“Valeu a
pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Fernando
Pessoa
Decidir por um recomeço não é simples.
Requer ousadia e coragem, ou quem sabe, receio e covardia. A interpretação
sobre o que ocorre com dada pessoa em dado momento de decisão é sempre alheia. Da
minha parte, por que daria ouvidos a quem não me quer bem? Julguem-me a vontade
e se deleitem com minhas parcas vitórias e múltiplas derrotas.
Por causa de uma consciência clara
sobre a minha finitude, resolvi investir meu restante de trajetória nas coisas
que realmente valem a pena. Deste momento de decisão, em diante, encarei com
hombridade a lenta e dramática via daqueles que almejam encontrar algum sentido
na vida. Queria que a minha vida estivesse harmonizada aos meus pensamentos
díspares, aos sonhos inconciliáveis com a realidade e com a extrema humildade
dos que caminham descalços pela terra empoeirada.
Nessa busca pelo que vale a pena,
desisti, inicialmente, da pressa. Lembrei-me de Lenine e sua música poética,
intitulada: Paciência.
Quando
tudo pede um pouco mais de calma,
Até
quando o corpo pede um pouco mais de alma,
A vida
não para.
Enquanto
o tempo acelera e pede pressa.
Eu me
recuso, perco o passo, vou na valsa
A vida é
tão rara.
Enquanto
todo mundo espera acura do mal
E a
loucura finge que isso tudo é normal,
Eu finjo
ter paciência.
E o mundo
vai girando cada vez mais veloz.
A gente
espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco
mais de paciência.
Será que
é tempo que lhe falta pra perceber,
Será que
temos esse tempo pra perder,
E quem
quer saber? A vida é tão rara.
Mesmo
quando tudo pede um pouco mais de calma,
Até
quando o corpo pede um pouco mais de alma,
Eu sei, a
vida não para...
Assim, com calma e com alma, não queria
sair a galopes, tal qual uma criança em seu recreio escolar. Tampouco, queria
grandes e suntuosas conquistas, pois para mim, os pequenos ganhos cotidianos são
os sinais de outro mundo possível, o qual todos desejamos.
Confesso não saber se alcançarei o que
me propus a alcançar, mas o que importa? Já há prazer na busca, por si só.
Gosto de pintar, e muitas vezes desisti de uma obra de arte, vindo a cobri-la
com tinta branca a fim de recomeçar outra. Perco um desenho ou obra para
conquistar outra. A busca iniciada pela vontade de beleza é tal qual a busca
pela possibilidade de mudar o quadro mal pintado no museu insólito da minha alma.
De fato, a busca, pela excitação, já vale a pena.
Essa busca, tão urgente, vai,
obviamente, levar ao equilíbrio desejado, tão necessário para o bom e harmônico
entendimento na existência. E pergunto conscientemente: Cara ou Coroa?:
Cara ou
Coroa? Coragem ou Covardia? Não importa! O que vale é ficar de bem com a
consciência! No fundo, toda moeda possui três lados! A cara, a coroa e a
interface.
Com essa singela constatação, estabeleço
uma aproximação ao movimento dialético presente no pensamento do filósofo
alemão Georg W. F. Hegel. Nem tese, nem antítese, mas a síntese. Nem cara, nem
coroa, mas a interface que conecta uma à outra, todavia autônoma. É o paradoxo
funcionando na dinâmica das reflexões mais agudas de quem quer ficar de bem com
a consciência.
O bom da vida consiste em encontrar nas
dinâmicas relacionais, a consciência sintética dos elementos que favorecem meu
bem-estar. E não é justamente isso o que eu mais preciso? Luto continuamente
pelo bem-estar inquieto. Luto porque alcançar o bem-estar exige enfrentar os
altos e os baixos na lida diária.
Quando me encontro nessas buscas e nesses
enfrentamentos, recorro aos mestres das letras, homens e mulheres que muito me
ensinam sobre o que não sei discorrer poeticamente. Gosto de Rubem Alves, de
Adélia Prado e de Mário Quintana. Este último escreveu sobre a busca no campo
da Esperança:
Lá
bem no alto do décimo segundo andar do Ano vive uma louca chamada Esperança. E
ela pensa que quando todas as sirenas, todas as buzinas, todos os reco-recos
tocarem, atira-se. E – ó delicioso voo! Ela será encontrada miraculosamente
incólume na calçada... Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: “
– Como é o teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso
dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não se
esqueçam: – o meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Não ando muito à vontade com a noção da
esperança. Já esperei muito. Por quanto tempo ainda terei que esperar? E não é
bem isso o que se precisa para que as coisas, de alguma forma, aconteçam sobre
a vida? Foi Niezstche quem disse: “A esperança é o derradeiro mal; o pior dos
males, porquanto prolonga o tormento”.
A expectativa pelo que vai acontecer
não pode dominar a minha vida, afinal de contas, não quero passar o resto dos
meus dias esperando algo mais chegar enquanto o meu presente se esvai das mãos.
Então, espero contra a esperança. Teimosamente, resolvo Agir no tempo presente,
pois não sei o que poderá ocorrer amanhã.
Ajo.
Ajo
sempre.
Ajo e me
modifico interiormente.
Ajo e
transformo meus pensamentos e ideais.
Ajo e
mudo meu exterior. Visto uma roupa nova, mudo os móveis de posição e crio um
ambiente completamente novo.
Ajo em
minha espiritualidade. Jogo fora as verdades absolutas e aninho-me ao terreno
das dúvidas.
Ajo em
amor. Tenho um novo olhar sobre as pessoas que me cercam.
Ajo
sorrindo e sonhando.
Ajo e busco sempre-vivas-renovadas-ações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário