Sou amante do futebol arte e gosto de assistir um jogo de futebol com a
tensão inerente a um torcedor. Não sou nenhum enlouquecido, tampouco exagerado
em jeitos e trejeitos, tanto nas vitórias como nas derrotas.
Não posso negar o fato de gostar da celebração futebolística alcunhada
como Copa do Mundo. Em que pese todos os interesses políticos e econômicos
inerentes a este macro evento, o fato é que a alegria e o sentimento de nação
simbolizado em um time de futebol dá a todos nós a certeza de que vale a pena pertencer
a um todo cultural.
Nasci em 1970, quando o Brasil havia conquistado o seu tricampeonato. Da
Copa de 1974, não tenho lembranças. A de 1978 foi a primeira que curti, talvez
motivado pela coleção de fotos dos atletas que vinha por intermédio das
tampinhas de alguns refrigerantes. Em 1982, as figurinhas eram adquiridas pelo
Chiclete de bola “Ping Pong”. Esta foi a minha Copa! Em primeiro lugar, porque
o time era brilhante e cheio de estrelas que jogavam um futebol arte. Torci ao
lado de minha família, vestido com o uniforme da seleção, saboreando um
amendoim torrado e doce que minha mãe preparava. Ainda hoje, quando vejo estes
amendoins torrados nas esquinas e vielas, minha memória viaja no tempo. Em
segundo lugar, porque depois dos jogos, eu, ainda uniformizado, me reunia com
meus amigos em um campinho de argila na cidade de Betim – MG, para uma partida
até o pôr do sol. Ali, o Zico, o Sócrates, o Júnior, o Éder, o Cerezo, o
Leandro, o Mozer era eu, eu mesmo.
Não chorei, mas fique silencioso quando o Paulo Rossi desfez os sonhos
do tetracampeonato naquela Copa.
Então veio 1986. Torci, mas sem a mesma empolgação de 1982. Fomos
eliminados pelo time de Marcel Platini.
Chegou 1990 e faltou empolgação também. Maradona e sua trupe nos tiraram
o sonho.
Em 1994, estava eu em São Paulo, fazendo meu curso de Teologia e sendo
abrigado aos fins de semana na casa de pessoas queridas em Vila Galvão -
Guarulhos. Nos jogos que aconteciam durante a semana, torcíamos no Pombal –
como ainda é conhecido o setor de hospedagem dos seminaristas metodistas na
Universidade de São Paulo. Vi a final em Guarulhos e vi o grande jogador
Roberto Baggio da seleção italiana perder o pênalti. Celebrei e fomos às ruas
ver as pessoas, cumprimentá-las e ouvir os fogos que singravam os céus.
Na Copa da França, a empolgação estava em alta, ainda mais porque o
Brasil bateu adversários difíceis e se classificou para a final juntamente com
a França. Já no início, a notícia esquisita de que o Ronaldinho não jogaria a
final porque tinha passado mal me deixou cabreiro. Dito e feito, três a zero
para a França. Brasil ficou com o vice-campeonato mundial.
Gato escaldado tem medo até da água fria. E foi assim que em 2002,
fiquei mais cauteloso. Mas o Ronaldinho queria apagar aquela “situação” ocorrida
na final de 1998 e fez daquela Copa, a sua Copa. Brasil, pentacampeão de
futebol. Fiz muita festa. Foi muito bom. Nesta época, eu estava em Belo
Horizonte e assisti a final na casa de amigos também.
Em 2006, depois de muitas situações complexas que afetaram minha
família, não podia ter a mesma alegria. Assisti a Copa sem muita empolgação.
Ademais, estava vivendo um tempo profissional de muita instabilidade e tudo
contribuía para meu desânimo. Perdemos pra França, mais uma vez.
Já em 2010, minha alegria havia retornado e reunimos a família para
vários encontros em frente à televisão. Havia comprado uma TV de 42” que era a
sensação na época em que ainda existiam muitas TVs antigas de 29”. Agora aquela
TV está obsoleta por causa de revolução tecnológica. Ao final, vi a tonalidade
da TV nova ficar mais alaranjada, principalmente no jogo contra a Holanda.
Pois bem, estamos em 2014 e todas essas e outras memórias me visitam. A
mais forte pra mim é a dos jogos nos campinhos, onde nos tornávamos os
jogadores que assistíamos. Independente do resultado desta Copa, já vale as
histórias e memórias que nos sobressaltam. Para mim, em específico, já tá valendo
a festa nas cidades sedes dos jogos. Se a seleção do Brasil ganhar, beleza. Se
não, a vida vai continua do mesmo jeito. Aliás, não temos nenhuma obrigação de
ganhar coisa alguma e nem de cobrar êxitos de um bando de garotos que não se
cansa de fazer selfies e lançar na web, salvo algumas exceções. De qualquer
forma, no fundo, no fundo, estes eventos ressaltam em nós a alegria teimosa que
insiste em resistir mesmo nas cadeias e hospitais. Coisa boa é a capacidade que
o ser humano possui para reagir mesmo quando as coisas não estão boas.
Assim,
como uma borboleta que insiste em exibir a exuberância de suas cores nas relvas
e jardins, mesmo sabendo que vai se extinguir entre duas semanas a um mês – com
exceção da borboleta monarca que vive até 9 meses – nós insistimos em revelar a
beleza da alegria, mesmo sabendo que ela possui prazo de validade. A copa vai
acabar, mas as memórias vão continuar. Que pelo menos, nós brasileiros, nos
lembremos de que eventos são eventos e a vida é muito maior que o evento. Lembremo-nos
igualmente que o que vale é a representação de um espírito nacional e não a
vitória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário