“É horrível assistir à agonia
de uma esperança”.
Simone de Beauvoir
A agonia instalada em minha alma me
joga ao canto da sala, me afundando num sofá, deixando-me em (in)completo estado
de perplexidade. Dos tempos desérticos sobraram as perguntas convictas e as
respostas obscuras. Nada é lógico. Em que pese minha vontade por uma vida mais
cartesiana, a agonia provocada pelo fortuito e inusitado, ilógico enfim, é
muito maior. A alma partida e o coração acelerado me tornam um ser fragmentado.
Uma dor lancinante se instala e a fé se estremece. A experiência é obtusa e
faculta as mais extremadas ilusões, deixando o ser em estado catatônico. Enxergo
nitidamente O Paradoxo:
Toda vela deixa de espargir o seu brilho depois do
desgaste.
Todo vulcão volta ao seu repouso depois de cuspir
suas larvas.
Toda onda se espraia na praia depois de se
avolumar.
Todo dia chega a ser noite depois de um ciclo.
Toda noite instaura o silêncio e se desfaz ao
romper da aurora.
Todo o riso, mesmo a gargalhada, cessa diante da
dramaticidade da vida.
Todo choro banha o rosto, se perdendo depois num
sono profundo.
No paradoxo, sinto a sombra da morte
aninhar a minha alma. No terreno da agonia, sob a tal sombra assustadora, me
sinto completamente arruinado. Penso em mim como uma verdadeira Ruína, e poetizo:
Sou
edificação,
Mas
também sou ruína.
Sou
forte e tão frágil,
Essa
é a minha sina.
Mas
ruína também é beleza,
Quando
toca a emoção,
E
se torna obra prima
Na
simples contemplação.
Não
me diga apressado:
É
hora de restauração.
A
ruína conta conto
Que
dá fé e motivação.
Na condição de uma ruína, anseio pelos
desejos cheios de uma esperança teimosa que podem me ajudar numa possível
edificação. Todavia, em ruínas, sob a sombra, teimo e resisto contra os
sentimentos intempestivos que querem se instalar em minha alma agoniada.
Resisto para não perder a sensibilidade. Tento tirar de um baú instalado em meu
inconsciente a vontade de superação, tão necessária para o estabelecimento do
meu equilíbrio emocional. Vejo-me frente à vida e a morte. Preciso tecer
escolhas sensatas para me livrar da agonia. No turbilhão de pensamentos que
inundam a minha consciência fragilizada, quero transformar as palavras sem
consistência em ações que valorizem a dignidade de ser.
A busca pelas genuínas atitudes me faz
nutrir a expectativa de que a agonia passará. Entretanto, ela ainda paralisa as
minhas múltiplas atividades do cotidiano. Não sei quando ela passará ou se
apaziguará. Instalou-se em meu peito e se espraiou em meus poros. Luto
continuamente para arrancá-la. Quero desaninhá-la.
Nutro a convicção de que depois da
tempestade que me reporta à agonia, os raios de sol voltarão a aquecer o corpo.
E mesmo que outra chuva torrencial desse nível venha, outros raios de sol
insistirão em romper as densas nuvens para abraçar-me. Bronzeando-me sob o sol
de uma nova inspiração, invade-me luminosamente na íris dos meus olhos as possibilidades
de me organizar sempre, sem desistir jamais, com agonia ou sem agonia, não
necessariamente nessa ordem. Valha-me a poesia novamente em Um pensamento em meio ao parco sol:
O sol
é parco. As nuvens opacas,
Mas o
sorriso amigo torna tudo colorido.
Somos
seres que desejam o apego sobrenatural
Que
nos dá sustentação nos difíceis dias de aflição.
Mas não há de ser nada. O amor frágil e pequenino
Sobrevive ante a tempestade, desfazendo a ansiedade...
Tudo é calmo. Sereno dia de sol parco
Mas não há de ser nada. O amor frágil e pequenino
Sobrevive ante a tempestade, desfazendo a ansiedade...
Tudo é calmo. Sereno dia de sol parco
Uma criança brinca. Eu penso em você...
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