidos são coleiras, roupas, bebedouros e casinhas. Os estabelecimentos faturam até R$ 200 mil por mês. O Brasil tem hoje o segundo maior mercado pet do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo dados da (Anfalpet), o Brasil tem estrutura e capacidade de produção para ser também o segundo maior exportador de artigos do segmento, com US$ 4 bilhões ao ano. O Brasil tem 98 milhões de animais de estimação. Segundo Antônio Braz, analista do IBGE o peso dos gastos com animais de estimação representa percentual de 0,7% no orçamento. Por isso, é bom ficar ligado nas tendências de produtos e serviços e nas regras básicas de manutenção de uma loja pet shop ou uma clínica veterinária”. De fato, criar bichinhos como gente é um bom negócio. Mas eu descobri que não estou sozinho nessa luta contra cocos de cachorros. Uma senhora, moradora de Copacabana, no Rio de Janeiro, espalhou um vidro de pimenta na calçada para espantar os cachorros. Segundo ela, “funciona que é uma beleza”. (Folha On Line, 15/09/2008). Ou ainda o caso de Cláudio Althierry que plantou bandeirinhas indicando a falta de educação dos cariocas e seus cachorrinhos no bairro do Flamengo – RJ. Não, não, senhores e senhoras, não sou contra a criação amorosa e o cuidado com os bichinhos. Sou contra o descaso das pessoas com seus animais quando dos passeios matinais, vespertinos e até noturnos. Repito: sou contra o descaso das pessoas que não recolhem os excrementos dos seus bichinhos, antes, deixando-os para deleite sensitivo dos cidadãos em geral. Sendo assim, acho que o cuidado, a atenção e o asseio com os passeios dos bichinhos deve ser assegurado pelo dono ou dona do animal. Eu não quero mais andar pelas ruas do bairro onde moro a mais de 10 anos tendo que me desviar da cáca dos cachorros. Eu quero ver cachorros e seus donos andarem livremente e alegremente com seus bichinhos, numa espécie de desfile da modernidade subjetiva, entretanto com educação, responsabilidade e, pelo menos, singelos gestos de cidadania. Bato palmas quando vejo donos ou donas responsáveis que recolhem o coco dos seus cahorrinhos. A bem da verdade, dá vontade de cumprimentar tal pessoa e ovacioná-la com força tal que todos os demais moradores venham a escutar. Então, vamos combinar uma coisa: que todas as pessoas de bem continuem a passear com seus cachorrinhos, mas que, com o mesmo cuidado dispensado com a caminhada, recolham o coco do animal. Ele não pode fazer isso sozinho. É você, pessoa humana, que possui polegar opositor, diferentemente de todos os demais animais. Assim, todos nós continuaremos a ter nossa caminhada normalizada, livre de visões detestáveis, cheiros repugnantes e, principalmente, daquela cáca alheia, ainda fresca, agarrada no solado do tênis branco. Fica o apelo!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Estou Casado! E agora?

