(Em
memória do amigo Márcio Quaglio de Souza)
Hoje, no início da manhã, o
canto dos pássaros no quintal de minha casa não ecoava a mesma beleza de todos
os dias. Havia um lamento no ar. Minha mulher me alertou que um canto diferente
destoava entre os já conhecidos. O telefone toca e eu prontamente pronuncio: -
É o Márcio! Não era o Márcio, mas o Júnior me comunicando sobre o Márcio.
Recebi a notícia de seu
encantamento, pois pessoas como o Márcio não morrem. Ficam encantadas, como bem
diria o saudoso Rubem Alves.
Os amigos e amigas sabem bem
do que estou falando. Márcio é uma dessas obras raras que Deus molda com a
finalidade de fazer diferença na vida de outras múltiplas pessoas. Falo dele no
presente, por uma razão óbvia: ele só será lembrado no presente, como presente.
Envolto sempre numa
interminável obra em prol das pessoas, deixando de lado, por vezes, sua
família, Márcio é um autêntico exemplo que cabe bem no aforismo de
Groucho Marx, envolvendo a conversa entre duas crianças. Uma delas diz:
"- Vamos descobrir um tesouro naquela
casa?” “- Mas não há casa alguma ali!” Retrucou a outra. “- Então, vamos
construí-la!"
Assim, construindo o que não estava construído,
Márcio se põe a sinalizar os valores inegáveis do Reino, chamado de Deus,
especialmente na vida das pessoas. E não há limites. Seus braços fortes sempre
se estendem a quem quer que seja. Seu empenho sempre é dedicação exclusiva a
quem precisa de alguma ajuda nos campos emocionais, espirituais e materiais.
Sua generosidade excede o entendimento dos que abraçam, tão somente, os
interesses capitalistas.
Hoje, falo como você sempre fala, meu amigo: “-
Eu compreendo, mas não concordo”. Isso se dá sempre quando estudamos a Bíblia.
E vamos continuar as nossas conversas, pois como você, eu também compreendo muitas
coisas e não concordo com várias delas. Aliás, eu compreendo seu encantamento,
mas não concordo com ele. Não agora, visto que todos(as) também seremos
encantados.
Estamos na Primavera. Das estações do ano, a
mais florida. Você é o ipê amarelo que encanta o caminho e insite em revelar o
poder das flores amarelas. É bom que seja assim, independente do fim fatídico
que elas têm, quando se transformam em tapetes. Diante do inevitável, você
continua a florir. Diante do inevitável, sua beleza provoca a saudade.
Lembro-me de Drummond quando disse:
Por muito tempo achei que saudade é falta. E
lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A
ausência é um estar em mim. E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada nos meus
braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa
ausência assimilada, ninguém a rouba de mim.
Meu amigo, você está encantado como presença-ausência.
Ficam já, agora, para mim, as boas memórias, os risos, os debates pelo melhor. E
quando quiser visitar minhas memórias, venha de braços abertos, pois os meus
também estarão. O seu legado já acontece em mim, desde ontem mesmo, quando nos
conhecemos.
E se muitos teólogos, afoitos que são, dizem que
primeiro a morte, depois a ressurreição, já me antecipo em discordância e digo:
morte é ressurreição. Você está vivo, e porque vivo, encantado, e porque
encantado, sugiro que continue a nos encorajar nessa grande e inusitada
aventura chamada vida. E por favor: tome cuidado ao andar de moto por aí!
3 comentários:
Estou triste pela nossa perda mas Feliz por tê-lo conhecido e vivido uns momentos com esse amigo e imenso ser humano , ele realmente é digno de todas suas palavras e mais um pouco , um homem especial!!!!
Não conheci, mas me junto a vocês nesta homenagem, pois todo aee humano que ama e cuida do próximo merece ser lembrado e imitado
Não conheci, mas me junto a vocês nesta homenagem, pois todo aee humano que ama e cuida do próximo merece ser lembrado e imitado
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