sábado, 28 de março de 2020

Pra início de Conversa... (Primeiro Texto)



“Há um único recanto do universo que podemos ter certeza de melhorar: o nosso próprio eu”.
Aldous Huxley

         “Deu ruim! Mas vai melhorar...” é uma singular tempestade de ideias e sentimentos oriundos de uma mudança radical que resolvi empreender em minha vida, depois de trinta anos envolvido numa esfera de atividades e ações. Urdido pela vontade de mudar o rumo da prosa e um vestígio de esperança, lancei-me a outro caminho de percurso incerto. Assim, tateando formas no escuro, com muito temor e tremor, busquei com o olhar perdido a referência da luz em algum lugar.
         O caminho incerto era na verdade o início de uma trilha a ser aberta no meio da mata densa e perigosa. Nessa trilha, onde se misturavam excitações, sentimentos e contentamentos, me encontrei com pessoas, as mais diversas, que viviam a mesma experiência que a minha. Não perguntei se elas queriam ir comigo. Respeitando seus posicionamentos pessoais, continuei a minha jornada de incertezas, convicto de que cada passo valeria à pena.
         Pergunto-me, hoje, onde quero chegar? Não sei e nem sei se quero especular uma resposta, pois sigo a entonação poética do Zeca Pagodinho: “deixo a vida me levar”, mesmo porque quando tento controlar as demandas de cada dia, eu me frustro. Então, deixo as coisas acontecerem e vivo cada dia como dá, afinal de contas, a vida é “como uma onda no mar”, aonde tudo vem e vai, acontecendo... Já diria o Lulu Santos. Portanto, não vou especular em relação à coisa alguma, pois tenho mais perguntas do que respostas, e as respostas me sugerem mais perguntas.
         Mesmo assim, preciso confessar: eu gosto deste jogo entre perguntas e respostas. Eu gosto de coisas novas, mesmo que elas me tragam problemas. Conheço gente que tem medo do novo, mas eu sou atilado. Gosto da excitação decorrente da expectativa de que alguma coisa vai aparecer do nada. Foi o que aconteceu comigo, por exemplo, num dia especial em que eu fazia uma caminhada e vagava em meio a pensamentos difusos. Eu o vi:
Pousou em uma árvore cujos galhos estavam sem folhas.
Parecia brincar, parecia sorrir.
Nunca o tinha visto antes ali, mas se mostrou a mim, proximamente.
Os raios de sol da manhã o iluminaram.
Suas penas brilharam e seu bico suntuoso, em tons e semitons alaranjados me deu uma percepção única da singularidade da beleza – uma teofania.
Olhei ao meu redor para tentar partilhar o que só a mim estava sendo revelado, mas em vão.
O mundo oblíquo das pessoas deixa passar o inusitado que transborda em gestos graciosos.
Sim, eu o vi!
Um tucano, que foi para mim mais que uma ave.

         Assim como esse tucano apareceu para mim, inusitadamente, vou continuamente sendo visitado e tocado pelo instante de eternidade que torna a vida humana menos monótona. Eis o evento da gratuidade que modifica o cotidiano e dá novos ares à existência. Ao pensar na gratuidade, escrevi recentemente Vida Ávida:

Amar é viver de forma viva e ávida!
Amo viver porque viver é amar...
Intensamente, com angústia ardente
Tal qual a nau perdida no mar.

Enquanto amo, vivo e sonho,
Pois melhor que viver, é viver e sonhar.
E mesmo quando a vida não acede
Teimoso, insisto até naufragar.

Náufrago, solitário sob o sol e o vento
Deixo as ondas me banharem a alma
Sibila o voo da gaivota azul
Que me encanta gerando-me a calma

A vida é ávida, gente!
E é sempre bom que assim seja...
Ela é graça que nem sempre tem graça,
Mas dá sentido ao que a busca, almeja.


         É assim que se compila este pequeno livro. De eventos fortuitos da gratuidade e da generosidade da natureza, na alma inquieta de alguém que vive de utopias e quixotagens.
         Espero, sinceramente, que todos(as) visualizem seus íntimos sentimentos, e que joguem fora todo peso inútil. Ao final das contas, é sempre bom dizer: Vale à pena!

Tantas coisas mudaram!
Tantas coisas se passaram!
Tantas coisas se refizeram!
O tempo não volta mais,
A não ser por intermédio da memória.

O que desejo para o novo ciclo vindouro?
Que as coisas mudem!
Que as coisas passem!
Que as coisas se refaçam...
Afinal, tudo vale à pena.

Um comentário:

Darc Faria disse...

Eu simplesmente amei cada palavra, cada frase e cada sentido carrego nelas. Nossa, me vi muitas vezes aqui.... Também sou assim, inquieta com o desconhecido, se tenho medo? Claro que sim! Todavia não morreria na dúvida. Amei Coppe!!!

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