“Tão bom
morrer de amor! E continuar vivendo...”
Mário
Quintana
Vivo o amor! Sofro o amor! Morro de
amor! Ah! O amor, vero amigo e carcereiro algoz! O grande gerador das maiores
alegrias e das mais agonizantes tristezas humanas. Cantado e poetizado em
diversas línguas e de múltiplas formas. Das emoções humanas, talvez a mais
vital. Força maravilhosa que me martiriza, deixando-me inquieto com a vida. O cantor
Renato Russo, citando Camões, expressou que “o amor é fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente”. É um paradoxo
sem limites paradoxais.
Eu, de minha parte, não consigo viver a
minha lida sem expressar as dimensões mais profundas do que realmente penso ser
o amor. Não consigo amar pela metade ou de uma única maneira. Intento, o tempo
todo, amar e amar muito, sem pestanejar. Sinto-me plenamente aberto para o amor
e para amar. Louco, com todo o horizonte aberto diante dos meus sentidos, lanço-me
ao distinto espaço vazio para amar quem quer que me apareça, como me for
possível. De amor em amor, vou sobrevivendo, tentando me resgatar nesse mar de
ondas espumantes e calmarias.
Amor não é substantivo, mas verbo. Precisa
ser construído na dinâmica relacional entre gente que se quer bem. Não há
porquês e não há respostas. O amor é a conjugação dos mais vivos sentimentos
que passeiam no corpo humano, mediante enzimas e substâncias que compõem a sua
química.
Entretanto, eu preciso confessar que,
para além da felicidade e do gozo, o amor me deixa triste, fragiliza-me a alma
e joga-me na lama. Mas o amor não é uma coisa boa? Não duvido disso! Todavia, é
coisa boa que detona os sentimentos dos que se envolvem numa paixão, seja ela
qual for. Poetizo num Amor que Insiste:
O corpo é
vivamente cremado...
A vida
depressa passou!
Valeu a
pena viver?
Foi vivo
e intenso o amor?
As
perguntas chegam tarde.
As
respostas nunca virão!
Resta a
lágrima no rosto vivido,
E o nada
dos passos no chão.
Quando
tudo se perde na mente,
Resta a
flor que enfrenta o inverno
E o gosto
insano da dor.
A alma
encontra remanso
Nas
letras sagradas do verso
Que
insiste querer o amor.
A insistência pelo amor é fluxo entre as
gentes. De um lado, há quem ame; do outro, a incerteza e a ambiguidade, pois o
que garante que uma pessoa, de fato, ame a outra?
Sabe o que vejo? Muitos dramalhões teatrais!
Gente que diz que ama, mas não ama. Gente que finge amar e assim vai levando a
vida. Gente que nunca soube o que de fato é amar. Faces ocultas da melancolia.
Por outro lado, junto e misturado com
as pessoas, não tenho como controlar o grito do amor na alma. Ele vem e ele
vai, tal como a lua em suas fases. Não é fácil controlar a composição química
que faz a gente acordar de madrugada e se perder em pensamentos desconexos e
insanos. É preciso se manter Longe das Paixões:
Nada mais
há de você em mim.
O tempo
passou, o tempo voou e eu me libertei.
Não mais
estou à beira do caminho.
As flores
até perderam o encanto e as nuvens encobriram o sol, mas eu não me importo.
É bom que
assim seja. Num momento a gente se enche de amor,
No outro
a gente curte o que é dor... O medo se foi...
Paixão é
bom porque chega e vai, quase nunca fica.
Eu volto
a sorrir, com o corpo isento, sem agonia.
Todavia,
tal qual onda do mar, insistirá, voltará... Talvez...
Tudo
suporto, pois eu nada controlo.
Sigo
cantando a melodia triste que dá alegria.
Beleza
profunda que anima minh’alma num instante silente.
O fogo
abaixou e as cinzas me deram o presente.
Ele é
tudo o que tenho, pois o passado passou e o futuro é incerto.
Abraço a
noite que cai. A lua minguante será minha companheira.
E no
sombrio volume da madrugada, ando sem eira, sem beira, na rota da ponte que vai
do nada ao vazio, pelo simples fato de ir.
Assento-me
à beira do rio. Ele vaga calmamente escondendo os redemoinhos do profundo.
Um
graveto flutua. Metáfora de mim sendo levado para qualquer lugar,
Longe das
paixões...
De fato, as paixões que evocam o amor
provocam dores, as mais diversas e intensas. O pior é saber que não existe uma
receita pronta para desfazer os sentimentos ambíguos, desviantes e
inimagináveis que se instalam num lugar imaginário chamado coração.
Além das dores, a paixão do amor sugere
fantasias desassossegadas. O pensamento, sob o domínio dessa desordem em
evidência, é uma fonte inesgotável de imaginações, na sua grande maioria,
pervertidas, que às vezes se plasmam em sonhos. Ainda bem que não existe nenhum
instrumento humano para registrar as imagens que nos visitam nos pensamentos e
nos sonhos. Mas o que nos impede de realizar nossas imaginações mais
pervertidas? Os filósofos me diriam que é a moral. Mas, moral e paixão não
combinam. Paixão, pra ser amor, precisa ser imoral. Do contrário, é mera
burocracia.
Desburocratizando o amor no cotidiano,
quero vivê-lo como uma grande aventura, formada essencialmente, de idas e
vindas, encontros e desencontros. Anseio viver as paixões ao sabor de cada dia,
enfrentando os dilemas e os problemas comuns que me fazem um humano ser de
contradições. Nesses deslocamentos corriqueiros o amor me lança ao universo
tresloucado do sexo.
Para o equilíbrio de uma vida marcada
pelo amor, o sexo, ou a boa resolução deste, é condição necessária para a
homeostase emocional.
Sei que muitas pessoas têm dificuldades
pra pensar ou falar sobre o sexo. Sei de gente que só faz o sexo habitual, quem
sabe, para manter a relação regulada. Sei de gente que não faz mais sexo. Sei
de gente que faz sexo escondido. Sei de gente que acha o sexo sujo. Sei de
gente que gosta de fazer sexo, principalmente quando tem liga e pele. Sexo bom
não tem pudores. Pode e não pode ficam para escanteio. O combinado e as
besteiras entre as partes é o que vale. Sexo tem que ser sujo, instintivo, lambuzado
e, surpreendentemente, prazeroso. Obviamente, o prazer é efêmero, passageiro
mesmo. Chega e vai. Vai e chega. Que beleza! Já basta. Acontece de forma
inusitada e não precisa de validade. É preciso ser mais hedonista e aproveitar
os prazeres que o corpo pode oferecer. Acredito que o prazer está presente nas
mínimas oportunidades do cotidiano e é inusitado. Ele tem que ser descoberto das
melhores maneiras possíveis.
Se o que desejamos ao outro é o bem-estar
real em todos os níveis, então o amor, o sexo, o prazer e a paixão que se
manifestam entre as gentes não podem ser ofuscados por parcas percepções. Nos
caminhos e descaminhos dos romances, alegrias e tristezas, contentamentos e
sofrimentos sempre darão sentido ao que não tem sentido algum. Que nos
sobrevenha uma descarga libidinosa. Talvez, por esse motivo intuitivo, Niezstche
tenha feito questão de frisar: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre
um pouco de razão na loucura”.
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