“... E tudo que era
efêmero se desfez. E ficaste só tu, que é eterno”.
Cecília
Meireles
As bolhas de sabão me ensinam sobre a
efemeridade da vida. Tudo passa, e essa é a grande certeza que eu tenho. No
exato momento em que escrevo estas linhas, contemplo o relógio em meu pulso e o
seu ponteiro me lembra como rapidamente o presente vira passado.
No âmbito dessa percepção, às vezes, me
comparo a um alpinista, daqueles que escalam a montanha pelo puro prazer de
subir, arriscando a vida na jornada. Ao alcançar o cume, finca a bandeira do
seu país e contempla toda a linha do horizonte com os olhos marejados. Em meio
a sentimentos difusos, que vão da angústia à felicidade, se pergunta: por que
me gastei tanto para este momento tão efêmero? Assim, inquieto por ter chegado
onde desejava, o alpinista, como menino extasiado e feliz, sente o corpo ferido
ser beijado pelas correntes dos ventos gélidos e cortantes de um polo qualquer.
Nesse instante de base e abismo, balbucia palavras de gratidão, exaltando a
potência dos valentes.
Deixo o alpinista em seu lugar, recobro
a razão e, tal qual artista que busca no fundo da alma a inspiração para
transpirar sobre a obra de arte, insisto em encontrar o solitário que mora em
mim.
Nesse instante surreal e igualmente
efêmero, vejo os girassóis. Tanto os do quadro de Vincent Van Gogh, como os do
meu solitário jardim, ainda não plantado. Todos são lindos e impressionantes.
Eles estão nascendo. Ambos são frágeis e se desfazem rapidamente pelo poder
químico ou pela química do poder. Eu os quero bem, perto de mim, pois suas
cores me inspiram, além de perfumarem minhas lembranças mais remotas. Vejo os
girassóis e quero regá-los com a água fresca que incha os caules. Que o sol
venha favorecer o milagre da fotossíntese cuidando de sua efêmera beleza no
período da primavera.
Um girassol é só um girassol se for
visto como um girassol. Por outras retinas, se torna um mundo. Tenho medo de
que os girassóis deixem de sê-los. Não os quero como palha, talvez como
sementes, pois nestas deposito as minhas esperanças mais remotas. Tenho medo de
me perder na pura contemplação dos girassóis. É porque sei que eles passarão.
Os girassóis passam, a vida é igualmente efêmera e eu me encanto com as coisas
simples.
Nesse fugaz instante de eternidade,
reflito novamente no caminho a ser percorrido, valorizando o que vale a pena.
Inconformado com o que me aflige a alma, continuo a abraçar a tensão de não
saber para onde ir. Nesta trilha, quero que a vida aconteça e que eu deixe de
esquentar a cabeça com tantas caraminholas. Quero curtir a vida e o que ela
pode me dar, mesmo inquieto quanto ao que virá. Apego-me à frágil perspectiva
da esperança, pois não me sobra muita coisa. Então, preciso esperar, esperar,
esperar, embora não goste muito de esperar.
Olho novamente o relógio pulsar no
pulso e aguardo novas possibilidades. Sei que a vida oferece diversas
aberturas, embora sem muitas opções. As oportunidades são limitadas e isso é um
tanto cruel. Assim, quando chego à constatação de que não conseguirei alcançar
o que sempre almejei, opto por continuar vivendo a aventura da vida no
cotidiano, entendendo que Tudo Passa. Sobre isso poetizei:
Sei que a
vida às vezes é barra
E as
tensões se instalam no peito
O amor
que escorre das mãos
As
estrelas que caem no chão
Sempre
existe uma porta aberta
E um
ombro amigo, irmão.
Vá em
frente, confie em si mesmo
E na
prosa do Grande Autor
Nunca
deixe seus sonhos de lado
Acredite
na força do amor...
Sempre
existe uma porta aberta
E um
ombro amigo, irmão
Você pode
crer, tudo passa!