Estas três coisas me maravilham; e quatro há que não conheço: O caminho da águia no ar; o caminho da cobra na penha; O caminho do navio no meio do mar; E o caminho do homem com uma mulher. Provérbios 30.18-19
Um dos grandes desafios para as pessoas que optam pelo matrimônio é a dinâmica da vida a dois. De fato, existem muitos dilemas e conflitos quando duas culturas e espiritualidades distintas, oriundas de processos educacionais diferentes, se conjugam num espaço que recebe a alcunha de lar. Comparo a vida a dois como abrir uma picada na mata densa e desconhecida. E o que se tem à mão é, tão somente, um facão amolado para criar a trilha. Anteriormente a nós, outros casais abriram suas respectivas trilhas, mas a experiência de um não pode ser repetida por outro. Sendo assim, cada casal tem que se aventurar em sua própria trilha. Eu que estou casado há 22 anos percebo que em alguns momentos eu e minha mulher nos cansamos, exaustos, de tanto gravitar o facão em busca de melhores trajetos. Então, paramos para descansar em clareiras, para depois nos lançarmos, novamente, ao árduo movimento na mata fechada. E o pior é que nunca chegamos ao destino final, porque não há destino final. O casamento, então, é uma espécie de labirinto onde duas pessoas precisam aprender a viver bem sem a cobrança por uma felicidade final, pronta e acabada. Nessa mata fechada labiríntica, surgem-nos duas opções mais emblemáticas: a primeira refere-se a viver a referida aventura sem o contentamento necessário e fundamental para o ser humano. Para os que optam por esse caminho, fica somente o cheiro da desilusão e da conformação. A segunda opção abraça o divertimento e procura o contentamento, independente dos resultados finais. Ora, esta opção nos dá a possibilidade de melhor nos harmonizarmos na vida e com a pessoa que escolhemos caminhar conjuntamente. Quando se perde esse desejo pelo produto final ou pela plena realização de um sonho, acredito, fica mais fácil viver a jornada a dois. Nesse sentido, o texto bíblico que apontamos para a nossa reflexão nos dá um parecer interessante sobre a pergunta que dá título à nossa mensagem. Ora, o texto em questão demonstra a dificuldade do caminho de um homem com a donzela, no caso, sua mulher. O autor do livro de Provérbios apresenta-nos quatro coisas que são complexas demais para ele. Em sua referência, o primeiro é o caminho da águia no céu; o segundo é o caminho da serpente na pedra; o terceiro é o caminho do navio no mar e o quarto é o caminho do homem com a mulher. A princípio, podemos dizer que o autor busca o sentido das coisas e as razões pelas quais essas dinâmicas se dão tal como se dão. Assim, ele se assusta quando percebe que não há uma resposta clara e evidente. Seu susto é, também, o nosso susto. Sendo assim, fica claro para todos nós que no que se refere a casamento, o caminho a ser trilhado e a própria busca de sentido em sua estrutura é experiência particular onde não existem mapas, tampouco receitas acabadas. Por isso, digo a você, distinto casal, que a aventura que hora vocês abraçam é única e marcada pela sensação de que não existe outra experiência igual em todo o planeta terra. Desta forma, vocês devem se apropriar da experiência conjugal de vocês como sendo a mais especial porque é única. Então, já que não temos a possibilidade de um final feliz, como já pontuei anteriormente, torna-se fundamental que em meio às tensões inerentes ao casamento, vocês tenham oportunidade de se divertir. Acho que este é um bom caminho para a dinâmica de vida a dois. Talvez, com o intuito de melhorar essa brincadeira, Mario Quintana, poeta brasileiro, escreveu certa feita uns versos interessantes que deveriam compor o momento de votos de todas as celebrações de matrimônio vigentes. Digo isso porque na dinâmica do relacionamento conjugal deve existir divertimento, e esse divertimento tem que estar de mãos dadas com a liberdade. Sem liberdade, nenhuma estrutura consegue resistir, inclusive o casamento. Vamos, pois, às suas sugestões poéticas: 1. Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade? 2. Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica? 3. Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar? 4. Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e, portanto, a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela? 5. Promete se deixar conhecer? 6. Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor? 7. Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda? 8. Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros? 9. Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina? 10. Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja? Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher. Declaro-os maduros. Enfim, seja realmente esta a demanda de vocês que agora estão casados. E se em algum momento a pergunta “e agora?” surgir nos entroncamentos relacionais, saiba que não existe nada melhor do que um dia após o outro. Nada melhor do que uma noite após a outra. Nada melhor do que um beijo após o outro. Nada melhor do que não ter compromisso com a felicidade – aliada ao contentamento – de querer que o outro seja livre para ser o que é no entrelaçamento do amor. Acho isso fundamental.

DIA 70 - As mariposas giram em torno das lamparinas acesas

Gosto quando os olhares e os sorrisos oriundos de pessoas diferentes compactuam os sentimentos mais profundos numa doce simbiose. Pode ser q...